Eu representatividade. Por onde a mudança começa?

Rubia Ferreira
Único
Published in
6 min readJan 13, 2022

Que a unico tem um time de mulheres incríveis em toda parte você já sabe, certo? 👩

Mas falando da área de CyberSecurity, pois estou nela 😄, em um crescimento exponencial e em curto espaço de tempo avançamos com os times de Cyber Research, Privacy Engineering, Riscos, Security Operations, Security Engineering e Governança contando com mais de 22% do quadro composto por mulheres trabalhando nessas frentes.

O dado é interessante porque globalmente as mulheres representam apenas 24% da força de trabalho na área de cibersegurança, de acordo com o relatório da Women in Cybersec 2021.

O sentimento que eu tenho, todas as vezes que vou falar sobre o tema, é que sempre estou defendendo os mesmos números ou até mesmo comemorando algo que ainda não foi alcançado, ou sendo questionada ao invés de estar pronta para comemorar as pequenas conquistas. Mas logo quando me lembro das mulheres incríveis que eu tive o prazer de conhecer, estudar, trabalhar, assistir, contemplar, ou até mesmo por ter a possibilidade de estar escrevendo e enviando este artigo digitalmente (Obrigada, Ada Lovelace 🙌) eu entendo que a estrutura em décadas passadas sempre quis nos derrubar, queimar (lembra das bruxas?!)… Porém, aqui na unico o sentimento é outro.

Tudo muito filosófico e histórico, porém necessário, ao ponto de desenharmos aqui um novo futuro. Precisamos entender onde é que o 2 + 2 = 4. Como? Por exemplo, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, o PNAD 2019, o número de mulheres no Brasil é superior ao de homens. A população brasileira é composta por 48,2% de homens e 51,8% de mulheres.

Além de ser a maioria da população brasileira, segundo a Agência Brasil, 57% dos estudantes matriculados em instituições de ensino superior são mulheres. Nos cursos de licenciatura, por exemplo, elas ocupam 71,3% das vagas. Nos cursos de bacharelado, esse número é de 54,9%.

Se somos maioria na população e nas universidades, onde estão essas mulheres?

“Você tem que agir como se fosse possível transformar radicalmente o mundo. E você tem que fazer isso o tempo todo.” Angela Davis

Na história, elas estão em todo lugar e aqui vou pontuar coisas como, quanto tempo você passa diariamente utilizando internet por Wi-Fi? Quantas vezes você abriu a sua geladeira hoje? Quão importante são os computadores no seu dia a dia? A resposta é simples, mas surpreendente para algumas pessoas: todas foram inventadas por mulheres!

Cŕeditos: https://www.siteware.com.br/lideranca/mulheres-na-tecnologia/

Sabe aquela máxima, não adianta querermos resultados diferentes se estamos fazendo a mesma coisa? Ela é verdadeira e explicada por muitas pesquisas que mostram onde erramos com as garotas, na ciência e tecnologia.

Voltando alguns passos e falando só sobre ciência e tecnologia, nos anos 50 as mulheres costumavam ser maioria na área de computação, diferente de outras áreas e carreiras de hoje em dia. Isso é explicado por um artigo do New York Times, “The secret life of women programmers” onde: “Fazer o hardware funcionar era visto como algo heróico, função de engenheiros. Em contraste, a programação não exigia habilidade e era quase algo de secretárias. Além disso, as mulheres já estavam há muito tempo fazendo o trabalho tedioso de cálculos.”, além de afirmações como “naquela época, estereótipos de gênero trabalhavam a favor das mulheres, alguns executivos até diziam que a experiência tradicional das mulheres em atividades como tricô e costura manifestavam precisamente o mindset procurado: lógico, bom em matemática e meticuloso.”

Operadoras de computador com um Eniac — o primeiro computador programável de uso geral do mundo. Créditos: Corbis/Getty Images

Nos anos 80 quando o computador pessoal entrou nos lares, eles eram destinados como presente aos garotos enquanto as meninas estavam sendo direcionadas a outros brinquedos e outras brincadeiras, nesse caso distanciando a exposição à tecnologia, pensamento lógico, raciocínio, etc.

Já dentro das empresas, além de não contar com a maioria ou pelo menos equidade de gênero dentro da área, temos ainda que driblar e resistir a cultura ultrapassada do ambiente de trabalho, horas inflexíveis, maternidade, assédio, que são máximas que nós não precisamos de pesquisas para explanar. Eu te pergunto: Quantas mulheres você já ouviu compartilhando situações como estas que citei?

Imagina falar não para o Steve Jobs? Foi o que a Adele Goldberg fez. Ela trabalhou na XEROX PARC, no desenvolvimento do que seria o primeiro computador de mesa com interface gráfica e fácil usabilidade, o XEROX ALTO. Ela se recusou a levar Jobs para conhecer as instalações do laboratório, mas teve que fazê-lo por “ordens superiores”. E o que deu, todo mundo sabe. Ele ganhou o mérito de divulgar o uso da interface gráfica (popularmente conhecida pela sua sigla em inglês GUI) para o mundo e ela tinha sido a única a enxergar a sacada de que a empresa ia perder tudo, e perdeu.

A pesquisa primária do Gartner mostra que organizações de todos os tamanhos e recursos podem aumentar a porcentagem de mulheres em sua força de trabalho com programas direcionados, que é o que estamos fazendo aqui na unico.

Abaixo, uma imagem esclarecedora da Gartner.Todas as rachaduras contribuem para o vazamento: a diversidade de gênero exige uma abordagem holística, publicação de 20/09/2021:

1 - Mitigar a sub-representação de práticas de recrutamento uniformes ou estagnadas.

2 - Demonstrar que as mulheres são valiosas em papéis de liderança.

3 - Construir políticas e programas que quebrem as barreiras para uma gestão de desempenho equitativa.

4 - Permitir o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Para todos.

5 - Descobrir e superar preconceitos subconscientes.

6 - Comunicar o impacto que o avanço das mulheres tem sobre o sucesso financeiro dos negócios.

Estamos traçando um plano onde olhamos para muitos destes pontos há algum tempo, buscando metas à serem batidas garantindo o crescimento de mulheres no time tech e liderança, promovendo tech talks internos e externos, contamos com uma forte rede de apoio para assuntos gerais com a gestão muito próxima de todas, ações de encorajamento, e mulheres apoiando mulheres em projetos de mentorias.

Para alcançarmos este novo patamar, precisamos contar com recursos que estão empenhados em transformar nossa sociedade. Por onde passei, ações muitos simples como a busca de equilíbrio e direcionamento de vagas com intuito de incluir as mulheres, mentorias e o mais importante: sendo representatividade para elas fizeram a diferença. Em todas as minhas experiências pude ver o crescimento de quase metade da equipe na diversidade de gênero. Os resultados foram incríveis e eu tenho colhido experiências maravilhosas não só para mim, mas entender que fazer a diferença só depende de nós.

Além destas ações, temos o projeto Mães na engenharia, criado pela Fernanda Weiden, nossa Board Member & Technical Advisor, e já temos 4 mamães trabalhando no modelo de jornada reduzida, flexibilidade de horários e adaptado às expectativas de desempenho, pois o nosso olhar está atento para esse novo modelo do começo ao fim do processo.

Sabemos que esse é só o começo. A primeira de muitas conquistas futuras, sem apenas ser uma responsabilidade social. Nós temos a chave para abrir todas as portas, só nos basta fazer. Estamos nos tornando referência para o Brasil e quem sabe, para o mundo. Projetos como esses são concebidos dentro das grandes corporações, mas para isso precisamos contar com seres como Eu e você. Eu sou representatividade, e você?

Rúbia Ferreira é Cyber Security Analyst na unico.

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