Foto do site Pexels, palavra chave “dystopia”

Como vai ser nosso novo futuro?

Rachel Ripardo
Unidades Imaginárias

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Comecei a escrever este texto há alguns meses. Era uma tentativa de pensar, o que vai ser o dia de amanhã? Mas então escuto a música “Who wants to live forever? (…) Forever is our today. Who waits forever anyway?”. (“Quem quer viver para sempre? (…) Para sempre é nosso hoje. Quem espera por para sempre mesmo?”)

Sim, esta música basicamente nos lembra que não há futuro, e o passado, só na memória. Eu não sabia como seria nosso novo futuro, só é possível saber ao vivê-lo. Tentamos de várias formas prever o que seria o “novo normal”, numa visão otimista? Peço perdão para usar o termo, mas muitos também sabiam que seria um “normaralho”. Não sou otimista.

“Vamos desenvolver a percepção de que precisamos de uns aos outros para vencer esta pandemia”, foi destruído pela acentuação das desigualdades e maior divisão de classes, de grupos, de sexos, de tudo. Há vários textos de pesquisadores analisando este comportamento. Eu mesma sou psicóloga evolucionista e poderia falar sobre o nosso comportamento default (base) de “nós versus eles”. Nos juntamos com quem nos identificamos, e ao nos diferenciar dos outros, nos fortalecemos. Mas claro, também nos enfraquecemos quando fazemos parte de uma sociedade maior e não conseguimos fazer parte de um grupo maior.

Também poderia falar de como a espécie humana criou normas sociais para lutar contra este comportamento. Veja a China, Coréia, Japão, Alemanha, Canadá. Eles conseguiram superar as diferenças e agir como país. Se sentem fazendo parte de algo maior, cooperam com pessoas que são diferentes delas, seguem as leis, etc etc…

Mas cá, em nossa terra Tupiniquim (Brasil mesmo), e na “América do Norte” (EUA), e em muitos outros lugares, não há normas sociais, leis, costumes, tradições e imposições, que consigam desbancar a nossa mente primata. Não, não estou falando que somos “menos evoluídos”, todos os humanos possuem esta mesma mente. Mas diversos países tiveram trajetórias diversas (sugestão de leitura: Armas, Germes e Aço).

Imagem da seguinte reportagem: shorturl.at/btOT9

Pois é, já estamos vivendo o futuro. Quando dizem, “ainda bem que isso só vai acontecer quando eu tiver falecido”, especialmente em relação ao aquecimento global, e outros males que causamos a nós mesmos, não entendem que estamos vivendo o futuro. Ele já está aqui.

Meu texto é um desabafo, para mim, mas também quero que seja um ensinamento, para você que me lê. Tudo que você faz, do momento que acorda até dorme, é seu futuro. Não dá para pensar, “vamos dar um jeito em breve”, ou “amanhã eu faço isso”. Planejar e executar é diferente de pensar que “uma versão melhor de mim, da qual eu não me esforço para me tornar, irá tomar decisões melhores”.

Também não quero responsabilizá-lo como indivíduo por todos os males do mundo. Já foi o tempo que um ser vivo poderia fazer uma pequena revolução em seu grupo. Já deixamos de ser grupos auto-sustentáveis de pessoas, na busca de sobrevivência. Somos agora esse monstro de mil cabeças, em que um vírus na China está em menos de 24 horas no Peru, ou em qualquer outro lugar do globo.

O que eu posso fazer? Nada, e tudo. Saber sobre o que você tem controle, e o que não tem, é a chave. “O inferno são os outros”? Sim, mas você também é seu inferno (e o inferno dos outros). E quero que não fique a arder em chamas desnecessárias.

Agora vou voltar ao meu “normaralho”, que o dia não pára e me espera.

“A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo” — Abraham Lincon

Rachel Ripardo

Sou muitas coisas, mas neste texto sou um ser humano tirando de mim um pouco da frustração, para ver se arde menos.

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Rachel Ripardo
Unidades Imaginárias

Professora de Evolução do Comportamento Humano (UFPA)