O PACTO MOLOTOV-RIBBENTROP: ALIANÇA DE STÁLIN COM HITLER?

Um dos principais “argumentos” usados pelos anticomunistas, Trotskystas e anti-leninistas, sejam eles conscientes ou não de seu anticomunismo, é que o pacto Molotov-Ribbentrop de Não-Agressão entre a União Soviética e a Alemanha Nazista deixaria claro o mútuo apoio entre seus líderes de estado, respectivamente Josef Stálin e Adolf Hitler. Essa análise não só está errada, como faz com que o papel da URSS em ter salvo a humanidade do nazi-fascismo seja corrompido por afirmações infundadas.

theoriapura
Unidade e Luta
18 min readAug 6, 2017

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A POLÍTICA EXTERIOR DE ADOLF HITLER E A CAPITULAÇÃO DA FRANÇA E DA INGLATERRA

Um dos temas recorrentes nas biografias sobre Josef Stálin é o Pacto Molotov-Ribbentrop de Não-Agressão, firmado em 23 de agosto de 1939, em Moscou, pelo Ministro de Assuntos Exteriores Alemão, Ulrich Friedrich Wilhelm Joachim von Ribbentrop, e o Chairman do Concelho do Comissariado Popular da União Soviética Vyacheslav Mikhailovich Molotov. Esse pacto é considerado pela historiografia burguesa a maior traição de Josef Stálin, acusado de ser o causador da Segunda Guerra Mundial por ter deixado Adolf Hitler de mãos livres para atacar a França e a Inglaterra. Entretanto, a realidade histórica é muito distinta da que escrevem certos “especialistas” acostumados a uma visão maniqueísta da História.

Durante a década de trinta do século 20, as tensões internacionais adquiriram um caráter explosivo devido às agressões das potências fascistas. Em 30 de janeiro de 1933, Adolf Hitler nomeado Chanceler[1] da Alemanha e iniciou uma política exterior cujas bases foram a destruição do Tratado de Versalhes[2] e a conquista do “espaço vital”[3].

Após abandonar a Sociedade das Nações (SDN), Adolf Hitler estabeleceu o serviço militar obrigatório e reiniciou o rearmamento alemão em março de 1935. Um ano depois, em março de 1936, remilitarizou a região da Renânia. Ambos os fatos constituíram uma flagrante violação do Tratado de Versalhes, firmado pela Alemanha em 1919, após sua derrota na Primeira Guerra Mundial. A França, a Inglaterra e a Sociedade das Nações se limitaram a protestos verbais. Em 13 de março de 1938, Adolf Hitler anexou a Áustria — Anschluss — e exigiu da Tchecoslováquia a região dos Sudetos. Na Conferência de Munique, celebrada em setembro de 1938, França e Inglaterra capitularam diante do ditador alemão e obrigaram o governo da Tchecoslováquia a entregar o território. Pouco depois, em março de 1939, tropas alemãs entraram na Tchecoslováquia. A parte ocidental se tornou o “Protetorado de Boêmia-Morávia” e a Eslováquia passou a ser um estado submisso manejado pela Alemanha. Em 23 de março, Hitler anexou, após ultimato, o território lituano de Memel.

Por sua parte, o Japão havia invadido a região chinesa da Manchúria, em setembro de 1931, Benito Mussolini, o ditador fascista da Itália, ocupou a Etiópia — Abissínia -, em outubro de 1935. Era evidente que as potências fascistas se propunham mudar a ordem mundial., e para isso estreitavam seus laços e alianças. Hitler e Mussolini enviaram quantidades maciças de armamentos para Francisco Franco, durante a Guerra Civil Espanhola, e, em outubro de 1936, formou-se o eixo “Roma-Berlim”. Japão e Alemanha firmaram, em novembro, desse mesmo ano, o “Pacto Antikomintern” para combater a URSS e a Internacional Comunista. A Itália se uniu ao Pacto em janeiro de 1937 e Francisco Franco o fez em março de 1936[4].

Enquanto a agressividade fascista não tinha limites, a França e a Inglaterra praticavam uma política de apaziguamento. Em vez de oporem-se resolutamente ao fascismo, falhavam, abandonando à própria sorte a Tchecoslováquia e traindo a Republica Espanhola. Não se tratava de cegueira ou um erro de apreciação, como apontam alguns historiadores, nem tampouco do pacifismo de uma sociedade que recordava com horror a carnificina da Primeira Guerra Mundial. Evidentemente alguns desses elementos podiam influir, mas o fator fundamental consistia em que as classes dominantes da França e da Inglaterra viam Hitler como um anticomunista que as livraria da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o defensor do capitalismo que havia destruído as poderosas organizações operárias da Alemanha. Enquanto Hitler marchasse à URSS ali estava o espaço vital, não havia por que o impedir[5].

Mas as ambições do capitalismo alemão eram de ordem mundial e terminaram por se chocar com os interesses do imperialismo franco-britânico. Em março de 1939, Hitler exigiu da Polônia a anexação da cidade de Danzig e liberdade de comunicação extraterritorial com a Prússia Oriental. França e Inglaterra decidiram, então, endurecer sua atitude e ofereceram garantias militares com a Polônia, em caso de agressão, e estenderam essas garantias à Grécia, Romênia e Turquia. Por sua parte, Adolf Hitler consolidou sua política de alianças e, em 22 de maio, firmou com Benito Mussolini o “ Pacto de Aço”, aliança militar que comprometia ambos os países.

A POSIÇÃO DA UNIÃO SOVIÉTICA DIANTE A EXPANSÃO FASCISTA

Nessas circunstâncias que anunciavam a guerra, o governo soviético propôs, em 17 de abril, a criação de uma grande coalizão antinazista que englobaria a URSS, Reino Unido e França. Entre 12 e 21 de agosta de celebraram conversações militares em Moscou. A delegação militar soviética, presidida pelo Premier do Comissariado do Povo para a Defesa da URSS, Kliment Yefremovich Voroshilov, que estava autorizado a assinar um acordo militar e propôs três alternativas em caso de guerra.

1. Se a Alemanha atacasse a França e a Inglaterra, a URSS empregaria 70% das forças mobilizadas para repelir a agressão;

2. Se a Alemanha atacasse a Polônia e a Romênia, a Inglaterra e a França declarariam imediatamente guerra e a URSS participaria com número de divisões equivalente às empregadas por franceses e britânicos, permitindo-se às tropas soviéticas a travessia para a Polônia e a Romênia;

3. Se a Alemanha atacasse a URSS, a França e a Inglaterra entrariam em guerra aportando 70% das forças mobilizadas pela União Soviética, e a Polônia empregaria 45 divisões para atacar a Alemanha.

O Chefe do Estado Maior do Exército Vermelho, Boris Mikhailovitch Shaposhnikov declarou, nas conversações realizadas pelas delegações militares, que a União Soviética, em caso de agressão aos países vizinhos, estava disposta a deslocar, em um prazo de 8 a 20 dias, as seguintes forças militares[6]:

1. 120 divisões de fuzileiros;

2. 5.000 peças de artilharia pesada;

3. 5.000 aviões de combate;

4. 9.000 tanques.

Os governos da França e da Inglaterra enviaram a Moscou delegações do segundo escalão militar e estenderam as conversações sem intensão de firmar o tratado, conforme está escrito no livro de Memórias do General Francês André Beaufré, membro da delegação franco-britânica[7]. O próprio Winston Churchill reconhece que a missão inglesa, encabeçada pelo almirante Reginald Aylmer Ranfurly Plunkett-Ernle-Erle-Drax, carecia de autorização escrita para negociar, além de que a conferencia militar chocou-se com a negativa da Polônia e da Romênia em permitir a passagem das tropas soviéticas por seus territórios[8]. O historiador Jean-Jacques Marie, ferrenho critico de Stálin, ironizou e lenta viagem dos negociadores franceses e britânicos.

“A delegação franco-britânica, encarregada em começos de agosto de viajar a Moscou para negociar uma eventual aliança perdeu seu tempo: O gabinete de Londres, encarregado do transporte, negou-se a proporcionar-lhe um avião, não havia por que desperdiçar o combustível de Sua Majestade. A delegação embarcou em 5 de agosto no City of Exter, um velho cargueiro de majestosa lentidão, que chegou a Moscou seis dias depois. Dirigia a delegação britânica o almirante Reginald Aylmer Ranfurly Plunkett-Ernle-Erle-Drax, cujos poderes e competências parecem inversamente proporcionais à extensão de seu nome. O almirante havia esquecido em Londres suas credenciais, que não chegaram até dia 21. ” - Jean-Jacques Marie: Stálin.

Paralelamente a essas conversações com os soviéticos, o governo inglês esteve negociando com a Alemanha, entre maio e fim de agosto de 1939, a assinatura de um pacto de não-agressão e um acordo econômico que evitasse a guerra. Pelo lado inglês interviram, entre outros, o Primeiro-Ministro Arthur Neville Chamberlain, Conselheiro do Primeiro-Ministro Horace John Wilson, Ministro do Comércio Exterior Hudson, o líder conservador Bell e o Dirigente Trabalhista Bruxton. Por parte da Alemanha, o Embaixador da Alemanha em Londres Dirksen, Conselheiro do Embaixador Kordt e o Alto Funcionário Alemão Wohlthat. Atuaram como intermediários entre ambos os países o industrial sueco Dahlerus e Burkhardt, alto-comissário da Sociedade das Nações em Danzig. Ainda que as propostas não tivessem frutificado, foi uma boa amostra de que as potências democráticas estavam tentando pactuar uma vez mais com Hitler e lança-lo contra a União Soviética.

A negativa da França e da Inglaterra em assinar um acordo militar com Josef Stálin deixou a URSS em uma situação de isolamento, com o risco de que se voltasse a repetir com a Polônia uma situação similar à da Conferência de Munique, isto é, a reedição de um “pacto dos quatro” — França, Inglaterra, Alemanha e Itália — que permitisse a Hitler levar a cabo seu grande objetivo: a destruição da Rússia Soviética, tal e qual havia repetido em numerosas ocasiões:

“Aos que me perguntaram se não bastará ter os Montes Urais por fronteira, respondo que, por enquanto, é suficiente que a fronteira retrocedera até esse limite. O que importa é que o Bolchevismo seja exterminado. Em caso de necessidade, se voltará a avançar por qualquer lugar em que forme um novo foco. Moscou, como sede dessa doutrina, deve desaparecer da superfície da Terra. ” - Hugh Trevor-Roper: As Conversas Privadas de Hitler.

Para apreciar em sua exata medida a situação da URSS em 1939, não se pode esquecer que, no mês maio, forças japonesas atacaram a República Popular da Mongólia nas proximidades do rio Jaljin Gol. De acordo com o Protocolo de Ajuda Mútua firmado em março de 1936 entre a URSS e a Mongólia, o governo soviético deslocou unidades do Exército Vermelho para ajudar seu aliado, travando duros combates nos quais o agressor japonês foi rechaçado. O risco de a URSS ser atacada pela Alemanha e pelo Japão ao mesmo tempo era, nesse momento, um fato objetivo.

Desde o VII Congresso da Internacional Comunista, — agosto de 1935 — a política exterior da URSS consistiu em buscar alianças com potências ocidentais para fazer frente ao fascismo, mas o Reino Unido e a França optaram pela via da capitulação frente a Hitler e Mussolini. Qual devia ser a postura de Josef Stálin nessas circunstâncias? Encarar o risco de uma guerra contra uma superpotência militar ou buscar um acordo com Hitler para ganhar tempo e reforçar a capacidade industrial-militar da URSS? É evidente que a única saída que tinha o camarada Stálin acertar um acordo com Hitler e desviar/atrasar a iminente ameaça do nazismo sobre a União Soviética.

O eminente historiador britânico Eric John Ernest Hobsbawm revelou a aversão da diplomacia franco-britânica para com a União Soviética e sua responsabilidade no desencadeamento de uma nova guerra mundial:

“Sem dúvida, muitos conservadores, sobretudo no Reino Unido, consideravam que a melhor solução seria uma guerra germano-soviética, que serviria para debilitar e talvez destruir dois inimigos.

Mesmo diante de uma evidência que não podiam negar, os apaziguadores da França e da Inglaterra não se decidiram a negociar seriamente com Stálin uma aliança sem a qual a guerra não podia ser adiada ou vencida, Londres e Paris não desejavam a guerra. Em resumo, estavam dispostos a fazer uma demonstração de força que servisse como elemento de dissuasão. Não conseguiram impressionar Hitler, nem tampouco Stálin, cujos negociadores pediram em vão propostas para realizar operações estratégicas conjuntas no Báltico. Quando os exércitos alemães avançavam até a Polônia, o governo de Chamberlain permanecia disposto a negociar com Hitler, tal como este havia previsto. ” - Eric John Ernest Hobsbawm: A História do Século XX.

O VERDADEIRO PACTO DE NÃO-AGRESSÃO

Em 23 de agosto de 1939, firmou-se em Moscou o Pacto germano-soviético de não agressão, cujo conteúdo literal eram os seguintes artigos:

1. As Partes Contratantes se comprometem a abster-se em todo ato de violação ou ação agressiva, assim como de todo ataque de uma contra a outra, quer seja isoladamente, quer seja conjuntamente com outras potências;

2. Em caso de uma das Partes Contratantes ser objeto de agressões militares por parte de uma terceira potência, a outra se compromete a não proporcionar apoio algum, de nenhuma maneira, a essa potência;

3. Os governos das duas Partes Contratantes estarão, no futuro, em contato permanente um com o outro por meio de consultas, com o objetivo de informarem-se mutualmente das questões que afetam a interesses comuns;

4. Nenhuma das Partes Contratantes tomará parte em nenhum grupo de potências que direta, ou indiretamente, peleje a outra parte;

5. Em caso de litígio ou divergências de opinião que se manifestem entre as duas Partes Contratantes sobre questões de qualquer ordem, as duas Partes resolverão estes litígios ou essas divergências exclusivamente mediante o intercâmbio amistoso de pontos de vista ou, se for necessário, mediante comissões de arbitragem;

6. O presente tratado se firma por um período de dez anos, entendendo-se que, enquanto uma das Partes Contratantes não denuncie antes a expiração deste prazo, o alcance da validez do presente contrato se prolongará automaticamente por um período de cinco anos;

7. O presente tratado deverá ser ratificado no prazo mais breve possível. Os instrumentos de ratificação serão intercambiados em Berlim. O tratado entrará em vigor imediatamente depois de assinado.[9]

Tratava-se, portanto, de um Pacto de Não-Agressão, e não de algum tipo de aliança, que causou em um primeiro momento uma grande comoção entre os comunistas de todo o mundo, mas que respondia à imperiosa necessidade, por parte da URSS, de evitar o ataque da Alemanha Nazista. Apresentar o pacto como fazem os Trotskistas, ou seja, como uma manobra de Stálin que sobrepõe os interesses nacionais da União Soviética à luta pelo socialismo em escala internacional e traiu o movimento operário, é um colossal despropósito e demonstra uma grave ignorância oportunista dos acontecimentos históricos.

A chegada de Hitler ao poder, no ano de 1933, estabeleceu uma mudança qualitativa na correlação de forças entre a classe operária e a burguesia em escala mundial. A vitória do nazismo não foi só uma derrota terrível para os operários alemães, mas também ameaçava as bases da civilização e as conquistas sociais e políticas da humanidade desde a Revolução Francesa. Derrotar o fascismo era, nos anos 30, o objetivo político prioritário para os trabalhadores e para as todas as pessoas progressistas. Esse era o objetivo que perseguia a política das Frentes Populares propostas pelos comunistas desde 1935 e também o objetivo da política exterior da União Soviética, resultado de uma análise concreta da realidade concreta. Se a burguesia europeia preferia Adolf Hitler a compactuar com a URSS, a obrigação de Josef Stálin como dirigente político e como comunista era salvaguardar os interesses da União Soviética e dos trabalhadores de todo o mundo. Sacrificar a existência e a segurança da URSS em vez de explorar as contradições das potências capitalistas, isso sim seria trair a luta pela revolução socialista.

O Pacto foi acompanhado de um protocolo secreto em que se estabelecia que:

“Em caso de se produzir uma mudança nos territórios pertencentes ao Estado polaco, as zonas de interesse da Alemanha Nazista e da União Soviética serão divididas aproximadamente segundo uma linha que sai dos rios Narev, Vístula e San. ”[10]

A historiografia burguesa apresenta este protocolo como uma repartição do Estado polaco, ignorando que as fronteiras russo-polacas de 1939 eram o resultado da Guerra-Civil Russa em 1920, quando a Polônia, aproveitando a situação de guerra civil pela qual passavam os bolcheviques, atacou a recém-criada República Socialista Federativa Soviética Russa (RSFSR). A Paz de Riga, firmada em 18 de março de 1921, permitiu à Polônia anexar as regiões ocidentais da Ucrânia, Bielo-Rússia e Lituânia, incluídas as cidades de Lvov, Brest, Grodno e Vilnius. A fronteira polaca se fixava, deste modo, a 250 km a leste da fronteira étnica, arrebatando à Rússia soviética um conjunto de territórios que historicamente lhe pertenciam. O que se estabelecia no Pacto de Não-Agressão não era, portanto, nenhuma repartição da Polônia, mas a recuperação, por parte da URSS, de legítimas demandas territoriais[11]. Quando Hitler ocupou a Polônia em setembro de 1939, o Exército Vermelho avançou as fronteiras da URSS que quase a chamada Linha Curzon, que devia seu nome ao Ministro Britânico de Assuntos Exteriores que, ao terminar a Primeira Guerra Mundial, havia proposto que a fronteira oriental da Polônia coincidisse com a demarcação entre as populações polonesas, de um lado, e das ucranianas e bielo-russas, de outro.

A reincorporação à soberania soviética da Estônia, Letônia e Lituânia em agosto de 1940, assim como dos territórios da Bessarábia e Bucovina e a ocupação do Istmo da Carélia após uma guerra contra a Finlândia — novembro de 1939 a março de 1940 — foram fatos duramente criticados pela historiografia acadêmica, que os interpreta como a amostra inequívoca do “Nacionalismo Expansionista de Stálin” e a prova evidente de que o Pacto Germano-Soviético era, na realidade, uma “Aliança para Repartir o Leste Europeu em Zonas de Influência”. Contudo, as coisas não são tão simples como alguns querem nos fazer ver. Sem esquecer que os territórios bálticos haviam pertencido à Rússia antes da Revolução de Outubro, da mesma forma que a Bessarábia e a Bucovina, arrebatadas à Rússia soviética pela Romênia em 1918, todas essas incorporações proporcionaram à URSS uma grande segurança estratégica. Os Irmãos Medvedev, suspeitos de “Stalininsmo”, afirmaram, referindo-se ao citado pacto:

“Todavia, o acordo proporcionou à União Soviética uma enorme vantagem estratégica frente a uma guerra inevitável que se aproximava. Do Mar Negro ao Branco, a URSS pôde mudar toda sua fronteira ocidental, adentrando entre 200 e 300 quilômetros ao coração da Europa. E, precisamente no vulnerável setor noroeste, a fronteira se deslocou quase 600 quilômetros. Como consequência disso, Leningrado e Krostadt estavam agora bastante encravadas no território soviético, tanto em relação aos Estados Bálticos como à Finlândia. A população da URSS aumentou em 25 milhões de pessoas.

Quando em 22 de julho começou a guerra, os territórios ocidentais da URSS desempenham o papel da área de contenção. Em questão de cinco dias, a Wehrmacht penetrou rapidamente na ‘velha’ fronteira Bielo-Russa. Demorou-lhes de dez a quinze dias para alcançar este ponto na Ucrânia e somente após duros combates. As batalhas nos Estados Bálticos continuaram duramente mais de dois meses. O Exército Vermelho opôs uma forte resistência e Tallin apenas foi abandonada em fins de agosto. Isso era um fracasso considerável para a Guerra Relâmpago.” - Zhores Medvedev e Roy Medvedev: O Stálin Desconhecido.

Os dois anos de paz proporcionados pelo Pacto à URSS serviram para fortalecer e reforçar a industrialização e a defesa militar do país. Durante os três anos e meio de vigência do Terceiro Plano Quinquenal (1938–1942) entravam em funcionamento 2,9 mil novas fábricas e instalações industriais. A tenção especial foi dispensada à estruturação material das Forças Armadas. Entre 1939 e 1940 foram fabricados novos modelos de aviões de caça, entre eles:

1. Yakovlev Yak-1;

2. Mikoyan-Gourevitch MiG-3;

3. Lavochkin-Gorbunov-Gudkov LAGG-3.

Assim como protótipos de aviões de assalto e bombardeios:

1. Ilyushin IL-2;

2. Petlyakov Pe-2.

Também se experimentaram importantes avanços na construção de carros de combate, sobressaindo-se os:

1. Kliment Voroshilov KV-1;

2. Josef Stálin IS-7

3. T-34.

O tanque T-34 já fora considerado um dos melhores tanques do mundo, e se começou a fabricação em série de veículos foguete “Katyusha”. Em janeiro de 1939 e junho de 1941, a artilharia recebeu 92.578 peças, a Força Aérea foi equipada com 17.745 aviões de combate e o Exército recebeu mais de 7 mil tanques[12].

Em 1º de setembro de 1939, o Soviete Supremo da URSS promulgou a Lei do Serviço Militar Obrigatório, o que permitiu aumentar consideravelmente os efetivos humanos do Exército, da Marinha e da Força Aérea e incrementar o número de unidades[13].

Stálin aceitou o pacto com a consciência clara de que a guerra contra o nazismo era inevitável, mas era necessário ganhar tempo, da mesma forma que Hitler o firmou com a única intensão de evitar uma guerra em duas frentes, como demonstraram as palavras que ele mesmo dirigiu aos seus chefes militares durante a conferência de 22 de agosto de 1939.

“A única coisa que pretendo com esse Pacto é ganhar tempo, cavalheiros… esmagaremos a União Soviética. ” - Alvaro Lozano: Operação Barbarossa — A Invasão Alemã na Rússia

OS VERDADEIROS RESPONSÁVEIS PELA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

A tentativa de apresentar o Pacto Germano-Soviético como espécie de camaradagem entre dois ditadores totalitários para repartir o continente europeu em esferas de influência não resiste minimamente a uma análise documental. Faz parte, na verdade, de um conjunto de armações, mentiras e falsificações próprias da pior historiografia militante e da pior historiografia acadêmica.

Uma história feita sem contrabandos ideológicos, com honestidade e rigor profissional, nos permite afirmar que esse pacto era o único caminho para o governo soviético diante das claudicações da França e da Inglaterra frente às agressões da Alemanha Nazista. Como em todos os temas relacionados a Stálin, também neste é necessário despojar-se de prejulgamentos de qualquer tipo e observar o que assinalam os fatos e a documentação disponível. E esses fatos indicam que, quando a Alemanha iniciou seu ataque contra a URSS em 22 de junho de 1941, a situação da Rússia soviética era mais favorável que em 1939. A Alemanha não pôde derrotar a Inglaterra, e o expansionismo japonês na Ásia faria com que os Estados Unidos em breve intervissem na contenda. Esse novo cenário possibilitou a formação da grande aliança entre Reino Unido, Estados Unidos e URSS que permitiu a vitória total sobre as potências fascistas.

Os culpados pelo desencadeamento da Segunda Guerra Mundial foram os governos da França e da Inglaterra, com sua política de apaziguamento e concessão diante das violações do direito internacional cometidas por Hitler. Se a França houvesse mobilizado algumas divisões quando Hitler cometeu a primeira violação do Tratado de Versalhes e tivesse advertido o governo alemão da possibilidade de uma guerra como fez em 1923, quando o exército francês ocupou o Vale de Ruhr por causa do atraso no pagamento das reparações de guerra, não é difícil imaginar que os acontecimentos históricos transcorreriam de forma muito diferente. Diante de uma política firme, Hitler se veria obrigado a renunciar a seus desígnios imperialistas e a seus delírios raciais porque, persistindo neles, a própria burguesia alemã o afastaria do poder antes de ver-se obrigada a uma nova guerra em condições de clara desvantagem contra a França.

Mas as classes burguesas da França e da Inglaterra preferiam “brincar” com o fascismo até os limites do seu próprio suicídio e, quando quiseram reagir, a Alemanha havia se armado e estava preparada para encaram uma guerra devastadora que custou imensas destruições de 50 milhões de mortos. E se finalmente as potências fascistas foram derrotadas em1945, isso se deveu ao papel decisivo que jogou a URSS na guerra, ao imenso sacrifício de seu povo e à correta direção do Partido Comunista, encabeçado por Josef Vissarionovitch Djugashvili, o comandante Stálin.

FONTES

[1]. O cargo de Chanceler tem os mesmos poderes que o cargo de Primeiro-Ministro.

[2]. Tratado que foi assinado pela Alemanha após sua derrota na Primeira Guerra Mundial, levou a Alemanha à miséria total, a inflação e ao crescimento do Movimento Nacionalista.

[3]. Hitler descreveu os objetivos de sua política exterior em Mein Kampf, livro que escreveu durante sua breve permanência na prisão, em 1924, depois de ser condenado pela tentativa de golpe de estado protagonizada pelos Nazistas em Munique, em novembro de 1923. O “Espaço Vital” — Labensraum — era o termo com que Hitler e o Partido Nazista definiam a conquista de territórios do Leste Europeu como meios de garantir a sobrevivência da Alemanha. Na realidade, o que Hitler fez foi traduzir em termos raciais e de luta pela sobrevivência os objetivos imperialistas do grande capital alemão, que ambicionava os imensos recursos naturais da União Soviética.

“O movimento nacional-socialista tem que se impor a missão de superar a desproporção existente entre a densidade de nossa superfície territorial. Nós, os nacional-socialistas, pusemos deliberadamente ponto final na orientação política da Alemanha entre guerras. Começaremos agora do lugar de onde há séculos se havia terminado essa política. Deteremos o eterno êxodo de alemães para o sul e o oeste da Europa e dirigiremos a vista para o leste. Encerraremos ao fim da era da política colonial e passaremos a orientar a política alemã para o futuro. ” - Adolf Hitler: Mein Kampf — Minha Luta.

[4]. A atitude da França e da Inglaterra, as autodeterminadas democracias ocidentais, foi especialmente vergonhosa no caso da Guerra Civil Espanhola. Diante do golpe de estado nos dias 17 e 18 de julho de 1936 o setor africanista do exército, encabeçado pelo general Francisco Franco, levou a cabo contra o governo legal legítimo da República espanhola, os governos franceses e britânicos não só se negaram a prestar qualquer ajuda militar aos republicanos espanhóis, como puseram em prática, em agosto de 1936, o chamado Comitê de Não-Intervenção para impedir que ambas as partes recebessem armamentos de terceiros países. O Comitê foi desde sua origem uma verdadeira farsa, já que a Alemanha e a Itália enviaram armas e utensílios para Franco durante toda a guerra, enquanto que ao governo republicano era proibida a compra de armas dos países europeus. Ademais, o comitê cometeu uma flagrante injustiça ao comparar em termos jurídicos os rebeldes fascistas ao governo legal da República. Diante dessa situação, Stálin e o governo da URSS decidiram enviar armamento à República Espanhola e mantiveram essa ajuda até o final da guerra. Os republicanos espanhóis também contaram com o apoio e a solidariedade do México.

A derrota da República Espanhola se deveu fundamentalmente à política da França e do Reino Unido, cujos governos consideravam que Franco e o fascismo salvaguardavam melhor seus interesses de dominação econômica na Espanha que uma República defendida pelos trabalhadores e pelas camadas populares.

[5]. Adolf Hitler gozava de grandes simpatias entre destacados membros da política europeia, que o consideravam durante muito tempo como um homem racional que havia devolvido a ordem à Alemanha. Entre os admiradores do Nazismo se encontrava Eduardo VIII, o monarca britânico que abdicou do trono em 1936 por causa de seu matrimônio com a divorciada norte-americana Bessie Wallis Warfield, ainda que outra versão aponte que foi obrigado a abdicar por causa do seu fervoroso apoio ao regime Nazista e que a história de amor com Wallis Warfield foi o pretexto perfeito.

[6]. Pavel Zhilin: A Grande Guerra Patriótica da União Soviética

[7]. Winston Churchill: A Segunda Guerra Mundial

[8]. Jean-Jacques Marie: Stálin.

[9]. Documentos Básicos Sobre a História Geral das Relações Internacionais.

[10]. Documentos Básicos Sobre a História Geral das Relações Internacionais.

[11]. Zhores Medvedev e Roy Medvedev: O Stálin Desconhecido.

[12]. Gueorgui Konstantinovitch Zhukov: Memórias;

[13]. Pavel Zhilin: A Grande Guerra Patriótica da União Soviética

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