Os seres humanos têm áreas do cérebro que são mais magnéticas do que outras áreas. A região superior do cérebro, o cérebelo, tem níveis baixos. As cores mostram níveis mais altos da ressonância magnética. Crédito: Gilder et al., 2018, https://doi.org/10.1038/s41598-018-29766-z

Cérebros humanos têm pequenos pedaços de material magnético

Alberto Akel
Unidades Imaginárias
4 min readDec 13, 2019

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Pela primeira vez, cientistas mapearam a distribuição de magnetita nos cérebros humanos e revelaram que nossos cérebros podem conter maior concentração deste mineral em áreas específicas.

Atualmente é bem estabelecido a existência de magnetita nos cérebros humanos, um dos principais artigos que apontou isso é do ano de 1992. No entanto, distribuição de magnetita no cérebro humano não é clara, porque nenhum estudo sistemático havia mapeado o mineral no tecido humano.

Os pesquisadores usaram sete espécimes doados na Alemanha para medir tecido cerebral por sinais de magnetita, o mineral mais magnético da Terra. Os cientistas sabem que outros tipos de vida, como algumas bactérias, algas, peixes, e no bico de algumas aves, podem conter concentrações deste material. Resultados do estudo podem ajudar a esclarecer algumas questões em aberto, tais como porque os humanos têm magnetita no cérebro.

Os cientistas não sabem ao certo por que ou como a magnetita entra no cérebro humano. A magnetita pode ter alguma função fisiológica, como a transmissão de sinais no cérebro, mas os cientistas são capazes de especular. Outro mistério é como a magnetita chega ao cérebro. Aqui há dois caminhos, uns sugerem que a magnetita é resulto da biomineralização interna, porém outros seguem o caminho que a magnetita é absorvida quando respiramos.

Das rochas aos cérebros

Para descobrir algumas respostas, Stuart Gilder , principal autor do estudo, e sua equipe dissecaram sete cérebros e mediram sua força e orientação magnética. Os cérebros estavam preservados em formaldeído desde a década de 1990, quando parentes e guardiões dos mortos os doaram à ciência. Os cérebros vieram de quatro homens e três mulheres com idades entre 54 e 87 anos.

Gilder normalmente estuda rochas em seu laboratório para verificar sua história geológica medindo o magnetismo em duas etapas: primeiro, ele mede o campo magnético natural da rocha, que normalmente é baixa porque as rochas são ruins na criação de “ímãs ordenados”. (Mesmo que a rocha contenha partículas magnéticas, seus dipolos apontam em direções aleatórias, potencialmente se cancelando.)

Assim, ele usa um eletroímã para aplicar um forte campo magnético nas amostras com objetivo de alinhar as micro partículas magnéticas. Após isso, é feito uma nova medição do campo magnético. Na existência de partículas magnética nas rochas, o campo medido pela segunda vez é maior.

A mesmo procedimento foi realizado nas amostras do cérebro. A comparação revelou que o cérebro humano possuía um magnetismo detectável após a aplicação de um campo magnético nas amostras. Os resultados mostraram que a magnetita estava presente praticamente em todas as amostras.

O mesmo padrão

O estudo revela que as regiões inferiores do cérebro humano, incluindo o cerebelo e o tronco encefálico, tinham 2 ou mais vezes a remanência magnética das regiões superiores do cérebro. As regiões superiores do cérebro, responsável pelo raciocínio, fala e outras tarefas, enquanto as regiões inferiores lidam com o movimento muscular e funções automáticas, como batimentos cardíacos e respiração.

O padrão de cada um dos sete cérebros não apresentou diferenças dependendo da idade ou do sexo da pessoa. O tronco cerebral possuía magnetização consistentemente mais alta do que qualquer outra região, embora apenas cinco dos sete cérebros apresentassem hastes cerebrais intactas.

Os cientistas se esforçaram para limitar a contaminação, cortando as amostras com uma faca de cerâmica e realizando o experimento dentro de uma sala blindada magneticamente em uma floresta longe da poluição urbana. Eles removeram amostras com altos níveis de força magnética natural que poderiam ter sido poluídas com fragmentos da serra cortando os crânios dos doadores há muitos anos. Mesmo com as amostras potencialmente contaminadas removidas, os dados ainda mostravam um padrão anatômico.

Todos os sete cérebros humanos do estudo produziram enriquecimento sistemático de remanência magnética em direção às regiões ventral e caudal, e isso parece sustentar a ideia da origem interna do minério. Se a magnetita tem uma origem biológica interna, quais são as células que sintetizam ou mesmo transportam? Além disso, a própria função da magnetita não está clara, o que deixa um longo caminho aberto para os cientistas, algo que correlaciona muito com o longínquo vídeo sobre magnetorecepção publicado em 2017 em nossa página do facebook aqui .

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Fontes e referências

Duncombe, J. , Human brains have tiny bits of magnetic material, Eos, 100, (2019)https://doi.org/10.1029/2019EO137782. Published on 12 December 2019

Gilder, S.A., Wack, M., Kaub, L. et al. Distribution of magnetic remanence carriers in the human brain. Sci Rep 8, 11363 (2018) doi:10.1038/s41598–018–29766-z

J L Kirschvink, A Kobayashi-Kirschvink, B J Woodford,Magnetite biomineralization in the human brain.Proceedings of the National Academy of Sciences Aug (1992), 89 (16) 7683–7687; DOI: 10.1073/pnas.89.16.7683

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Alberto Akel
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Apenas um cientista latino americano sem dinheiro no bolso (sem parentes importantes e vindo do interior) Unidades Imaginarias | Eureka Brasil | Pint of Science