Pandemia

Bruno Luís Pereira
Underground League
Published in
3 min readSep 5, 2020
Foto: Bruno Alvares (Riot Games Brasil)

O relógio já deixou as 13h para trás.

Em um mundo sem a pandemia do Coronavírus, este seria o provável horário de início da final da Segunda Etapa do CBLoL 2020, o ápice do competitivo de League of Legends no ano.

Nos metrôs, ônibus e Ubers da cidade, torcedores vivem em olhares perdidos através das janelas a expectativa de um dia que promete fortes emoções. O virtual encontra o real no evento que marca o confronto dos dois melhores times do país, e o representante da região no Campeonato Mundial. É muita pressão, até para quem não segurará um mouse ou teclado.

Não muito longe dali, brTT e micaO se apressam com seus companheiros para entrar nas vans que os levarão ao evento que, novamente, mudará as suas vidas. Para jogadores profissionais as finais tem esse peso, não importa se você possui cinco riscos embaixo do olho ou se ainda busca o primeiro.

Milhares de fãs se reúnem na calçada, as filas que se informam são imensas, mas a alegria é contagiante, e impede qualquer minuto debaixo do sol de estragar a festa das torcidas de paiN Gaming e INTZ, que se provocam amigavelmente lembrando de clássicos passados, principalmente a histórica final de 2015.

Na sala da INTZ, antes do jogo começar, os Intrépidos fazem sua característica meditação, seguida de aquecimento e uma leve alimentação. Os jogadores riem e se distraem, como se a sala fosse à prova da realidade que os enfrentará ao passar da porta.

Na sala da paiN, os jogadores escutam música em seus fones. A concentração é máxima. Eventualmente, uma roda é formada pela comissão técnica, psicólogos e jogadores. Cada um têm seu momento de falar, mas eventualmente todos olham, ansiosamente, para brTT.

A hora chega.

Detrás do pano preto que separa os bastidores do palco, o show de abertura que encanta milhões é formalidade para os dez jogadores. Não assistirão, pois estarão participando. Pouco a pouco, sobem as escadas e, caminhando na direção da Taça do CBLoL em frente ao palco, levantam as mãos para a torcida.

Pandemia

Os fãs gritam e batem palmas
Outros puxam e abraçam os amigos
Uns beijam as camisas
Outros fazem mais promessas e pagam castigos

Valeu de tudo para chegarmos até aqui.

A pandemia que aqui se encontra é a da felicidade que se espalha contagiante entre as casas ao redor do país. Como se um vírus entrasse em cada computador e celular, as redes e cabos de conexão se interligam em apenas uma transmissão.

Pela internet e televisão, apontam para a tela.
“Olha a cara do Robo!”
“O Shini não quer perder isso nem a pau”

De frente a um estádio lotado com o som de uma torcida fantasma, os jogadores não conseguem ouvir os gritos, mas conseguem sentir a vibração.

Acreditem.

Eles conseguem.

Para alguns, o ato físico de levantar as mãos é a pedida.
Outros juntam as mãos em preces para orar por seus ídolos.
Tem aqueles que fecham os olhos e mentalizam seu time levantando a Taça.

E a energia é mais rápida que o ar. Corta o vento como se não houvessem obstáculos ou distância.

Não há barreiras para a paixão. Aonde alguns milhares estariam presentes, hoje somos milhões, cada um de sua casa.

Este sentimento nós que construímos, a nossa pandemia é a do grito, a do alento. Transforma energia em ferro e papel picado.

Hoje, mais do que nunca, somos CBLoL.

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