Águias do Cartago: voando alto e para além da fase de grupos

De Kaabi a Khazri, um estigma a ser quebrado. Embalados pelo passado, a Tunísia entra em campo em busca de provar o seu valor e superar o feito de 1978

Jessyanne Bezerra
Universidade do Esporte
5 min readOct 23, 2022

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Foto: Fabrice Coffrini/AFP

Ao norte do continente africano, os idiomas francês e árabe se misturam entre os habitantes. Fiéis, em predominância, ao islamismo, o país faz fronteira com a Argélia, Líbia e Itália. As Águias do Cartago abrem suas asas e aterrissam no Catar em busca de quebrar o próprio feito e finalmente passar da fase de grupos.

A Tunísia foi oficialmente declarada independente da França em 20 de março de 1956. E no mesmo ano, foi realizado o primeiro campeonato nacional de futebol. Uma forma de celebrar a independência e identidade de um povo.

As cores do uniforme tunisiano remetem à bandeira do país. O vermelho que compõe o traje tradicional da Tunísia faz menção ao sangue derramado das vidas perdidas em batalhas de resistência contra invasores e colonizadores. No lado esquerdo do peito, os jogadores carregam o escudo da Federação Tunisiana de Futebol, formado por uma águia e pelo desenho da lua e estrela presentes na bandeira nacional.

E por meio do esporte, a Tunísia reconquistou a sua identidade e cultura.

Cerca de 66 anos depois, o futebol do país é dominado pelo Espérance Tunis, sendo 31 vezes campeão do torneio nacional. Além desse, as cores dos Étoile du Sahel, Club Sportif Sfaxien e Club Africain aparecem nas arquibancadas, mostrando a diversidade da modalidade local.

E o Qatar, a Tunísia caiu no Grupo D ao lado de França, Dinamarca e Austrália.

Esta é a sexta participação da seleção tunisiana na Copa do Mundo. A vaga foi conquistada em vitória sobre Mali num placar agregado de 1 a 0 nas eliminatórias, com um gol contra do adversário.

Com um estilo característico, o jogo dos rubros pode ser classificado como explosivo e aos adversários resta esperar um jogo pegado, físico e disputado durante 90 minutos. Mas, nem sempre a paixão e a raça de jogar bola são suficientes dentro de campo.

Em comparação às outras equipes do grupo, a Tunísia não possui o mesmo nível técnico. Mas pode ser o adversário que irá arrancar dois pontos nos confrontos e sair com um de bônus. Isso se dá porque os tunisianos são uma equipe que possui o meio de campo travado e que sabe se defender bem.

Olho neles

Wahbi Khazri é um dos ídolos deste time sendo o segundo maior artilheiro da história da seleção. Exerce a função de meia-atacante, é o principal armador de jogadas da equipe e atua no Montpellier, da França. Já defendeu a seleção francesa nas categorias de base. Atualmente, com 31 anos, defende a seleção da Tunísia.

Foto: Valery Hache/AFP/Getty Images

Outro que também deve chamar a atenção é o jovem meia Mejbri, de 19 anos. Ele é um dos nomes em potencial para o futuro da seleção. O meia atua no campeonato inglês e pode ser utilizado como fator “surpresa” pelo técnico Jalel Kadri.

Curiosidades…

Na edição passada, na Rússia, as Águias de Cartago finalmente quebraram 40 anos de espera por um triunfo em Copa do Mundo com uma vitória de virada por 2 a 1 sobre o Panamá.

Pelos pés de F. Ben Youssef e Khazri, a Tunísia marcou os gols da vitória e encerrou um jejum de quatro décadas sem vencer na Copa.

Naquela edição, a Tunísia foi a equipe que mais usou jogadores no torneio. Na Rússia, todos os 23 convocados jogaram nos três jogos disputados. Isso se deveu às séries de lesões ocorridas no elenco. Em 2018, até os goleiros reservas tiveram que entrar em campo.

Ainda sobre a Copa do Mundo, a última e única vez que a seleção tunisiana tinha saído vitoriosa do campo havia sido em 1978, contra o México, por 3 a 1. Liderados por Temime Lahzami, Kaabi, Ghommidh e Ghommidh entraram para a história ao marcarem os gols que levaram a equipe a vitória. O grito de gol se tornou um grito de liberdade.

Foto: Imago/One Football

E por falar na edição sediada na Argentina, ela marcou a primeira participação das Águias do Cartago numa Copa do Mundo. Além disso, também foi a primeira vez que uma seleção africana venceu no torneio.

Era o jogo de estreia dos tunisianos e apesar da proeza, não conseguiram se classificar para as fases seguintes da competição. O que foi um banho de água fria visto que a Tunísia só voltaria a disputar uma Copa do Mundo em 1998. Os rubros também participaram das edições 2002 e 2006, mas nunca passaram da fase de grupos.

…Mais curiosidades…

Em números, a Tunísia só venceu duas vezes em 15 partidas disputadas nas seis edições que participou na Copa do Mundo.

Venceu apenas Panamá (2018) e México (1978). Depois da edição na Argentina, ficou de fora por 20 anos, retornando em 98, na França, sendo 26ª colocada.

A Tunísia foi 29ª em 2002, na Coreia do Sul e Japão. Em 2006, foi 28ª na Alemanha. O país esteve fora das edições na África do Sul e Brasil.

No total de todas as participações, a Tunísia marcou 13 gols e sofreu 25. Fez 15 jogos, com apenas duas vitórias, quatro empates e nove derrotas

…E tome curiosidade

Dois brasileiros atuaram na seleção tunisiana de futebol. E eles são reconhecidos como heróis na conquista de um dos maiores títulos das Águias do Cartago.

O ano era 2004 e a Tunísia conquistava a Copa das Nações Africanas em casa, vencendo o Marrocos por 2 a 1. Naquela época, a seleção era comandada pelo francês Roger Lemerre. Um elenco histórico que contava com dois maranhenses em campo.

Foto: FETHI BELAID/AFP/Getty Images

Antes, suas melhores participações no torneio continental africano tinham sido os vice-campeonatos de 1965 e 1996, perdendo as decisões para Gana e África do Sul, respectivamente.

Na lateral esquerda, José Clayton fazia as jogadas que levaram a Tunísia a ter um ano de ouro. Experiente com a camisa tunisiana, o eterno camisa 20 era titular da seleção e já havia disputado a Copa do Mundo de 1998 e 2002.

E a bola alçada na área sempre encontrava o Francileudo. O terceiro maior artilheiro da Tunísia é um brasileiro e que fez um dos gols contra o Marrocos, garantindo o título da Copa Africana.

Foto: Reprodução

O camisa 11 marcou 21 gols em 41 jogos pelas Águias do Cartago. O centroavante fica atrás apenas de Issam Jemaa, que marcou 36 gols e Wahbi Khazri com 24 gols.

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