Conectividade, os pontos que devemos ligar para construir o futuro de nossas carreiras

Leonardo Gonçalves
unboxlab
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7 min readOct 27, 2021

Segundo o World Economic Forum, 50% dos funcionários das empresas precisarão de requalificação até 2025. Isso se dá justamente pela adoção de novas tecnologias e a necessidade de cada vez mais virarmos a chavinha da transformação digital. Porém, podemos enxergar um certo padrão sobre o que se espera desse “Futuro do trabalho” e, em sua grande maioria, é relacionado diretamente com habilidades humanas.

“A lista com as 10 principais habilidades contém itens como “pensamento crítico”, “capacidade de resolução de problemas complexos”, “resiliência”, “criatividade”, “uso de tecnologia”, etc.”

Mas quando falamos de futuro do trabalho e expectativas sobre nós em relação a isso, é natural que surja uma ansiedade sobre por onde começar, em que se especializar ou sobre qual caminho seguir. O que me faz pensar: “Será que eu tenho que pesquisar quais são as profissões do futuro e escolher a que mais se encaixa comigo?” “Quais são essas profissões?” “ Mas se o mundo muda constantemente, era VUCA hoje é BANI, quem me garante que a profissão que eu escolher não mudará também?” “Como será o amanhã?🎵”

O primeiro ponto que já podemos conectar é que, quando se trata do futuro do trabalho, ele está pautado em habilidade, e não em profissões. Se buscarmos o conceito da palavra profissão, temos a seguinte definição:

“Trabalho habitual de uma pessoa através do qual ela consegue os meios necessários à sua sobrevivência; emprego; ofício. Ofício especializado que legitima alguém a fazer alguma coisa, pode ser ou não, o meio de vida dessa pessoa.”

Soa como algo rotineiro, hiperespecialista e principalmente linear! O que me faz lembrar a contracapa do livro “Empreendedorismo para subversivos”, onde temos “um caso” de carreira/vida linear que super se encaixa em termos como “Trabalho habitual” “Meios necessários à sua sobrevivência” “Ofício especializado que legítima alguém a fazer alguma coisa”.

Empreendedorismo para Subversivos — Facundo Guerra

Hoje, a “Profissão” e/ou “Canudo” não nos definem mais, ou pelo menos não deveriam, e também não garantem capacidades necessárias para o futuro do trabalho. O que cabe a nós é quebrarmos o paradigma de que quanto mais especialistas estamos em um assunto, mais chance teremos de sucesso. Precisamos adotar uma visão mais generalista e multidisciplinar, de conhecer mais atividades e modelos de trabalho, experimentar novos desafios, buscar novos assuntos, e principalmente enxergar a carreira como ciclos de aprendizagem.

E respondendo às perguntas que indaguei no início, a única certeza que temos relacionadas a futuro é que precisamos aprender sempre, o tão famoso Lifelong Learning. E, quando falamos em necessidade requalificação e desenvolvimento de habilidades do futuro, temos uma pista de por onde seguir.

“A aprendizagem é uma das lentes que nos empodera a fazer esta transição pessoal e profissional com menos atrito e com mais protagonismo.”

APRENDIZAGEM INTENCIONAL

Segundo um artigo da McKinsey, a habilidade mais fundamental e benéfica para a nossa carreira é a Aprendizagem Intencional. Ela consiste basicamente em tratar cada experiência, seja profissional ou pessoal, em uma oportunidade de aprender algo, mas isso, de uma forma mais ativa e natural.

“ As oportunidades de aprendizagem formal representam apenas uma pequena porcentagem da aprendizagem de que um profissional precisa ao longo de sua carreira. As experiências e interações do dia a dia oferecem excelentes oportunidades de aprendizado, mas apenas se você intencionalmente tratar cada momento como uma oportunidade de aprendizado.”

A McKinsey acredita que existem duas mentalidades que ajudam a nos tornarmos aprendizes intencionais: a mentalidade de crescimento e a de curiosidade. Porém, adicionarei mais uma camada a esse estudo, a da conectividade.

Mas vamos aos pontos:

MENTALIDADE DE CRESCIMENTO

A mentalidade construtiva (de crescimento) é um conceito criado pela psicóloga Carol Dweck e muito presente no seu livro “Mindset: A nova psicologia do sucesso”. Consiste basicamente em como nossa atitude mental é essencial para o nosso desenvolvimento, e principalmente, a influência que isso tem quando lidamos com nossos objetivos e vulnerabilidades. Esse estudo indica que existem dois tipos mentalidade, a fixa e a construtiva.

A mentalidade fixa se consolida em algumas crenças limitantes como de que a pessoa não é boa em algo, ou que simplesmente não nasceu para realizar alguma tarefa, ou que não consegue aprender sobre um determinado assunto. Isso pode ir desde pensamentos simples, como “Faz a conta aí que eu sou de Humanas”, até o “Mas se estão automatizando tudo, não vai ter emprego pra todo mundo né?!”.

Devemos focar nossa força no desenvolvimento da segunda, uma mentalidade cada vez mais construtiva! Perceber oportunidades em vez de obstáculos, e principalmente, aprender com os erros e desafios. Quando falamos de futuro, não é algo escrito em pedra, e se olharmos para os erros com uma visão de aprendizado, e tivermos esse sentimento de crescimento e evolução, aí sim conseguimos construir melhores carreiras.

Gif da série Ted Lasso

CURIOSIDADE

Tudo começa a partir dela, se o mindset de construção é o motor para a aprendizagem intencional, a curiosidade é o combustível. Através dela aprendemos com muito mais frequência, pois desperta a inspiração de explorar novas possibilidades, buscar novas informações e experiências.

Se por um lado, diplomas e o aperfeiçoamento em uma única área não garantem as competências do futuro, por outro, a curiosidade é umas das características que mais apoiam o desenvolvimento de novas habilidades. E relacionando isso diretamente à empregabilidade, hoje o mercado busca muito mais pessoas interessantes/interessadas e curiosas. Pois entende que justamente essas pessoas terão a iniciativa de buscar e aprender sobre diferentes assuntos e assim ir se adaptando a diferentes desafios de forma ágil.

Um outro ponto é que curiosidade não é uma tarefa onde devemos separar um tempo para fazer; assim como o aprendizado, ela é ao longo do dia, da vida. Também não é limitada apenas à carreira. Considere e fomente esses interesses fora do seu trabalho, seja vendo uma nova série, cozinhando uma nova receita, aprendendo um instrumento musical ou até mesmo com um novo challenge das redes sociais. O importante é se manter uma pessoa curiosa.

Quando estamos curiosos, vemos esses tão falados “problemas complexos” de maneira mais criativa.

E isso tem total relação com a empatia, principalmente quando estamos falando de trabalho. A maioria das empresas tem como função direta ou indireta resolver problemas de outras pessoas. Com isso, se torna cada vez mais importante saber sobre essas pessoas, seus comportamentos e necessidades. E uma das maiores qualidades do curioso é saber perguntar e, principalmente, ouvir.

Já dizia Walt Whitman, ou nosso querido Ted lasso: “Seja curioso, não julgue”

CONECTIVIDADE

Para os fãs do filme “Na natureza selvagem” mil perdões, mas preciso parafrasear esse conceito:

Edição feita a partir da imagem do filme “Into the wild”

Se nosso papel como protagonistas desse futuro de transformação é justamente esse de desconstrução do modelo antigo de aprendizagem, precisamos entender que tão importante quanto aprender é colaborar e se conectar com outras pessoas, com outros contextos. É uma relação de ganha-ganha com a rede: eu contribuo pra uma pessoa, que contribui pra outra, que volta pra mim em diferentes formas e com isso transformamos o ambiente em nossa volta.

Gif de abertura da série Ted Lasso

Segundo um estudo do Josh Bersin, quando interagimos sobre um assunto com outra pessoa, temos mais que o dobro do percentual de lembrança sobre o assunto estudado do que sozinhos. Ele defende também a ideia de capacidades em vez de habilidades. As capacidades consistem na soma de habilidades com experiências vivenciais.

Hoje temos a possibilidade de sermos criadores e finalmente termos visibilidade perante as empresas e liderança sobre as nossas capacidades, mas de nada basta se isso tiver somente restrito a nós ou à nossa bolha. Com a quebra desse mindset de acúmulo e conhecimento concentrado em grandes especialistas, nunca foi tão importante se conectar e compartilhar.

CONCLUSÃO

A carreira do futuro está muito mais pautada em unir experiências e habilidades do que em tecnologias e diplomas. Se trata muito mais de capacidades e somar pra sua rede do que de fato o que está no seu crachá, cargo ou perfil do LinkedIn.

Quando estabelecemos que podemos aprender sobre qualquer coisa e fazemos isso de forma intencional, a gente sai do verbo “Ser” para o “Estar”.

Eu, por exemplo, tinha o sonho de ser publicitário, depois estive como jovem aprendiz organizando estoques de TI, depois estive em uma faculdade de Administração, aí depois estive tentando empreender, também estive com o badge/título de “Menino da infra” ou “Menino que vai trocar a minha máquina”, hoje estou como designer de inovação, amanhã posso estar como baterista de uma grande banda, depois de amanhã como entusiasta de blockchain e por aí vai… Mas, se a única certeza que temos é de que temos que aprender e mostrar nossas capacidades, então, que tal desenharmos essas carreiras dos futuros?

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Leonardo Gonçalves
unboxlab

Apaixonado por pessoas, thinker e maker de coração, empreendedor de fundo de garagem e entusiasta de inovação.