Chiaki Ishii, o samurai olímpico

Lucas Thiago
Universidade do Esporte
4 min readJun 26, 2024

Conheça o japonês naturalizado brasileiro, detentor da primeira medalha olímpica do judô brasileiro e que abriu as portas para o caminho vitorioso no esporte

Primeiros sonhos

Dojô da família Ishii, no Japão (Imagem: Divulgação/Comitê Olímpico Brasileiro)

Nascido em 1 de outubro de 1941, na cidade de Ashikaga, em Tochigi, Chaiki Ishil iniciou o judô aos 6 anos com o pai, Yukichi Ishii e os irmãos. Na educação, Chiaki se formou em pedagogia na Universidade Waseda, em Tóquio.
O judoca tinha o sonho de representar seu país nos jogos olímpicos, e ficou perto de realizar o feito nos jogos de 1964, disputado em Tóquio - o primeiro com a presença da modalidade. O atleta participou nas seletivas, mas perdeu na final para Isao Okano, que virou campeão olímpico posteriormente. Após o drama, foi influenciado por seu irmão, Isamu, a sair do Japão e buscar seus sonhos do outro lado do mundo.

Recomeço no Brasil

Após quase dois meses a bordo de um navio, o japonês desembarcou no Porto de Santos, em maio de 1964, com duzentos dólares, um quimono e a esperança de ser bem sucedido. Foi de Santos para uma fazenda em Presidente Prudente, colônia agrícola onde morou, trabalhou e despertou o sonho de ser fazendeiro.
Com o dinheiro ganho, trouxe sua namorada para o Brasil, porém os problemas financeiros apareceram em seguida. Para sobreviver, Chiaki começou a participar de lutas na comunidade. Lutava sumô para ganhar dinheiro ou às vezes até um saco de arroz.
A qualidade de Chiaki chamou a atenção da Confederação Brasileira de Pugilismo, que era responsável pelo judô no Brasil. Augusto Cordeiro, o então presidente da entidade, sugeriu que ele se naturalizasse brasileiro para poder participar de competições oficiais.

Naturalização e Títulos

Após se tornar cidadão brasileiro, o atleta venceu torneios por toda a América do Sul, mas conseguiu seu maior destaque ao vencer para a Europa e disputar o Campeonato Mundial na Alemanha, realizado em Ludwigshafen no ano de 1971. Conseguindo a medalha de bronze , credenciou-se para uma vaga na equipe olímpica nacional.

Foto: Acervo Guanabara Filmes

Na Alemanha novamente, Ishii teve a tão sonhada chance de disputar os jogos olímpicos, e de buscar a primeira medalha para o judô brasileiro. Nos Jogos Olímpicos de Munique, foi às vésperas de completar 31 anos e só se lembrou da conquista da medalha de ouro.
As duas três primeiras lutas foram rápidas, vencendo a primeira em apenas 16 segundos, a segunda em 38, e a terceira não tão rápida assim, mas sem dificuldades. No quarto confronto, contra o alemão ocidental Paul Barth, que lutava em casa, foi até o fim, sendo decidido, pelos jurados, na bandeira (hantei).
Na repescagem, Ishii enfrentou outro alemão, dessa vez oriental, Helmut Howiller. Em 57 segundos, o adversário foi derrotado por ippon e Chiaki Ishii estava garantido para o Brasil um bronze.
Seguindo as regras da época, Ishii ainda teve a chance de disputar as semifinais, mas foi derrotado. De qualquer forma, a história foi feita. O judô brasileiro conquistou, pela primeira vez, uma medalha olímpica.

Chiaki Ishii durante luta nos Jogos Olímpicos (Imagem: Divulgação/Comitê Olímpico Brasileiro)

Legado

Imagem: Reprodução/Acervo Estadão

Chaiki abriu as portas para as conquistas olímpicas do judô brasileiro. Muitos atletas buscaram seus ensinamentos e se prepararam em suas academias, e desde 1984 que o Brasil sobe no pódio olímpico. Para os futuros atletas, que representarão o Brasil assim como Ishii fez há 50 anos, ele recomenda que se dediquem e que acreditem, “pois o sensei acreditou, se dedicou e conseguiu.”

O sensei Uichiro Umakakeba, um dos mais renomados do Brasil, disparou elogios para Chiaki.

“Ele era um pouco violento para o padrão brasileiro. Era muito forte, jogava forte, o volume de treinamento dele era acima do normal. A gente treinava todo dia e toda hora, fazia treino técnico, treino físico, tudo com muita seriedade e rigor”, lembra.

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