UM PAPO SOBRE FUNDOS COM PARCELA EM CRÉDITO PRIVADO

.Felipe
Unifei Finance Itabira
4 min readApr 19, 2020

A queda da taxa de juros de 14,25% para 3,75% tem levado pequenos investidores à procura de investimentos mais arrojados. Aquela rentabilidade de 1% ao mês e sem riscos está extinta desde 2017. A procura por rentabilidade fez, com que investidores pessoas física, a minimizarem riscos ao investir em produtos que possuíam e/ou possuem rentabilidade histórica positiva e acima do CDI.

Este artigo procura explicar os excessos e os riscos que muitos investidores podem incorrer ao aplicar em fundos de investimentos que possuem, em sua carteira, crédito privado.

Fundos de crédito privado são fundos em que parte do seu patrimônio está investida em títulos privados, que são: debentures, letras de crédito, depósitos bancários, entre outros. Para que o fundo leve o nome de crédito privado, ele deve possuir no mínimo 50% do seu patrimônio em emissores privados.

O intuito de investir parte do patrimônio em títulos privados é conseguir uma rentabilidade acima do CDI, mas com riscos menores do que na renda variável.

O que muitos não sabem ao investir nessa classe de investimento são seus riscos, que são:

i. Risco de Liquidez: basicamente é o risco do fundo de vender o ativo no mercado. Quando o cliente pede o resgate de parte do dinheiro ao fundo, deve, o administrador do fundo, vender os ativos em carteira no mercado.

ii. Risco de Mercado: ativos de crédito privado sofrem alterações de seu valor, mas, basicamente, quando o juro do título privado sobe, para compensar o seu valor, o valor do título caí. Vale ressaltar que, quando mais longo for o vencimento do ativo, maior é impacto da variação do juro em seu preço.

iii. Risco de Crédito: literalmente é o risco do emissor do título- que pode ser uma empresa ou banco- de não pagar. Nesse caso o valor do ativo tende a zero.

Ao procurar por esse tipo fundo, vemos rentabilidades de 110%, 120% até 150% do CDI, e com ligeira diferença na sua rentabilidade histórica. Apesar do ágio em relação ao CDI parecer pequeno, os efeitos do juro composto e o tempo podem fazer a diferença ao final do investimento. Além do diferencial de juros, há fundos que tem seus resgates em poucos dias.

Recentemente, o gestor da S2F Investimentos, Sergio Machado, tem alertado para a grande euforia do crédito privado [1], com os crescentes números de fundos de crédito privado que surgiram no ano de 2019, ocasionaram uma diminuição nos prêmios de riscos dos ativos de crédito. Ele também comenta que esses novos fundos possuem um prazo de resgate desproporcional ao risco, prazos muito curtos. Além dele, analistas apontam que muitos têm apostado nesse tipo de fundo para a alocação da reserva de emergência. Exemplificando tudo, os fundos de crédito ficaram extremamente frágeis frente ao risco e retorno.

Frente a isso, o estresse nos mercados causados pelo coronavírus provocou, em março, quedas brutais de rentabilidade associadas aos riscos de liquidez e de mercado. Somente em março, cerca de R$25,8 bilhões de resgate, aproximadamente 14% do patrimônio líquido dessa indústria [2].

Para exemplificar a fragilidade, o fundo de crédito privado Az Quest Luce FIC, um dos maiores desse ramo, com cerca de 50 mil cotistas e com prazo de resgate de D+1. Apresentou em março, queda de 5,60% de retorno e no ano, amarga uma rentabilidade negativa de 5,85%. Um resultado bastante ruim, já que o fundo propõe um benchmark com o CDI que está, até a data deste artigo, em 3,65%.

Como vemos o histórico do fundo, até fevereiro de 2020, o fundo não apresentou rentabilidade negativa. Também, há outra classe de fundos que podem possuir parcela em crédito privado, que são os Fundos DI.

Pelo gráfico abaixo [3], vemos que o impacto do estresse do mercado nos Fundos Referenciados DI.

Cada linha representa um fundo oferecido na indústria de investimentos, mas que não carregam o nome de crédito privado. Um mapeamento do Felipe Arrais [4], analista da Empiricus, analisou 228 fundos DI e, dentre esse universo, 104 tiveram uma cota negativa no ano de 2020. Um dos principais motivos pela queda é, mesmo não possuindo o nome de crédito privado no nome. Entretanto, eles podem alocar cerca de 50% do seu patrimônio em crédito privado.

Podemos concluir: vale aquela frase que “-Rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura”. E, a aplicação da reserva de emergência nesse tipo de investimento é desaconselhável, pois, como visto, há riscos de perda de patrimônio consideráveis. Vale aquela famosa dica de pesquisar antes sobre o tipo de aplicação e o risco e retorno.

[1]https://www.youtube.com/watch?v=9qu9e4qcJYo

[2]https://valorinveste.globo.com/produtos/fundos/noticia/2020/04/13/resgates-em-fundos-de-credito-somam-r-258-bilhoes-em-marco.ghtml

[3] https://www.empiricus.com.br/newsletters/day-one/dia-5-vem-ai/

[4] https://www.youtube.com/watch?v=k-IPopIBASY

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