Um bolo sem festa

Bruno Luís Pereira
Underground League
Published in
6 min readFeb 27, 2019

A tela do monitor ligada na IEM Katowice, o primeiro major de Counter-Strike de 2019, e o clima descontraído dentro da sala da ProGaming Esports pareciam lutar com a realidade vivida fora daquelas quatro paredes nos estúdios da Riot Games Brasil, em São Paulo.

Última colocada na tabela de classificação e três pontos atrás dos penúltimos colocados CNB e KaBuM, a ProGaming vive o seu momento de maior perigo nos dois anos que completa disputando a elite do competitivo nacional de League of Legends.

Após perder Minerva, Vert e Professor na última janela de transferências, além de emprestar SkyBart para a Team One, a ProGaming ficou sem referências em Summoner’s Rift. Com um mês de trabalho, o técnico norueguês Utama foi dispensado, e Dionrray assumiu a equipe como técnico-chefe.

Naquele momento, a ProGaming havia perdido seus quatro jogos, sem sinal de melhoras dentro de jogo.

Dionrray abre a porta, mas deixa Lima, fNb e Wos entrarem primeiro. O técnico fecha a porta e, com um calmo “Pessoal…”, faz Luskka fechar a transmissão do CS:GO e Maicon, gerente da PRG, desligar a televisão que passava Uppercut x Redemption.

“… deixei para conversarmos pouco antes de jogar, para que isso fique na cabeça de vocês sem distrações. Vai ser rápido”, diz Dionrray, se posicionando no meio da sala, encostado à parede.

Um mês após assumir o cargo, a ProGaming exibiu sinais de melhora. Conseguiu vencer jogos contra a CNB, no primeiro turno, e Uppercut, no segundo, além de vender algumas derrotas a custo de sangue para outras equipes. Infelizmente, após o começo lento, ainda não parece o suficiente, e o risco de rebaixamento automático coloca um peso gigante nas costas do time.

A série contra a CNB pela sexta rodada do segundo turno não só é uma oportunidade de bater uma equipe que já haviam vencido, como também é um confronto direto contra uma das equipes acima dos Caveiras na tabela.

O foco da conversa é o draft, e cada um dos jogadores guardam para si informações importantes até Dionrray terminar de falar.

“Vai ganhar o time que jogar melhor com o jungler, e vocês sabem que a CNB roda através do Yampi”, comenta o Caçador reserva Leozuxo.

“Tivemos uma boa semana de treinos e sabemos que estamos evoluindo. Vai ganhar quem jogar melhor em conjunto, galera”, diz Luskka, o Atirador.

Leozuxo dá um tapa nas costas de Luskka. “Boa sorte, mano, faz a gente feliz”.

Ansioso, o Atirador desce a escada rapidamente, apenas para ser convocado de volta e puxar o grito da equipe no corredor em frente a sala da CNB, ainda de portas fechadas.

“Cheguei a tempo, né?”, diz Geto, Diretor de Esports da ProGaming, entre respiros pesados. O draft do jogo está em andamento na tela.

Vitor Bexiga, CEO da organização aponta para uma sacola em formato estranho nas mãos de Geto. “Me fala que isso não é o bolo”, diz, já rindo.

Geto tira de uma sacola, na vertical, um bolo, todo escorado para o lado e escalando a embalagem de plástico que o prende, fazendo as sete pessoas da organização na sala rirem e colocarem as mãos no rosto.

Dionrray chega instantes depois, recebido com elogios de Leozuxo e Garo (Atirador reserva). “O draft foi muito bom, Dion, muito mesmo”, elogiam. Geto trabalha em conectar uma caixa grande de som no equipamento de áudio da equipe, e logo todos conseguem ouvir as comunicações do time, em sua grande parte lideradas por Luskka.

No jogo, no entanto, a ProGaming começa mal. Ao tentar puxar o gatilho no bot, Luskka e Wos perdem todos os seus feitiços e não conquistam o abate, mesmo com o auxilio de Lima. Na sala da equipe, ninguém move sequer um músculo ao assistir o erro mecânico dos jogadores.

Pouco depois, a cobrança. Yampi desce e, sem feitiços, Wos é presa fácil para a CNB, e Lima também paga a conta com juros sendo abatido no processo. Luskka não desanima, e continua fazendo o planejamento da equipe ao mesmo tempo em que foca em farmar e controlar a rota inferior. Sua voz preenche tanto o servidor da PRG quanto a sala no andar de cima.

Os Caveiras, com um Dragão na mão, tentam ao menos tomar posse dos objetivos, mas os Blumers tem outra ideia. Dragão e mais dois abates para as mãos da CNB. Maicon solta um suspiro pesado, e Dionrray apoia as mãos no rosto. Aos 15 minutos, a ProGaming já está com 4k de ouro de desvantagem.

“Nosso bot tinha pressão”, diz o técnico em voz alta. “Foi aquela call errada…”. “Quatro feitiços por dois”, relembra Garo.

Luskka não desanima. Atualiza os companheiros dos próximos objetivos e controle de visão, sendo recebido com concordâncias dos demais jogadores. Deus sabe que, em League, o primeiro passo para perder uma partida é não saber se adaptar mentalmente e estrategicamente para as milhares de coisas que podem acontecer em um jogo.

A CNB cansa de esperar. Com a vantagem de ouro, visão e pressão de mapa, aproveitam que fNb (Topo) e Lynkotiko (Meio) desceram para abater Duclou (Topo da CNB) e puxam o gatilho no Barão através da vantagem numérica.

FNb utiliza o Teleporte no rio, e Luskka começa a gritar.

A staff da ProGaming fica tensa, inclinando-se nas suas cadeiras, cerrando os olhos e abrindo os ouvidos, sentindo a enxurrada de informações que chegam por segundo.
De decidida, a CNB é atingida pela dúvida. Luta ou objetivo?
“É agora, eles vão trollar no Barão”, diz Garo.
Entre gritos dos companheiros, Lima entra muito cedo e recebe muito dano. A ProGaming se assusta, a CNB se divide para conquistar, e em dois segundos o que parecia bom, torna-se ruim. Caprichos do League.
Mesmo antes de acontecer, Dionrray praticamente prevê, balançando levemente a cabeça em sinal nagativo.
A sentença final vem pelo áudio da equipe, com um segundo de antecedência na tela.

“Ah cara, ele pegou”, lamenta Lima.
Yampi comba Barril, Barrigada e Golpear para conquistar o Barão e abater Lima e Wos no processo.

“Nem jogamos direito”, diz Lima. “Foi full misplay”, concorda Wos, enquanto a CNB marcha pelo meio destruindo as estruturas dos Caveiras.

Os jogadores descem os fones, e a sala da ProGaming mergulha em silêncio.

“Vamos arrumando as coisas para irmos embora”, diz Maicon, resignado. Todos começam a se mexer, menos Dionrray, que se presta a olhar os Blumers derrubando o Nexus de seus comandados.

A equipe deixa a sala. Geto é o último. Sem cerimônia, ele pega o bolo com cuidado e coloca-o novamente na sacola, na horizontal.

Agradecimentos especiais ao Geto e à ProGaming, por abrir o espaço da equipe para a realização da crônica, e ao Dionrray pelo papo ao final da partida.

Imagens: Bruno Alvares, Riot Games

--

--