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Inexpressão

Ricardo Rachaus
umvagabundosempalavras
2 min readJan 29, 2021

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O vazio era aquilo que estava mais presente naquele momento. A abstenção de qualquer coisa. Era isso que representava tudo o que se tinha a dizer e a se ver. A escuridão era predominante e sem fim. A tentativa desesperada de inalar e respirar, porém sem ar, apenas vácuo e nada além. A sensação de incompletude sugadora como um buraco negro que te engole por dentro e não há como fugir.

Essa que não era novidade, não era a primeira e nem seria a última. Isso era o dia a dia e como se sentia a cada minuto, segundo. Observar tudo e não ter como se agarrar em nada. Era como cair num buraco sem fundo a todo instante e tentar lutar futilmente para fugir da queda, lutar pelo impossível, algo que nunca iria acontecer. Não que não soubesse disso, mas o instinto humano é engraçado e tenta fazer as maiores absurdices mesmo ciente de que é em vão. Lógica não é o forte.

Sim, isso era um pesadelo. Mas era um pesadelo confortável. Como tudo que por muito tempo persiste na vida de alguém, por pior que seja, acaba sendo algo a se segurar e não querer largar. Adentra-se na zona de conforto. Sair dessa situação era algo que não seria imaginado e nem sequer tentado… até porque não é como se tivesse saída né?

A mente havia divagado tanto e ido a lugares até então que ninguém mais tinha ido. A loucura havia sido tomada. Entretanto, é uma loucura sã. Ou seria apenas sanidade? Uma sanidade tão plena e profunda que se passaria por loucura? Após tanto tempo nesse estado, o conhecimento atinge níveis além da compreensão humana comum, algo que poucos tiveram e terão. Era como um conhecimento antigo e perverso que seletos ousavam chegar a conhecer e entender, e aqueles que estavam ali, encontravam-se presos para sempre numa prisão eterna. Redundante? Não, pois isso era o Sentido na sua mais pura forma, ou seja, em sua ausência.

Haveria salvação? Quem salva a pessoa sã?

O enclausuramento que se encontrava dentro da sua mente havia feito a alma se diluir em nada além de nada.

O desespero constante e profundo havia assumido o lugar do coração, mas ao mesmo tempo sentia um vazio como se tivesse a privação de algo muito importante. A sensação caótica de vazio ocupado. A dualidade que havia ido para uma direção errada e que não continha nada de bom. A dualidade entre o ruim e o pior. O calor frio e o frio quente. Apenas estranheza. Estranheza como o céu negro e límpido, sem lua, sem estrelas, sem nuvens, um vão enegrecido como o vazio sem fim que se encontrava e que estava.

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Ricardo Rachaus
umvagabundosempalavras

Gosto de escrever estórias e pretendo começar a escrever artigos relacionados a programação.