Coração fora do peito

Bruno Luís Pereira
Underground League
Published in
3 min readApr 15, 2019

Minha mãe e meu pai uma vez me disseram que ter um filho é aprender a viver com uma parte do seu coração fora do corpo. Apesar de para os filhos seguir seus sonhos longe dos pais ser um rumo natural das coisas, há um requinte de crueldade em como, da noite para o dia, o ninho fica vazio.

Em eSports, não apenas muitos jogadores batalham pelo sonho de se tornarem profissionais, mas também devem lidar com pais e responsáveis que não estão prontos para entender 100% o que significa o mundo dos esportes eletrônicos, e o que é ver o filho sair de casa cedo para morar numa tal de gaming house com outros garotos que possuem o mesmo objetivo.

Com o passar do tempo, nossa percepção dos nossos pais muda. No começo, são super-heróis, já na adolescência viram até mesmo vilões, mas depois viram amigos, conselheiros — ou voltam a serem heróis.

E vice-versa.

“Moço, é o meu filho!”, implorou o senhor sentado numa cadeira de rodas. “Chame ele, por favor, é o meu filho ali!”

“Qual deles, senhor?”, perguntou Pedro Pavanato, fotógrafo da final da Primeira Etapa do CBLoL, que estava no meio da multidão da INTZ que comemorava o título conquistado por 3–2 contra o Flamengo.

“É o Maestro!”

“A grande maioria dos torcedores aqui era do Flamengo, cara”, me disse um torcedor pouco depois de acabarem as comemorações do tetra Intrépido. “Mas naquele cantinho ali estavam os pais e mães do pessoal da INTZ, e eles não paravam de cantar. Às vezes mais alto que a galera do Fla”

Muitos não conhecem League, e praticamente todos ficam tensos quando uma luta começa. São muitas informações diferentes.
O telão se enche de magias, Campeões e feitiços.
Os narradores falam rápido, dizendo termos desconhecidos.
Double Kill, Triple Kill, combar a entrada e smitar o Baron.
Dos lados, as torcidas parecem competir para quem grita mais alto.
Vez ou outra o nome do filho é ouvido, e a adrenalina dispara.
A mão segura a cadeira,
como se para passar força para a outra parte do coração.
Apreensão.

São irmãs, são tios, são avós e são primos. Muitas vezes no Brasil, são só mães. As únicas coisas que não mudam são a tensão durante as partidas, e a certeza do conforto ao final do jogo, seja na vitória ou na derrota, sorrindo ou chorando — ou os dois.

O orgulho de ver o filho, campeão ou não, seguindo o seu caminho e batalhando pelo seu futuro, provavelmente não tem preço.

Ao final, a Família conhece a família com quem os jogadores escolheram conviver numa carreira profissional que muitas vezes se mistura com a pessoal. Do alto da arquibancada vi as mães dos jogadores da INTZ se reunirem para puxarem, entre elas, o grito de “1, 2, 3, GO INTZ!” que seus filhos repetem semanalmente, a plenos pulmões.

E desta vez com uma taça na mão.

O ninho pode já estar vazio, mas o pássaro de vocês já está voando.

As imagens do texto são de divulgação da Riot Games.

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