Mais um ano “sem” Carl Sagan

Alberto Akel
Unidades Imaginárias
8 min readDec 21, 2018

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Eu fui criança em um tempo de esperança. Queria ser cientista desde os primeiros dias de escola. O momento que marcou essa vontade foi quando entendi pela primeira vez que as estrelas são sóis poderosos, quando comecei a compreender que elas devem estar tremendamente distantes para surgirem como simples pontos de luz no céu. Nem sei se já conhecia a palavra ciência naquele tempo, mas queria de algum modo mergulhar em toda essa grandiosidade. Eu estava seduzido pelo esplendor do Universo, deslumbrado pela perspectiva de compreender como as coisas realmente funcionam, de ajudar a revelar mistérios profundos, de explorar novos mundos talvez até literalmente. Tive a boa sorte de ver esse sonho em parte concretizado. Para mim, o fascínio da ciência continua tão atraente e novo quanto naquele dia, há mais de meio século, em que me mostraram as maravilhas da Feira Mundial de 1939.

Divulgar a ciência tentar tornar os seus métodos e descobertas acessíveis aos que não são cientistas é o passo que se segue natural e imediatamente. Não explicar a ciência me parece perverso. Quando alguém está apaixonado, quer contar a todo mundo. Este livro é um testemunho pessoal de meu caso de amor com a ciência, que já dura toda uma vida.

Mas há outra razão. A ciência é mais do que um corpo de conhecimento, é um modo de pensar. Tenho um pressentimento sobre a América do Norte dos tempos de meus filhos ou de meus netos quando os Estados Unidos serão uma economia de serviços e informações; quando quase todas as principais indústrias manufatureiras terão fugido para outros países; quando tremendos poderes tecnológicos estarão nas mãos de uns poucos, e nenhum representante do interesse público poderá sequer compreender do que se trata; quando as pessoas terão perdido a capacidade de estabelecer seus próprios compromissos ou questionar compreensivelmente os das autoridades; quando, agarrando os cristais e consultando nervosamente os horóscopos, com as nossas faculdades críticas em decadência, incapazes de distinguir entre o que nos dá prazer e o que é verdade, voltaremos a escorregar, quase sem notar, para a superstição e a escuridão.

O emburrecimento da América do Norte é muito evidente no lento declínio do conteúdo substantivo nos tão influentes meios de comunicação, nos trinta segundos de informações que fazem furor (que agora já são dez segundos ou menos), na programação de padrão nivelado por baixo, na apresentação crédula da pseudociência e da superstição, mas especialmente numa espécie de celebração da ignorância. No momento em que escrevo, o vídeo mais alugado na América do Norte é o filme Débi e Lóide. Beavis and Butthead continuam populares (e influentes) entre os jovens que vêem televisão. A lição clara é que estudar e aprender e não se trata apenas de ciência, mas de tudo o mais é evitável, até indesejável.

Nós criamos uma civilização global em que os elementos mais cruciais o transporte, as comunicações e todas as outras indústrias, a agricultura, a medicina, a educação, o entretenimento, a proteção ao meio ambiente e até a importante instituição democrática do voto dependem profundamente da ciência e da tecnologia. Também criamos uma ordem em que quase ninguém compreende a ciência e a tecnologia. É uma receita para o desastre. Podemos escapar ilesos por algum tempo, porém mais cedo ou mais tarde essa mistura inflamável de ignorância e poder vai explodir na nossa cara.

A candle in the dark é o título de um livro corajoso, baseado em grande parte na Bíblia, escrito por Thomas Ady e publicado em Londres em 1656, que ataca a caça às bruxas, então na ordem do dia, tachando-a de fraude para enganar o povo. Qualquer doença ou tempestade, qualquer coisa fora do comum, era atribuída à bruxaria. As bruxas devem existir, escreveu Ady, citando a argumentação dos negociantes de bruxas, do contrário como é que essas coisas existem ou vêm a acontecer?

Durante grande parte de nossa história tínhamos tanto medo do mundo exterior, com seus perigos imprevisíveis, que aceitávamos de bom grado qualquer coisa que prometesse suavizar ou atenuar o terror por meio de explicações. A ciência é uma tentativa, em grande parte bem-sucedida, de compreender o mundo, de controlar as coisas, de ter domínio sobre nós mesmos, de seguir um rumo seguro.A microbiologia e a meteorologia explicam hoje o que há alguns séculos era considerado causa suficiente para queimar mulheres na fogueira.

Ady também alertava para o perigo de as nações perecerem por falta de conhecimento. Com freqüência, a desgraça humana evitável é causada menos pela estupidez do que pela ignorância, sobretudo pela nossa ignorância sobre nós mesmos. Minha preocupação é que, especialmente com a proximidade do fim do milênio, a pseudociência e a superstição parecerão mais sedutoras a cada novo ano, o canto de sereia do irracional mais sonoro e atraente. Onde o escutamos antes? Sempre que nossos preconceitos étnicos ou nacionais são despertados, nos tempos de escassez, em meio a desafios à auto-estima ou à coragem nacional, quando sofremos com nosso diminuto lugar e finalidade no Cosmos, ou quando o fanatismo ferve ao nosso redor então, hábitos de pensamento conhecidos de eras passadas procuram se apoderar dos controles.

A chama da vela escorre. Seu pequeno lago de luz tremula. A escuridão se avoluma. Os demônios começam a se agitar.

Há muita coisa que a ciência não compreende, muitos mistérios que ainda devem ser resolvidos. Num Universo com dezenas de bilhões de anos-luz de extensão e uns 10 ou 15 bilhões de anos, talvez seja assim para sempre. Tropeçamos constantemente em surpresas. Entretanto, para alguns escritores religiosos e da Nova Era, os cientistas acreditam que só existe aquilo que descobrem. Os cientistas podem rejeitar revelações místicas para as quais não há outra evidência senão o testemunho de alguém, mas dificilmente acreditam que seu conhecimento da natureza seja completo. A ciência está longe de ser um instrumento perfeito de conhecimento. É apenas o melhor que temos. Nesse aspecto, como em muitos outros, ela se parece com a democracia. A ciência, por si mesma, não pode defender linhas de ação humanas, mas certamente pode iluminar as possíveis conseqüências de linhas alternativas de ação.

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A ciência não mantém nenhum ponto de observação especial, nem posições privilegiadas. Tanto a ciência como a democracia encorajam opiniões não convencionais e debate vigoroso. Ambas requerem raciocínio adequado, argumentos coerentes, padrões rigorosos de evidência e honestidade. A ciência é um meio de desmascarar aqueles que apenas fingem conhecer. É um baluarte contra o misticismo, contra a superstição, contra a religião mal aplicada a assuntos que não lhe dizem respeito. Se somos fiéis a seus valores, ela pode nos dizer quando estamos sendo enganados. Ela fornece a correção de nossos erros no meio do caminho. Quanto mais difundidos forem a sua linguagem, regras e métodos, melhor a nossa chance de preservar o que Thomas Jefferson e seus colegas tinham em mente. Mas os produtos da ciência também podem subverter radicalmente a democracia, de um modo jamais sonhado pelos demagogos pré-industriais.

Descobrir a gota ocasional de verdade no meio de um grande oceano de confusão e mistificação requer vigilância, dedicação e coragem. Mas, se não praticarmos esses hábitos rigorosos de pensar, não podemos ter a esperança de solucionar os problemas verdadeiramente sérios com que nos defrontamos – e nos arriscamos a nos tornar uma nação de patetas, um mundo de patetas, prontos para sermos passados para trás pelo primeiro charlatão que cruzar o nosso caminho.

Um extraterrestre, recém-chegado à Terra examinando o que em geral apresentamos às nossas crianças na televisão, no rádio, no cinema, nos jornais, nas revistas, nas histórias em quadrinhos e em muitos livros ,poderia facilmente concluir que fazemos questão de lhes ensinar assassinatos,estupros, crueldades, superstições, credulidade e consumismo. Continuamos a seguir esse padrão e, pelas constantes repetições, muitas das crianças acabam aprendendo essas coisas. Que tipo de sociedade não poderíamos criar se, em vez disso, lhes incutíssemos a ciência e um sentimento de esperança?

Bem, se você leu até aqui, é só um Trecho do livro mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro de Carl Sagan.

Passaram alguns anos deste aquele dia 20 de dezembro de 1996. Eu era bem novo, tinha uma curiosidade muitas vezes motivadas pela programação da TV cultura. Eu ainda era pequeno e possivelmente a curiosidade pelas descobertas e como as coisas funcionavam logo desapareceriam na adolescência e na vida adulta. Era algo não desejável, porém, ajustável para nossa sociedade.

É bem verdade que quando se é pobre, sonhar é quase um luxo. Querer ser um cientista mesmo sem saber onde estão os cientistas brasileiros? Como se faz para ser um? Onde trabalham, como trabalham entre muitas perguntas difíceis em uma era antes da ‘internet’. Era algo muito distante da realidade(ainda é) de grande parte dos brasileiros além, de possivelmente ser alvos de chacota.

Os anos passaram, a escola, universidade entre outras etapas naturais(ou nem tanto) da vida, mas a curiosidade de como a natureza funciona permaneceu, claro que surgem outros interesses ao longo da vida. Porém, eventualmente me deparo em querer saber como a cafeína age no neuro receptor ou como gelar uma cerveja de mais rápido, e os porquê e como os cientistas descobriram as coisas, como as ondas de rádio refletem na atmosfera, como o Sol funciona, por que o plástico derrete, a água evapora e a madeira fica preta quando queima e o carvão vermelho. Eventualmente também desmonto algumas coisas para saber como é por dentro e como funcionam, no entanto, a engenharia não é meu forte. Além de outras atividades o qual relacionadas com a ciência como a acadêmica, e, este blog é claro.

Não lembro qual ano eu estava da graduação. Na época eu estava um pouco dividido em qual rumo seguir na minha vida. Um me possibilitaria um bom retorno financeiro e outro um novo mundo(o da ciência mesmo). Um dia, vi este livro “O mundo assombrado pelos demônios” e vi que era de Carl Sagan, que era um físico que já conhecia primeiramente pelo filme contato e depois pela (série) cosmos. Tinha pouco dinheiro na época, mas mesmo assim comprei. Talvez tenha sido o livro que li mais rápido em toda minha vida. Além de ter sido o livro que mais dei de presente em minha vida (7 no total). Talvez naquela fase da vida, eu estava um pouco desacreditado em fazer uma escolha. Porém, antes de terminar o livro eu já sabia qual decisão tomar.

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Alberto Akel
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Apenas um cientista latino americano sem dinheiro no bolso (sem parentes importantes e vindo do interior) Unidades Imaginarias | Eureka Brasil | Pint of Science