O que pode mudar com a compra do GitHub pela Microsoft?

Daiane Azevedo de Fraga
Umbler News
Published in
4 min readJun 19, 2018

A compra da GitHub pela Microsoft fez com que muitos desenvolvedores acordassem na segunda-feira, dia 4 de junho de 2018, com um sentimento semelhante ao das pessoas no filme Independence Day, quando os alienígenas decidem dar o ar da graça no dia 4 de julho (OMG, isso seria um sinal?!).

Esse sentimento surgiu quando muitos leram nas manchetes mundiais a notícia: “Microsoft confirma a aquisição do GitHub por 7,5 bilhões de dólares (em ações)”.

Muitos acharam que o Apocalipse finalmente havia chegado. Outros tentaram entrar em contato com os monges da The Linux Foundation para saber o que seria do futuro após esse evento cataclísmico. E outros afirmaram terem visto arco-íris sendo formados com as cores:

Pois bem, antes de nos rendermos ao desespero em massa, vamos analisar melhor essa situação.

Um pouco de passado e de presente

Acontece que todo esse murmúrio não é de graça.

Historicamente, a Microsoft ganhou uma certa fama de ser inimiga de projetos open source. Isso começou lá na década de 70 e contou com alguns episódios bem intensos (e tensos) durante alguns longos anos. Por causa disso, a fama se fortaleceu.

De bate-pronto, nos recordamos de 1976, quando Bill Gates publicou a Carta Aberta aos Hobbystas que dizia, entre outras coisas, que o compartilhamento do código fonte de softwares caracterizava uma violação dos direitos autorais (em especial, dos softwares construídos por sua empresa). Algumas tantas alfinetadas e anos depois, em 2001, lembramos também de Steve Ballmer, o CEO da Microsoft na época, quando disse durante uma entrevista que:

Linux is a cancer that attaches itself in an intellectual property sense to everything it touches.

Além desses acontecimentos, os anos 2000 ainda foram marcados por constantes ataques ao Linux e consequentemente ao seu criador, Linus Torvalds. Algumas pessoas que trabalhavam na Microsoft atacaram ambos inúmeras vezes porque o Linux, que é distribuído gratuitamente, passou a ameaçar a participação da empresa no mercado.

Curiosidade: o Git (que deu não somente o nome, mas a vida ao GitHub) também foi criado por Torvalds e, assim como o Linux, revolucionou o mundo.

Esses foram alguns dos eventos suficientes para mexer com o coração de muitos. Vários adeptos e simpatizantes do open source e free software acabaram por construir um ódio profundo pela Microsoft, e que já dura gerações.

Vale a observação que todos esses acontecimentos não vieram da Microsoft enquanto empresa, mas de pessoas que estavam à sua frente. E digamos, entre linhas, que isso é comum. A figura de liderança à frente de uma companhia acaba levando ao mundo a sua visão e, com isso, causando uma caracterização da companhia por consequência dessa visão.

Scott Hanselman, ‎Principal Program Manager na Microsoft, disse, em 2014, que as pessoas que odeiam a Microsoft carregam uma “raiva geracional”. E indicou mudanças significativas pelas quais a empresa estava passando que tornavam esse ódio não mais justificado, tomando o exemplo do .NET, da Azure e do Visual Studio que tiveram parte do código fonte aberto.

De fato, o atual diretor-executivo da The Linux Foundation, Jim Zemlin, admitiu em sua postagem, em que reflete sobre a compra do GitHub, que passou grande parte de sua vida zombando da Microsoft (o que, segundo ele, era bem mais fácil com a administração anterior). Zemlin criticava a Microsoft por atacar “silenciosamente” o Linux ao vender patentes relacionadas ao kernel no passado.

Por outro lado, Zemlin admite que todos evoluíram, tanto a Microsoft quanto ele próprio. Ele destaca que a Microsoft se tornou uma grande contribuidora do open source, e que muitas coisas mudaram para melhor desde que Satya Nadella assumiu como CEO, em 2014.

Realmente, há uma notável transformação. A Microsoft se tornou uma das principais contribuidoras do Linux e de outros projetos importantíssimos tais como o Kubernetes, além do próprio GitHub. Em 2016 adquiriu o projeto Xamarin e contratou um de seus fundadores, Nat Friedman, que há anos é respeitado pela comunidade open source. Ainda em 2016, a Microsoft se tornou membro do The Linux Foundation, estando entre os Platinum Members. E também passou a apoiar a Apache Software Foundation e a Open Source Initiative.

Se visitarmos a página da Microsoft no GitHub ou o opensource.microsoft.com, veremos mais de 1800 repositórios. E se pensarmos como era há alguns poucos anos atrás, fica até difícil de acreditar. :)

Pois bem, analisando alguns desses acontecimentos, podemos notar que as coisas vem mudando muito para a Microsoft. Definitivamente, ela está bem diferente daquela empresa que vinha sendo até cerca de 4 anos atrás.

Gostaria de saber o que mais pode acontecer com essa aquisição do GitHub pela Microsoft? Então acessa o post completo lá no blog da Umbler.

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