A relação entre a Fear of Missing Out e o desenvolvimento pessoal de adolescentes
Por AGATHA GABRIELLA DA SILVA ROSA, ALINE CARVALHO VELOSO RAMOS e LETÍCIA DA SILVA OLIVEIRA
RESUMO
O início do século XXI ficou marcado pelo avanço tecnológico. Em termos comunicacionais, podemos afirmar que o nosso tempo ganha maior protagonismo ao passo que a acessibilidade à informação é praticamente integral e em tempo real. Considerando-se, portanto, a facilidade de distribuição de notícias e de compartilhamentos pessoais, cerca-nos também um considerável crescimento da necessidade de atualização. As pessoas mais jovens, principalmente aquelas que já nasceram em uma sociedade permeada pelo consumo da internet, podem sofrer significativos ônus quando desenfreadamente se entregam a tal facilidade. Geralmente, são horas perdidas que elas pensam achar diante da eufemística justificativa de busca pelos acontecimentos, mas que não passam de uma compulsão pela conexão, pela ilusória busca de pertencimento. Não à toa, cada vez mais assistimos à menções sobre antigas e novas síndromes cognitivas que passam a coexistir como ansiedade, depressão e, mais recentemente, também variações como a FoMO (fear of missing out), todas com importantes implicações no desenvolvimento educacional e pessoal. As tecnologias comunicacionais são, sem dúvida alguma, de extrema relevância, mas o limite entre o interesse e a adição pode ser traiçoeiro e levar ao desenvolvimento de diversos distúrbios.
Palavras-chave: FoMO, educação, aprendizagem, modernidade líquida
ABSTRACT
The beginning of the 21st century has been marked by its imposing technological advance. In terms of communication, we can say that our time gains greater prominence, while accessibility is practically integral and in real time: the time that the letters took in transit is now better used in other to-do. Considering the ease of distribution of news and personal sharing, there is also a considerable increase in the need for updating. Younger people, especially those who have already been born in a society permeated by the consumption of the Internet can suffer significant burdens when they unrestrainedly inturn to such a facility. Usually, these are lost hours that they think they find in the face of the euphemistic justification of searching for events, but which are nothing more than a compulsion for connection, for the illusory search for belonging. No more and more we are witnessing mentions of old and new cognitive syndromes that come to coexist such as anxiety, depression and, more recently, also variations such as FoMO (fear of missing out), all with important implications for educational and personal development. Communication technologies are undoubtedly extremely relevant, but the boundary between interest and addition can be treacherous and lead to the development of various disorders.
Keywords: FoMO, education, learning, liquid modernity
1. Introdução:
O alcance das informações no início do século XXI ganhou uma proporção maior àquela experimentada algumas décadas atrás, em meados de 1990, quando predominavam os meios tradicionais de comunicação como a televisão, a rádio e o jornal impresso. Uma característica importante dessa época é que o conteúdo dirigido à sociedade era naturalmente limitado, transmitido em horários fixados e por formas pré-definidas.
Recentemente, o advento da internet nos deu mais acessibilidade à informação, possibilitando sua ampla disponibilidade, em qualquer local, a qualquer momento e em velocidade quase que concomitante aos próprios fatos. Entretanto, foi nesse momento que ganhamos um revés significativo: houve um considerável crescimento da necessidade de atualização, uma vez que as informações e acontecimentos são consumidos de maneira mais acelerada.
Antigas e novas síndromes cognitivas passam a coexistir, como ansiedade, depressão e também variações como a FoMO. A expressão fear of missing out (medo de perder algo) pode ser definida como a sensação experimentada por um indivíduo de que outras pessoas estariam passando por experiências mais gratificantes enquanto ele está consumindo o conteúdo das redes sociais delas.
A FoMO também pode se apresentar sob outra perspectiva, o fear of better option (medo de uma opção melhor), que consiste no medo que uma pessoa nutre de perder uma oportunidade melhor quando faz uma escolha (bloqueio de outras alternativas). Alguns exemplos são a escolha da carreira, em qual bairro ou casa morar, ou questões menos complexas como, por exemplo, qual caminho tomar para ir ao trabalho.
O consumo constante da vida pessoal de outras pessoas é o fator chave para o desenvolvimento dessas características. Baseadas numa contínua necessidade de ciência sobre as novidades, sobre o que está acontecendo em cada círculo de amizades, as pessoas acabam recorrendo ao uso das novas tecnologias comunicacionais (as redes sociais como Facebook, Twitter e Instagram, principalmente), de inerente facilidade informativa, desmedidamente. Trata-se, em verdade, de um interesse de manutenção do seu pertencimento social pela via do conhecimento daquilo que acontece ao seu redor.
De forma geral, os bebês, desde os 0 anos de idade, estão expostos a estímulos distintos de diferentes fontes, como sons, imagens e sensações como frio e calor, que podem ser naturais, oriundos do próprio ambiente, ou gerados artificialmente através de tablets, celulares, televisões, entre outros eletroeletrônicos. E essa exposição permanece ao longo do seu desenvolvimento. Desde o início do século, a sociedade sofre com a digitalização precoce, crianças já possuem contato cotidiano e intenso com as redes sociais e plataformas de streaming, principalmente YouTube e Netflix, além de outras plataformas de vídeo nas quais interagem com pessoas, desenhos, filmes, etc.
Em 2020, com a chegada da pandemia global, vemos o reflexo dessa digitalização na vida dos adolescentes: uma dificuldade geral de aprendizagem, desatenção, falta de foco e disciplina, transtornos comportamentais, hiperatividade e a mais recente e constante necessidade de atualização das redes sociais, provocando a FoMO, situações que podem ter sido causadas pelos estímulos de dispersão e de inadequada apreensão frequentes na infância.
Considerando-se o exposto, algumas perguntas que este trabalho buscará responder são: o uso desenfreado das redes sociais têm contribuído para um perdimento da concentração e do que é importante na vida dos jovens? A sua formação pessoal fica prejudicada diante das facilidades de comunicação e informação? Uma formação sólida, direcionada por pais e professores, seria capaz de diminuir as consequências advindas de um mundo hiperconectado?
2. Objetivos e justificativa:
I. Investigar quais os principais reflexos da constante necessidade de atualização, que permeia sobremaneira o atual uso dos meios de comunicação, no desenvolvimento educacional e cognitivo de crianças e jovens;
II. Investigar a relação entre as novas tecnologias comunicacionais e o desenvolvimento de síndromes relacionadas à dificuldade de aprendizado;
III. Investigar quais os motivos e as consequências da adição às redes sociais e da necessidade de manutenção de um conhecimento integral dos acontecimentos;
IV. Contribuir com mais um estudo sobre a síndrome FoMO;
O presente trabalho foi proposto visando a necessidade de abordar um tema atual e também mostrar como a busca desenfreada por informações e o acesso descontrolado às redes sociais pode dificultar o foco, a aprendizagem e o desenvolvimento pessoal de crianças e adolescentes.
3. Metodologia
O método de pesquisa aplicado a neste trabalho iniciou com o procedimento de pesquisa bibliográfica para, no que concerne à abordagem, empregar o hipotético-dedutivo. As fontes doutrinárias primárias compreendem artigos científicos sobre FoMO e seus impactos no cotidiano, bem como livros versados sobre temas como educação, relações pessoais, crescimento e modernidade e tecnologia.
4. Desenvolvimento
4.1 OS USUÁRIOS, AS INFORMAÇÕES E OS TIPOS DE PROBLEMAS ENFRENTADOS COM A INFORMAÇÃO
A internet foi criada em 1969 e possuía nome e função diferentes do que se utiliza atualmente. Naquele mesmo ano, foi enviado o primeiro e-mail da história. Ainda hoje é possível enviar e-mails para qualquer pessoa ao redor do mundo, mas também já é possível compartilhar fotos, mensagens de vídeo ao vivo, mensagens de voz, compartilhar a mesma tela e todo tipo de documento através de redes sociais como Facebook, YouTube, WhatsApp, Messenger, Instagram, Twitter, Skype, etc.
Os hardwares e gadgets não ficam para trás em termos de desenvolvimento, os celulares e computadores possuem cada vez mais definição, memória ROM, memória RAM, e facilitam a vida humana sobremaneira com suas funcionalidades. Porém, este artigo desenvolverá apenas as consequências (sejam elas maléficas ou benéficas) da grande evolução galgada pelos softwares de redes sociais à partir do Facebook em 2004.
Mark Zuckerberg, fundador e atual CEO do Facebook, em 2011 incorporou à empresa outras duas grandes redes sociais utilizadas ao redor do mundo: o WhatsApp e o Instagram, o que foi um marco importante para a evolução do design e usabilidade dos aplicativos. Entretanto, antes mesmo dessa mudança considerável no regimento das redes sociais, já conseguíamos identificar alguns tipos de usuários pós-anos 2000, sendo eles: os analfabetos, os imigrantes e os nativos (Domingo, 2016).
Os analfabetos se caracterizam pela realização de um trabalho por vez quando utilizam ferramentas tecnológicas, fazem uso ocasional do celular para fazer ligações, preferem a agenda de papel, costumam necessitar de ajuda de outras pessoas para utilizar os meios digitais, são mais lentos em suas atividades, buscam informações em livros, preferem imprimir para realizar leituras.
Enquanto isso, os imigrantes apesar de, por vezes, preferirem imprimir suas leituras, já conseguem trabalhar em três ou quatro atividades simultâneas, se preocupam muito pouco com novidades tecnológicas, utilizam aplicativos simples de seus telefones celulares, costumam usar mais o e-mail do que WhatsApp para se comunicar, além disso, também precisam empregar mais esforços para a compreensão de mudanças de informações em geral.
Já os nativos digitais estão muito familiarizados com os instrumentos digitais de trabalho, fazendo várias tarefas ao mesmo tempo, com abas sobrepostas no navegador. Além disso, são preocupados com seus dispositivos eletrônicos, utilizam tudo o que a rede de telefonia pode oferecer, não costumam anotar informações (que geralmente ficam guardadas em grupos de WhatsApp), são naturalmente instantâneos e impulsivos em suas decisões, utilizam neologismos como “googlar” e a mudança de informações é algo natural em suas vidas.
Além dos tipos de usuários das tecnologias atuais, o mesmo autor menciona os conceitos de web 1.0 e web 2.0, que correspondem, respectivamente, a um modelo estático de internet, sem interatividade com os leitores (não há nada de novo a cada visita; logo, não há porque retornar ao site), e um conjunto de inovações nos designs dos sites a fim de que haja maior interatividade entre os usuários.
Dentro do que é nomeado por web 2.0, as informações são inseridas na internet pelos mais diversos tipos de usuários, que podem disseminar o que ficou comumente conhecido por “fake news”. Mesmo sem ter conhecimento do conceito, ao não verificar as fontes de informação antes do compartilhamento, ou até mesmo ao compartilhar opiniões como se fossem fatos, alguns usuários podem estar contribuindo de maneira geral para um desserviço informativo, bem como alimentando transtornos relacionados ao acesso à informação, como a síndrome de Diógenes digital, a nomofobia, a FoMO, entre outras.
A síndrome de Diógenes digital e a nomofobia são síndromes que não têm, necessariamente, relação somente com a veracidade do que foi informado, mas sim com o volume do que foi produzido. As duas apresentam vínculo com a FoMO em alguns aspectos, dentre os quais podemos destacar o medo de apagar informações (primeira síndrome) e o medo irracional de ficar sem o dispositivo telefônico, além de conferir se há novas informações obsessivamente em suas redes sociais, chamadas perdidas, e-mails, entre outros (fobia).
A FoMO, por sua vez, pode ser apresentada como uma representação do “horror vacui” moderno, um conceito aristotélico que nomeia o desejo de preencher todas as superfícies vazias nas pinturas, em livre tradução “medo do vazio”, como será disposto no próximo tópico.
4.2 O CONTEXTO DA MODERNIDADE LÍQUIDA E O FEAR OF MISSING OUT
Ao explicar a metáfora entre a sociedade moderna e os elementos químicos, Bauman (2001, p. 8) realiza uma abordagem sobre a significação do tempo para os sólidos e os fluidos, mais especificamente em comparação à existência ou não de uma forma perene entre eles. Enquanto os sólidos neutralizam o impacto do tempo devido às suas dimensões espaciais bem definidas (que possibilitam resistência ao seu fluxo), os fluidos, por não se manterem num formato constante, vislumbram no passar do tempo um aspecto de maior relevância em comparação ao espaço que lhes toca ocupar. Isso porque, afinal, eles preenchem esse local apenas “por um momento”.
A volatilidade se torna uma característica inerente ao mundo moderno, no qual a relação das pessoas com o tempo recebe um valor inestimável. E é nesse cenário de provisoriedade, fugacidade e de supervalorização dos momentos, no qual não mais toleramos esperar pelas coisas que, apesar de durarem, levam tempo para serem conquistadas, que devemos pensar no modo como nos abastecemos de informações.
Através dos meios de comunicação que nos têm sido oferecidos nos últimos anos, torna-se cada vez mais fácil, mais rápido e menos custoso o modo pelo qual acessamos todas as informações que nos interessam, conforme ditar nossa intenção pessoal. Vale lembrar que vivemos tempos de um interesse generalizado pela rápida publicação de pequenas particulares e também um grande interesse em conhecê-las.
Nesse sentido, é importante destacar que a relação com o que acontece ao nosso redor, além de ser uma oportunidade com a qual nos colocamos despertos e conscientes, é também uma forma de criarmos laços que nos posicionam socialmente, isto é, nos fazem ser vistos como indivíduos que pertencem a uma coletividade, a uma comunidade. Assim, é inegável a relação que se estabelece entre indivíduo, comunicabilidade e pertencimento, eis que essa troca de informações permite uma sintonia, uma ligação que simboliza, ainda que de maneira avessa, comunhão e pertencimento.
Por consequência, costuma-se despender um tempo considerável nos meios de comunicação. Num primeiro momento, isso pode parecer contraditório com o que foi afirmado anteriormente sobre a importância do tempo num cenário moderno e líquido, mas, neste caso, é preciso perceber o que se ganha com o tempo que se perde. Em outras palavras, encontramos um grau de satisfação quando empenhamos tempo nos dispositivos de comunicação porque, em contrapartida, recebemos as informações desejadas.
No entanto, muitos acabam perdendo a justa medida entre a busca por informações e um comportamento saudável. Assim, citando outros autores, James Roberts e David Meredith (2019) destacam o lado negativo do uso excessivo de redes sociais, ressaltando o aumento de determinadas condições clínicas como estresse, ansiedade, depressão, baixos níveis de autoestima, uma redução na qualidade dos relacionamentos e do sono, bem como o aumento de pensamentos suicidas e da prática deste ato entre adolescentes.
É nesse contexto que se situa a FoMO, termo utilizado pela primeira vez na década de 90 e que em 2013 passou a integrar o Dicionário de Oxford. Trata-se de uma desordem do campo da ansiedade social relacionada a uma apreensão generalizada de que outras pessoas podem estar passando por experiências mais gratificantes, o que acaba levando a uma preocupação em não deixar de saber dos acontecimentos, oportunidades ou qualquer evento que possua uma carga satisfatória (angústia de estar ausente, “off-line”) (Luca et al., 2020; Przybylski et al., 2013).
O problema começa, portanto, com o acesso desmedido às redes e é fomentado pela necessidade de se continuar sabendo o que se passa através das publicações dos usuários. Apesar de não ser fruto específico da modernidade, os fatores que desenvolvem a FoMO foram diretamente incrementados pela facilidade da comunicação. Em outras palavras, ela é alimentada pelas tecnologias aplicáveis à comunicação que, via de regra, nos prendem pelas já referidas facilidade de uso e possibilidade de conexão ininterrupta (Luca et al., 2020).
Nessa linha, cumpre destacar a pesquisa empírica realizada por Lilian Luca e colaboradores (2020), que, partindo de um grupo de 205 pessoas pertencentes a uma faixa etária de 21 a 45 anos, apresenta alguns dados interessantes. Dentre eles o fato de que 95% dos entrevistados acessam a internet pelo telefone celular, o que demonstra a referida uma facilidade de uso, e todos responderam afirmativamente quanto ao questionamento sobre a importância de um acesso permanente à internet. Adicionalmente, quando perguntados sobre as reações que costumam ter quando não há conexão, responderam “eu poderia acessar os dados do celular, e se eu não tiver dados, procuro por algum local que tenha acesso a Wi-fi”, ou “eu não poderia ficar sem dados, eu tenho um pacote de dados de acesso ilimitado”. Alguns simplesmente não saberiam o que fazer numa situação dessas.
Isso denota o quanto estamos desacostumados a ficar desconectados, não sendo uma simples possibilidade aguardar a reconexão. Vivemos, na verdade, um contínuo estado de vício, que frequentemente douramos com a desculpa de que estamos nos inteirando dos acontecimentos. Para exemplificar, cumpre destacar que a pesquisa também apontou que, apesar de 80% dos entrevistados não conhecem pessoalmente as pessoas que estão em suas listas de amigos, 70% deles confere diariamente as novidades, sendo que 35% destes declarou olhar de meia em meia hora as redes.
Apesar do exposto, cumpre-nos, ainda, mencionar que o uso das redes sociais também pode ser reportado em um contexto menos trágico. A FoMO, por exemplo, foi apontada por Shane Hanlon (2016) como um fator que impulsionou sua carreira científica. O autor, ao relatar um pouco sobre a sua formação acadêmica, afirma que ela sempre esteve permeada pela impressão de que ele poderia não estar fazendo o suficiente e que por escolhas erradas poderia perder oportunidades (fear of better option). Por conta disso, sempre assumia novos compromissos acadêmicos, o que o levou a navegar por diferentes caminhos na ciência, conhecer diferentes perspectivas de atuação e lograr diferentes títulos. Ele traz uma visão diferente da síndrome, até certo ponto positiva quanto à influência do medo — atrelado, claro, a uma integridade psicológica e moral que conformam a justa medida — no impulso de uma vida academicamente produtiva.
4.3 A FOMO, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PESSOAL DE ADOLESCENTES
Assim como outras dificuldades, a FoMO pode provocar problemas na questão da aprendizagem, devido a essa necessidade por informações rápidas e assuntos estimulantes. Na hora de estudar algum assunto denso e/ou mais profundo, o aluno acaba tendo mais dificuldade visto que toda a sua habitualidade está para o superficial, que é estimulável pelo sentidos, e, geralmente, o assunto proposto em sala de aula gera um desinteresse frente às novidades das redes sociais e à praticidade de acesso. O estudante acaba perdendo o foco e passa a buscar outros assuntos mais interessantes.
As pessoas, de uma forma geral, não costumam mais nutrir compromissos com seus deveres, permitindo que mudanças constantes e instantâneas de opção ocorram. Por consequência, vive-se uma contínua busca pelo prazer do momento, pelo “carpe diem”, sem qualquer incidência das preocupações com o futuro ou com as consequências das sua ações. Bauman (2001, p. 158) já nos havia dito isso: “A indiferença em relação à duração transforma imortalidade de uma ideia numa experiência e faz dela uma objeto de consumo imediato”.
Em comparação com essa instantaneidade das redes sociais, como também das próprias escolhas pessoais, Bauman (2001, p. 158) aduz: “A instantaneidade (anulação da resistência do espaço e liquefação da materialidade dos objetos) faz com que cada momento pareça ter capacidade infinita; e a capacidade infinita significa que não há limites ao que pode ser extraído de qualquer momento — por mais breve e fugaz que seja”.
Desta forma, a busca de elementos a longo prazo, para própria vida, como estudar as horas necessárias, ler o conteúdo proposto pelo professor, ler um livro para formação humana, acaba se tornando obsoleto. Já não há essa busca por algo duradouro, sólido, que leve a um comprometimento, mas, ao contrário, tudo parece instantâneo, carecendo ser satisfatório, transformando o que é insólito em duradouro, transformando o momento em eternidade. E ao contrário do que uma modernidade sólida propõe, algo duradouro, que chegue até o infinito como motivo principal da realização de uma ação, a modernidade líquida propõe algo efêmero, relativo e que satisfaça um prazer imediato.
Observando essa era do imediato, a opção mais coerente é o satisfatório sem se preocupar com as consequências e evitar qualquer responsabilidade que possa advir dessas ações. Por isso, quando os adolescentes usam por demasiado a internet e as redes sociais, ocupando grande parte do seu tempo com estímulos passageiros, o foco, o objetivo e o pensamento para o futuro acabam se obstruindo e se passam a viver apenas o momento presente de forma ilusória e virtual.
Bauman (2001, p. 203) também relata que: “Na falta de segurança ao longo prazo ‘a satisfação instantânea’ parece uma estratégia razoável”. E também pode-se acrescentar que a falta de convicções firmes, de uma formação humana sólida e de valores estabelecidos, dificultam o objetivo ao se fazer pesquisas pela internet e, especificamente, as redes sociais.
Considerando o exposto, torna-se fácil relacionar a síndrome FoMO com o tempo presente, de instantaneidade das coisas. Como os adolescentes estão em sua maioria em contato com os meios eletrônicos e redes sociais, acabam adentrando a esse mundo virtual e deixam de viver o real e acabam buscando essas satisfações compensatórias sem pensar num propósito sólido para a vida. Sendo assim, trabalhar, investir, e se esforçar hoje para conseguir um bem maior no futuro já não são objetivos cobiçados.
Pelo exposto, a desconexão da internet e das redes sociais nos momentos de estudo é uma medida importante para que o adolescente consiga focar no que é necessário — como no desenvolvimento na aprendizagem — como também na reflexão da própria vida e nos objetivos que almeja, para que assim não haja maiores complicações quando chegar à vida adulta.
4.4 O PAPEL DE PAIS E PROFESSORES NA FORMAÇÃO PESSOAL DE ADOLESCENTES
O medo do vazio é uma constante da alma humana já reconhecida pelos gregos ao cunharem o termo “horror vacui” para se referirem à predileção dos artistas em preencher os espaços em branco de suas pinturas; assim como acontecia com os artistas gregos, é algo comum a jovens e adultos da última década a predileção em despender tempo em aplicativos como Facebook e Instagram afim de preencher os espaços em branco de suas agendas.
A FoMO surge no medo de estar desprovido de informações, de perder algo importante que esteja acontecendo na vida dos familiares ou amigos do mesmo círculo, de não saber imediatamente de algo importante acontecendo no mundo. Porém, esse hábito gera consequências, as pessoas se tornam escravas do próprio tempo de descanso e dos próprios desejos, presas ao uso das redes sociais, com a justificação de se manterem informadas.
Como mencionado, essa dificuldade pode trazer complicações em relação à aprendizagem, principalmente aos adolescentes que são considerados os nativos digitais, e por não terem o entendimento ou precisam desse uso demasiado da internet e das redes sociais é importante o cuidado e acompanhamento dos pais e também dos professores. Cada família deve buscar se ambientar do assunto e propor regras a serem seguidas em conjunto que sejam condizentes com as necessidades.
Os pais precisam averiguar o consumo em casa, sendo necessário delimitar o uso, se possível, fora dos horários de estudo, das refeições e também antes de dormir. É importante ressaltar que o objetivo não é só restringir, mas levar o adolescente à vivência do “mundo real”, aproveitando os tempos em família, praticando esportes ao ar livre, observando a natureza, preenchendo os espaços positivamente. Muitas das vezes o uso da internet vem “disfarçado” como momento de descanso, porém se torna o único meio de descanso do adolescente e com isso leva a esse uso desenfreado. Para os momentos de descanso em família, pode-se estimular o uso de jogos de tabuleiro, de cartas, de conhecimento geral etc, gerando assim essa maior interação familiar.
No âmbito da relação professores x alunos é importante que sejam feitas atividades estimulantes para que o aluno tenha maior participação; uma vez estabelecida essa interação, é fortalecida a autoestima do estudante, com, por exemplo, atividades práticas em laboratórios, construção de projetos, apresentações de trabalhos, maquetes, concursos literários, entre outros. A construção da autoestima do adolescente à partir de pequenas conquistas é fundamental para que ele se sinta fortalecido para galgar maiores obras. Os professores também podem contribuir para a vivência desse “mundo real”, levando a espaços culturais como museus, teatros, parques, reservas florestais, ratificando assim a importância dessas atividades para a própria aprendizagem e crescimento pessoal.
Junto com a aprendizagem, a formação humana é importante no crescimento pessoal e contrapõe o que a modernidade líquida projeta, a instantaneidade, o vazio. Ela permite essa construção de algo sólido concreto, duradouro na vida, contribuindo para essa educação da vontade, pois não só se escolhe o que é prazeroso ou satisfatório, mas o que é verdadeiramente um bem. A formação nas virtudes é a formação no bom exercício da afetividade humana, pois assim consegue-se compor bem os sentimentos e sensações à integridade da pessoa.
Um plano de formação em virtudes é necessário para o jovem atual e vem também para aperfeiçoar o que de melhor tem o homem, dando critério e alicerce no uso de sua liberdade. É por ela e pelo reto exercício da prudência que os adolescentes conseguirão distinguir os momentos e duração oportunas de uso das tecnologias e socialização pelas redes sociais. Os pais possuem um papel crucial no direcionamento dessa formação afinal eles são os propulsores de uma educação onde o jovem é capaz de identificar as prioridades e os elementos acessórios da própria vida.
5. Conclusão
A informação pode ser tanto uma notícia quanto um conhecimento comunicado sobre determinado assunto ou pessoa e ela pode ser veiculada por diversos meios: pelos livros, pela televisão, pela rádio, pelos jornais ou até mesmo, mais recentemente, pelos computadores, tablets, smartphones, aplicativos de notícias, redes sociais, entre outros.
Ela se torna cada vez mais líquida a medida que as redes sociais podem ser alimentadas pelos mais diversos tipos de usuários com as mais variadas finalidades. A síndrome fear of missing out surge nesse ínterim onde as plataformas são atualizadas constantemente e o anseio de manter-se ciente de cada acontecimento é cada vez mais fomentado.
A fim de ganhar forças e nadar contra essa correnteza, é necessário uma firmar sentido na própria existência e no “mundo real” com a ajuda de pais e professores, aproveitando os tempos de descanso em família, preenchendo os espaços positivamente, fortalecendo a autoestima do estudante dando importância às pequenas conquistas realizadas.
Quando uma pintura realizada por um artista está recheada de elementos para preencher os vazios, é difícil identificar o carro-chefe da obra rapidamente, não se sabe exatamente o que apreciar, tampouco para onde direcionar o olhar em primeiro lugar, ainda que todas as partes estejam bem terminadas e perfeitamente bem ornadas. Assim acontece com a vida dos jovens ao tentar preencher todos os espaços vagos com redes sociais como Facebook ou Instagram, ainda que sejam benéficos em muitos pontos para a socialização, é fácil perder de vista o que realmente torna a vida bela.
6. Referências
Bauman, Zygmunt. Modernidade líquida. 1. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
Domingo, Alfredo Abad. Família digitais: Princípios e conselhos para conviver em uma sociedade em rede. São Paulo: Quadrante, 2016.
Hanlon, S. M (2016). Managing my fear of missing out. Science, 353 (6306), 1458. DOI: 10.1126/science.353.6306.1458.
James, A. R. & Meredith, E. D (2019). The Social Media Party: Fear of Missing Out (FoMO), Social Media Intensity, Connection, and Well-Being, International Journal of Human–Computer Interaction, 36 (4), 1–7. DOI: 10.1080/10447318.2019.1646517.
Luca, L., Burlea, S.L., Chirosca, A.-C., Marin, I.M., Ciubara, A.B., & Ciubara, A (2020). The FOMO Syndrome and the Perception of Personal Needs in Contemporary Society. BRAIN. Broad Research in Artificial Intelligence and Neuroscience, 11(1Sup1), 38–46. DOI: https://doi.org/10.18662/brain/11.1Sup1/27.
Przybylski, A. K., Murayama, K., DeHaan, C. R., & Gladwell, V (2013). Motivational, emotional, and behavioral correlates of fear of missing out. Computers in Human Behavior, 29 (4), 1841–1848. DOI:10.1016/j. chb.2013.02.014.