Sobre erros e aprendizados

Cartas de um Flaneur — #016

Yves Hermínio
Unifei Finance Itabira
4 min readAug 13, 2020

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Queria começar pedindo desculpas pela ausência nas últimas semanas. Não sei se essa ausência chegou a ser notada, mas confesso que senti falta dos nossos encontros semanais. Estamos concluindo o nosso primeiro processo seletivo e isso exigiu uma dose extra de comprometimento e tempo. Independente disso, de maneira a retomar essa nossa relação, venho aqui trazer algumas ideias que têm passado pela minha cabeça.

Tive contato com vários jovens investidores nos últimos dias que me fizeram pensar em que tipo de investidor eu era quando comecei. A primeira coisa que me veio à cabeça foi o quanto eu errava. Não que eu não erre hoje, muito pelo contrário, erro mais do que gostaria e menos do que deveria. Explico.

As maiores mentes da humanidade tiveram seus fracassos. Pense em Thomas Edison, descrito como o maior inventor dos Estados Unidos, possui invenções que utilizamos até hoje, porém, das mais de mil patentes registradas em seu nome, talvez pouco mais de uma dezena tenham tido algum sucesso. O mesmo podemos dizer de compositores como Mozart e Beethoven, com centenas de obras produzidas e com apenas algumas bem reconhecidas.

Os exemplos se estendem a artistas como Pablo Picasso com suas milhares de peças artísticas, entre quadros e esculturas, onde só uma parte de toda sua produção foi reconhecida e aclamada. O que dizer então de Yevgenia Krasnova? Essa eu vou deixar para os leitores mais assíduos de Nassim Taleb.

Acho que deu para entender o meu ponto aqui. Longe de querer me comparar a esses grandes gênios, sei do meu lugar no mundo, mas todos temos algo em comum. Erramos pra caramba em busca de algum acerto.

Em termos estatísticos existem dois tipos de erros. O erro tipo 1, que se refere a tomar como falso algo que é verdadeiro, e o erro tipo 2, que toma como verdadeiro algo falso. Trazendo para o mundo dos investimentos, incorremos no erro tipo 1 a todo momento. Sempre vai existir aquela ação que vai subir absurdamente e não vamos ter participado disso por achar que já estava cara demais, ou simplesmente por desconhecer seu incrível potencial anteriormente. Erramos, não tem problema, faz parte do jogo. Agora, incorrer no erro tipo 2 pode ser catastrófico. As consequências de tomar como verdadeiro algo falso são bem piores e podem gerar grandes prejuízos.

Como diria André Jakurski, fundador da JGP, o investidor é sempre um idiota. Se ele comprou um ativo e subiu, é um idiota porque deveria ter comprado mais. Se comprou e caiu, é um idiota por ter comprado aquilo. E assim vamos levando, errando e se arrependendo sempre. Mas teria alguma maneira de colocar isso a nosso favor?

Recorro a Edward Thorp para responder a pergunta acima. Doutor em matemática e grande gestor de hedge fund, Thorp foi o responsável por criar a contagem de cartas no blackjack. O sistema funcionava de maneira que a cada carta que o dealer entregava, alterava-se a probabilidade das cartas restantes no baralho. Sabendo do número finito de cartas disponíveis e atribuindo um valor para as cartas já observadas, era possível estimar se as cartas restantes tinham um valor alto ou baixo, de forma a contribuir para o jogo.

A maneira de se permanecer na mesa apesar das cartas não virem muito boas era apostar pouco quando o baralho estivesse desfavorável, e aumentar muito a aposta quando o baralho estivesse favorável. Desta forma era possível ter uma vantagem frente à banca. O cara era um gênio, e depois de ter feito coisas absurdas nos cassinos, decidiu levar toda essa genialidade para o mercado financeiro. Seu hedge fund teve um rendimento anual composto de 19,1% por quase 20 anos.

Com isso, trago aqui o conceito de opcionalidade que, de maneira simplista, pode ser entendido como ter várias opções disponíveis. A assimetria chega pra complementar a opcionalidade. Quando temos muito mais a ganhar do que a perder, podemos dizer que essa assimetria é convidativa. Combinando as duas, se temos várias apostas assimétricas, conseguimos colocar as probabilidades a nosso favor.

Nassim Taleb define esta característica de perda limitada e ganho potencial ilimitado de convexidade. A convexidade pode ser enxergada no mundo dos investimento através das ações, por exemplo. O máximo que se pode perder ao investir em uma ação é 100%, porém o máximo que se pode ganhar não está limitado a 100%. Uma ação pode subir 200%, 500%, 1000% ou até mais, não existe limite.

A opcionalidade tem por objetivo aumentar nossas chances de acerto em cenários de grande incerteza. Seria presunção ou até mesmo ingenuidade achar que sabemos o que vai acontecer no futuro. Buscar opcionalidade é reconhecer que não temos controle sobre os eventos e não sabemos o que vai acontecer, então a melhor postura é se expor a inúmeras possibilidades com riscos controlados.

Desta forma, ao investir em ativos convexos, você se expõe à opcionalidade de retornos favoráveis. Os maiores erros terão uma perda de 100% e os maiores acertos terão ganhos exponenciais. Repita este processo N vezes e a assimetria de retornos se mostra favorável ao investidor. Não importa os erros cometidos ao longo do percurso, eles sempre vão existir, mas um grande acerto será responsável por compensar vários erros. Se você tem uma exposição convexa em seu portfólio, o longo prazo fará o trabalho por você, desde que não incorra em riscos de ruína.

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Yves Hermínio
Unifei Finance Itabira

Estudante de Engenharia de Controle e Automação e membro da UNIFEI Finance Itabira. https://medium.com/unifei-finance-itabira