Diversidade na TI: o que eu aprendi e como posso melhorar.

Jorge Fernando Damasio Leite
Umbler News
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5 min readJan 12, 2018

Bem, vamos lá! Há quase uma semana estou trabalhando na Umbler, “essa empresa que conheço pouco, mas já considero pakas”. Off topic:

sorry, eu não resisti em não colocar essa bela imagem

Aqui na Umbler, apesar do pouco tempo de casa, eu já tive algumas surpresas na rotina de trabalho, que eu não estava acostumado ter no meu dia-a-dia corrido de TI. Uma dessas surpresas — e não menos importante — foi no meu terceiro dia de empresa, ter a oportunidade de poder assistir e participar de um debate sobre Diversidade na TI, no qual a Inajara Leppa, developer na ThoughtWorks, falou sobre a realidade na empresa em que trabalha e como eles lidam com questões de diversidade. Quem é do meio já deve ter percebido as características da fatia majoritária da classe: homens.

Pois bem, falo por mim quando digo que muitas vezes fiquei na minha bolha, fora de discussões sobre as minorias e a diversidade na sociedade. Algumas vezes por falta de entendimento, outras por não querer debater por melindre de discussões acaloradas, sobre assuntos delicados, como igualdade de gênero, racismo, orientação sexual, entre tantos. Outras vezes também, por não ter a iniciativa de entender que, muitas vezes, coisas ruins estão acontecendo em uma realidade bem próxima, e que está afetando grupos de pessoas que precisam sim que eu entenda mais sobre esses assuntos e causas, mesmo que não afetem diretamente a minha vida.

É a velha dita de sempre, e que muitas vezes não praticamos: “ só depende de nós”. Após a palestra da Inajara, depois alguns questionamentos, ver alguns depoimentos, ficou claro que sim, SÓ DEPENDE DE NÓS. A sociedade como um todo tem a tendência de não debater e não lutar pelo que não é “nocivo” a maioria, na TI não é diferente.

O que eu consegui entender, com a fala da Inajara, é que diversidade - ou diversificar um ambiente de trabalho, para ser mais específico - é dar as mesmas oportunidades à pessoas de etnias, gêneros, orientações sexuais ou religiosas. Ou seja, o que for que possa ser usado para rotular essa pessoa em algum grupo. É avaliar se essa é uma pessoa capaz ou não de fazer o trabalho, de fazer parte da empresa por sua capacidade, e não porque é homem, mulher, gay, trans, ou o qualquer outro rótulo, e garantir que o ambiente que esse profissional vai frequentar seja justo e igualitário para todos. Um local em que as pessoas estejam conscientes da importância da diversidade, que não existam barreiras entre pessoas “diferentes” umas das outras, e que exista respeito e compreensão de ambas as partes.

Entendi que, muitas vezes, não temos escolha, que somos assim, com essas características. Um exemplo foi a fala da Inajara, que desde criança não gostava de saias, saltos e coisas taxadas como “coisas de mulher”, sendo taxada como “menininho”. Mesmo sofrendo bullying dos colegas de colégio, ela sempre se gostou e se aceitou assim.

Esse é o caso dela. Sempre sofremos algum tipo de bullying, até mesmo eu, que sou homem e hétero, ouvia piadinhas por ter um biotipo muito magro. Essa é minha genética. Eu nasci assim, me aceito assim e sou feliz assim. Sempre tem algo que não gostamos, e por mais que eu me esforce eu não consigo mudar isso da forma que eu gostaria.

Lidar com certas “piadinhas” foi normal pra mim, sempre fui taxado de magrelo, seco, limpador de mangueira por dentro, pau de selfie e entre outras. Eu sou uma pessoa que lida bem com essas besteiras ditas, mas entendo que isso não é nada perto do que outras pessoas ouvem, e que muitas vezes machuca. Imagine se eu fosse uma mulher, se fosse gay, se portasse alguma deficiência física, em um mercado predominantemente masculino. Eu não consigo imaginar o quanto mulheres, assim como a Inajara, sofrem no mercado de TI. Com certeza essas “piadinhas” seriam ofensas. O que chamamos de brincadeira, muitas vezes, para quem recebe, não é legal ou divertido. Nem sempre as pessoas vão lidar bem com “brincadeirinhas”.

Quando você faz essa análise e se imagina recebendo aquele turbilhão de indiretas inconvenientes — e sabemos que muitas vezes nós fazemos isso também — conseguimos imaginar o tamanho do sofrimento causado, a estas pessoas, grupos minoritários dentro de um ambiente, no nosso mercado de trabalho, e também na sociedade como um todo.

Se você acha que não tem oportunidade, faça o teste do pescoço, como a Inajara instruiu na palestra. Olhe ao redor e perceba quantos negros, mulheres, pessoas consideradas minorias, trabalham no mesmo lugar que você. Lembrando que no Brasil, os negros representam 53,6% da população. Não são minorias, mas em locais privilegiados, sim.

Queremos ser lembrados como? por ter feito parte da revolução tecnológica e cultural, deixar um mercado igualitário e diversificado? Ou seguiremos os mesmos passos das gerações passadas e deixaremos um caminho de rótulos, injustiças, preconceitos e tantas histórias que conhecemos?

Reconheço que sou uma pessoa que, muitas vezes, age de forma preconceituosa, seja com brincadeirinhas, com piadinhas, ou com conceitos culturais, de criação, que não foram trabalhados para desmitificar. Ninguém age sempre politicamente correto, mas cabe a cada um reconhecer seus erros e falhas e querem melhorar. No nosso cotidiano, fazemos muitas coisas ruins, que ferem de algum modo outras pessoas. Nem sempre estes atos são conscientes.

Precisamos refletir em como podemos melhorar um pouco a cada dia. Como podemos deixar de lado preconceitos e atitudes machistas. Obrigado à Inajara, e a todos que participaram desta palestra — que seja a primeira, e não único evento sobre o assunto. Obrigado Umbler, pela oportunidade de participar do evento e de poder publicar minha opinião sobre o que aprendi. Sou grato por estar estar em um ambiente mais diverso e respeitoso, diferente de tantos outro locais em que trabalhei. Espero que a Umbler, em um futuro próximo, seja um local ainda mais diversificado e acolhedor do que é hoje, pois, com certeza, queremos — e vamos — evoluir para contribuir com um mercado melhor e mais igualitário. :D

Inajara Leppa (developer na ThoughtWorks), palestrando na Umbler

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Jorge Fernando Damasio Leite
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Desenvolvedor de Software, Ser Humano, Apaixonado por Pessoas, Problemas e Tecnologia!