O caminho de um jovem para a universidade na modernidade líquida:

Bárbara e Ludmila Boaventura
UNIV Inspire Br

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por trás de uma formação sólida, um barco familiar e escolar

Bárbara Carolina Vanderley Boaventura

Ludmila Vanderley Boaventura

Mentora: Amanda de Oliveira

Resumo

O presente trabalho pretende investigar e relacionar o impacto da estrutura familiar e da escola no desenvolvimento das habilidades socioemocionais — soft skills — na trajetória escolar de um jovem até sua chegada à universidade. Para isso, foi construído um referencial teórico baseado em estudos e pesquisas estatísticas sobre a educação, a relação entre a família e a escola, o papel inovador e fundamental das habilidades socioemocionais no percurso educacional de um jovem, além de dados coletados, por meio de entrevistas e formulários de pesquisa realizados com jovens estudantes da rede pública do Distrito Federal (estudantes que estão no ensino médio ou que já concluíram essa etapa escolar). Constatou-se que a maioria dos jovens que participaram da pesquisa reconhecem o papel valioso que a família exerce em sua trajetória escolar, destacando-se aqui a inspiração dos familiares, o compromisso e o apoio tanto emocional quanto financeiro nos estudos de seus filhos. Além disso, foi percebido também que a escola possui papel fundamental e complementar na educação emocional de seus estudantes, podendo contribuir ainda mais para a aquisição e sistematização das habilidades socioemocionais na formação escolar, incluindo, para tanto, tais competências nos currículos escolares.

Palavras-chave: Modernidade líquida. Educação. Juventude. Competências socioemocionais. Família.

Abstract

The present work intends to investigate and relate the impact of the family structure and the school in the development of socioemotional skills — soft skills — in the school trajectory of a young person until arriving at the university. To this end, a theoretical framework was built based on studies, statistic research on aspects related to education, the relationship between family and school, the innovative and fundamental role of socioemotional skills in a young person’s educational path, in addition to collected data, for example. Through research forms and interviews with young student from public schools in the Distrito Federal (students who are in high school or who have already completed this school stage). It was found that most young people who participated in the research recognized the value and role that their family has or had in their school/academic trajectory, highlighting here the family inspiration, the commitment and the emotional and financial support in the studies of your children. In addition, it was also noticed that the school has a fundamental and complementary role in the emotional education of its students, being able to further systematize their curriculum for this purpose.

Keywords: Liquid modernity. Education. Youth. Soft skills. Family.

Introdução

O conceito de modernidade líquida surge com as profundas reflexões do sociólogo e filósofo polonês Zygmnut Bauman. Com a publicação de seu livro Modernidade líquida, Bauman apresenta uma teoria sobre a sociedade contemporânea, que, segundo o intelectual, antes possuía relações mais sólidas e estáveis, e que depois, passa a ser caracterizada por relações humanas frágeis, superficiais e muitas vezes, descartáveis. Assim, ele associa as características do estado líquido — fluidez e falta de rigidez — às relações econômicas, familiares, amorosas, educacionais, profissionais do século XXI.

Para o filósofo, a velocidade e excesso de informações, os avanços tecnológicos e o ritmo frenético de mudanças em escala global geram muitas incertezas e um ritmo incessante de eventos que prejudicam a formação de uma sociedade de bases sólidas.

Neste sentido, considerando a temática geral da busca de uma formação sólida em meio a uma sociedade líquida, este trabalho busca investigar o caminho percorrido por um jovem — inserido nesta sociedade líquida, transitória e acelerada — rumo à universidade, considerando, para isso, o contexto familiar (uma vez que a família será entendida como ambiente primário e basilar na aprendizagem de um indivíduo) e o contexto escolar, também importante para a formação humana.

Primeiramente, torna-se crucial estabelecer um panorama atual do contexto educacional brasileiro, uma vez que conhecer e entender este cenário é importante para a compreensão do recorte temático deste trabalho. Ao refletir-se sobre a situação atual da educação básica no Brasil, são diversas as problemáticas evidenciadas no cenário educacional do país.

O movimento Todos pela Educação, organização sem fins lucrativos composta por diversos setores da sociedade brasileira e liderada por empresários com o objetivo de assegurar o direito à educação básica de qualidade para todos os cidadãos, estabeleceu um programa com várias metas para o futuro educacional do país. A quarta meta estima que, até 2022, todo jovem de 19 anos esteja com o ensino médio concluído. Entretanto, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio de 2012 a 2018, 63,5% dos jovens de até 19 anos concluíram o ensino médio, numa população de aproximadamente 3,2 milhões de jovens. Sendo assim, ainda há um longo caminho que precisa ser percorrido na conclusão da educação básica.

Apesar de ter apresentado uma melhora, ainda há um número expressivo de brasileiros e brasileiras que não concluem seus estudos (aqui não está sendo considerado o acesso ao ensino superior, mas a conclusão da Educação Básica que compreende a educação infantil até o ensino médio no Brasil) ou ainda que abandonam antes de conclui-los. É o que evidencia um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em 2020, que apontou que, dos 50 milhões de jovens com idades entre 14 e 29 anos, 10 milhões, isto é, 20% deles, não tinham terminado alguma das etapas da educação básica. Entre os fatores mais apontados para esse cenário estão problemáticas de ordem social e econômica, como necessidade de trabalhar mais cedo, gravidez na adolescência, falta de interesse e motivação pessoal, além de barreiras econômicas, familiares e demais fatores.

Esses dados evidenciam que ainda existe uma longa estrada a ser percorrida quando o assunto é o ensino médio brasileiro, considerado por especialistas um grande gargalo da educação no Brasil, marcada por altos índices de evasão escolar. Portanto, associadas às questões educacionais acima retratadas, o presente trabalho destaca o papel e o impacto de duas importantes instituições da sociedade: a família e a escola e a relação de ambas no contexto educacional e individual da formação humana. Torna-se cada vez mais recorrente e urgente discorrer sobre a relevância que a família possui na trajetória educacional de um indivíduo. De acordo com Polonia e Dessen (2005), “A família e a escola emergem como duas instituições fundamentais para desencadear os processos evolutivos das pessoas, atuando como propulsores ou inibidores do seu crescimento físico, intelectual e social.”

Assim, partindo do pressuposto que a família e a escola impactam diretamente o desenvolvimento humano de crianças e jovens, conforme estudos já apontam, esta pesquisa direciona-se no sentido de investigar o papel que ambas as instituições desempenham na formação (às vezes sólida, às vezes não) de um indivíduo inserido numa sociedade líquida, bem como a maneira que a escola e a família se inter-relacionam na missão complexa e diversa que significa o processo educacional de outra pessoa.

Objetivos

O objetivo geral do trabalho é investigar e analisar o impacto que a família e a escola imprimem no caminho percorrido por estudantes na sua trajetória escolar até a entrada na universidade. Para isso, o artigo propõe-se a discorrer especificamente sobre os seguintes objetivos:

a) Discutir sobre o papel do jovem em meio a uma sociedade líquida;

b) Apontar a importância da estrutura familiar para a formação humana e para a construção de uma personalidade forte de um jovem estudante;

c) Apresentar e relacionar a influência das chamadas soft skills (habilidades socioemocionais), desenvolvidas dentro da família e da escola, como pilares para a formação de um indivíduo e sua trajetória rumo ao ensino superior.

d) Propor um caminho de como as escolas podem contribuir na problemática da formação socioemocional de seus estudantes.

Justificativas

Sobretudo no contexto da modernidade líquida, em que as relações são caracterizadas por sua efemeridade, este trabalho mostra-se relevante por, primeiramente, proporcionar aos familiares e responsáveis uma maior conscientização de seu papel na formação humana e no desenvolvimento de uma personalidade madura e sólida de seus filhos. Em segundo lugar, o estudo pode auxiliar docentes, gestores da educação e outros profissionais da área educacional a reconhecerem a importância de inserir, em seus planos educacionais e curriculares, a abordagem de atividades que busquem desenvolver, além das competências técnicas, as competências socioemocionais nas crianças e jovens em período escolar.

Já na perspectiva de jovens estudantes, o artigo pode auxiliar na compreensão do valor da aquisição das virtudes, das competências socioemocionais e de um caráter forte como pré-requisitos essenciais para uma boa transição do ensino médio para a universidade ou para o mercado de trabalho e para uma atuação mais consciente e presente na sociedade contemporânea.

Metodologia

O presente trabalho enquadra-se na área dos estudos educacionais, com enfoque na temática da importância da família e da escola para a aquisição das competências socioemocionais no processo educacional de um jovem. Entende-se educação em seu sentido integral, aquela que visa desenvolver o indivíduo em seu aspecto cognitivo, emocional e humano. Quanto à natureza da pesquisa, ela é de caráter empírico por utilizar tanto dados primários quanto secundários. Os dados primários são provenientes dos resultados do questionário e entrevista realizados, para fins de alcance do objetivo do trabalho. Já os dados secundários são provenientes de livros, teses, de artigos e periódicos científicos sobre o tema.

O recorte temporal do estudo é transversal, já que os dados não serão coletados em séries temporais distintas, mas em um único período do tempo. Com relação ao delineamento, ele é descritivo e a abordagem é qualiquantitativa, pois a coleta dos dados foi feita por meio de um questionário disponibilizado no período de 25 a 29 de setembro de 2019 e por meio de uma entrevista com roteiro semiestruturado. Sendo assim, o método de coleta de dados empregado foi o levantamento de dados (survey) e a entrevista.

O público-alvo da pesquisa foram alunos e ex-alunos da rede pública do Distrito Federal. Buscou-se alcançar tanto jovens que ingressaram na faculdade, quanto os que não optaram por esse caminho, além de alunos que ainda estão cursando o ensino médio da rede pública. Justifica-se a escolha de jovens apenas das escolas públicas em função da facilidade de contato por parte das autoras e do resultado de uma pesquisa divulgada em 2019 pelo IBGE, que mostrou que apenas 36% dos alunos da rede pública ingressaram na faculdade, ao passo que, nas escolas particulares, esse número chega a 79,2%.

O questionário utilizado foi formulado na plataforma Google Forms e continha perguntas acerca da experiência dos jovens na escola, da sua realidade no ambiente familiar e suas percepções sobre a universidade e relevância da educação (o questionário na íntegra consta nos anexos do trabalho assim como os gráficos gerados pela plataforma). Além disso, realizou-se uma entrevista online na plataforma Google Meet com quatro alunos da rede pública, sendo um deles estudante de Gestão Pública, outro estudante do segundo ano do ensino médio e dois egressos do ensino médio, mas que ainda ainda não ingressaram na faculdade.

Já em relação à amostra do estudo, ela foi não probabilística por acessibilidade, visto que o questionário foi disponibilizado em mídias sociais para diversos ex-alunos de uma das autoras do artigo, professora de língua portuguesa da rede pública do DF. Os dados foram analisados, após a coleta, por meio de análise de conteúdo e do discurso das respostas.

Desenvolvimento

1. Importância da família na formação socioemocional de um indivíduo:

a força de um barco familiar

A família é a primeira instituição social com a qual o indivíduo tem contato e interage. Quando bebês, interagimos, ouvimos, e nos relacionamos com nossos semelhantes, que, na maioria dos casos, são entes familiares. Com o tempo, essa rede de relacionamentos se amplia para outras figuras, porém, é no ambiente no qual nascemos e crescemos onde primeiramente aprendemos valores, criamos critérios, reagimos a diferentes situações e adquirimos novas habilidades. É no ambiente doméstico onde normalmente ocorre o desenvolvimento socioemocional e cognitivo das crianças durante sua primeira infância [1], onde pessoas adquirem hábitos saudáveis, que carregam por toda a vida e onde se aprende o respeito a todas as pessoas. Nesse sentido, portanto, a família é a primeira escola de virtudes dos indivíduos e o primeiro lugar onde o indivíduo começa a formar o seu caráter, a discernir o que é certo ou errado, conhecer-se, interagir e reagir com os outros.

Para exemplificar essa hipótese, citamos um dos depoimentos apresentados no belíssimo documentário Humano: uma viagem pela vida, produzido pelo diretor francês por Yann Arthur-Bertrand. O primeiro relato apresentado no longa é de um jovem norte-americano, criado em um ambiente familiar onde seu padrasto, frequentemente, o agredia com extensões elétricas, cabides e outros objetos. Seu padrasto o dizia que fazia aquilo porque o amava, assim o conceito que aquele garoto tinha sobre o amor estava baseado na violência e na truculência. O garoto acreditava que aquilo era o amor, que aquilo era natural e certo de se fazer. Ao crescer, o jovem cometeu um assassinato e foi condenado à prisão perpétua. Contudo, ao final do seu relato, ele conta que a única pessoa que o ensinou verdadeiramente o que era amor e perdão foi a mãe da vítima assassinada. Essa experiência mostra como é possível ressignificar o conceito de amor e tantos outros, apesar de tudo o que possa ter acontecido, demonstrando também como a influência familiar é bastante responsável e está diretamente relacionada à formação da personalidade, do caráter e dos valores básicos de um ser humano, mas, ao mesmo tempo, não tem caráter determinante na vida da pessoa ou não é ou será a única responsável por essa formação.

Uma analogia interessante para compreender o papel da família na formação sólida inicial do indivíduo é a comparação com o processo de aprendizagem do alfabeto. A instituição familiar seria a responsável por ensinar as letras que compõem o alfabeto de um determinado idioma para seus filhos, porém as letras aprendidas serão utilizadas pelas crianças e jovens para criar suas próprias palavras, ou seja, tomar as suas próprias decisões, que serão diretamente (e às vezes, inconscientemente) influenciadas pela base sólida oferecida e aprendida no ambiente do seio familiar.

Dessa maneira, considerando que é o primeiro lugar em que a criança começará a aprender e desenvolver importantes habilidades e colocá-las em prática futuramente, a família configura-se, então, como um barco fundamental, sólido, que vai apontando o norte para um caminho a ser trilhado para o desenvolvimento a longo prazo de um jovem (Macana, 2014). Certamente, outros barcos passarão pelo caminho deste indivíduo, mas se a base for construída de maneira sólida no período de aprendizagem familiar, ela tem o poder de deixar rastros profundos e duradouros .

[1] Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, 2020. Disponível em: https://bit.ly/2V0Mxux. Acesso em: 2 abr. 2020.

2. Hard skills e soft skills na escola: habilidades indispensáveis e conciliáveis?

A tarefa de formação de um indivíduo conta, no entanto, com outras instituições sociais, para além da família. Tradicionalmente a escola é entendida como uma instituição responsável pela educação formal de crianças e jovens, tendo em vista a formação acadêmica de seus estudantes para o preparo para o mercado de trabalho. No entanto, a educação estritamente técnica não tem se mostrado suficiente para a formação educacional de crianças e jovens, sobretudo nos tempos atuais.

Ratificando tal assertiva, a Base Nacional Comum Curricular, documento normativo publicado em 2018 e considerado um marco na busca por patamares comuns nos currículos da educação básica brasileira, coloca como premissa fundamental a educação integral dos estudantes. Na introdução da BNCC, demonstra-se a necessidade, da educação básica de focar no desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e cultural do estudante.

Com este intuito de alcançar uma educação de caráter integral e de formação mais humana, a BNCC define dez competências gerais, que são habilidades que vão muito além dos tradicionais componentes curriculares, mais conhecidos pelos estudantes como as matérias da escola. O próprio documento esclarece a definição de competência que norteou e criou os parâmetros básicos das três etapas da educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio):

Ao longo da educação básica, as aprendizagens essenciais definidas na BNCC devem concorrer para assegurar aos estudantes o desenvolvimento de dez competências gerais, que consubstanciam, no âmbito pedagógico, os direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho (Brasil, 2018, p. 8).

A Base prevê a participação ativa dos estudantes de maneira que eles sejam convidados a compreender os conceitos, identificar problemas, propor e testar soluções, interagir com seus colegas, argumentar e expressar princípios e valores. A maioria das dez competências gerais relacionam-se ao desenvolvimento de habilidades de ordem cognitiva, intelectual, conforme mostrado na imagem abaixo, mas há algumas de ordem emocional.

Imagem 1: As dez competências gerais da BNCC (resumidas)

Nota-se que são mencionadas competências relacionadas aos conteúdos programáticos, que incluem conhecimento, pensamento científico, crítico e criativo. Outras, por sua vez, apresentam caráter mais integral, abrangente, como empatia e cooperação; autoconhecimento e autocuidado e comunicação, que seriam habilidades não técnica, mas comportamentais.

Com efeito, para se buscar um profissional completo, são necessárias habilidades técnicas e habilidades comportamentais, seja no âmbito escolar — para crianças e adolescentes — seja no âmbito profissional e/ou acadêmico — para jovens e adultos.

As competências cognitivas (hard skills) são competências que correspondem à formação técnica, escolar e acadêmica; especializações, títulos de pós-graduação, cursos de idiomas, cursos profissionalizantes e demais conhecimentos relacionados e aprimorados pelo estudo e conhecimento humano. Tais habilidades são normalmente mensuradas por notas, avaliações, exames, certificações e outros critérios objetivos, a fim de identificar o nível de conhecimento intelectual sobre determinado assunto estudado (Laker & Powell 2011).

Entretanto, além da proficiência intelectual nos diversos ramos e áreas do conhecimento, existe outro tipo de habilidade, as chamadas competências socioemocionais, também conhecidas como soft skills. Tratam-se de habilidades de cunho pessoal e subjetivo e referem-se ao comportamento de cada indivíduo diante das diversas circunstâncias e situações. Tais competências não são mensuradas ou avaliadas objetivamente, diferentemente das hard skills, mas são influenciadas por aspectos culturais, por experiências pessoais, familiares, educacionais e normalmente, levam mais tempo para serem adquiridas e aprimoradas. Assim, as soft skills não podem ser aprendidas por meio de um livro, de uma aula, de um curso ou até mesmo de um vídeo de tutorial, uma vez que elas dependem da convivência humana e interação social. Empatia, autonomia, resiliência, liderança, autocontrole, flexibilidade, pensamento crítico, trabalho em equipe e persuasão são algumas das diversas soft skills que podem ser citadas (Schulz, 2008).

Vale mencionar que as competências técnicas não excluem as socioemocionais ou que uma é mais importante que outra, muito pelo contrário, elas são complementares, e quando conciliadas, contribuem e potencializam a formação e preparo humano de um indivíduo, seja na fase escolar seja na fase acadêmica ou profissional. Não é à toa que diversas empresas, em seus processos de recrutamento e seleção de profissionais, avaliam, além da habilidade e conhecimentos técnicos para o cargo, habilidades como comunicação, trabalho em equipe, liderança, empatia e resolução de conflitos, pois além da capacidade técnica é necessário que o colaborador possua um perfil comportamental adequado para garantir um sucesso profissional (Andrade, 2016).

Uma metáfora interessante para se compreender a relação entre as hard skills e soft skills é imaginar que as hard skills, apesar de indispensáveis para o desempenho satisfatório de uma tarefa, representam a ponta de um iceberg, enquanto que as soft skills, apesar de não serem facilmente notáveis, representam a sustentação para aquela situação de sucesso profissional ou escolar, a depender da situação.

Sobre a importância que as soft skills possuem nas relações humanas de maneira geral, é interessante notar que Bauman já ponderava sobre essa temática. Em uma entrevista concedida ao jornal El País, Bauman fala sobre a efemeridade das relações virtuais promovida pelas redes sociais e qual impacto que isso traz para o desenvolvimento das habilidades sociais, propriamente humanas: “A gente falha em aprender as verdadeiras habilidades sociais. As habilidades sociais que você precisa quando está na rua ou quando vai a seu local de trabalho e encontra com as pessoas com as quais precisa uma interação sensata” (Querol, 2016).

Imagem 2: Hard skills e soft skills: o iceberg de sucesso

3. O papel inovador das soft skills na escola

Torna-se indispensável, no contexto da modernidade líquida, tratar do papel inovador e enriquecedor que as soft skills têm no contexto educacional. Considerando que a escola é um ambiente próprio para a interação social de crianças e jovens, cada qual com sua bagagem familiar e cultural, é válido considerar também que a escola se configura com um ambiente propício para o desenvolvimento e aprimoramento das soft skills. Entretanto, a grande maioria das escolas não costuma trabalha-las de maneira orientada na estrutura curricular sendo, portanto, uma tendência mais contemporânea das discussões de especialistas e profissionais da educação.

Nesse sentido, as discussões desenvolvidas neste trabalho também visam contribuir na valorização das competências socioemocionais no planejamento curricular e nas atividades pedagógicas desenvolvidas pela e na escola, sem deixar de lado o arcabouço teórico e cognitivo pelo qual a escola já é normalmente responsável. É exatamente isso que Abed (2014), em um estudo encomendado pela UNESCO, afirma:

É urgente e necessário que os paradigmas que sustentam a prática pedagógica se adequem ao novo estudante e à nova realidade em que vivemos. […] Defendo que cabe à instituição escolar não só a manutenção do arcabouço de conhecimentos acumulados na história da civilização, como também o desenvolvimento de seres pensantes, criativos, construtores de conhecimento, que saibam se relacionar consigo mesmos e com os outros, comprometidos na construção de um mundo melhor (Abed, 2014, p. 9).

Portanto, as habilidades socioemocionais têm muito a contribuir na escola para o desenvolvimento e fortalecimento de uma educação integral e humana de crianças e jovens em idade escolar. Consequentemente, essas aprendizagens socioemocionais servirão de arcabouço e suporte para os desafios e dificuldades a serem enfrentados na vida futura dessa criança ou jovem, inclusive na transição da educação básica para a educação superior, e posteriormente, na inserção ao mundo do trabalho.

4. Caracterização da amostra de dados

Com o objetivo de avaliar o impacto de soft skills e o papel da família e da escola na aquisição dessas competências, foi realizado um formulário para a coleta de dados. As perguntas feitas no questionário buscaram captar dos jovens suas percepções sobre a escola pública, sobre a participação e influência da família na trajetória dos estudos, sobre a preparação para o ingresso à universidade, e sobre a percepção deles acerca do ensino superior. O formulário foi estruturado em algumas seções, a fim de melhor organizar o direcionamento de algumas perguntas, visto que nem todos os participantes ingressaram em uma graduação.

A amostra de dados coletada recebeu 40 respostas de estudantes da rede pública de ensino do Distrito Federal. Desde total, 42,5% são do sexo masculino e 57,5% do sexo feminino, sendo a maioria dos participantes da pesquisa jovens de 14 a 21 anos (45% estão na faixa etária de 14 a 17 anos e 47, 5%, de 18 a 21 anos e a minoria, com mais de 21 anos, representando 7,5%).

5. Análise dos dados coletados

A partir de agora, seguirão as análises e interpretações das perguntas mais relevantes obtidas na coleta de dados, seja por meio dos formulários preenchidos ou por meio da gravação da entrevista, feita com um grupo de quatro alunos.

5.1 Da escolaridade

Ao serem questionados se seus pais tinham curso o ensino superior, 17,5% dos estudantes responderam que ambos possuem, 40% deles responderam que os pais não têm e 42,5% afirmaram que apenas um dos genitores possui, o que revela que a minoria dos estudantes possuem ambos os pais com ensino superior. Por outro lado, a porcentagem representativa de 42,5% possui pelo menos um dos pais com diploma superior, o que pode representar um exemplo dentro de sua realidade familiar que conclui o ensino superior.

Outra pergunta foi a respeito da profissão exercida pelos pais dos estudantes. Mais da metade das respostas foram de profissões que não exigem formação superior, como diarista, vidraceiro, jardineiro, pedreiro, balconista, entre outras. Esses dados podem indicar que os estudantes, em sua maioria, têm pais com nível de escolaridade baixo, o que pode influenciar sua tomada de decisão ou não na universidade, e indicar a carência de exemplos de indivíduos com nível superior. Por outro lado, profissões como professora, engenheiro civil, contadora, militar além de ocupações autônomas, como empresários foram citadas, porém em menor frequência.

5.2 Da influência da família

Quando perguntados “Qual a pessoa que mais te inspira na sua família? Por quê?”, chamou a atenção que na maioria das respostas houve a menção de uma figura feminina — como a mãe, a tia ou a avó — persistente, forte e capaz de conciliar os filhos com o sustento do lar, como pode exemplificado no seguintes relatos: “Minha avó, que conseguiu criar oito filhos sozinha e trabalhando de domingo a domingo.” e “Minha mãe e minha tia. Minha mãe: pelos conselhos diários para ser independente, responsável com as minhas escolhas e decisões. Minha tia: por ter saído de casa nova, apenas 19 anos para estudar em outro estado. Logo, eu saí de casa com 15 anos para estudar em outro estado. Moro longe dos meus pais.”

Alguns mencionaram ambos os pais, outros poucos mencionaram irmãos e primos, e poucos mencionaram que eles próprios eram sua inspiração. Segue abaixo algumas das respostas que mais nos chamaram a atenção.

“Minha mãe. Ela é mãe solteira e sempre se dedicou e se esforçou pra dar a melhor vida que pudesse para mim. Se tem uma pessoa que posso me inspirar, é nela!”

É possível perceber que a grande maioria desses jovens conseguem identificar, em algum membro da sua família, uma figura de influência que possui virtudes e soft skills, que os permitiram enfrentar situações difíceis e alcançar sonhos. Indiretamente essas referências e inspirações influenciam esses jovens e os inspiram a alcançarem um comportamento semelhante.

Foi possível notar que a maioria das respostas levantadas sobre a escolha inspiradora de uma pessoa da família não está relacionada a aspectos econômicos, ou seja, profissões motivadas pelo retorno financeiro, uma vez que justificativas apresentadas são de caráter humano e pessoal, como por exemplo: “Meu pai porque nos momentos difíceis ele sempre está com um sorriso que demonstra que vai seguir lutando” ou “Minha mãe. Ela é mãe solteira e sempre se dedicou e se esforçou pra dar a melhor vida que pudesse para mim. Se tem uma pessoa que posso me inspirar, é nela!”

5.3 Da perspectiva profissional e pessoal futura

Quando perguntados sobre qual profissão desejariam exercer futuramente, foi observado que a maioria das profissões listadas exigem uma graduação (a título de exemplificar, foram citados profissões como médico, professor, contador, jornalista, musicista, veterinário, psicólogo, entre outras), o que se mostra como um dado interessante, pois revela que, apesar de muitos dos pais dos estudantes não terem feito uma faculdade, seus filhos desejam alcançar e concluir essa etapa em sua trajetória acadêmica, caminhando no sentido de mudança de realidade, de perspectivas profissionais e pessoais.

Outro resultado que merece ser comentado diz respeito aos sonhos dos jovens estudantes. A pergunta feita no formulário foi: “Qual o seu maior sonho?” De maneira geral, as respostas recebidas na pesquisa ilustram que os sonhos, apesar de bastante pessoais, dialogam com as ideias de desempenhar algum papel na sociedade em busca da própria felicidade e/ou alcançar desejos e vontade mais pessoais, como pode ser notado em alguns trechos de respostas: “ajudar minha família”, “ajudar outras pessoas”, ter um bom emprego”, “ser um bom profissional”, “ser delegada”, “viajar o mundo”, “ter uma casa própria” entre tantos outros sonhos citados.

Alguns apresentaram também o desejo de retribuir a família (ou a figura familiar mais presente) por todo o cuidado, a dedicação e amor recebidos, como pode ser percebido na resposta a seguir: “Não tenho um sonho específico. Prefiro viver o agora continuar fazendo até ver no que vai dar e espero que no resultado eu consiga fazer 1/3 do que minha mãe faz por mim.”

5.4 Da influência da família na educação

Foi questionado também qual a influência que a família tem na trajetória acadêmica dos jovens e em sua grande maioria, as respostas apontaram que entes familiares mais próximos (pais, mães, irmãos, tias) influenciam positivamente na motivação, na permanência, na continuidade dos estudos, sendo personagens essenciais nesse percurso. Sendo assim, vários estudantes reconhecem o valor da família e o impacto positivo em sua formação acadêmica, como visto nos trechos abaixo:

No entanto, vale ressaltar que alguns estudantes, infelizmente, responderam que não tiveram nenhuma influência da família sobre os estudos, como pode visto nos seguintes relatos: “Acho que a palavra família é demais, poucas pessoas acreditam e apostam na minha capacidade.”, “Minha mãe nunca conversou comigo sobre nada relacionado a estudos” e “Ninguém me influenciou”. Essas respostas podem estar motivadas por vários fatores de ordem familiar e até social, como a ausência dos pais ou responsáveis na vida dos jovens, fragilidades na estrutura familiar, o pouco envolvimento familiar na vida escolar do filho, as dificuldades financeiras e sociais na família, o que certamente traz consequências no desempenho escolar do estudante, e ainda, gera uma lacuna de competências socioemocionais, por não terem sido desenvolvidas no ambiente familiar ou terem sido pouco aprimoradas no seio familiar.

5.5 Da percepção do papel da escola

Quando perguntados sobre o que a escola representa para eles, foram diversas as respostas recebidas. Alguns apontaram a escola como um lugar importante para os estudos, para a preparação para o futuro, para aprender, e consequentemente, ter um futuro melhor. “Escola para mim é a forma mais importante de conseguir um futuro melhor.” Ou “é o lugar onde prepara os adolescentes para a vida adulta, faculdade e mercado de trabalho. É a ponte para muitas oportunidades.”

Alguns ainda ressaltam o papel da escola na convivência social, na possibilidade de aprender a lidar com problemas e dificuldades, ou seja, alguns enxergam a escola como instituição relevante na formação emocional do indivíduo, uma vez que é um ambiente favorável para o desenvolvimento das soft skills, como pode ser percebido nos seguintes trechos: “Escola é um lugar onde crianças e jovens devem, além de aprender suas respectivas matérias, terem os aprendizados de como uma sociedade funciona e como formar laços com outros humanos” , “Escola pra mim era minha segunda casa, onde eu aprendi a respeitar e lidar com os problemas.” e “Escola pra mim é um lugar onde podemos colocar em prática o que aprendemos em casa e uma oportunidade de aprendermos coisas novas sobre nossa cultura e país.” Essa última resposta demonstra que os valores familiares constituem uma bagagem pessoal que o estudante carrega para o ambiente escolar.

5.6 Da aquisição de competências socioemocionais — soft skills

Dos jovens entrevistados, 97,5% concordam que a aquisição de soft skills são tão importantes quanto as hard skills, o que nos revela que a maioria reconhece a relevância do desenvolvimento das competências socioemocionais, fato que ainda coincide com a realidade de ensino de muitas escolas brasileiras, que têm o olhar voltado estritamente às competências técnicas.

Além disso, perguntou-se aos estudantes onde eles acreditam que mais desenvolveram suas competências socioemocionais. 35% deles indicaram os amigos, 25%, a escola e 20%, a família. Esses resultados apontam para o fato de que muitos jovens costumam passar grande parte do seu tempo com amigos e colegas, pois, durante a adolescência, valorizam muito a aceitação em grupos sociais, o que pode explicar a alta representatividade dos amigos no desenvolvimento da soft skills.

A escola e a família representaram 45 % das respostas, o que comprova, mais uma vez, o impacto e o valor de ambos na formação socioemocional do jovem.

5.7 Do ingresso no ensino superior: possibilidade, motivação e obstáculos

Tratando um pouco das questões relacionadas à universidade, 92,5% responderam que já entraram ou têm interesse em entrar na universidade, enquanto que 7,5% responderam que não. Ao serem perguntados sobre o que é a universidade para cada um, observou-se que a grande maioria deles caracterizou a universidade como um lugar de oportunidades, de amadurecimento pessoal, de alcance de melhores empregos e salários, e para alguns, ingresso na vida adulta. Os alunos entrevistados terem reconhecido o valor positivo da universidade pode ser explicado por alguns fatores, observados na pesquisa. Vimos que pelo menos um dos pais desses jovens possui graduação, além disso, a grande maioria também reconheceu a influência significativa da família em sua trajetória dos estudos e por fim, observamos que os motivos elencados para justificar a escolha dos familiares que mais os inspiravam foram baseadas no caráter, nas virtudes e nos exemplos. Dessa maneira, podemos inferir que esses resultados podem ter influído na construção positiva que esses jovens têm da universidade e do seu desejo de ingressar no ensino superior.

Acerca da motivação para o ingresso na universidade, foram observadas que as respostas correspondem a desejos de oferecer uma vida melhor para a família, estudar e se especializar na área de interesse, conforme pode ser notado nos seguintes trechos: “Dar uma vida melhor pra minha família.”; “Terminar o que comecei, me especializar e retribuir o que fizeram por mim até hoje.”; “A minha gratificação no fim de todo o processo. Chegar o dia da minha aprovação e lembrar todo o meu percurso. Toda a minha história. De uma menina de 15 anos até adulta… e por fim ter um alívio; venci uma parte do meu processo.”.

Contudo, também houve, em uma porcentagem baixa, respostas que revelavam nenhuma motivação do estudante, como em: “Nada me motiva, vou à escola simplesmente para não ter o ensino incompleto, mas não deixo de tirar nota boa.” Se pararmos para refletir, essa falta de motivação pode estar relacionada a diferentes fatores — alguns já até explicitados anteriormente, como a falta de incentivo e motivação de entes familiares ou pessoas mais próximas como também a outros fatores externos como a dificuldade de acesso ao ensino superior no Brasil, uma vez que muitos jovens, apesar de concluírem a educação básica, encontram barreiras socioeconômicas e educacionais para ingressar em uma universidade brasileira — seja ela pública ou privada. Muitos, ao final do ensino médio, não estão ou não se sentem preparados para fazer um vestibular e concorrer a uma vaga na universidade.

Foi o perguntado no último item do formulário: “Numa escala de 0 a 5, em que 0 = discordo totalmente e 5 = concordo totalmente, o quanto você concorda com a afirmação abaixo: “Fazer faculdade garante um futuro de mais oportunidades profissionais e financeiras.” 51,4% concordam totalmente com a afirmação. Entretanto, cabe ponderar que o fato de uma pessoa não ter uma faculdade não é determinante para o seu sucesso profissional, nem como para a formação de uma personalidade sólida. Jovens com diploma não estão garantidos no mercado de trabalho. Seria desejável, portanto, a conciliação entre o ingresso consciente na universidade associado a formação humana, madura e sólida de um indivíduo (Francisco, 2015).

Considerações finais

A fluidez da modernidade na qual vivemos está diretamente relacionada à solidez ou à liquidez que caracteriza a formação humana, sobretudo de crianças e jovens em seu período escolar e futuramente, universitário. De início, verificou-se que a família, por ser o primeiro ambiente de desenvolvimento humano, representa a base moral, emocional e humana da formação de um indivíduo. Em seguida, verificou-se que a educação formal das crianças, embora relegada às escolas, em sua maioria, deve importar uma educação integral, que compreenda hard skills (competências técnicas e de ensino) e as soft skills (competências socioemocionais), que foram destacadas na Base Nacional Curricular Comum como competências gerais de um jovem estudante.

Para ratificar tais assertivas, buscou-se realizar uma pesquisa com o objetivo de investigar e identificar, a partir das falas de jovens estudantes recém egressos do ensino médio ou ainda matriculados em algum ano do ensino médio, qual o impacto — tanto positivo ou negativo — que a família ou aqueles mais próximos a esses jovens possuem na formação sólida de cada um desses indivíduos. Apesar da amostra coletada ter sido pequena e de caráter ilustrativo, após realizar as análises dos resultados obtidos, alguns apontamentos e conclusões se fazem extremamente fundamentais, inclusive com o intuito de inspirar outros estudos e pesquisas com temáticas semelhantes.

Os resultados demonstraram que muitos jovens reconhecem o valor e o papel que sua família tem na sua trajetória escolar, destacando-se aqui a motivação, o empenho e o apoio tanto emocional quanto financeiro nos estudos de seus filhos. Os participantes consideraram de extrema importância o desenvolvimento de habilidades socioemocionais (soft skills) tanto quanto de habilidades técnicas (hard skills). A escola e a família foram apontadas como as duas principais instituições onde aprenderam e desenvolveram as competências socioemocionais, além de uma representatividade significativa dos amigos neste processo.

Considerando que a educação apresenta diversas lacunas — como já mencionado no recorte introdutório deste artigo — a crise educacional da escola nos tempos atuais se torna ainda mais potencializada quando se fala de uma juventude inserida numa modernidade líquida, caraterizada pela velocidade e pelo volume excessivo de informações, pela superficialidade das relações virtuais, pelo anonimato nas redes sociais, pela obsolescência das ideias e dos acontecimentos. O que existe, na maioria das vezes, entretanto, é uma carência de formação educacional sólida, com aprendizagens significativas, pois apesar de se ter acesso a uma quantidade absurda de informações, isso não garante o conhecimento, a sabedoria.

Assim, Bauman aponta para a necessidade, cada vez mais urgente, da escola reinventar-se, uma vez que, com o fortalecimento da era digital, a escola não pode limitar-se à memorização de fatos, de dados, de informações, de nomenclaturas, afinal os tempos são outros, são completamente outros e isso precisa ser levado em consideração quando o assunto é educação, e educação de qualidade e efetiva. Eis um desafio para o século XXI, que certamente trará diversas discussões.

Por fim, e com o intuito de apontar caminhos de melhoria para as problemáticas apresentadas nesse trabalho, acreditamos que a instituição escolar, com a força histórica e social que possui, pode e deve se reconstruir no sentido de preparar e trabalhar de maneira mais sistematizada (nos currículos escolares, inclusive) as soft skills, mas, obviamente, sem deixar de lado as tradicionais hard skills, pois desta maneira, e aos poucos, a educação formal poderá contribuir na formação humana de um indivíduo preocupado e engajado com os dilemas e desafios de uma sociedade moderna, líquida e complexa. Paralelamente a isso, a família precisa compreender o seu papel fulcral e basilar na formação dos seres humanos, pois, ao contrário, as bases deste jovem, em vez de sólidas, provavelmente ficarão fluidas, frágeis e superficiais a espera de algo que as fortaleça.

Referências

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Schulz, B. (2008). The importance of soft skills: Education beyond academic knowledge.

Anexos

A seguir foram reproduzidas as perguntas do questionário elaborado na plataforma Google Formulários.

Uma conversa sobre a educação

Fala galera, beleza? Sou professora da rede pública e estou pesquisando sobre educação, juventude e universidade, e pra isso preciso muito da sua ajuda :) Você que foi ou é aluno da rede pública pode me ajudar a responder a esse questionário?

Você não precisa se identificar, pois os dados serão usados de forma anônima!

Peço, de coração, que respondam às perguntas da forma mais completa e sincera possível, isso vai me ajudar DEMAIS! Conto com você, vamos lá …

1. Você fez/faz o ensino médio em escola pública?

( ) Sim

( ) Não

Me fale mais de você

1. Qual o seu sexo?

( ) Feminino

( ) Masculino

( ) Prefero não declarar

2. Quantos anos você têm?

( ) De 14 a 17 anos

( ) De 18 a 21 anos

( ) Mais de 21 anos

3. Seus pais têm ensino superior?

( ) Sim

( ) Não

( ) Um deles têm

( ) Não se aplica

4. Qual a profissão do seu pai? E da sua mãe? (ou dos seus responsáveis)

5. Qual a pessoa que mais te inspira na sua família? Por quê?

6. Você tem alguma profissão que gostaria de exercer no futuro? Se sim, qual?

7. Qual o seu maior sonho?

Nos corredores da escola

1. Defina com suas próprias palavras o que é a escola para você e o que ela representa.

2. Agora pode ser sincero(a), o que você menos gosta(va) na escola? (pode ser mais de uma coisa).

3. Como você acha que sua família influenciou na sua trajetória escolar/acadêmica? Me conte um pouco sobre isso.

4. Numa escala de 0 a 5, em que em que 0= discordo totalmente e 5=concordo totalmente, quanto você acha que tem desenvolvido as competências socioemocioanais (empatia, liderança, resiliência, trabalho em grupo, comunicação eficaz…)?

5. Você acha que ter competências socioemocionais (empatia, liderança, resiliência, trabalho em grupo, comunicação eficaz…) é tão importante quanto saber as matérias aprendidas na escola?

( ) Sim

( ) Não

6. Onde você acha que aprendeu mais sobre competências socioemocionais (empatia, comunicação, argumentação, solução de conflitos)?

( ) Na escola

( ) Na família

( ) Entre amigos

7. Você entrou ou tem interesse em entrar na faculdade?

( ) Sim

( ) Não

Uruhhhh FACULDADE

1. O que é a universidade para você?

2. Quais portas você acredita que a universidade pode abrir na vida de um jovem?

3. Por que você quis/quer entrar na universidade? E o que mais te motivou?

4. Conte um pouco como foi a sua preparação/estudos para entrar na universidade.

5. O que mais te motiva a continuar nos estudos?

6. Numa escala de 0 a 5, em que 0= discordo totalmente e 5=concordo totalmente, o quanto você concorda com a afirmação abaixo: “Fazer faculdade garante um futuro de mais oportunidades profissionais e financeiras.”

Para os jovens que não entraram na universidade

1. O que é a universidade para você?

2. Quais portas você acredita que a universidade pode abrir na vida de um jovem?

3. Atualmente você:

( ) Estuda

( ) Trabalha

( ) Estuda e trabalha

( ) Nenhuma das anteriores

4. Por que você não tem interesse em entrar na universidade?

( ) Falta de perspectiva

( ) A não aprovação

( ) Necessidade de trabalho

( ) Problemas familiares

5. Numa escala de 0 a 5, em que 0=discordo totalmente e 5=concordo totalmente, o quanto você concorda com a afirmação abaixo: “Fazer faculdade garante um futuro de mais oportunidades profissionais e financeiras.”

Os três quadros abaixo sintetizam as perguntas do formulário da pesquisa, organizadas aqui em três quadros para facilitar as temáticas abordadas em cada grupo de questões:

Quadro 1: Perguntas relacionadas à influência da família na trajetória escolar do estudante
Quadro 2: Perguntas relacionadas à importância das competências socioemocionais
Quadro 3: Perguntas relacionadas à universidade

A seguir, constam os gráficos gerados a partir das respostas recebidas na pesquisa:

Gráfico 1: Sexo dos participantes
Gráfico 2: Faixa etária dos participantes
Gráfico 3: Nível de escolaridade dos pais dos participantes
Gráfico 4: A importância das soft skilss
Gráfico 5: Percepção dos jovens sobre os soft skills
Gráfico 6: Interesse sobre entrar na faculdade

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