Conselhos de um extraterrestre

Cartas de um Flaneur — #002

Yves Hermínio
Unifei Finance Itabira
4 min readApr 9, 2020

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Não sei como começou, mas desde quando me recordo era assim. Sempre fui muito controlado com dinheiro. Adorava acumular as moedas no cofrinho e em algum dia, sem motivo aparente, o quebrava só para contar as moedas. Me sentia o próprio Tio Patinhas vendo toda aquela pequena fortuna.

Confesso que uma boa parte dessas moedas iam embora quando resolvia montar os álbuns de figurinhas do Harry Potter, mas sem perdas permanentes. O cofrinho evoluiu e virou uma conta poupança. Era a maneira que meus pais tinham para fazer o dinheiro render alguma coisa e não virar mais figurinhas. Por muito tempo a poupança foi o único instrumento que conhecia para fazer os meus trocados crescerem (não era uma maravilha, mas era tudo que eu tinha).

Há dez anos conheci a bolsa de valores através de um amigo da escola. O cara tinha bem mais dinheiro que eu e investia por uma corretora, tendo excelentes retornos em poucos meses. Após algumas conversas nos intervalos das aulas, e com o crescente interesse despertado em mim, fui convidado para conhecer o escritório de investimentos.

Parecia que estava dentro de um filme sobre Wall Street. Vários homens aparentemente jovens, com suas camisas sociais azul claro, olhando inúmeras telas cheias de gráficos. Um grita ao fundo “ –Olha o preço do café subindo! ” E todos os outros comemorando aos berros. Imaginei: “Esses caras devem gostar muito de café, acho que só assim para aguentar toda essa euforia”.

Enfim, fui atendido por um assessor de investimentos. Discutiu comigo algumas coisas que mal entendia; sobre como o mercado funcionava, alguns riscos envolvidos, queria me vender alguns cursos caríssimos como premissa para começar a investir e por fim, falou que o montante de dinheiro que eu possuía era muito pouco para começar. O valor mínimo que ele exigia era de R$5.000,00.

Fiquei chateadíssimo com aquilo. Não estava apto a ter acesso a um vasto mundo de investimentos. Estava fadado ao rendimento pífio da minha singela poupança. Nunca poderia ser como aqueles caras, que pareciam ter superpoderes para prever os preços das ações (felizmente, pois estes superpoderes não existem, ainda mais se tratando de previsões acerca do mercado financeiro).

E assim foi, após essa experiência, nunca mais arrisquei me misturar aos engravatados que querem prever o futuro (por mais que só saibam do passado). Chamados de “Ternos Vazios” por Nassim Taleb, esses seres utilizam do vocabulário e do discurso sofisticado para afastarem o leigo da discussão, como se fossem os grandes protetores da verdade e do conhecimento. Me conformei com minha posição de estudante quebrado, segui minha vida e mantive meus trocados na mesma poupança que viria a me acompanhar por muito tempo. Entra aí o questionamento: “O problema está realmente no acesso a esses investimentos ou na informação? ” Eu acredito que seja a segunda opção!

Alguns anos depois, ao final de 2016, resolvi buscar informações sobre o assunto (acatando o conselho do E.T. Bilu). Tinha mais autonomia do que na adolescência (obviamente) e queria ver se conseguiria acessar todo aquele mundo por conta própria. Não foi difícil achar informações de qualidade sobre o assunto, sem muitos empecilhos comecei minha caminhada para me tornar um INVESTIDOR!

No gráfico acima é possível enxergar a estagnação do número de CPFs desde a minha primeira visita ao escritório de investimentos, em 2009, até a abertura de conta na minha primeira corretora, ao início de 2017. Após esse período foi iniciado um processo denominado de financial deepening. A queda na taxa de juros, combinada com todo esse movimento de busca por informação e conhecimento sobre o tema fizeram o número de pessoas físicas com acesso a todo o tipo de investimento saltar do patamar de 600 mil para quase 1,6 milhão. A própria UNIFEI Finance Itabira é um reflexo desse movimento. Ao invés de dar ouvidos aos “Ternos Vazios”, ouça mais o que o pequeno sábio de outro mundo tem para te dizer (E.T. Bilu ❤).

Para finalizar, em uma palestra que tive a oportunidade de presenciar, Adam Grant, escritor do livro “Originals”, foi questionado sobre o que podemos fazer enquanto nação, dada a nossa atual situação sócio-política, para poder ser um país melhor. Adam respondeu que se for do interesse de nossos governantes a medida a ser tomada seria o investimento em educação. Não apenas essa educação de base como mal temos, mas sim focar as energias em ensinar as pessoas a PENSAR, disponibilizar as ferramentas necessárias para que ela consiga se desenvolver. Promover a MULTIDISCIPLINARIDADE!

Quando você tem contato com esse tipo de conhecimento é quase como uma catequização e nós aqui temos exatamente essa intenção. Promover essa multidisciplinaridade, te ajudar a pensar, e conquistar a segurança necessária para dar esse primeiro passo de maneira prudente para que não demore 8 anos, assim como eu.

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Yves Hermínio
Unifei Finance Itabira

Estudante de Engenharia de Controle e Automação e membro da UNIFEI Finance Itabira. https://medium.com/unifei-finance-itabira