Da dor à motivação
Sentado em sua cadeira, nos Estúdios da Riot Games em São Paulo, SP, Caio “Loop” Almeida sentia o cerco fechando sobre si mesmo.
A Red Canids tenta o seu milagre, forçar mais um jogo para tentar a redenção de uma Etapa extremamente complicada — narra Schaeppi
O tempo era seu aliado. Se conseguissem segurar mais, talvez a Red Canids conseguiria um pickoff contra o Flamengo, e aliviaria um pouco o jogo.
brTT e Loop eliminados! Cada equipe perde um, mas parece que o Flamengo vai continuar rumo ao Nexus. Já não existem mais torres protegendo.
Loop balança negativamente a cabeça. Como se os seus músculos soubessem antes da mente que este seria o fim da linha. O final mais dolorido é aquele que você nem ao menos tem poder de fazer qualquer coisa.
A não ser olhar.
O Flamengo vai tentando dizimar o time da Red. Cai também LEP. Somente os coreanos de pé! Mas o Flamengo ignora e foca o Nexus. Está decretado! O Flamengo vence e rebaixa a Red Canids!
No andar de cima, Loop inclinou a cadeira para trás e fechou os olhos. O celular vibrava ininterruptamente com a chegada de mensagens. Críticas e apoio. Mas eles não entendiam. Mensagem de amigo, palavra de familiar, ou mesmo um abraço de um companheiro de equipe não o fariam desaparecer da Terra por um ou dois dias. É, acho que era disso que ele precisava.
Mas o tempo passa, e as pessoas esquecem.
Outras notícias chegam para tomar o lugar de histórias de derrotas e tristeza. Ninguém se lembra muito de quem terminou do lado cinza em League of Legends.
Por muito tempo o relógio correu, menos para Loop.
Ele não se esqueceu.
Há quatro meses atrás, Loop disputava a última partida competitiva do ano. Neste tempo, seu processo de cura passou por diversos estágios. Do tempo de mídias sociais à reclusão do jogo. Pouco a pouco, a poeira baixou, e sua história de tragédia virou mais uma das escritas em 2018.
Talvez, quando a Temporada 2019 começar, os casters falarão na transmissão do duplo rebaixamento do Suporte em 2018, e aí os telespectadores soltarão um “Puta, é verdade haha!” do conforto de suas poltronas.
Nenhum lugar é verdadeiramente sua casa quando, em primeiro lugar, você não está em casa, por mais óbvio que possa parecer. Algo incomoda. Sempre há uma pulga atrás da orelha. Um desejo de fazer algo quando não há nada para fazer. Para o Suporte que disputou nove CBLoLs, o Circuito Desafiante é um lugar extremamente desconfortável.
Quando Loop foi vice-campeão do primeiro CBLoL, no longínquo ano de 2012, a maioria massiva das pessoas que logam diariamente em League of Legends sequer conheciam o jogo.
Narrei aquela final entre as irmãs vTi.Ignis e vTi.Nox (Loop era Atirador da última), e me senti extremamente surpreso quando, antes de subir ao palco para disputar a final do CBLoL 2017 pela paiN Gaming, contra a Team One, Loop parou, me deu um abraço , e disse:
Quem diria, hein? Que cinco anos depois daquela final, estaríamos nós dois aqui ainda. Eu jogando, você observando. Mesmo depois de tanto tempo.
Aquela frase me marcou.
A derrota da paiN me fez querer voltar para os bastidores e dar o mesmo abraço que dei em todos os jogadores da vTi.Nox após a derrota na final de 2012, mesmo que estivessem felizes de ter terminado na segunda posição.
No entanto, Loop estava sentado, de olhos fechados e reclinado na cadeira.
League of Legends em 2017 vale muito mais do que em 2012.
Não estava na sala com a Red Canids após a derrota do rebaixamento no CBLoL 2018, mas tenho claro em minha cabeça que Loop repetiu os movimentos da derrota na final de 2017, com a adição óbvia do peso de ter tido um péssimo ano em duas equipes diferentes.
Mas… o tempo passa. Até para Loop.
Hoje, os dias não tem mais 30h de duração como eram em 2018.
Hoje, ele consegue entender o verdadeiro significado das mensagens de apoio que recebeu após os momentos mais difíceis de sua carreira.
Hoje, ficaram apenas cicatrizes.
Dor e derrota, virando suor e motivação.