Dias de luta

Quem vê o atual Flamengo, campeão da América, respeitado e temido por seus adversários, pode até pensar que sempre foi assim. Não foi. O Rubro-negro carioca conseguiu colocar seu nome mais uma vez na taça da Libertadores em 2019, mas antes de reencontrar a glória, sofreu eliminações duras como em 2012, na fase de grupos.

Lucas Costa
Universidade do Esporte
5 min readApr 8, 2020

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(Foto: espn.com.br / Getty images)

Há quase 8 anos, um Flamengo comandado em campo por nada mais, nada menos que Ronaldinho Gaúcho, começava sua jornada no maior torneio do território sul-americano. Empolgada e ansiosa, a torcida do time carioca tinha esperança que pelos pés e magia do Bruxo, o clube poderia chegar mais uma vez ao patamar mais alto do continente.

Além do Bruxo, o time contava com jovens da base e jogadores mais experientes como Léo Moura, Deivid e Vagner Love.

No ano anterior, entre altos e baixos, o clube conseguiu um terceiro lugar no Brasileirão de 2011, que deu ao time o direito de disputar a fase pré-Libertadores do ano seguinte. Mas 2012 iniciou turbulento na Gávea.

Mesmo com a classificação para a fase de grupos pelo agregado de 3 a 2 contra o Real Potosi, a presidente na época, Patrícia Amorim, no início de fevereiro demitiu o técnico Vanderlei Luxemburgo após várias divergências entre ele, a diretoria e alguns jogadores do elenco, inclusive com Ronaldinho. Pesou para o treinador, que teve de arrumar suas malas e sair.

Quem assumiu seu lugar foi Joel Santana, com a missão de arrumar o time e fazê-lo jogar bola não só na Libertadores, como também no Campeonato Carioca.

(Foto: Rafael Cavalieri / GLOBOESPORTE.COM)

No Carioca, o time não empolgou, mas conseguiu chegar na fase semifinal da Taça Guanabara, quando enfrentou o Vasco e perdeu por 2 a 1. Jogo marcado pela chance perdida por Deivid, atacante no Flamengo, que praticamente em cima da linha do gol, sozinho, se atrapalhou e não conseguiu empurrar a bola às redes.

Já na Libertadores, a estreia na fase de grupos aconteceu fora de casa frente ao Lanús. O time entrou no melhor estilo “Papai Joel” de ser, com quatro volantes para dar liberdade aos laterais no ataque. E deu certo — pelo menos na primeira etapa — , Léo moura abriu o placar no final do primeiro tempo, porém, na segunda etapa, os donos da casa empataram e acabou 1 a 1.

Na segunda rodada, o Rubro-negro recebeu o Emelec, no Engenhão. Pelo placar mínimo, o mandante saiu vencedor do confronto por 1 a 0. No estádio era possível ouvir muitas vaias, principalmente, destinadas a Ronaldinho pelo futebol pouco produtivo apresentado. Mesmo com a vitória no sufoco, o Flamengo agora se encontrava em situação momentaneamente confortável.

O próximo jogo era contra o Olímpia, novamente no Rio de Janeiro, era a chance de engatar mais uma vitória e disparar no grupo. E o Flamengo fez o dever de casa… até os 30 minutos da etapa final. O time contava com Vagner Love numa boa fase e foi guiado por esse bom momento do atacante que o time, mesmo não sendo brilhante, abriu 3 a 0 e parecia que a noite seria tranquila.

Porém, apenas pareceu.

Quando ninguém esperava, o Olímpia foi ao ataque, diminuiu e empatou o placar em poucos minutos. Aos 31 minutos, 3 a 1. O time paraguaio não descansou e marcou o segundo aos 38. E a vitória que parecia certa, escapou aos 43 minutos no empate dos visitantes.

Numa noite que a festa estava praticamente garantida, o Flamengo bobeou e criou uma situação perigosa em relação a classificação, tendo pela frente dois jogos fora de casa.

Se em casa o Flamengo não fez seu dever, o Olímpia fez o dele e venceu por 3 a 2. Para depender apenas dos próprios esforços, o Flamengo viajou para o Equador sabendo que precisava ganhar do Emelec.

Num bom primeiro tempo, em que apresentou calma e paciência com a bola, os rubros-negros venceram parcialmente por 2 a 1. A volta do intervalo prometia ser dura, o Emelec também precisava vencer para se manter vivo na competição.

O jogo pegou fogo, e com os dois treinadores fazendo alterações nos times, o técnico do Emelec conseguiu fazer o time ir para frente em busca do resultado. Joel acabou se perdendo e complicando o time quando colocou o zagueiro Gustavo e tirou Deivid do ataque.

Atraiu ainda mais o adversário para a sua meta, com isso não teve jeito, o time equatoriano empatou e aos 45 minutos da etapa final e quando a situação não podia piorar, piorou.

Willians fez um pênalti bobo que os equatorianos não perdoaram e anotaram o 3 a 2. Essa foi a primeira vitória do Emelec contra um time brasileiro na história da Taça Libertadores da América.

A situação do Flamengo para última rodada era desesperadora e dependia de uma série de combinação de resultados além, claro, de precisar vencer. O adversário foi o já classificado Lanús e o roteiro era claro: vitória obrigatória contra os argentinos e torcida para um empate entre Olímpia e Emelec, pois em caso de vitória de qualquer nesse confronto, o Flamengo seria ultrapassado na pontuação.

Foi nesse cenário que o time carioca começou a última partida no Engenhão. Sem sustos, o Fla venceu os argentinos por 3 a 0 e fez sua parte. Porém, ao mesmo tempo rolava a partida entre Olímpia e Emelec.

O jogo permaneceu empatado em 1 a 1 até os 42º minutos da segunda etapa. Esse resultado era ótimo para o Rubro-negro, pois garantia a improvável classificação dos brasileiros. Mas os equatorianos fizeram 2 a 1. Nesse momento o jogo do Flamengo já havia acabado e os jogadores estavam no gramado esperando o resultado da partida entre os outros dois times.

(Foto: Autor desconhecido)

A partir daí começa um dos momentos mais traumáticos para o torcedor flamenguista. Léo Moura, ídolo do time, em entrevista começa acompanhar a narração do jogo. Aos 46 minutos, o Olímpia empatou a partida, para a felicidade do lateral e da torcida. Num misto de felicidade e ansiedade esperando que o jogo acabasse, Léo continua escutando a partida.

O Emelec corre para o ataque após levar o gol, e num escanteio cobrado achou o terceiro gol e agarrou a segunda vaga do grupo às oitavas.

Léo Moura ouvindo o gol ficou sem acreditar, perplexo. No campo, Vagner love chorava ao lado do goleiro Felipe. Em entrevista pós- jogo, Joel Santana disse que o Fla foi eliminado pelos “Deuses do Futebol”.

A torcida que viu Gabigol marcando contra o River Plate nos acréscimos é a mesma que viu seu time eliminado com um gol também nos acréscimos em 2012 e também em 2017, contra o San Lorenzo.

Foram muitos dias de luta do torcedor rubro-negro até poder chegar aos dias de glória.

Um casamento que deu errado (Foto: REUTERS/David Mercado)

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Lucas Costa
Universidade do Esporte

Estudante de jornalismo da UFRN, ouvinte por natureza e péssimo atleta