Ressignificação das relações sociais em espaços virtuais e físicos em tempos de pandemia

Amanda Gomes do Valle
UNIV Inspire Br
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17 min readOct 7, 2020

AMANDA GOMES DO VALLE E JULIA RIBEIRO PORTELLA NUNES

BRASÍLIA 2020

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar as mudanças das relações sociais e a apropriação dos espaços no contexto de pandemia e as expectativas do pós-pandemia. A pesquisa busca compreender as mudanças ocorridas nas relações sociais com o advento inesperado da pandemia do Sars-CoV-2 (coronavírus) no início do ano de 2020. Anteriormente já era observado uma tendência forte das redes sociais virtuais em oposição às relações sociais presenciais e a apropriação dos espaços físicos. A internet é o meio de relacionamento mais seguro dentro do contexto de isolamento social, busca-se compreender até que ponto o meio virtual consegue suprir a necessidade de interação do ser humano, já que o fator social é determinante para a concepção de cidade e formação de uma sociedade. O método de pesquisa consistiu em análise bibliográfica e realização de uma pesquisa amostral por meio da elaboração de um questionário.

Palavras-chave: Relações sociais. Pandemia. Espaço virtual. Espaço físico.

ABSTRACT

The present work aims to analyze the changes in social relations and the appropriation of spaces in the context of a pandemic and the expectations of the post-pandemic. The research seeks to understand the changes that occurred in social relations with the unexpected advent of the Sars-CoV-2 (coronavirus) pandemic in the beginning of the year 2020. Previously, a strong trend of virtual social networks was observed, in opposition to face-to-face social relationships and the appropriation of physical spaces. Because the internet is the safest means of relationship within the context of social isolation, we seek to understand the extent to which the virtual environment can meet the need for human interaction, since the social factor is decisive for the concept of the city and formation of a society. The research method consisted of bibliographic analysis and carrying out a sample survey through the elaboration of a questionnaire.

Keywords: Social relations. Pandemic. Virtual space. Physical space.

  1. INTRODUÇÃO

O contexto atual de pandemia gerou diversas mudanças por meio de medidas em prol da segurança contra o coronavírus e essas medidas geraram um grande impacto nas relações. Decisões como o isolamento social, mudança na rotina e a perda da liberdade, em uma perspectiva temporal indefinida e possivelmente longa, são fatores considerados vulneráveis para a saúde mental dos cidadãos. (ZANON et al., 2020).

Conforme de Andrade Moretti, Lourdes Guedes-Neta e Batista (2020), a nova configuração da experiência de vida, trouxe à tona muitos conflitos internos das pessoas. Frente a isso, surgiram muitos casos de ansiedade, depressão, sensação de perda de sentido da vida, diferentes formas de violência, medo, insegurança, entre outros. Em meio à toda essa situação de transformação, se percebeu a necessidade de rompimento de algumas questões tanto da esfera pessoal quanto da esfera coletiva. Logo provocou um processo de uma profunda auto análise a respeito dos novos significados que esse novo contexto nos foi lançado.

A apropriação do espaço foi modificada de uma forma brusca, alguns locais não puderam mais ser frequentados enquanto outros sim, mas de forma restrita. Enfim, o modo do ser humano estar e viver a cidade foi alterado a favor da saúde e de todos. Por ter sido uma mudança brusca, em um primeiro momento muitas pessoas não souberam como agir e se portar diante da situação, já que seus cotidianos foram diretamente afetados, e se acostumar a fazer as tarefas (as que puderam ser adaptadas ao home office) que antes possuíam locais definidos, agora em locais limitados demandam tempo de adaptação à nova realidade. Situação essa que afetou pontualmente as relações sociais presenciais.

“As brechas que os diferentes atores sociais conseguem abrir no espaço abstrato hegemônico, se apropriando de fato do espaço. A redução da ação urbana, ou seja, o empobrecimento da experiência urbana pelo espetáculo, leva a uma perda da corporeidade, os espaços urbanos se tornam simples cenários, sem corpo, espaços desencarnados” (BARREIRA, 2009).

O impacto dessa situação e a repercussão desses efeitos na sociedade fortaleceram a análise social de Bauman (2007), em que explana que a vida líquida, na era moderna, seria uma vida precária, vivida em constantes condições de incerteza, logo uma vida de sucessão de reinícios. Nesse sentido, houve uma perda do senso de coletividade e a valorização no protagonismo da individualidade.

Em vista a isso, o presente trabalho tem como objetivo geral analisar as mudanças das relações sociais e a apropriação dos espaços no contexto de pandemia e as expectativas do pós-pandemia. O foco foi direcionado nas relações que ocorrem nos espaços virtuais e físicos, destacando os efeitos percebidos no âmbito dos relacionamentos.

A estruturação desta pesquisa discorre da seguinte forma: primeiramente é abordada pela literatura a importância do contexto dos espaços físicos nas relações sociais, em seguida é levantado o surgimento e a importância dos espaços virtuais na comunicação e interação entre as pessoas. Por fim será apresentado os dados obtidos por meio do questionário elaborado para tal e as nossas considerações finais sobre o objeto estudado.

1.1. Justificativa

O espaço compreende uma grande variedade de configurações realizadas pelo homem ao longo dos anos. Conforme os estudos de Günther e outros estudiosos, a importância de compreender a relação desses espaços com o ser humano se deve aos significados que os locais carregam em relação ao vínculo do homem com o local e com as pessoas. Contudo, a apropriação dos espaços da cidade foi se reduzindo com a expansão das tecnologias, e a tendência foi a modificação na noção de tempo e espaço, tornando-as mais fluidas e fragmentadas. Muitas pessoas se tornaram reféns da socialização virtual que a internet propiciou, meio que esse que intensificou as relações líquidas, superficiais.

Com a pandemia, o modo mais seguro de relacionamento foi por meio das redes sociais e até pessoas que não eram habituadas a essas tecnologias tiveram que se render a elas para ter contato com os seus entes queridos. Nesse momento de isolamento social, as redes de socialização se ressignificaram para várias pessoas, tendo como função o fortalecimento de laços e a manutenção de relações sólidas com os seus entes queridos.

Com a reabertura gradual do estabelecimentos e áreas de lazer da cidade, percebe-se que boa parcela da população voltou a frequentá-los, mostrando que apesar de haver meios de comunicação virtuais, elas não possuem a mesma força das relações presenciais.

1.2. Objetivo

A presente pesquisa procura averiguar se é tendência da população, com base em suas experiências passadas, momentâneas e suas perspectivas de futuro, manter o valor dos meios sólidos no contexto pós-pandemia, ou continuar se espelhando nos meios líquidos. Também procura investigar qual a inclinação das pessoas em relação a apropriação dos espaços da cidade e suas relações interpessoais.

1.3. Metodologia

O método de trabalho consistiu na análise de bibliografias pertinentes que abordem os temas referentes a mídias sociais, relações interpessoais da modernidade, as obras de Bauman Modernidade Líquida e Vida Líquida, e obras relacionadas a apropriação da cidade. A partir da leitura da bibliografia escolhida, que foi a base do trabalho, foi realizado um questionário que mapeou a visão das pessoas neste momento de pandemia em relação às interações sociais ocorridas nos ambientes virtuais e físicos e sua perspectivas de futuro. O questionário aplicado se encontra no Anexo 1 do presente documento.

A pesquisa se pautou nos seguintes passos:

  1. Levantamento bibliográfico de obras que possuem afinidade com o tema da pesquisa. O levantamento ocorreu em sítios da internet, livros, artigos, teses e dissertações.

2. Análise qualitativa das obras literárias levantadas.

3. Formulação e envio do questionário. O questionário ficou disponível para receber respostas durante duas semanas e foi realizado na ferramenta Formulários Google.

4. Coleta e análise dos dados do questionário.

5. Balanço crítico entre a análise das obras e dos questionários.

6. Produção escrita do artigo.

2. ESPAÇOS FÍSICOS

A cidade sempre teve um papel importante nas relações sociais. Datando os séculos VII e VI a.C. havia grandes polos políticos, econômicos e culturais, como por exemplo a cidade de Atenas e Roma. Com o declínio do Império Romano e a ascensão do feudalismo, sistema rural ao qual os camponeses eram subordinados ao senhor feudal, dono do feudo/vila, houve um declínio da atividade comercial já que a economia dos feudos era de caráter autossuficiente.

No final da Idade Média o feudalismo entrou em declínio, houve uma retomada significativa do comércio e uma volta gradual às cidades, fenômeno que foi intensificado no final do século XVII e início do século XIX com a revolução industrial.

A industrialização foi um fenômeno que juntamente com o advento do sistema capitalista, mudou as percepções de tempo e espaço, questões decisivas para geração da vida social. Com o intenso êxodo rural acontecendo, as cidades foram se transformando e se adaptando para aquela nova realidade. “A história da mudança social é em parte apreendida pela história das concepções de espaço e tempo, bem como dos usos ideológicos que podem ser dados a essas concepções” (HARVEY, 2008). Segundo Lefebvre (2011), esse rompimento causado pela revolução industrial é um atributo decisivo para a formação da sociedade moderna.

Algumas características que o capitalismo trouxe para a sociedade foram o individualismo, a alienação, a efemeridade, a inovação e novas percepções de tempo e espaço. O ser humano conquistou um maior controle sobre o tempo e espaço, que são caracterizados pela materialidade das relações humanas; De Certeau traz a reflexão de que os espaços sociais são instâncias abertas à criatividade e ação do homem, e a organização dos espaços promovem uma experiência a qual os indivíduos se entendem como sociedade (HARVEY, 2008).

Dessa forma, as cidades se transformaram não só pelo seu aumento populacional e sim também por sua dinâmica, como os modos de produção, a relação campo-cidade, as relações sociais e as de propriedade (LEFEBVRE, 2011). A cidade é formada pelo conjunto de todas as matérias que nela ocorrem, que são frutos do cotidiano de seus usuários. Segundo Lefebvre, o cotidiano é o momento em que os usuários da cidade agem de forma transformadora, é na vivência que há a modalidade da presença (BARREIRA, 2009). Como cita Lefebvre (2011):

“Ela (a cidade) tem um código de funcionamento centrado ao redor de instituições particulares, tais como a municipalidade com seus serviços e seus problemas, com seus canais de informação, suas redes, seus poderes de decisão. Sobre este plano se projeta a estrutura social, fato que não exclui a os fenômenos próprios à cidade, a uma determinada cidades, e as mais diversas manifestações da vida urbanas. Paradoxalmente a cidade se decompõe de espaços desabitados e mesmo inabitáveis: edifícios públicos, monumentos, praças, ruas, vazios grandes ou pequenos”.

Lefebvre caracteriza a cidade em três princípios distintos, o vivido, o percebido e o imaginado. O vivido é o momento que as práticas espaciais garantem a reprodução social, o percebido são as significações que os espaços possuem para a sociedade, e o imaginado são ideias de renovação das práticas espaciais (HARVEY, 2008). Esses espaços possuem a capacidade de acessibilidade e também a de distanciamento, sendo a última detentora de caráter tanto de barreira quanto de defesa em oposição à interação humana, que está diretamente relacionada a apropriação do espaço; característica esta que está sendo vivenciada no atual contexto de pandemia.

3. ESPAÇOS VIRTUAIS

A internet surgiu, conforme Silveira (2004), como uma mídia em desenvolvimento pois se restringia apenas aos sistemas eletrônicos baseados em computação. Mas hoje já é tratada como uma nova mídia de massa em que alcança expressivas parcelas da população em grande parte do mundo, e chega a ser considerada parte da cultura de massa. Antes as redes eram relacionadas a pesquisas de universidades e de outras instituições, uma troca de conhecimento mais restritiva e um poder de aquisição para poucos.

De acordo com o estudo de Margarites e Sperotto (2011), que visa compreender o processo de produção da subjetividade através das interações em redes sociais. A produção da subjetividade do sujeito, de acordo com as autoras, ocorre em diversas instâncias e portanto, constitui-se de forma mutante, intercambiável e múltipla. E com o decorrer do tempo, na transformação da história, os processos de subjetivação também mudam constantemente, o que faz da produção da subjetividade do sujeito de hoje, um processo diferente de qualquer outro sujeito em outro momento histórico.

Entende-se com isso que a subjetividade é como um fluxo contínuo entre o que se existe e as possibilidades de constituição dos modos de ser. Assim, as tecnologias, instituições, produtos culturais, os espaços por onde circulamos e os grupos que convivemos, tudo nos constrói e é a todo o momento (MARGARITES & SPEROTTO, 2011).

Nesse sentido, Margarites e Sperotto (2011) expõem que tanto os espaços físicos como universidades, escola, trabalho, casa e outros, e tanto os espaços virtuais como a internet, redes sociais, sites, blogs e outros, ambos estão envolvidos no processo de produção da subjetivação do ser humano. Contudo, a internet se popularizou muito na contemporaneidade, com a finalidade de facilitar a visualização e a manutenção de conexões sociais, logo permitiu uma nova forma de comunicação em que não depende de espaço geográfico e não tem restrição de tempo para manter-se conectado no ciberespaço.

Em relação a esse contexto, Amaral (2016) explana que a socialização no ciberespaço é constituído por redes e redes que resultam em espaços de diferentes fluxos. A sociedade no ciberespaço é formada por agrupamentos humanos que coexistem na rede, o que amplia a ideia da desterritorialização e traduz em novas formas de culturas, e que implica na reconfiguração do espaço social. Através da interação social em meio a uma cultura participativa e coletiva, mas com uma perspectiva individualizada.

Essa interação social virtual para Bauman (1925), se estabelece em ambiguidade, contradições, indefinições e incompletudes. Há uma exposição ao risco e a uma fácil desconsideração com o outro, o que leva a uma leitura entre as pessoas de maneira estereotipada e coercitiva. As relações nessa visão, são menos densas, mais superficiais e passageiras, devido a percepção de que o tempo é curto, passageiro e deve ser vivido intensamente para aquele único momento.

4. ESPAÇOS FÍSICOS E VIRTUAIS NO CONTEXTO DA PANDEMIA

No contexto de pandemia as pessoas estão sendo restringidas de sua liberdade de ir e vir, e de apropriação do espaço, por conta da alta transmissão que o coronavírus possui. Dessa forma, no início da pandemia foram vetados locais e usos que não fossem essenciais para a sociedade, ficando abertos os serviços de saúde e mercados. Usos que provocam aglomerações foram totalmente vetados. Com o decorrer da pandemia, os indivíduos tiveram que se adaptar a fazerem suas atividades em um local restrito, na maioria em suas residências (as atividades que puderam ser adaptadas), situação que prejudicou as interações sociais presenciais.

Para compreender a relação das pessoas com os ambientes virtual e físico, foi elaborado um questionário, o qual se encontra em anexo, para analisar essas relações em três momentos distintos, o antes e durante da pandemia e as projeções futuras do pós-pandemia. Neste questionário há perguntas abertas, fechadas e de múltipla escolha nas quais coletamos informações referentes à dados sociodemográficos, à apropriação e emoções sentidas nos espaços físicos e virtuais, e relacionamentos.

4.1. Resultados questionário

O público amostral foi composto por 205 participantes, sendo 142 mulheres e 63 homens com idades que variam entre os 17 anos até os 80. De acordo com os dados coletados pelo itens sociodemográficos, os participantes pertencem a diferentes níveis de renda, escolaridade, estado civil e regiões do Brasil, dessa forma sendo um grupo bastante heterogêneo.

Para a exposição das informações coletadas, será feita uma análise comparativa entre 5 grupos etários, os quais são:

  • Faixa 1 — 17 aos 25 anos | 81 pessoas
  • Faixa 2 — 26 aos 35 anos | 21 pessoas
  • Faixa 3 — 36 aos 45 anos | 29 pessoas
  • Faixa 4 — 46 aos 59 anos | 43 pessoas
  • Faixa 5 — A partir dos 60 anos | 31 pessoas

Essa repartição para a análise foi escolhida por compreender que a diferença de idade influencia na visão e no uso da internet, e na apropriação dos espaços.

Logo nos dados obtidos no período antes da pandemia relacionados ao tempo de uso de internet, viu-se uma diferença notável entre os grupos. A faixa etária mais nova, em sua maioria, consomem mais de 5 horas diárias enquanto que as faixas intermediárias consomem entre 2 e 5 horas diárias e a faixa mais velha utiliza menos de 2 horas diárias.

No que foi reparado por concordância entre os grupos, foram as relações ocorridas pela internet serem mais superficiais se as compradas às presenciais. Na perspectiva da pós-pandemia, os grupos 1 e 2, as faixas mais novas em sua maioria não concordam nem discordam de que as relações serão menos superficiais, ao contrários das demais faixas que concordam moderadamente sobre o assunto.

Em relação aos espaços frequentados antes da pandemia, verificou-se uma prevalência de respostas nos ambientes: restaurantes, shoppings, casa de parentes e amigos, e uma pouquidade de respostas nos espaços como parques e lugares abertos, em oposição aos momentos durante a pandemia, já que houve um salto na utilização de ambientes abertos. Em consonância, os dados mostram que as três primeiras faixas, em sua maioria, frequentaram ambientes não essenciais durante a quarentena, a faixa 4 apresentou equilíbrio de frequência entre ambos os ambientes e a faixa 5 apresentou uma quase totalidade de frequência em somente locais essenciais.

Sobre os dados apurados no período durante pandemia, foi-se observado um aumento considerável no consumo da internet em todas as faixas, apenas a faixa 5 a exibiu em uma proporção um pouco menor do que as demais no aumento do uso. Em sequência a essa temática, foi indagado se a internet influenciou de alguma forma no seu modo de se relacionar, e todas as faixas validaram positivamente a essa questão. Expuseram a facilidade e a ajuda que esse meio proporcionou no mantimento do contato com os outros. Não apenas nesse item, mas houve uma totalidade nas respostas sobre a percepção de mudança nos relacionamentos, em que sim, foi-se reparado uma mudança negativa nas relações para as faixas 1, 2 e 5, positiva apenas para a faixa 3 e positiva mas com ressalvas para a faixa 4.

Porém mesmo com essas mudanças nas relações expressas por esse contexto foi questionado as sensações percebidas no ambiente virtual, e para essa questão as faixas 1 e 2 demonstraram sentimentos negativos como ansiedade, cansaço, desânimo, e outros para com esse ambiente. Já as faixas 3, 4 e 5 foram contrárias expondo sensações positivas como conforto, segurança, distração e menos solidão para com esse espaço. Em contrapartida, foi perguntado o mesmo para com o ambiente físico, e este foi percebido com unanimidade por sensações negativas como medo, ansiedade, insegurança e outros com esse ambiente.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi evidenciado que apesar dos meios virtuais serem bem difundidos no momento atual, ele não consegue suprir a necessidade de contato humano e a espacialidade de ambientes físicos. Por ser um meio inerte, o usuário interagindo com a tela, acaba que se torna uma atividade cansativa. Apesar de na quarentena o meio virtual ser o meio mais seguro e o meio de interação com pessoas que antes se encontravam no âmbito presencial, o público mais jovem não soube expressar se acreditam ou não que as relações sociais serão menos superficiais. Então fica o questionamento se após toda essa situação passar, as pessoas voltarão à antiga forma de relacionamentos virtuais superficiais ou irão torná-las mais profundas, palpáveis. Além dessas considerações a parte positiva é que todas as faixas etárias obtiveram aprendizados no âmbito tecnológico e pretendem continuar os utilizando por trazerem praticidade e facilidade para a vida cotidiana, como por exemplo compras online, mercado online e plataformas de videoconferência com pessoas que moram distantes. Um fator interessante é a vontade que algumas pessoas expressaram de permanecer com alguns hábitos adquiridos na quarentena, tais como higienização das compras, uso frequente do álcool em gel e uso de máscara quando o usuário estiver doente para evitar a infecção das demais pessoas; e também a permanência de frequentar novos espaços apropriados durante a quarentena, que em sua maioria consistem em espaços abertos da cidade, tal como parques.

A pandemia foi local de saudade, ansiedade, incerteza quanto ao futuro, mas também uma porta aberta para a ressignificação dos espaços e das relações nesse contexto. O processo de produção da subjetividade humana através das interações em redes sociais e pelos outros espaços, a partir do choque da mudança de realidade vivenciado, proporcionou o momento de reflexão para com as questões da vida líquida que convivemos e sobre os aprendizados sólidos que construímos. Apesar de toda a situação podemos declarar que o momento de pandemia não teve somente momentos negativos, as pessoas obtiveram um tempo de autoconhecimento, valorização das pessoas de seu convívio e dos espaços que eram de certa forma automáticos pois eram frequentes em seu cotidiano. Um resultado unânime é que as relações virtuais nunca serão iguais às presenciais, mostrando que apesar das formas de relacionamento serem diversas, a materialidade, o calor humano é um fator importante na sociedade.

BIBLIOGRAFIA

AMARAL, Inês. Redes sociais na internet: sociabilidades emergentes. Covilhã: LabCom.IFP, 2016.

BARREIRA, Marcos Rodrigues Alves. Henri Lefebvre: A crítica da vida cotidiana na experiência da modernidade. 2009. 168 f. Tese (Doutorado em Psicologia) — Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.

BAUMAN, Zygmund. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda., 2001

BAUMAN, Zygmund. Vida Líquida — 1925/ Zygmund Bauman; tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007

DA SILVEIRA, Marcelo Deiro Prates. Efeitos da globalização e da sociedade em rede via Internet na formação de identidades contemporâneas. Psicologia: ciência e profissão, v. 24, n. 4, p. 42–51, 2004.

DE ANDRADE MORETTI, Sarah; DE LOURDES GUEDES-NETA, Maria; BATISTA, Eraldo Carlos. Nossas Vidas em Meio à Pandemia da COVID-19: Incertezas e Medos Sociais. Revista Enfermagem e Saúde Coletiva — REVESC, v. 5, n. 1, p. 32–41, 2020.

FURSTENAU, Kitty Kurzawa. As mudanças sociais nos espaços urbanos com o uso da internet: a relação do uso dos espaços urbanos com o facebook. 2015, 100 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) — Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2015.

HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São Paulo: Edições Loyola, 2008.

LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Centauro Editora, 2011.

MARGARITES, Ana Paula Freitas; SPEROTTO, Rosária Ilgenfritz. Subjetividade e Redes Sociais na Internet: Problematizando as novas relações entre estudantes e professores na contemporaneidade. RENOTE-Revista Novas Tecnologias na Educação, v. 9, n. 1, 2011.

NETTO, V. de M.; PASCHOALINO, R.; PINHEIRO, M. Redes sociais na cidade, ou a condição urbana da coexistência. V!RUS, São Carlos, n.4, dez. 2010. Disponível em: http://www.nomads.usp.br/virus/virus04/?sec=4&item=5&lang=pt. Acesso em: 27 ago. 2020.

ZANON, C. et al. COVID-19: Implicações e aplicações da Psicologia Positiva em tempos de pandemia. SciELO Preprints, 2020.

ANEXO 1

QUESTIONÁRIO APLICADO

Dados sociodemográficos:

  1. Qual o seu gênero?
  • Feminino (Cisgênero/Transgênero)
  • Masculino (Cisgênero/Transgênero)
  • Prefiro não dizer
  • Outro…

2. Qual a sua idade?

3. Em qual bairro/cidade você mora?

4. Qual o seu estado civil?

  • Solteiro(a)
  • União estável
  • Casado(a)
  • Divorciado(a)
  • Viúvo(a)

5. Escolaridade

  • Ensino Fundamental II incompleto
  • Ensino Fundamental II completo
  • Ensino Médio incompleto
  • Ensino Médio completo
  • Ensino Superior incompleto
  • Ensino Superior completo
  • Pós-Graduação
  • Mestrado
  • Doutorado
  • Outro…

6. Qual a média de renda da sua casa?

  • Até 3 salários mínimos
  • Entre 4 e 7 salários mínimos
  • Entre 8 e 10 salários mínimos
  • Entre 10 e 20 salários mínimos
  • Acima de 20 salários mínimos

7. Qual a sua profissão?

Antes da pandemia:

1. Você considera as relações na internet mais superficiais se comparadas às presenciais?

  • Concordo totalmente
  • Concordo Moderadamente
  • Não concordo nem discordo
  • Discordo Moderadamente
  • Discordo Totalmente

2. Marque quais lugares da cidade frequentava no seu dia a dia, excluindo local de trabalho/estudos.

  • Parques
  • Restaurantes
  • Shoppings
  • Casa de familiar/amigo
  • Outros…

3. Costumava fazer uso de transporte coletivo?

  • Frequentemente
  • Algumas vezes
  • Nunca

Se sim, qual/quais?

  • Ônibus
  • Metrô
  • Outros…

4. Qual a sua média de tempo diário de uso de internet?

  • Menos de 2 horas
  • Entre 2 e 5 horas
  • Mais de 5 horas

5. No seu tempo livre, com qual frequência você saia de casa para encontrar pessoas?

  • Frequentemente (acima de 4 vezes por semana)
  • Algumas vezes (entre 4 e 3 vezes por semana)
  • Poucas vezes (entre 2 e 1 vez por semana)
  • Raramente (semana sim e semana não/depende da semana)
  • Nunca

Durante a pandemia:

1. Com o uso da internet neste momento de pandemia, como você percebe a influência dela na sua forma de se relacionar?

2. Qual/quais a(s) sensação(s) sentida(s) quando você está em um ambiente virtual, no contexto de pandemia?

3. Qual/quais a(s) sensação (s) sentida (s) quando você está em um espaço físico, no contexto de pandemia?

4. Qual/quais atividade(s) você mais sente falta no seu cotidiano atual?

5. Você ou alguém com quem mora faz parte do grupo de risco?

  • Sim
  • Não

Se sim, quantas pessoas e qual a idade dela(s)?

6. Sentiu alguma mudança em seus relacionamentos durante a pandemia?

Se sim, o que mudou?

7. Suas atividades se adaptaram ao home office?

  • Todas
  • Algumas
  • Nenhuma

8. Saiu de casa para alguma(s) atividade(s) não essencial(s)? As atividades consideradas essenciais por este questionário são: trabalho, farmácia, mercado/padaria e médico/exame.

  • Sim
  • Nao

Se sim, qual/quais e qual o motivo? Ex: cansou de ficar em casa, estresse/ansiedade, etc.

9. Seu uso de internet aumentou se comparado antes da pandemia?

  • Muito
  • Pouco
  • Nada

10. Obteve algum aprendizado diante do uso de alguma plataforma digital?

  • Sim
  • Não

Se sim, qual/quais plataforma(s)?

11. Dentre as seguintes atividades, quais se adaptaram a serem feitas à distância no seu cotidiano?

  • Compras online
  • Mercado
  • Encontro com os amigos
  • Família
  • Restaurante
  • Estudos
  • Trabalho
  • Outros…

12. Passou a frequentar novos espaços da cidade, que antes não frequentava?

  • Sim
  • Não

Se sim, qual/quais?

Percepção de futuro:

1. Pretende continuar com algum hábito adquirido na quarentena?

  • Sim
  • Não

Se sim, qual?

2. Caso tenha frequentado um novo lugar, pretende continuar frequentando-o?

  • Sim, pretendo continuar a frequentá-lo
  • Não, não pretendo continuar a frequentá-lo
  • Não, não frequentei nenhum lugar novo

3. Dentre as atividades que foram adaptadas no momento de pandemia, pretende manter alguma nesse novo formato?

  • Sim
  • Não

Se sim, qual/quais atividades?

4. Você acredita que as relações que ocorrem pela internet serão menos superficiais?

  • Concordo totalmente
  • Concordo Moderadamente
  • Neutro
  • Discordo Moderadamente
  • Discordo Totalmente

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