Passo a frente

Bruno Luís Pereira
Underground League
Published in
5 min readJun 17, 2019

Liderança é um termo usado, muitas vezes, de forma automática.

Em esportes é praticamente alcunha para o capitão da equipe. Mas e se eu te dissesse que a liderança não é exclusiva do capitão? Ou da estrela do time? Ou ainda do técnico, ou diretor, ou CEO

A liderança pode acontecer por diversos meios: experiência, popularidade, habilidade, escolha dos companheiros.

O que muitos falham a entender é que liderança não é um cargo.

Liderança é um ato.

Com elencos rachados na terceira semana da Segunda Etapa 2019 do CBLoL, Flamengo e Team One provaram a tese de que, enquanto a liderança às vezes acontece de quem se espera, por vezes ela também aparece na menor das ações.

Porque a liderança não é restrita a um indivíduo. Ela não é quantitativa.
Ela é muito mais sentimento.
Pode aparecer e, pouco depois, sair sem deixar rastros pra quem não se preocupa em procurar entender a nobreza do grande ato da liderança:

Abrir mão de si próprio pelo bem maior do grupo.

Na maioria das vezes, o líder “de facto”, isto é, quem todos sabem que é líder, faz o que é quase sua responsabilidade, mesmo que ninguém — por vezes nem ele mesmo — espere que ele faça.

Ao dar o passo para frente na falta de Luci pela segunda rodada consecutiva e assumir o posto provisório de Suporte do Flamengo com apenas dois treinos, brTT fez exatamente o que se espera de um craque do seu calibre e experiência: bateu no peito e assumiu a responsabilidade de um cargo que não é o seu. Abriu mão de sua posição de ofício, Atirador, para ajudar seu clube de coração e seus companheiros.

Ser esperado que ele inevitavelmente chame a responsabilidade — como fez outras tantas vezes — diminui a nobreza do seu ato? Não.

A brTT, a derrota na série não veio acompanhada de desculpas. Ele sabia o peso da decisão que tomou, e que sua equipe acatou com uma confiança que o craque é capaz de dar.

No entanto, enquanto os olhos invariavelmente estavam em brTT, outra liderança despontou na equipe, vinda da adversidade que é a falta de um jogador do calibre de Luci, melhor Suporte do CBLoL.

Ela nasceu de maneira espontânea e quase que popular, marcas registradas de Seong “Reven” Sang-hyeon, o Flanalista, integrante da comissão técnica do clube rubro-negro carioca.

Podem dizer que, a partir do fato de que o Flamengo tem um problema, é dever de todos que lá estão fazerem o possível para resolvê-lo.
No entanto, foi Reven quem foi acionado para retornar a um jogo competitivo quase dois anos após sua última partida, pela Tempo Storm no Desafiante Americano de 2017.

Ao dar um passo a frente, Reven quase que sem querer foi humilde a colocar os principais problemas da equipe em primeiro lugar, mesmo que sua saída temporária tenha rendido outras preocupações para a comissão técnica. O fogo aconteceu, e ele foi o primeiro bombeiro a chegar ao local.

O brincalhão e descontraído analista do Flamengo eSports.

Do outro lado da tabela, a Team One batalhava contra seus próprios demônios com o afastamento por problemas de saúde de Absolut, uma joia rara do cenário de LoL no Brasil que tem sua carreira ameaçada pela tendinite.

4LaN, que é conhecido por comentários ácidos e ações fora de jogo que rendem dias de debate da torcida, ainda assim sempre foi visto como um líder da equipe. Os Golden Boys tentaram de tudo um pouco, usando quatro formações diferentes em cinco partidas que acabaram em derrota, até finalmente vencerem neste domingo, com o Caçador 4LaN atuando — muito bem — na posição de seu grande amigo Absolut, que é Atirador.

A liderança, portanto, não é restrita a uma pessoa dentro de uma equipe. Ela é um recurso que qualquer um pode utilizar quando menos (ou mais) espera-se das pessoas. Também, a expectativa de alguém dar um passo a frente não diminui em nada a humildade de abrir mão de si próprio, colocando o todo em primeiro lugar.

Ela vem do “baderneiro”,
ao sentir a necessidade de seus companheiros e sair de sua zona de conforto.

Ela vem do analista,
ao deixar seu papel primário e vestir sapatos que não são os seus.

Ela vem da estrela,
ao puxar a responsabilidade e abrir mão do seu em prol do time.

Hoje, muitas equipes do CBLoL carecem de uma figura que dê um passo a frente e lidere o time para a vitória. O reflexo disso são poucos personagens que se destacam individualmente em um jogo 100% coletivo, o que é algo, na verdade, muito natural de qualquer esporte.

Ao mesmo tempo, mais do que carecer desta figura, me parece que falta à quem está no cenário o entendimento de que nada disso é forçado.

A maioria das pessoas não são líderes, elas “estão” líderes nos momentos em que os companheiros mais precisam delas, e da mesma maneira, terão a humildade de seguir outras lideranças que aparecerem momentaneamente na hora do aperto, da derrota, e de quando o lugar que mais for conveniente for o ombro amigo.

Imagens do texto: Riot Games

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