A renovação espanhola à sombra dos gigantes
Os campeões de 2010 chegam ao Qatar com uma seleção renovada, bem diferente daquela que encantou o mundo há 12 anos
Quando a escalação da Espanha aparecer nas telas no dia 23 de novembro, o espectador menos atento pode se surpreender. Quem não acompanhou os espanhóis desde o Mundial da Rússia, talvez se pergunte onde estão Piqué, Sergio Ramos, Iniesta, David Silva, Isco ou De Gea.
Renovação
Os jogadores mudaram, mas o time que irá representar a Espanha no Mundial do Qatar possui o mesmo DNA das equipes que transformaram a história do futebol do país com as conquistas da Eurocopa (2008 e 2012) e da Copa do Mundo de 2010.
Se comparar com o plantel campeão do mundo, a atual equipe comandada pelo técnico Luis Enrique sofreu mudanças em quase todos os setores. Além disso, a “Fúria” de 2022 tem os jovens como protagonistas.
Pedri (Barcelona, 19) e Gavi (Barcelona, 18, vencedor do Golden Boy 2022) são titulares no meio-campo, Eric Garcia (Barcelona, 21) comanda a defesa, e as últimas convocações tiveram Yeremi Pino (Villarreal, 19) e Nico Williams (Athletic Bilbao, 20) como surpresas.
As boas atuações pelos clubes e na Eurocopa, em 2021, aceleraram o processo de amadurecimento e confiança, tendo em vista que esses atletas, que deveriam liderar a equipe apenas a partir da Copa de 2026, já serão as estrelas no Qatar.
Desde quando Luis Enrique voltou ao comando da seleção em novembro de 2019, a Espanha disputou três competições — duas Ligas das Nações e a Eurocopa de 2021 — chegando às semifinais em todas elas.
A atual seleção espanhola tem outra característica que a torna parecida com as gerações vencedoras das últimas décadas: a falta de um supercraque midiático. Quem procura por um jogador da grandeza de Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar ou Mbappé no elenco ficará frustrado.
Esquema de jogo
Durante praticamente todo o ciclo de preparação, a Espanha jogou num sistema 4–3–3. Os atacantes — tanto o centroavante quanto os dois pontas — são os “primeiros defensores” e voltam para ajudar os três meio-campistas.
Nesta segunda linha, é provável que Luis Enrique aproveite o entrosamento do trio do Barcelona e utilize Busquets, Pedri e Gavi, todos especialistas no jogo de posse de bola que caracteriza a equipe. Rodri, do Manchester City, é outra opção do treinador.
Um dos atletas mais experientes do elenco, Koke se tornou dúvida para o Mundial. O meio-campista sofreu uma lesão muscular na última partida do Atlético de Madrid. De acordo com apuração divulgada pelo jornal espanhol “Marca”, o jogador só deve estar recuperado em cerca de três semanas. Nesse caso, o atleta seria liberado pelo departamento médico cerca de uma semana antes do começo da Copa.
O trio de ataque que deve começar jogando no Qatar também preocupa o treinador espanhol por uma razão específica: a falta de minutos de jogo em seus clubes. Morata é titular do Atlético de Madrid, mas Pablo Sarabia e Ferran Torres são reservas no PSG e no Barcelona. Outras opções para o setor, como Marco Asensio (Real Madrid) e Ansu Fati (Barcelona), passam pelo mesmo problema.
Nas laterais, ainda há dúvidas sobre os veteranos Jordi Alba e Carvajal. Nas últimas partidas, foram testadas opções como José Gayà, o também veterano Cesar Azpilicueta e até Marcos Llorente, volante de origem, que já jogou como lateral-direito no Atlético de Madrid.
Outra característica da equipe é o uso intenso do goleiro nas saídas de bola. Na Eurocopa, o goleiro Unai cometeu um erro grotesco contra a Croácia, ao não dominar um passe de Pedri que acabou em gol contra. Na mesma competição, ele conseguiu se redimir e ganhou o apoio de Luis Enrique para seguir como titular. Fechando a zaga espanhola, estão os centrais Eric Garcia e Pau Torres.
À sombra dos gigantes
Nos torneios em que construiu sua fama internacional nos últimos anos, a Espanha contava com atletas de primeiro nível do futebol mundial, como Fernando Torres e David Villa; Iniesta, Xavi e Xabi Alonso; Puyol, Sergio Ramos e Piqué; além, é claro, do goleiro e capitão do título mundial, Casillas.
No Qatar, como podemos observar, a história será diferente. A ideia do treinador e da comissão técnica era que houvesse um período de transição, e que os jovens fossem pouco a pouco ganhando espaço. Não foi possível.
A renovação de um elenco campeão não é simples. Mesmo improvisando e pulando etapas, a Espanha chega à Copa no Qatar com a esperança de surpreender o mundo mais uma vez. Veremos!