A Frasqueira, enfim, agradece

Lucas Costa
Universidade do Esporte
5 min readSep 18, 2022
Foto: Gabriel Leite / UDE

Classificado. Ponto. O ABC está na Série B do campeonato brasileiro de futebol. Impossível começar qualquer crônica diferente disso. Um feito que ficará guardado nos livros e memórias.

Decisão em casa, festa na entrada e saída, adversário histórico, confiança e ansiedade. O torcedor alvinegro pôde sentir um misto de emoções durante os 90 minutos de partida, mas nenhuma delas foi a do “medo’’.

Os pessimistas e confiantes tinham a mesma opinião: O Paysandu seria um adversário difícil e que merecia respeito. Diferente do que foi veiculado em algumas mídias clubistas, nunca houve “oba-oba” ou “já ganhei” aqui em Natal. Pelo contrário, sabia-se que não poderia haver erros contra um time que foi 2º colocado na primeira fase e era favorito nessa seguinte.

Além disso, ventos e lembranças de 30 anos atrás engasgavam, preocupavam e até se temia que a história poderia se repetir quando o senhor Jefferson Ferreira de Moraes foi escalado como árbitro da partida. Porém, o apitador não atrapalhou o espetáculo.

O retrospecto de outrora favorecia o Papão e, claro, o maior investimento financeiro no elenco, mas como diz um poeta contemporâneo: “Quem vive de passado é museu”. E só o ABC se deu bem nos duelos entre eles em 2022.

Então, o torcedor que foi ao Frasqueirão levou no peito, no rosto e no grito a coragem necessária para enfrentar qualquer coisa que pisasse no gramado. O medo de perder afasta a vontade de vencer, por isso essa sensação foi apagada dos corações alvinegros.

Nada poderia machucar o ABC dentro de casa enquanto a torcida estivesse ali apoiando.

Essa é parte da sinergia que levou o time ao acesso. Elenco e torcedores estiveram juntos em 12 partidas na Série C, sendo 8 vitórias e 4 empates. Invicto em seus domínios, um verdadeiro caldeirão, onde o Papão virou papinha.

Foto: Gabriel Leite / UDE

“VAMOS SUBIR, ABC”

O jogo era o Match point, a faca e o queijo nas mãos, a reparação histórica para lavar a alma. A galera nos quatros módulos ecoavam juntas o mesmo cântico… foi na voz e na bola.

Aconteceu.

Aos 22’, Guilherme Garré — que já jogou no Remo — foi o algoz do Paysandu. Predestinado? Não sei, mas que o baixinho encanta desde sua chegada isso é certo. Agora ele vai ser pra sempre um xodó da galera alvinegra.

O arremate e o balançar da rede fez com que a ansiedade de ver o time na frente fosse embora e trouxesse outra: A da pressa.

Mas o senhor do tempo foi amigo do ABC, a ânsia terminou rapidamente e deu lugar ao alívio, felicidade e um mar de choro. O torcedor extravasou todo seu amor.

O bicolor teve raríssimas oportunidades para marcar, na mais próxima, o gigante Matheus Nogueira salvou.

Que história a desse cara no ABC. Criticado, virou patinho feio, foi para o banco e voltou a titularidade mostrando todo o seu valor na hora que o time mais precisou. Só gente grande tem essa personalidade.

Wallyson nem de longe teve uma atuação no nível que se espera dele. E ele sabe disso, estava no semblante dele a cada cruzamento errado ou passe que não saia na medida.

Porém existe algo místico entre o camisa 11 e as noites de Frasqueira lotada. Será as ondas de Ponta Negra o impulsionando? A lua iluminando e dando poderes ao astro alvinegro? Alguma mágica do próprio mago?

O gol de Garré acontece após passe de Wallyson, o desvio na zaga deixa ela pronta para a finalização do meia, que encheu o pé e imortalizou seu nome com a ajuda do ídolo da casa.

Até quando não está em um bom dia, ele é decisivo e fundamental. Craque é craque, né pai?!

Por falar em caras essenciais, a fila para pedir desculpas a Fernando Marchiori já está aberta. Ele tinha um plano e botou para funcionar.

Se é bonito, se agrada a maioria dos torcedores e imprensa, se você acha que poderia ser diferente, não interessa a ele. O professor foi sereno em suas coletivas dia após dia e mostrou que sabia o que estava fazendo, o resultado de agora é a prova.

Méritos para ele e sua comissão técnica. Conseguir esse feito com uma rodada de antecedência é para quem sabe trabalhar e tem competência. Vale lembrar, o ABC nunca esteve fora do G8 na primeira fase, e quem achava pouco isso, agora o time está na cara do gol para tentar o bicampeonato da Série C.

Atura ou surta.

Sem Marchiori essa defesa intransponível não teria chegado a esse nível. Com o capitão Richardson como pilar, podia entrar Ícaro, Afonso, Patrick, até o presidente que ela funcionaria bem de qualquer forma. Um esquema tático que prioriza a defesa para que o ataque não tenha que trabalhar demasiadamente.

Reis e Varão se transformaram nos cães de guarda oficiais do treinador, os senhores do meio de campo. Vançan cumpriu bem o seu papel, mesmo sem o ritmo de Felipinho. Marcos Vinícius gastou todo o gás, suou e batalhou.

Alguns deixaram a desejar, Fábio Lima não rendeu na partida, Lucas Douglas ainda busca regularidade no seu nível de atuação. Ainda assim, se esforçaram.

Se você passar por alguém e ela estiver cantando, toda risonha e de bem com a vida, pode apostar, essa pessoa é torcedora do abc. A festa no Maria Lamas Farache começou bonita e terminou ainda mais.

A Frasqueira agradeceu. Série B, o mais querido está de volta.

Ao Paysandu, que azar, sempre chegando tão perto da B, mas o time escorrega novamente para a frustração da torcida bicolor.

Para quem trabalhou com metas o ano todo, pode riscar todas como cumpridas na agenda. Não caiu, se classificou e agora subiu.

Tá na hora de ir atrás do Bônus, a famosa cereja do bolo… a taça de campeão.

Foto: Gabriel Leite / UDE
Foto: Gabriel Leite / UDE

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