Danielle Lima Rodrigues
UNIV Inspire Br
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15 min readOct 5, 2020

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Os caminhos para a aplicabilidade de produções cinematográficas na sala de aula em vista de uma formação consistente.

Como fazer dos filmes um meio didático?

Mentora: Teka Bordini

RESUMO

Partindo-se da obra de Zygmunt Bauman e seus estudos sobre o conceito de modernidade liquida, o trabalho tem como objetivo discutir de que maneira pode-se construir uma aprendizagem consistente com base no uso de produções cinematográficas para o ensino de história nas escolas. Dessa forma, esse debate é de suma relevância pois nos tempos atuais, o professor deve aproveitar novas ferramentas que podem ajudar na explicação do conteúdo. Em análises preliminares busca-se afirmar que a aplicação de filmes como meio didático é viável se o professor principalmente situar a produção no seu contexto histórico e usa-lo como aliado ao ensino e não como protagonista na educação. Em termos teóricos, a discussão se fundamente nas proposições de Marc Ferro em ‘’História e cinema’’, Marco Napolitano ‘’Como usar o cinema em sala de aula’’ e Jean Claude Bernadett ‘’O que é cinema?’’, autores que muito contribuem para a discussão da história no cinema.

Palavras-chave: educação, cinema, história.

ABSTRACT

Starting from the work of Zygmunt Bauman and his studies on the concept of liquid modernity, the work aims to discuss how to build consistent learning based on the use of cinematographic productions for teaching history in schools. Thus, this debate is very important in the present time because the teacher must take advantage of new tools that can help in explaining the content. In preliminary analyzes, it is sought to affirm that the application of films as a didactic resource is feasible if the teacher mainly situates the production in its historical context and uses it as an ally to teaching and not as a protagonist in education. In theoretical terms, the discussion is based on the propositions of Marc Ferro in ‘’ History and cinema ‘’, Marco Napolitano ‘’ How to use cinema in the classroom ‘’ and Jean Claude Bernadett ‘’ What is cinema? ‘’, authors who contribute a lot to the discussion of history in cinema.

Keywords: education, cinema, history.

INTRODUÇÃO

Após a Segunda Guerra Mundial, a sociedade do século XX passou por transformações que impactaram nas relações entre os indivíduos. Grandes pensadores da época — como Jean Paul Sartre — pregavam a ideia de liberdade, prazer momentâneo, alegando que era necessário ‘’derreter os sólidos’’ (BAUMAN, 2001, p.10), isto é, acabar com os antigos costumes que regiam as sociedades até então, como por exemplo obrigações familiares e questões éticas. Além disso, com a queda do muro de Berlim, a derrota do comunismo e da ideologia marxista, as pessoas se encontravam desiludidas. Dessa forma, Zygmunt Bauman desenvolveu uma tese que busca responder a esse momento de mudanças que a sociedade enfrentou, com base na afirmação de que ainda estamos na modernidade. Ele adotou o conceito de ‘’modernidade liquida’’, resultado de uma analogia entre líquidos e sólidos, onde os líquidos representam a continuação da modernidade e os sólidos as estruturas anteriores. Em poucas palavras, o filósofo afirma que ‘’os fluidos se movem facilmente. Eles ‘fluem’, ‘escorrem’, ‘esvaem-se’, ‘respingam’, ‘transbordam’, ‘vazam’, ‘inundam’, ‘borrifam’, ‘pingam’; são ‘filtrados’, ‘destilados’’’. (BAUMAN, 2001,p.8) significando o quanto as coisas na modernidade são efêmeras. Já os sólidos apresentam a ‘’liga’’: ‘’[…] indica a estabilidade dos sólidos — a resistência que eles ‘o põem à separação dos atomos’’’ (BAUMAN, 2001, p.8). Visto isso, atualmente vivemos em um mundo onde tanto as relações quanto os valores da sociedade são líquidos. Assim, o trabalho busca discutir como o cinema — que hoje é um entretenimento na vida da maioria das pessoas — pode contribuir para uma formação com ‘’liga’’ ou seja, voltada para os valores da verdade, do bem e da autentica liberdade. Na sociedade liquida, o bem é algo material e/ou momentâneo e indo na contramão disso, a educação sólida procura resgatar os antigos valores que foram ‘’derretidos’’. Portanto, o cinema se mostra como um meio para esse processo pois as produções cinematográficas podem ajudar a formar cidadãos mais críticos e conscientes dos valores que realmente importam a partir da dinâmica em sala de aula com o professor, que promoverá atividades que contribuam para tal.

A educação na modernidade

Nesses tempos liquido-modernos, assim como em outros âmbitos, a educação também passou por transformações. Levando-se em consideração os novos pressupostos que passaram a reger a sociedade — como a fragilidade das relações e a fluidez das coisas — a educação agora não se preocupa em chegar a verdade do conhecimento e sim formar a força de trabalho, se tornando um produto. De acordo com Bauman, essa valorização acontece porque o trabalho promove o aumento da riqueza e a eliminação da miséria, fazendo com que os indivíduos sintam-se no comando do seu próprio destino e consequentemente alcançando a tão sonhada liberdade. Além disso, ocorre exatamente o oposto do que propõe a pedagogia desde a sua origem com os antigos filósofos, onde se buscava uma aprendizagem com base sólida para construir novos conhecimentos. Atualmente a prioridade é aprender o que é necessário no momento, porém, estamos falando de uma era em que é marcada pela instabilidade e efemeridade das figuras, portanto, o que foi aprendido hoje já pode ser considerado ultrapassado amanhã.

No contexto educacional, seguindo a metáfora da liquidez, não havia mais porque ter a escola como o ambiente onde se aprenderia teorias, vivências, que de uma hora para outra poderiam mudar, pois os indivíduos da vida pós-moderna confiam no imediatismo, na novidade e não nos conhecimentos que são universais, nas verdades absolutas que perduram por um longo tempo. Como um produto, a educação e o ambiente escolar passam a ter um ‘’tempo de duração’’ e assim os saberes antigos que antes eram tão valorizados, foram perdendo sua importância em vista de o que for necessário no momento ser aprendido e logo depois, esquecido para dar lugar a novas coisas. ‘’Sendo assim, a garantia de sucesso é não deixar passar o momento em que o conhecimento adquirido precisa ser esquecido, substituído.’’ (BAUMAN, 2010)

A educação está passando pela sua maior crise, já que em momentos anteriores, foi possível continuar com seus métodos baseados em ‘’fixar em uma forma’’. Entretanto, em uma modernidade liquida, a sociedade fez com que a escola mudasse totalmente a sua função e a mesma está tendo que se adequar a demanda por um conhecimento ‘’rápido’’, focada em buscar resultados em pouco tempo. De acordo com Bauman, nós estamos vivendo em um estágio bem inicial da era eletrônica e obviamente dessa ‘’reforma’’ na educação moderna. ‘’Ela tem apenas, 10,15, 20 anos. Em 20 anos não se cria uma nova cultura. Primeiro há o nascimento dela, o ‘’parto’’ que é muito doloroso e é nesse estágio que nós estamos’’. (BAUMAN, Observatório da impensa, 2015) Assim sendo, professores de todo mundo agora buscam formas para fazendo da escola um lugar de aprendizado e ao mesmo tempo adequado a era liquido-moderna, isto é, aberta a tecnologia, a rapidez das informações e a fluidez das relações.

A educação para Zygmunt Bauman

É indiscutível que a forma como as escolas devem tratar a educação e o processo de aprendizagem mudou com a ascensão do ambiente liquido-moderno, trazendo consigo o advento das mais variadas tecnologias. Para o filósofo não temos como ‘’ignorar’’ a tecnologia, pois ela já faz parte não só da vida dos estudantes, mas da sociedade como um todo e portanto para saber navegar nesse ambiente fluido, é necessário introduzir essas inovações. Porém, Bauman aponta que: ‘’O problema maior muito mais difícil de ser solucionado é como empregar as possibilidades fornecidas pelas novas informações virtuais a serviço da educação’’. (BAUMAN, Olho na escola, 2015)

Como apontado anteriormente, a educação na modernidade se tornou um produto que visa a transmissão de conhecimentos que ajudariam a viver melhor do que no anterior ‘’ambiente sólido’’. Por outro lado, pôde-se perceber que a modernidade trouxe justamente o contrário: ao invés de trazer estruturas mais duráveis, trouxe ainda mais incertezas.

‘’No mundo líquido moderno, de fato, a solidez das coisas, tanto quanto a solidez das relações humanas, vem sendo interpretada como uma ameaça: qualquer juramento de fidelidade, compromissos a longo prazo, prenunciam um futuro sobrecarregado de vínculos que limitam a liberdade de movimento e reduzem a capacidade de agarrar no vôo as novas e ainda desconhecidas oportunidades. A perspectiva de assumir uma coisa pelo resto da vida é absolutamente repugnante e assustadora. E dado que inclusive as coisas mais desejadas envelhecem rapidamente, não é de espantar se elas logo perdem o brilho e se transformam, em pouco tempo, de distintivo de honra em marca de vergonha.’’ (BAUMAN,p.662, 2009)

A partir disso, o filósofo aponta que não cabe mais o professor fazer os alunos memorizarem os conteúdos, pois com a rapidez da pesquisa no google por exemplo, eles podem saber as respostas em fração de segundos e esquecer também em pouco tempo. Um bom exemplo é o conteúdo de história, há um tempo é comum ouvirmos as pessoas dizendo que faziam questionários para realizar a prova, decoravam as respostas e assim que saiam da sala já esqueciam tudo. Na contramão disso, Bauman diz que ‘’o importante é desenvolver o pensamento critico para saber distinguir o relevante do irrelevante.’’ (BAUMAN, Olho na escola, 2015)

Em entrevista no evento Educação 360 realizado em 2015, Bauman destaca duas habilidades que devem ser desenvolvidas no aluno: atenção e síntese. A atenção se refere justamente quando o aluno está assistindo a aula, conversando, mexendo no celular, tudo ao mesmo tempo e no fim das contas, não captou o conteúdo da aula. Para isso, o autor de ‘’Modernidade liquida’’ argumenta:

‘’o desenvolvimento da atenção, do foco é tremendamente importante. É tremendamente importante para o processo de educação. Sem o desenvolvimento dessa habilidade não é possível tirar um bom proveito da educação.’’ (BAUMAN,Olho na escola, 2015)

Já a segunda habilidade, síntese, trata de um processo que todos os jovens passam nos dias atuais. Hoje, eles têm acesso a vários meios de comunicação eletrônica e podem ter contato com muitas informações distintas, entretanto, nossa capacidade humana não nos deixa armazenar todos esses dados. Dessa forma, isso inicialmente dá uma sensação de liberdade, mas logo depois surge o questionamento de como ‘’filtrar’’ tudo o que lemos, ouvimos,etc. Para Bauman, é justamente esse processo de rapidez de informações: ‘’Isso acaba criando um excesso de informação, o que gera um sentimento de incerteza.’’ (BAUMAN, Olho na escola, 2015)

Por certo, entendendo aqui a escola como um ambiente em que se universalizava a os valores utilizados para a integração em sociedade, o filósofo não deixa claro qual seria e se existiria um caminho correto a seguir em relação a continuar fazendo da escola esse ambiente de ‘’criação de valores’’. Contudo, pode-se dizer que Bauman busca fazer com que a educação seja adaptada a era liquido-moderna, como por exemplo, usando o aparato tecnológico que de acordo com ele: ‘’A desvinculação da internet é impensável. Ela aconteceu, ela está aqui e é muito difícil, quase impossível, imaginar um retorno para quando ela não existia.’’ (BAUMAN, Olho na escola, 2015)

Aliando a educação consistente com a modernidade

Diante da nossa era liquido-moderna, é fundamental saber navegar para tentar ‘’diminuir’’ os impactos que a modernidade traz para as pessoas e para a educação em geral. Nos últimos tempos, a humanidade passou por muitas mudanças e a instituição escolar conseguiu se manter sem acompanhar esse ritmo, porém, agora ela se encontra desafiada a se transformar para continuar sendo um ambiente de formação de indivíduos. Quando se fala sobre uma educação consistente, é aquela que vai na contramão das demandas dos tempos atuais e sobre isso a filósofa alemã Edith Stein nos ajuda a compreender com o seu conceito de ‘’educação integral’’. Em sua obra ‘’A estrutura da pessoa humana’’, Edith aponta que o ser humano é composto de três partes: corpo-psique-alma e que a educação é fundamental para a formação do individuo de forma a realizar-se plenamente em si mesmo. Assim, a definição de ‘’educação integral’’ diz respeito a produção do conhecimento que compõe o individuo, porém, como ela afirma, uma formação que não se limite apenas ao conhecimento intelectual. Contrariamente, como apontado em momento anterior, a educação na modernidade tem visado as práticas capitalistas onde é necessário apenas formar mão-de-obra para o trabalho, deixando de lado a formação critica, ‘’pensante’’.

Em consequência de tantas mudanças, a escola passou a agregar principalmente as novas tecnologias — que são a principal marca da modernidade — para continuar cumprindo o seu objetivo. No presente trabalho, trataremos em particular dos filmes que podem ser usados no ensino de História e que circulam nas plataformas de streaming e nos cinemas mundiais.

Pode-se dizer que existem basicamente dois filmes que podem ser trabalhados, os filmes históricos e os filmes de época. De acordo com José Alberto Baldissera, os filmes históricos são: ‘’ que se referem a algum episódio reconstituído através do cinema, sobre um evento do passado que efetivamente ocorreu, e que houve pesquisa sobre ele.’’ (BALDISSERA, 2009,p.129) Já os filmes de época são aqueles que se situam no passado, mas sua história não ocorreu necessariamente na época retratada. Como exemplo de filme histórico trago o filme ‘’300’’. Lançado em 2006 e distribuído pela Warner Bros. Pictures, o longa-metragem retrata a Batalha de Termópilas durante as Guerras Persas. Seus diretores usaram técnicas cinematográficas avançadas para que as cenas de batalha fossem o mais fiel possível, porém não temos como afirmar que exatamente tudo ocorreu daquela forma. De todo modo, o filme nos dá um espectro do que aconteceu. Por outro lado, o filme ‘’Pocahontas’’ é visto como filme de época. Foi lançado em 1995 pela Walt Disney Pictures, conta a história de uma índia norte-americana chamada Pocahontas que se apaixona pelo colonizador inglês John Smith, que chega aos Estados Unidos para explorar o ‘’Novo Mundo’’. Igualmente, não podemos afirmar que Pocahontas existiu e que essa história de amor realmente aconteceu, apesar disso, a animação nos dá um panorama de como foi a chegada e recepção dos colonos britânicos aos Estados Unidos para sua posterior colonização de fato.

Dito isto, o filme não precisa ser fiel ao fato histórico e é nesse ponto que o professor deve ter cuidado ao passar o filme como documento para a construção de conhecimento histórico.

Quando se trabalha com aquilo que já foi, mesmo que se tenha ido há poucas horas, é preciso um esforço de reinvenção: selecionar o que se considera importante mostrar e o que não se considera (ou o que se quer e o que não se quer mostrar); decidir como mostrar. O próprio processo de escolha já implica a impossibilidade de resgatar o acontecido na sua integralidade, na sua totalidade. (ROSSINI,2005)

Logo, a exibição de uma produção cinematográfica implica que o docente na aula, discuta para seus alunos o contexto histórico de quando o filme foi confeccionado, pois isso é importante até para a escolha dos momentos exibidos. Visto que o filme não tem como abordar o fato da sua integralidade, qual foi o critério para a escolha das cenas, o que elas retratam, o que o gestual diz sobre os personagens, enfim, ir além do que o filme ‘’fala’’. Isso nos aponta os parâmetros curriculares do Brasil, que já considera as produções como interpretes do passado:

‘’No caso do trabalho didático com filmes que abordam temas históricos é comum a preocupação do professor em verificar se a reconstituição das vestimentas é ou não precisa, se os cenários são ou não fiéis, se os diálogos são ou não autênticos. Um filme abordando temas históricos ou de ficção pode ser trabalhado como documento, se o professor tiver a consciência de que as informações extraídas estão mais diretamente ligadas à época em que a película foi produzida do que à época que retrata.’’ (BRASIL, 1998, pp. 88–89)

Certamente, a película foi influenciada pelos valores da época que foi produzido. O importante estudioso da história do cinema, Marc Ferro, aponta que: ‘’Assim como todo produto cultural, toda ação política, toda indústria, todo filme tem uma história que é História, com sua rede de relações pessoais(…) (FERRO, 1992,p.17) e por isso, torna-se ainda mais importante fazer esse ‘’filtro’’ com os alunos, para que se alcance o objetivo principal: ter uma educação consistente, que vai na contramão da visão de educação na modernidade — passageira, rápida, variável.

Assim sendo, o professor fica muito livre para realizar dinâmicas que envolvam a exibição de filmes como meio didático. Marcos Napolitano em seu livro ‘’Como usar o cinema em sala de aula’’ apresenta de forma muito rica os meios para inserir as películas sem esquecer do principal, o filme é algo a mais no processo de formação e não o foco principal. Como um exemplo de prática pode-se dizer que:

‘’O que se torna diferente é o aprofundamento das discussões temáticas, a maior complexidade do conteúdo escolar extraído e o tipo de obra cinematográfica escolhida. Outros dois elementos podem ser explorados com maior profundidade, sobretudo no ensino médio: a própria linguagem cinematográfica, ou seja, os recursos e dispositivos que o diretor, o roteirista, os atores utilizam para se expressar e a articulação mais aprofundada entre filme e contexto sócio- histórico.’’ (NAPOLITANO, 2003,p.15)

A dinâmica dependerá de qual faixa etária o professor está lecionando, entretanto, o que não pode variar é a busca por formar jovens que sejam críticos com o que veem e quais os valores que levam de cada história contada pelo filme.

O lado prático

A seguir, a sugestão de um plano de aula disciplina de História destinado ao 7° ano do ensino fundamental II. Este tem como proposta fomentar nos alunos a percepção de como a animação Pocahontas produzida pelo Walt Disney Feature Animation em 1995 retratou a colonização da américa.

Conteúdo: Colonização dos Estados Unidos da América.

Atividade: Aula expositiva para introdução do assunto: exibição de trechos do filme e dinâmica em sala de aula

Objetivos: 1) Discutir como foi representado o momento histórico; 2) analisar como a produção cinematográfica responde ao seu contexto de produção; 3) avaliar como a Disney apresentou a personagem Pocahontas como ameríndia e o colonizador inglês John Smith em relação a estereótipos.

Organização da turma: Pensando em uma aula interativa, a turma será organizada em semi-circulo para boa visualização da exposição e do debate entre os alunos.

Metodologia: A aula iniciará com a exposição de cenas do filme Pocahontas, usando o vídeo como sensibilização para levantar questões e despertar o interesse sobre o assunto. Após esse momento, inicia-se um debate com a turma para descrição do que eles viram, levantando os pontos que serão o objetivo da aula e mais questões que surgirem dos alunos. É importante também passar a ficha técnica do filme, como ano, diretores, gênero, para evidenciar que não se retrata o episódio de forma fidedigna.

Recursos materiais: 1) projetor; 2) computador; 3) caixa de som para reprodução do áudio do filme.

Competência Currículo Mínimo: 7° ano do ensino fundamental II. Conteúdo: A Colonização europeia na América: A América Espanhola e a América Inglesa. Habilidades e competências: 1) Comparar processos de formação socioeconômica, relacionando-os com seu contexto histórico e geográfico; 2) Identificar as diferentes relações de trabalho na América.

Competência Século XXI: Senso crítico, interpretação e análise.

Avaliação: os alunos serão avaliados a partir da sua participação no debate posterior a exibição dos trechos, compartilhando suas impressões, opiniões sobre o filme e as questões provocadores feitas pelo professor.

Duração da aula: Duas aulas de 50 minutos.

Considerações finais

Visto os aspectos apresentados, pode-se constatar que o uso de filmes na sala de aula é uma maneira pertinente de passar os conteúdos curriculares, independente da faixa etária da turma, pois como o trabalho buscou exemplificar, a diferença deve se concentrar no modo como o filme é apresentado. Retomando a fala de Marcos Napolitano: ‘’Assim como todo produto cultural, toda ação politica, toda indústria, todo filme tem uma história que é História, com sua rede de relações pessoais, seu estatuto dos objetos e dos homens.’’ (NAPOLITANO,1992,p.17) Por esse motivo, se faz necessário uma abordagem critica para que se alcance uma educação que Zygmunt Bauman apontou como sendo a da ‘’pós-modernidade’’.

Sem dúvidas, Bauman estava correto ao afirmar que não há como ignorar a tecnologia e as transformações que o tempo liquido-moderno trouxe, entre elas, a mudança no campo da educação. Seguindo a lógica do efêmero, da fluidez, a educação como vimos, passou a ser tratada como uma mercadoria visando apenas a absorção dos conteúdos rapidamente para que se possa responder as questões do ‘’agora’’ e não o conhecimento verdadeiro que forma o individuo. A isso, chamamos de ‘’educação consistente’’ e nas palavras de Edith Stein ‘’educação integral’’ , que preza por formar o homem para que adquira conhecimentos que o formem em sua plenitude e o ajudem a viver em sociedade.

Desse modo, temos no cinema uma forma de aliar a modernidade liquida a educação consistente, embora nunca esquecendo que:

‘’Dizer que o cinema é natural, que ele reproduz a visão natural, que coloca a própria realidade na tela, é quase como dizer que a realidade se expressa sozinha na tela. Eliminando a pessoa que fala, ou faz cinema, ou melhor, eliminando a classe social ou a parte dessa classe social que produz essa fala ou esse cinema, elimina-se também a possibilidade de dizer que essa fala ou esse cinema representa um ponto de vista’’ (BERNADETT, 1980, p. 129)

Como se pôde ver pelas observações aqui arroladas, nas quais procuramos explorar a relação entre educação e mais precisamente a que vai contra a era toda a liquidez, tornou-se claro que o objetivo é manter a escola como um lugar fundamental de formação e preparação de jovens e crianças para o mundo no qual vivemos e por isso a preocupação em formar indivíduos que não saibam apenas sobre o hoje e o agora. Atualmente as coisas mudam mais rapidamente e por que não educar para construir conhecimento ao invés de armazenar informações e ‘’descartar’’ na hora que não são mais uteis? Zygmunt Bauman certamente muito contribuiu para que conseguíssemos entender a modernidade, mas agora, restou-nos o desafio de buscar meios para navegar em mares tão fluidos, sendo a produção cinematográfica uma das várias alternativas.

Filmografia

Pocahontas. Direção: Eric Goldberg, Mike Gabriel. Produção: Jim Pentecost. EUA, Walt Disney Pictures, 1995.

300. Direção: Zack Synder. Produção: Gianni Nunnari, Mark Canton, Bernie Goldman, Jeffrey Silver. EUA, Warner Bros. Pictures, 2006.

Bibliografia

Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais : história, geografia / Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília : MEC/SEF, 1997.

BERNADETT, Jean Claude. O que é cinema. Coleção Primeiros Passos Nº 9. São Paulo. Editora Brasiliense. 1980.

FERRO, Marc. Cinema e história. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1992.

MACEDO, José Rivair. Cinema e história. Entrevista concedida a José Alberto Baldissera. Desatando Nós da TV Unisinos (São Leopoldo/RS). Março, 2004.

NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema em sala de aula. São Paulo, Editora Contexto, 2003.

ROSSINI, Mirian. O cinema e a reconstituição do passado. Entrevista concedida a IHU Online. Cadernos IHU em formação, set/2005.

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