5 Motivos Para Apoiar Coletivos LGBT+ Na Universidade

Bruno Ferreira Botelho Lopes
oh, great! it’s bruno
5 min readFeb 9, 2018

Escrito originalmente para o Buzzfeed Community.

Ainda que os espaços universitários estejam se abrindo para a diversidade e para a discussão das pautas minoritárias, a verdade é que ele ainda não é totalmente inclusivo para pessoas LGBT+. Veja como os Coletivos LGBT+ podem ajudar a transformar essa realidade!

1 — As universidades ainda não são seguras para LGBTs.

Conforme frequentamos o ambiente universitário, percebemos que ele ainda não é seguro para pessoas LGBT+. O que isso significa? Que essas pessoas estão mais sujeitas à enfrentar violações, abusos e discriminação, que se manifesta de diversas maneiras, desde trotes vexatórios , violência e agressão nos eventos universitários até perseguição e morte.

Emboram não existam dados específicos sobre a LGBTfobia em instituições de nível superior, os fatos apresentados se encontram com as pesquisas que revelam que mais de um terço dos jovens homossexuais já foi agredido fisicamente nas escolas , o que afeta diretamente o desempenho acadêmicodessas pessoas.

Para a população transgênera, o assunto é ainda mais urgente: o Brasil concentra 82% da evasão escolar entre pessoas trans e, embora tenhamos motivos para celebrar, com cada vez mais pessoas trans tendo acesso ao Ensino Superior — como a queridíssima Maria Clara Araújo — a presença dessas pessoas nos ambientes acadêmicos ainda é residual.

Os Coletivos Universitários LGBT+ podem atuar contribuindo para a transformação dessa realidade! Intermediando negociações para garantir a utilização do nome social, que pode ajudar a diminuir a evasão, criando canais de denúncia e ouvidorias em eventos da universidade, acompanhando o período de trote e peticionando com a Coordenação para que condutas homo-transfóbicas sejam punidas.

2 — LGBTs devem questionar e tomar parte na produção acadêmica

Historicamente, a população LGBT+ foi invisibilizada dos estudos da Academia e, mesmo quando se tornaram mais presentes, foi tratada como objeto de estudo e não como sujeito de conhecimento. Isso significa que o conhecimento não era produzido por nós, de acordo com nossas vivências e nosso aprendizado, mas sobre nós, baseado na visão de pessoas fora da comunidade.

Quando LGBTs ingressam e se organizam coletivamente no ambiente universitário, têm a possibilidade de questionar o que está sendo imposto e passem a produzir em seus próprios termos, passando para o meio acadêmico seus pontos de vista e suas reflexões.

Para isso, os Coletivos LGBT+ podem organizar grupos de estudos com base na temática da diversidade, bem como fomentar outras iniciativas culturais como cineclubes e exposições que estimulem a reflexão coletiva e a produção acadêmica dessas pessoas.

Uma iniciativa incrível é o site LGBTeses.com, que agrupa diversas teses acadêmicas sobre a temática da diversidade.

3 — Um Coletivo é um lugar seguro

Conforme entramos em uma universidade, passamos a conviver com pessoas de diversos backgrounds e que traçaram diferentes trajetórias pessoais até ali. Embora não tenha nada mais diferente de uma pessoa LGBT do que outra pessoa LGBT, existem diversos sentimentos que são compartilhados por todos nós.

Sobretudo para os mais jovens, crescer sendo lésbica, gay, bissexual ou uma pessoa trans muitas vezes é sinônimo de solidão e falta de reconhecimento em seus semelhantes. O ambiente universitário, muitas vezes, é o primeiro local em que se conhece outras pessoas LGBTs.

Se reunir coletivamente com outras pessoas que experimentaram dores, frustrações — mas também alegrias e vitórias — como as suas é a oportunidade de fortalecer uma rede de confiança e afeto, sabendo que ali os julgamentos são amenizados e o crescimento é mútuo.

Quando um LGBT escuta outro, eles se reconhecem em suas dificuldades, em seus medos e se inspiram na perseverança e força dos seus.

Os Coletivos LGBT+ devem trabalhar para ser um local seguro e acolhedor para TODAS as pessoas, inclusive em questões que não são diretamente relacionadas à diversidade sexual, como o machismo, o racismo e o capacitismo. Uma forma de estreitar o vínculo entre os membros é com a realização de rodas de conversa temáticas, que busquem exercitar a empatia e a confiança em seu semelhante.

4 — Atuação fora dos muros da universidade

Quando os jovens trocam experiências, se organizam, se sensibilizam e trabalham coletivamente, eles se empoderam: tomam para si a consciência de suas ações e do seu papel na transformação social, se fortalecendo para passar uma mensagem de respeito e tolerância às suas famílias, seus grupos de amigos e em seus locais de trabalho, reivindicando seus direitos.

Esse potencial pode ser aproveitado em sua comunidade — participando de ações de conscientização, promoção dos direitos humanos, workshops de cidadania e com voluntariado em ONGs que trabalhem a temática da diversidade — e também nas redes sociais — dando visibilidade às pautas, promovendo o respeito à diversidade e também compartilhando sua história!

Além disso, apesar de sabermos que “não precisamos mais de Paradas LGBT no Brasil”, já que “não” somos o país que mais mata pessoas LGBT no mundo e pautas como a “Cura Gay” não serem sequer mais tema de debate por esses lados (a ironia é uma dádiva), a gente ainda gosta da festa, podemos e devemos participar das Paradas do Orgulho!

O Coletivo do qual faço parte — o Coletivo Lamparinas — organiza anualmente oficinas de cartazes para serem levados à Parada do Orgulho, além de realizar uma série de eventos temáticos — palestras, rodas de conversa e encontros festivos — antes do evento. Essa estratégia pode ser seguida como forma de conscientizar e integrar seus membros e a comunidade da importância histórica e social das Paradas.

Aproveite para conferir aqui o calendário das Paradas do Orgulho em todo o mundo em 2018!

5 — É divertido!

Por último, participar de um Coletivo LGBT+ pode ser uma experiência divertidíssima! Conhecer pessoas que se reconhecem em você é a oportunidade de fazer amizades que poderá levar para toda a vida e aliados para os mais diversos desafios.

Além disso, participar de um clube ou coletivo estudantil impulsiona a experiência universitária para além dos resultados acadêmicos, aumentando a sensação de pertencimento à instituição e a sociabilidade dos alunos.

Embora enfrentar a invisibilidade seja um trabalho árduo, a criação de uma nova realidade para os estudantes e para a comunidade é possível e é mais fácil quando construída coletivamente, com resiliência, companheirismo e bom humor!

O que você está esperando para criar ou participar de um Coletivo LGBT+ em sua universidade?

Confira o trabalho incrível desses grupos e inspire-se: Coletivo Lamparinas , Coletivo Araras, Coletivo LGBT+ Direito UERJ, Coletivo Colorir FEBF e Coletivo ACOPLA.

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