Os sintomas da covid-19 no metrô da região metropolitana

Angelo Pieretti
UniPautas | Jornalismo UniRitter
7 min readJun 21, 2021

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Trensurb precisou readaptar-se em função da pandemia e registrou queda de usuários superior a 40% em relação aos meses de fevereiro de 2020 e 21.

Por Angelo Pieretti e Matheus Müller

Usuários aglomerados aguardam a abertura das portas para entrar nos vagões do trem. Créditos: Angelo Pieretti

Em função da pandemia, a empresa precisou readaptar-se por conta da queda de passageiros, que em fevereiro deste ano, transportou 1,8 milhão de usuários, uma queda de 45,5% em relação ao mesmo período do ano anterior, que superou os 3,4 milhões.

Já é possível observar os efeitos da pandemia no transporte público da região metropolitana de Porto Alegre (RMPA). Devido ao coronavírus, a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A (Trensurb) contou com um buraco em sua receita. Além disso, muitos funcionários encontram-se sobrecarregados devido ao aumento de demanda e diminuição de colaboradores, que foram afastados por serem parte do grupo de risco.

Diversas medidas foram tomadas para conter a disseminação do vírus, a maior delas, o decreto n° 55.154/2020 do governo estadual, que dita como norma o espaço de 1m² por usuário no trem. Na época de seu lançamento, o decreto também separava atividades entre essenciais e não essenciais. Com o intuito de evitar a aglomeração em diversos espaços públicos e privados, como os transportes, shoppings e praças.

O gráfico abaixo mostra os valores arrecadados pela Trensurb, entre janeiro de 2019 — ano anterior à pandemia — até fevereiro deste ano. É possível observar a diminuição da renda desde antes do início das restrições impostas pela pandemia. Porém, é em abril de 2020 que o valor despenca e a empresa vê queda de 25% nos recebimentos.

Gráfico de receitas entre 2019 e fevereiro de 2021. Fonte: Governo Federal / Créditos: Matheus Muller

Em conversa com o diretor de operações da Trensurb, Luis Eduardo Fidell, ele explica que se desconsiderarmos a pandemia, é normal que os primeiros meses do ano sejam menos volumosos, visto que, grande parte do público é estudante de colégio e faculdade que reside em outra cidade.

Além disso, os cofres da empresa sofreram com o fechamento do comércio dentro das estações. O aluguel de lojas e espaços gera receita para a empresa. Mesmo com o afrouxamento das medidas restritivas, muitos comércios fecharam as portas definitivamente na época mais rígida. O valor arrecadado auxiliava nas contas da empresa, estas que, já não se pagavam. Segundo Fidel, a empresa arrecada em torno de 70% do que gasta, tendo o restante da receita completada através de repasses do governo federal.

Outras ações tiveram impacto direto na circulação de usuários, como o fechamento das bilheterias em estações menos movimentadas, além do acréscimo de trens acoplados — dois trens conectados — circulando durante toda a operação. Conforme o diretor de operações, o acoplamento dos trens também ajudou para que não faltassem pilotos, “nos possibilitou ofertar mais lugares, para que os usuários possam se espalhar no interior dos vagões”.

Para quem está na linha de frente do transporte de passageiros em meio a pandemia, como o supervisor e piloto do Setor de Tráfego da Trensurb, Matheus de Almeida, sempre existe um receio quanto a sua segurança para não ser contaminado. “Em função dos cuidados e disponibilidade de produtos de higiene, o medo não é total. Como ficamos isolados na cabine de pilotos, sempre a mantemos limpa”, explica.

Passarela da Estação Mercado, usuários aguardam o trem sentido Novo Hamburgo. Créditos: Angelo Pieretti

Esta mesma sensação, não é sentida por parte dos usuários, conforme relato do passageiro Lucas Santana . Em relato, conta que “é muito difícil me sentir totalmente seguro nas viagens”. Santana percorre o trajeto, em horários de pico entre as Estações Luiz Pasteur e Anchieta, “os vagões estão sempre cheios e sempre tem um ou outro usuário sem máscara, ou usando de forma errada”, explana.

Para tentar diminuir a contaminação e a sensação de medo dentro dos vagões, Paulo Petry, doutor em Epidemiologia e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sugere que além do uso de máscara, os usuários higienizem as mãos com álcool gel. “ Uma medida muito efetiva é a ventilação do veículo. A circulação do ar é um fator extremamente importante porque dissipa esses aerossóis e gotículas”.

Eficácia de proteção dos modelos de máscaras. Créditos: Matheus Muller

Embora haja a obrigatoriedade do uso de máscara desde 1º de maio de 2020, a Trensurb encontra dificuldades para fiscalizar os passageiros nas estações e vagões. De acordo com Petry, “o uso evita bastante a dissipação de gotículas e aerossóis ao falar”. Ainda segundo o epidemiologista, existem diversas máscaras, as PFF2 ou N95 são utilizadas nos hospitais e tem melhor filtragem do ar. As máscaras cirúrgicas, com hastes para moldar no nariz, são profissionais, mas com menor eficácia em comparação as anteriores.

Além dessas citadas acima, existem as máscaras de pano, que ganharam popularidade e diversas estampas ao longo da pandemia, “o importante é que, para a população em geral seja seguro e economicamente viável”, argumenta o epidemiologista. Para testar a segurança das máscaras de pano, de acordo com Petry, ela deve conter mais camadas, “um teste muito simples que recomendamos é colocar a máscara e acender uma chama na frente da máscara, se ao soprar o fogo apagar é melhor dobrar a proteção porque está passando ar tanto pra entrar quanto para sair”.

Outra medida de proteção que a empresa adota, é a higienização do interior dos trens nas estações terminais Mercado e Novo Hamburgo. Funcionários realizam a limpeza dos bancos e barras de apoio com álcool, conforme o especialista, alguns estudos mostram que o vírus permanece transmissível em superfícies. Ainda segundo Petry, a medida adotada pela empresa é correta, “o maior risco no Trensurb é a lotação e aglomeração de pessoas”.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou em sua página um documento com recomendações para evitar o contágio em transportes públicos. Entre as dicas elaboradas, a carta recomenda a identificação por parte do usuário de locais com grande fluxo de pessoas para assim, evitar aglomerações. Outra recomendação da OMS, é o uso de luvas para tocar em dinheiro. Além de higienizar as mãos com álcool gel por aproximadamente 30 segundos

Lavatório fora de utilização. Créditos: Angelo Pieretti

Dentre as ações para o cuidado com seus usuários, foram instalados adesivos no chão de estações, marcando a distância entre cada pessoa. A Trensurb também realizou a instalação de lavatórios com acionamento automático de água e sabão nas estações Mercado, Rodoviária, Canoas, Mathias Velho, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo e Novo Hamburgo, que estiveram disponíveis até sofrerem com avarias e falta de manutenção. Restando somente as estruturas sem funcionamento nas estações

Por meio de sua assessoria, a Trensurb posicionou-se em relação aos pontos apresentados nesta reportagem.

Uso de máscara: A verificação quanto ao uso de máscaras é feita na linha de bloqueios (ou catracas), pelos agentes de estação e/ou os seguranças e também nas rondas da segurança pelas estações e trens. Nos casos de denúncia de usuários, as ocorrências são atendidas pela segurança, porém os agentes têm outras atribuições e, infelizmente, nem sempre conseguem atuar a tempo, de modo que o transgressor já deixou o sistema ou já colocou novamente sua máscara.

Vale destacar que temos uma campanha de comunicação sobre a prevenção à Covid-19 junto aos usuários, veiculada por meio de redes sociais, material gráfico, monitores e avisos sonoros nos trens e estações. Uma das principais orientações da campanha é justamente sobre o uso correto de máscaras de proteção. Infelizmente, nem todos têm consciência dessa prática que é fundamental para combater a propagação do vírus. Porém, mesmo com fiscalização por parte da empresa, trata-se de uma atitude que depende de cada um de nós.

Lotação: A Trensurb avalia que, com a demanda reduzida (mantendo-se próxima a 50% da demanda normal, anterior à pandemia), a oferta nos horários de pico (até 25 trens rodando simultaneamente, muito próxima da oferta normal pré-pandemia, com até 26 trens simultâneos) é suficiente para atender a determinação do Governo do Estado que limita a ocupação dos veículos em 50% de sua capacidade — o que corresponde a três passageiros por metro quadrado. A empresa informa ainda que realiza monitoramento constante da situação do sistema, posicionando trens reservas ao longo da via para que entrem em operação nos horários de pico em caso de necessidade.

A fim de evitar eventuais aglomerações, é importante também que os usuários fiquem atentos ao uso de toda a área de parada dos trens nas plataformas enquanto aguardam o embarque, especialmente no caso de composições acopladas. Do contrário, pode haver concentração de passageiros no interior dos carros centrais dos trens. Avisos sonoros nas estações reforçam essa orientação — além de divulgarem campanha de conscientização desenvolvida pela empresa sobre as medidas de prevenção à Covid-19.

Também é importante que os usuários busquem evitar os horários de pico quando possível e que os empregadores flexibilizem os horários de entrada e saída do trabalho, evitando que haja grande concentração de passageiros no transporte público em apenas alguns horários.

Lavatórios: Infelizmente eles têm sofrido com vandalismo e furto de peças (principalmente sensores). Hoje, temos equipamentos em funcionamento apenas nas estações Mathias Velho, São Leopoldo e Novo Hamburgo. A empresa está estudando uma solução para colocar os lavatórios novamente em operação.

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