Sobre Blockchain e seu poder transformacional

Leonardo Gonçalves
unboxlab
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7 min readApr 9, 2021

Nas últimas semanas vimos uma movimentação muito grande em cima do termo NFT (Non-Fungible-Token) e como isso tem afetado o mercado de arte. Uma popularidade muito parecida com a que o Bitcoin teve após grandes valorizações desde 2017. Com isso surgem as famosas dúvidas… O NFT é modinha? É bolha? Devo investir tempo e dinheiro nisso? É pirâmide? Por que alguém compraria o registro do primeiro tweet por milhões? Por que eu pagaria por algo que está disponível grátis na internet? As respostas estão justamente na estrutura que comporta todas essas transações: o Blockchain, com projeção de poder disruptivo tão grande quanto o da internet.

Gif sobre pirâmide

A consultoria Gartner estima que o Blockchain irá gerar cerca de US $ 3,1 trilhões em novos negócios até 2030, com uma maior democratização e adoção em até 2023, e isso, assim com a internet no seu início, gera muitas incertezas, mas vamos tentar olhar para isso de uma forma mais simples e holística.

Gif sobre blocos by Giphy

Para entender mais sobre o funcionamento do Blockchain vamos voltar algumas casas e ver um pouco da linha do tempo. Vou usar a metáfora de cinema e dividir essa linda história em alguns atos/capítulos:

CAPÍTULO 1 — BITCOIN: O PREDESTINADO

Tudo começou há alguns anos, sendo mais específico em meados de 2008, com o lançamento do artigo “Bitcoin: A peer-to-peer electronic cash system”, do enigmático Satoshi Nakamoto, o cérebro por trás da tecnologia Blockchain. Nesse artigo é explicado como funciona a nova estrutura de transações financeiras, uma fórmula mágica que romperia com os modelos estabelecidos.

Segue o link do artigo para quem se interessar:

Em palavras simples, o Bitcoin é uma moeda criptografada que só existe no ambiente digital e pode ser utilizada sem a necessidade de bancos ou intermediários para validar essas transações. Ela foi concebida como um sistema eletrônico “peer-to-peer” e na criação de uma rede de blocos protegidos criptograficamente onde ninguém pode alterar esse registro, ou seja, totalmente imutável, transparente e confiável. Isso se dá pelo modelo distribuído da rede onde cada transação feita gera um novo bloco de registro e todos da rede recebem uma cópia, sendo “impossível” de ser burlado.

Imagem — Friends of tomorrow by Aerolito

E aí que surge a maior dúvida: peraí, então Blockchain e Bitcoin são as mesmas coisas?

Meme Faustão

Na linha de quem veio primeiro, o ovo ou a galinha, o Bitcoin ganhou os holofotes primeiro, porém, o Blockchain é a tecnologia que está por trás e que viabiliza e registra as transações das moedas virtuais. O mais interessante sobre essa história é que a tecnologia vem sendo desenvolvida desde os anos 90 e indo a público somente em 2008/2009, como comentei antes, com o lançamento do Bitcoin.

Outra curiosidade é sobre a entidade Satoshi Nakamoto que assinou o artigo, mas, até hoje não se sabe se é uma pessoa física, um grupo de pessoas, onde vive e do que se alimenta. “Fontes confiáveis” alegam que ele (ou ela) se alimenta da valorização da rede, contando que sua carteira de Bitcoins beira os R$200 bilhões.

E como na maioria das histórias sempre existem vilões, um dos fatores que geram opiniões conflitantes é a relação do anonimato das carteiras digitais, levando em consideração que as contas usadas para transações são baseadas em “chaves” contendo vários números e letras e não uma identificação formal com nome e documento, e por isso acaba se tornando um prato cheio para criminosos digitais. Outro vilão que também vem assombrando os usuários de cripto é a volatilidade das moedas no mercado financeiro.

Mas, o ponto principal das criptomoedas é justamente a visão de futuro descentralizado sendo que não se trata de uma bolha ou método de investimento e retorno, e sim uma nova forma de transacionar valores financeiros sem intermédios de terceiros. Aliás, um fato que deixou o mercado em êxtase foi o Elon Musk comprar cerca de US$ 1,5 bilhão em Bitcoin e anunciar que agora aceita a criptomoeda mais popular do mundo como forma de pagamento dos carros da Tesla.

CAPÍTULO 2 — SMART CONTRACTS: A TEC QUE MUDOU O JOGO

Nem só de Bitcoin se vive uma Blockchain e adicionando coadjuvantes (nessa metáfora do cinema) do mundo digital, em 2013, surge uma nova peça para revolucionar essa história e de forma bem semelhante a primeira: por meio de um artigo. Podemos dizer que quando o diretor é bom, o elenco brilha.

Criado pelo Vitalik Buterin, o artigo vinha propondo a criação de uma rede Blockchain mais flexível e maleável e com isso deu origem a tão famosa rede Ethereum. Além de ser uma rede peer-to-peer, Buterin adicionou funcionalidades que permitem o registro de contratos inteligentes, que basicamente consistem em acordos entre as partes diretamente envolvidas na transação e onde são estabelecidos os critérios e condições de como tudo deve funcionar, sem intermédio de um órgão regulamentador. Isso tudo é feito por meio de códigos, cálculos e programas computacionais que fazem a gestão e validação dos valores estabelecidos entre os participantes.

Existem inúmeras possibilidades de uso para esses contratos e um exemplo bem simples e um dos mais usados para tangibilizar é a “No Block No party” que de forma simples simula um problema comum de geral: o famoso “bolo” de alguns convidados que confirmam presença em eventos, mas, de última hora não comparecem. Ela funciona da seguinte forma: o organizador da festa inicia o contrato, coloca as condições/critérios (Ex.: 20 convidados, R$50 para participar da festa), registra na Blockchain e manda para os convidados “assinarem”. Com isso surgem dois cenários:

Imagem da internet simulando a lógica do No Block No Party

A ideia é que as pessoas que se registraram realmente participem da festa, mas, caso isso não aconteça, elas perdem o depósito feito e o valor é dividido entre os participantes. Quem valida e faz isso automaticamente é a própria rede com base nos critérios acordados no contrato inteligente. Ou seja, isso acontece sem interferência ou possibilidade de mudança após o registro, algo seguro, transparente, imutável e sem intermediários.

CAPÍTULO 3 — NFT: A VOZ SUPREMA DA ARTE

Ah, esse é o queridinho do momento, o que mais vem sendo falado nos últimos meses, muito por conta do impacto que está causando no mercado de obras de arte e criação de conteúdos criativos, que vai de músicas, à gifs até artigos como este.

O NFT (Tokens Não-Fungível) é um certificado/selo que é feito por meio de emissão de um token na rede Blockchain que pode representar um ativo digital, um direito, uma propriedade ou acesso a um serviço, ou seja, ele registra qualquer coisa do mundo digital. Assim como as criptomoedas e os smart contracts, o NFT utiliza da mesma dinâmica de funcionamento garantindo que o registro não seja modificado e possa ser conferido por todos. É uma nova forma de evidenciar a sua posse.

A grande diferença entre o NFT e o Bitcoin é que as criptomoedas são ativos fungíveis, que podem ser substituídos, equiparados, principalmente por critérios cambiais. Já os Tokens Não-Fungíveis (NFTs) são únicos, atrelados a um valor e nesse caso praticamente qualquer coisa pode ser tokenizada, desde que seja registrado na rede. Abaixo temos alguns exemplos:

CAPÍTULO 4 — O CROSSOVER DOS MODELOS

Quando falamos de visão holística e não linear precisamos enxergar a aplicação do todo e, para isso, vamos pegar um cenário fictício:

Imagine que você é um cineasta e deseja criar um filme. Usando a rede Blockchain, a partir da criação de um Smart Contract, você poderia ter o critério acordando que precisaria de cerca X horas de trabalho de atuação e que o pagamento por isso seria através de X Bitcoins e que no final desse contrato seria criado um NFT do roteiro original do filme.

E, se ainda não te sensibilizei de que o Blockchain vai além do hype, então vou tentar pela última vez.

CAPÍTULO FINAL — O PODEROSO BLOCKCHAIN

Imagem — Friends of tomorrow by Aerolito

Não estamos falando somente do mercado financeiro ou artístico, estamos falando de umas das maiores revoluções pós-internet e iPhone, fatos que romperam paradigmas. Acredito nisso, pois vejo o reflexo de uma nova cultura de distribuição, escala e abundância. Mais do que uma tecnologia, um padrão de negócio mais democrático, seguro e fluído, que vai atingir todos os mercados e áreas, afinal, é uma nova forma de possuir algo. Reflexo também de uma economia pós-digital que busca um modelo aberto de ecossistema ao invés de órgãos mediadores criando barreiras e controle entre as partes.

Como sabemos, a tecnologia por si só não vai criar futuros ou mudar comportamentos. Precisamos extrapolar em pesquisa, criatividade e novos casos de uso para amadurecer e estressar o real poder transformacional do Blockchain, mas, percebo que as possibilidades são gigantes.

Enfim, essa história não termina aqui e, assim como a rede é aberta e descentralizada, basta saber quando teremos novos inconformados e inovadores como Satoshi e Buterin criando novos artigos/roteiros para a continuação desse filme.

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Leonardo Gonçalves
unboxlab

Apaixonado por pessoas, thinker e maker de coração, empreendedor de fundo de garagem e entusiasta de inovação.