Como (e porquê) falar sobre tecnologia com todo mundo
Dentro do universo acadêmico, mais especificamente das produções científicas no campo das ciências humanas, conseguir produzir e transmitir conhecimento de maneira simples é algo louvável. Quando apresentei minha monografia de conclusão de curso na graduação, um dos comentários da banca avaliadora que mais me chamou a atenção foi quando disseram que minha produção era fácil de ler.
Há mais ou menos 1 ano e meio atuando em Comunicação Interna na unico, me deparei com alguns desafios de comunicação. Por ser uma empresa de tecnologia, alguns termos técnicos específicos da área são muito usados, mas nem sempre todo mundo sabe o que eles querem dizer. Como responsável pela comunicação interna, muito além de entender meu público e adequar a mensagem e canal a ser usado, meu objetivo é fazer com que todo mundo — sim, todo mundo — entenda o que está sendo dito, afinal, sem compreensão, o objetivo da comunicação não foi alcançado.
Na minha estratégia de produção de conteúdo, esses são os passos importantes:
1. Entender o público:
Quem são as pessoas com quem você vai falar? De onde elas são? Qual a faixa etária? E a escolaridade? O gênero? Do que elas gostam? As respostas de todas essas perguntas são super importantes para conseguir definir as personas com quem você vai se comunicar e assim ajustar tom de voz, as mensagens, os canais.
“A leitura do mundo precede a leitura da palavra (…). O ato de ler o mundo implica uma leitura dentro e fora de mim. Implica na relação que eu tenho com esse mundo”.
(Paulo Freire — Abertura do Congresso Brasileiro de Leitura — Campinas, novembro de 1981).
2. Perguntar tudo:
Para garantir que eu produza um conteúdo sobre Tecnologia que seja compreensível por pessoas que não são da área de Tecnologia, minha primeira regra é garantir que eu mesma tenha entendido. Ou seja, eu faço muitas perguntas! O que é deploy? O que é arquitetura de software? Como funciona um motor biométrico? Também já perguntei o que é backend, pra que serve um algoritmo, o que é uma query e por aí vai. Não dá pra ter vergonha.
3. Escrever do jeito mais simples possível:
Depois de perguntar tudo, escrever do jeito mais básico possível. Nesse momento não precisa estar bonito ou coeso, precisa estar fácil. Parece simples fazer isso, porém a ideia é não usar nenhum tipo de termo técnico, mas sim traduzi-los completamente e para isso você precisa entender muito bem o que ele significa. Usar analogias pode ajudar nesse processo.
4. Organizar e revisar:
Agora é a hora de construir toda a narrativa. É importante organizar todas as informações de uma forma que faça sentido e que seja interessante, fácil e fluida. Além de sempre pedir a aprovação do conteúdo com o time de Tecnologia, gosto de pedir para outra pessoa que não seja da área para que ela me diga se a mensagem está clara.
O relatório da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) mostra que a área de Tecnologia da Informação (TI) demandará cerca de 420 mil profissionais até 2024. Apesar deste cenário favorável, hoje temos uma baixa quantidade de formação de mão de obra anual e isso é um alerta para o risco de um apagão de profissionais qualificados para ocupar os postos vagos.
Tá, e o que isso tem a ver com comunicação interna? 🙄
Bom, eu acredito que possa ter tudo a ver. Assim como acredito que nós, produtores de conhecimento acadêmico, devemos tornar nossas produções o mais acessíveis possível, o mesmo deve se aplicar ao contexto profissional de quem trabalha com comunicação. Como já comentei lá em cima, nem todo mundo da empresa é da área de Tecnologia — e se isso acontece por falta de acesso ao universo tech ao longo da vida?
Aqui na unico já tivemos casos de pessoas que não eram da área mas que se apaixonaram por ela a partir de trocas de experiências e transacionaram para a carreira em tech. Acredito que a comunicação interna possa sim ser uma aliada nessas movimentações ao mostrar todo um universo de novas possibilidades, novos desafios e novas criações.
Fui longe falando até sobre novas possibilidades de carreira, mas é claro que a comunicação interna também precisa cumprir o seu papel de informar, engajar e motivar todos os funcionários. E sim, isso pode ser feito de forma simples, leve e divertida, mesmo quando a gente vai explicar o que é uma esteira de CI/CD e como ela é aplicada aqui na unico. 😉
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Mariana Victorino é Analista de Comunicação Interna na unico.
