Os Desastres científicos de 2018

Alberto Akel
Unidades Imaginárias
8 min readDec 29, 2018

O ano de 2018 foi marcado por conquistas e também por turbulências no meio acadêmico e cientifico. Foi o ano em que Novas denúncias de Bullying e assédio moral e sexual repercutiram com cortes de financiamento e demissões. Mais uma vez, as temperaturas e emissões de C02 atingiram novos recordes. Ondas de calor recorde na Europa, Furacões, ciclones e inundações nas Américas tornaram mais eminentes todos os antigos alerta sobre os impactos das mudanças climáticas. Foi o ano da despedida de uns dos cientistas mais conhecidos de nosso tempo, Stephen hawking. No brasil, a cereja do descaso científico no Brasil, repercutiu mundo afora com o grande e simbólico incêndio no museu nacional.

Bullying e assédio na academia

No Reino Unido, pesquisadores de vários institutos proeminentes falaram sobre o bullying, enquanto grandes financiadores da ciência reprimiram o assédio no local de trabalho. Em maio, o Wellcome Trust, em Londres, um fundo de pesquisas biomédicas, introduziu uma política pioneira de combate ao bullying. Três meses depois, revogou 3,5 milhões de libras do geneticista de câncer Nazneen Rahman , que havia se demitido do Instituto de Pesquisa do Câncer em Londres após uma investigação sobre as alegações de bullying. Rahman disse na época que ela e sua equipe completariam sua pesquisa financiada pelo Wellcome trust antes de deixar o instituto em outubro.

Mais tarde, em agosto, surgiram reclamações sobre a administração do Sanger Institute, em Hinxton, no Reino Unido, que é financiado pelo Wellcome Trust. Eles incluíram as alegações de que o diretor do instituto, o geneticista Michael Stratton, intimidou o pessoal, discriminou-os e utilizou mal os fundos. Em outubro, uma investigação relatou falhas em como as pessoas eram gerenciadas, mas desconsiderou os líderes seniores , incluindo Stratton, de irregularidades. Stratton pediu desculpas por “falhas na gestão de pessoas” e os “efeitos prejudiciais não intencionais resultantes sobre os indivíduos”. O denunciante e alguns dos que fizeram reclamações contestaram as descobertas da investigação.

O bullying também foi um problema na Universidade de Bath, no Reino Unido, que manteve uma queixa contra o paleontólogo dos vertebrados Nicholas Longrich , que fez parte da equipe que descobriu uma cobra de quatro patas fossilizada. Após a investigação da universidade, o Leverhulme Trust em Londres revogou um subsídio de quase 1 milhão de libras que havia concedido à Longrich em 2016.

Nos Estados Unidos, o assédio sexual continuou a fazer manchetes. Uma análise abrangente divulgada pelas Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos EUA descobriu que o assédio sexual é difundido nas ciências acadêmicas do país . Um relatório de junho também concluiu que uma lei de 1972 que proíbe a discriminação baseada em gênero nos campi dos EUA que recebem financiamento do governo, não reduziu a incidência de assédio sexual.

Acusações de assédio continuaram a abalar vários institutos. O presidente da Universidade de Rochester, em Nova York, renunciou em janeiro depois de protestos no campus sobre o manejo da universidade por acusações de má conduta sexual contra um de seus professores, o cientista cognitivo Florian Jaeger. Jaeger negou as acusações.

Inder Verma, pesquisador do câncer, demitiu -se do Instituto Salk para Estudos Biológicos em La Jolla, Califórnia, em junho, após alegações de assédio, o que ele negou. Três professoras do sexo feminino que haviam processado o Salk por suposta discriminação de gênero — que dizem que prejudicaram suas carreiras, mas por fim resolveram seus casos com o instituto.

Furacão Florence visto da ISSS em 10 de setembro.

Mudanças climáticas e suas consequências

Mesmo com uma coleção de evidências e relatórios científicos, lançados, anos após ano, 2018 colocou mais evidente a negligência entre o que o mundo precisa fazer e o que está fazendo de fato.

Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump contestou a ciência da mudança climática provocada pelo homem, tentou reverter a maioria das políticas focadas no clima que seu antecessor promulgou e manteve-se firme em sua intenção de retirar os Estados Unidos do acordo de Paris. As Atitudes anti-científica por parte de Donald Trump acabaram por influenciar muitos países e autoridades. Como o novo primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, abandonou uma política em setembro que limitaria as emissões do setor elétrico, ou mesmo como o recém eleito presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.

Ao preço de décadas de pouca ou nenhuma ação, os impactos se manifestam como desastres naturais, mais recorrentes, mais longos e mais desastrosos. No final, as consequências acabam sendo bem piores. Como exemplos, os incêndios recordes na Califórnia, que mataram pelo menos 86 pessoas.

As temperaturas mais quentes e a desaceleração das chuvas de verão estão secando o oeste dos Estados Unidos, prolongando as secas torrenciais que transformam as florestas e os arbustos em entulho. Os últimos grandes incêndios florestais, agora, queimam duas vezes mais a área que nos anos 70.

Na outra ponta, na costa leste, há o enfrentamento das enchentes na maré alta graças a uma combinação de aumento do nível do mar e afundamento ligado ao recuo das camadas de gelo. Quando não há enchentes de dia ensolarado, há tempestades. O furacão Florence, deste ano, exibiu muitos sinais reveladores da influência do aquecimento global: intensificou-se rapidamente e demorou sobre à terra, afogando a costa da Carolina do Norte com chuvas sem precedentes.

Esses efeitos são globais e não param nas costas dos EUA. O super tufão Mangkhut, a tempestade mais forte do ano, atingiu as Filipinas, provocando deslizamentos e matando pelo menos 66 pessoas. No Reino Unido, o aquecimento causado pelo homem tornou as ondas de calor do verão mais debilitante. Uma onda de calor semelhante no Canadá neste ano matou mais de 90 pessoas. O recente aumento do nível do mar, agora em 3,9 milímetros por ano, colocou as nações das ilhas do Pacífico no limite, e estudos sugeriram que a inundação causada por ondas poderia tornar muitas dessas ilhas inabitáveis ​​em décadas.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, lançou mais um relatório para caso do aumento de mais meio grau, relativo a nossa atual situação. Muitos dos recifes de coral do mundo seriam condenados, e isso comprometeria mais ainda, tanto a biodiversidade marinha como diretamente a economia ligada a pesca. Em algumas regiões, as chuvas e as ondas de calor escaldantes se tornariam mais severas. Conter o aumento da temperatura a exigiria uma forte queda nas emissões de carbono, assim como medidas para remover ativamente o CO 2 da atmosfera, disse o relatório.

Enquanto isso no Brasil

No Brasil, o grande incêndio do Museu Nacional, no Rio de janeiro, foi a morte representativa e simbólico do descaso governamental com a ciência, algo que milhares de pesquisadores já experimentando nos ultimos anos. O museu incendiou-se na noite de 2 de setembro, após anos de falta de fundos e negligência por parte das autoridades. Os fundos públicos para a ciência na maior parte do país seguiram uma trajetória semelhante. O orçamento do ministério da ciência federal encolheu em mais de 50% nos últimos cinco anos, e um corte adicional de 10% é esperado para 2019, apesar dos muitos apelos dos cientistas aos legisladores em Brasília.

Embora o novo presidente Jair Bolsonaro tenha prometa triplicar a taxa de investimento em ciência, tecnologia e inovação para 3% do produto interno bruto nos próximos 4 anos, algo que muitos analistas dizem que não é viável, o ex-capitão do exército acumula discordâncias com muitos consensos científicos, além de se alinhar a política de Donald Trump, quanto ao Acordo de Paris sobre mudanças climáticas.

As eleições também afetaram o desmatamento na amazônia, mas esta não é novidade em períodos eleitorais. Segundo Paulo Barreto, pesquisador do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), em ano de eleição os governos locais tacitamente diminuem a fiscalização. Na Amazônia, neste ano, as polícias reduziram seu apoio às operações do Ibama.

“A questão é se isso será um pico causado pela conjuntura da campanha, que depois suaviza, ou se é uma tendência”, disse André Guimarães, diretor executivo do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). “Um risco é [o desmatamento] mudar de patamar como mudou nos últimos anos. Ele pode sair de controle se não houver uma ação coercitiva forte, que o contexto político não favorece.”

Outro alerta dado para amazônia em um editorial da revista Science Advances feito por Thomas E. Lovejoy e Carlos Nobre. Desde a década de 1970, quando estudos realizados pelo professor Eneas Salati demonstraram que a Amazônia gera aproximadamente metade de suas próprias chuvas, levantou-se a questão de qual seria o nível de desmatamento a partir do qual o ciclo hidrológico amazônico se degradaria ao ponto de não poder apoiar mais a existência dos ecossistemas da floresta tropical.

foto inpe mapbox ccB. Em vermelho ares de “desflorestamento”.

Segundo os pesquisadores, as megassecas registradas na Amazônia em 2005, 2010 e entre 2015 e 2016, podem ser os primeiros indícios de que esse ponto de inflexão está próximo de ser atingido. Esses eventos, juntamente com as inundações severas na região em 2009, 2012 e 2014, sugerem que todo o sistema amazônico está oscilando. “A ação humana potencializa essas perturbações que temos observado no ciclo hidrológico da Amazônia”, disse Nobre.

“Se não tivesse atividade humana na Amazônia, uma megasseca causaria a perda de um determinado número de árvores, que voltariam a crescer em um ano que chove muito e, dessa forma, a floresta atingiria o equilíbrio. Mas quando se tem uma megasseca combinada com o uso generalizado do fogo, a capacidade de regeneração da floresta diminui”, explicou o pesquisador.

De modo a evitar que a Amazônia atinja um limite irreversível, os pesquisadores sugerem a necessidade de não apenar controlar o desmatamento da região, mas também construir uma margem de segurança ao reduzir a área desmatada para menos de 20%.

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Referencias

Breakdowns of the year. Paul Voosen, Herton Escobar, Martin Enserink Science 21 Dec 2018: Vol. 362, Issue 6421, pp. 1352–1353 DOI: 10.1126/science.362.6421.1352

Ban bullying in science. Nature 563, 600 (2018) doi: 10.1038/d41586–018–07529–0

Fire, drought, flood: climate challenges laid bare in US government report. Jeff Toleffeson. Nature news. ISSN 1476–4687. doi: 10.1038/d41586–018–07483-x

Desmatamento cresce 36% no período eleitoral. observatório do clima

Carta Campinas: Desmatamento da Amazônia está atingindo um limite irreversível, alertam cientistas. Fevereiro.2018.

Amazon Tipping Point. Thomas E. Lovejoy and Carlos Nobre
Science Advances 21 Feb 2018:Vol. 4, no. 2, eaat2340 DOI: 10.1126/sciadv.aat2340

Fate of the Amazon forests and the Third Way. Carlos A. Nobre, Gilvan Sampaio, Laura S. Borma, Juan Carlos Castilla-Rubio, José S. Silva, Manoel Cardoso Proceedings of the National Academy of Sciences Sep 2016, 113 (39) 1075910768;DOI:10.1073/pnas.1605516113

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