Dinastia Verde: LOUD crava seu nome na história do CBLOL

Supera o Exodia? Organização conquista tricampeonato e torna-se a primeira equipe a vencer três títulos em sequência no Brasil

André Luís
Universidade do Esporte
9 min readSep 24, 2023

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LOUD celebra a conquista do tricampeonato do Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLOL) em sequência no Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães em Recife, Pernambuco (Foto: Bruno Alvares e Cesar Galeão/CBLOL)

Como se define uma dinastia? Buscando na internet uma das primeiras definições caracteriza como “sequência hierárquica de indivíduos que, possuindo a mesma função, se sucedem no poder”.

Partindo deste princípio, trazendo para o âmbito dos esportes, esse poder está análogo a sucessivas conquistas de títulos nacionais, continentais ou internacionais. Inserindo no contexto dos eSports, reflete totalmente em uma dominância absoluta no cenário local, regional ou mundial.

Dentro do cenário de League of Legends, a G2 instaurou sua dinastia no continente europeu em duas oportunidades conquistando quatro vezes a Liga Europeia de League of Legends (LEC). Durante os anos de 2018 e 2019, a Team Liquid com extrema dominância reinou na Liga Norte-americana conquistando o tetracampeonato.

O cenário brasileiro sempre teve equipes com indícios de dominância, aquela equipe que no papel era dito como o verdadeiro “Dream Team”.

Historicamente a line-up da INTZ em 2016, popularmente conhecido como “O Exodia”, dominou com extrema facilidade o cenário brasileiro durante aquele período e sempre foi apontada como a maior equipe do Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLOL). Não somente pelo bicampeonato, mas em si pelo gap absurdo nas partidas e a discrepância em relação as outras equipes da competição.

Abaxial, Jockster, Tockers, Yang, Revolta e micaO na conquista do primeiro split do CBLOL no Estúdio da Riot Games em São Paulo (Foto: Bruno Alvares e Pedro Pavanato/Riot Games Brasil)

Equipes como Flamengo (2018–2019) e RED Canids (2021–2022) tiveram certas expectativas de repetirem o feito histórico do Exodia, mas ambos bateram na trave em suas oportunidades.

Tratados somente como uma organização de criação de conteúdo, que apenas existia no cenário do Free Fire, a LOUD chegou ao CBLOL na era das franquias. Marcada por uma pergunta:

o que uma organização que só cria conteúdo e dancinha pra TikTok veio fazer aqui?

Em sua estreia no CBLOL foi montada uma equipe forte no papel com quatro campeões brasileiros: Igor “DudsTheBoy” Lima, Rodrigo “Tay” Panisa, Matheus “dyNquedo” Rossini e Denilson “Ceos” Oliveira. Na teoria, esse time era cotado para o título, mas na prática em Summoner’s Rift amargurou uma decepção extrema.

Nos seus dois primeiros splits disputados, a LOUD caiu de forma precoce nos playoffs. Protagonizando o primeiro reverse sweep da história da competição, a equipe caiu para a paiN no primeiro jogo do mata-mata. Já no segundo split, novamente no primeiro confronto eliminatório, a Verduxa se despediu das chances de disputar o título, sendo superada pela Rensga por 3 a 0.

A LOUD precisou mudar sua metodologia, era necessário se equilibrar a criação de conteúdo com o competitivo, com a balança pendendo mais a suas equipes profissionais. Entendeu-se que a equipe precisava de mais, era necessário pensar mais alto.

Após serem campeões pela paiN em 2021, Robo e tinowns deixaram a organização e acertaram com a LOUD para o CBLOL de 2022 (Foto: Divulgação/LOUD)

Na janela de transferências para 2022, a organização acertou as chegadas do meio Thiago “tinowns” Sartori e o topo Leonardo “Robo” Souza, considerados os melhores de suas posições no Brasil, que haviam saído de forma conturbada da paiN Gaming. DudsTheBoy e Ceos permaneceram na equipe, enquanto Tay foi deslocado para atuar na selva da equipe.

O início da equipe foi considerado um verdadeiro fiasco. Sem conquistar sua vaga nos playoffs, a entrada da LOUD no League of Legends era tratada como um decepção extrema. Principalmente por ser uma equipe com grande alcance midiático, atraindo um número extenso de torcedores e pelas equipes montadas com grandes nomes desde então. Ainda faltava alguma coisa.

O que faltava para finalmente encaixar no LoL? Mais uma vez foi preciso pensar grande e a LOUD não hesitou ao modificar drasticamente sua equipe para o segundo split. O sul-coreano Park “Croc” Jong-hoon chegou para assumir a selva e o atirador Diego “Brance” Amaral foi promovido do Academy, enquanto Duds e Tay deixaram a organização.

LOUD conquista o seu primeiro CBLOL após vence a paiN por 3 a 0 no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo (Foto: Divulgação/LOUD)

Enfim, a LOUD emplacou no CBLOL. Mesmo não sendo tratada como favorita ao título em razão das campanhas nos últimos splits, a equipe chegou aos playoffs parando somente na final diante da paiN Gaming em São Paulo. Em um sonoro 3 a 0, a LOUD impôs um gap extremo diante dos tradicionais e conquistou o seu primeiro título brasileiro.

Mesmo com a saída de Brance para o Fluxo e a chegada do sul-coreano Moon “Route” Geom-su, a equipe não deixou de ser a mesma. A temporada de 2023 foi definitivamente o ano da consolidação da LOUD no competitivo cenário brasileiro de League of Legends. Com extrema dominância durante os dois splits. Apontado por analistas e até mesmo jogadores do cenário, uma das melhores equipes da história, podendo se equivaler a histórica INTZ de 2016.

Novamente por 3 a 0, a LOUD bateu a paiN e conquistou o bicampeonato do CBLOL em final realizada no Estúdio da Riot Games em São Paulo (Foto: Bruno Alvares/Riot Games Brasil)

Dois títulos conquistados impondo um gap absoluto durante a fase de pontos e os playoffs, não existia equipe capaz de parar o ímpeto verde no Brasil. Cenário idêntico ao vivido pelo Exodia, simplesmente duas equipes impossíveis de serem batidas nacionalmente.

Com zero brechas para o paiN Gaming nas duas oportunidades, a LOUD stompou sem dó os tradicionais e cravou de vez o seu nome na história do CBLOL em apenas três anos desde sua entrada no cenário. Igualando-se a própria paiN, com mais de 10 anos disputando o campeonato, em número de conquistas.

O Ginásio de Esporte Geraldo Magalhães foi escolhido como palco da grande final do segundo split do CBLOL de 2023, retornando ao Nordeste após seis anos. (Foto: Bruno Alvares/Riot Games Brasil)

Foi no Ginásio de Esporte Geraldo Magalhães, em Recife, Pernambuco, no calor do Nordeste brasileiro, o palco histórico da consolidação da LOUD. Pela primeira vez uma equipe foi tricampeã consecutiva do CBLOL desde a sua criação em 2012, conquistando o feito que equipes como INTZ (2016), KaBuM! (2018) e RED Canids (2021–22) não conseguiram.

O dia 9 de setembro de 2023, de fato, ficou marcado historicamente não somente para o cenário competitivo, mas como também para os atletas.

Quis o destino que o palco da sua primeira conquista, fosse o mesmo da sua consagração como o maior vencedor da história do CBLOL, ao lado do atirador Felipe “brTT” Gonçalves, que se aposentou no final de 2021. Seis anos atrás, recém-chegado no cenário, Robo conquistou o seu primeiro título em Recife, pela RED Canids, em 2017. Novamente a capital pernambucana tornou-se memorável para o jogador do topo, nesta ocasião erguendo sua sexta taça.

Robo conquistou títulos por RED Canids (primeiro split de 2017), Flamengo (segundo split de 2019), paiN Gaming (primeiro split de 2021) e LOUD (segundo split de 2022 e primeiro e segundo split de 2023).

Na cidade onde conquistou seu primeiro CBLOL, Robo levantou o seu sexto título de CBLOL e tornou-se o maior campeão da historia em atividade (Foto: Bruno Alvares e Cesar Galeão/CBLOL)

“Mas, sem dúvida nenhuma, ganhar seis títulos e empatar com ele é muito bom para mim. Eu me sinto muito feliz, porque é muito difícil ser campeão. Todo mundo tenta te derrubar dali, ainda mais ganhar em sequência assim. Quando você está em primeiro, todo mundo quer ganhar de você. Eu agradeço ao time por toda a dedicação. Foi bem difícil” — comentou Robo em coletiva pós-jogo

Com mais de 10 anos de competição de League of Legends, Tinowns se consolidou como o principal nome da posição nas últimas temporadas. Depois de viver do céu ao inferno na paiN com derrotas dolorosas e o peso de substituir um ídolo na equipe, o atleta vive o verdadeiro paraíso verde na LOUD desde que chegou a organização, emplacando o tri justamente contra a sua ex-equipe.

“Às vezes por jogar muito tempo você acaba ficando meio confortável, às vezes você não arruma uma motivação para continuar. Então é bem difícil se manter esse tempo todo. Tanto que a maioria dos jogadores que começaram comigo já não joga mais, a maioria virou streamer ou está fazendo outra coisa da vida” — declarou o meio da LOUD durante coletiva

Após uma saída conturbada na paiN, Tinowns se consagrou na LOUD sendo três vezes campeão em cima da ex-equipe (Foto: Bruno Alvares e Cesar Galeão/CBLOL)

Agora com cinco títulos nacionais no currículo, ultrapassando o histórico Tockers e consolidando-se como o maior vencedor da posição, Tinowns não pensa em parar e segue motivado por mais.

“O que eu posso falar é que eu continuo motivado para ganhar ainda mais aqui no Brasil e vivo com o sonho de fazer uma representação boa lá fora para o Brasil” — comentou Tinowns no final da série

Após bater na trave em 2021 pela Rensga, Croc ainda passou pela Miners, mas foi na LOUD onde veio a consagração de um dos maiores imports do CBLOL (Foto: Bruno Alvares e Cesar Galeão/CBLOL)

Se existia alguma dúvida acerca de quem seria o maior import da história da competição, Croc fez questão de por um fim nesse debate no Recife. O caçador chegou ao Brasil no segundo split de 2021 para atuar pela Rensga, onde chegou a grande final sendo superado pela RED Canids na ocasião.

No ano seguinte, seguiu em território brasileiro para atuar pela Miners, onde foi o melhor jogador da equipe e considerado o destaque da fase de pontos. Porém nos playoffs acabou caindo no primeiro mata-mata.

Croc foi anunciado pela LOUD para o segundo split com a grande missão de solucionar o calcanhar de Aquiles da equipe: a rota da selva.

O sul-coreano mais “abrasileirado” superou o compatriota Chang-hoon “Luci” e o francês Hugo “Dioud” Padioleau em títulos, sendo agora o mais vencedor jogador estrangeiro. Com o feito histórico, Croc cravou seu nome no CBLOL superando grandes nomes como Park “Winged” Tae-jin e Lee “Shrimp” Byeong-hoon.

“É legal que os fãs e todo mundo que nos apoiam digam que eu sou o melhor import que jogou no Brasil, mas eu não sinto nada especial. Tiveram jogadores muito bons antes, então só estou feliz de ser comparado com eles como o Shrimp e outros” revelou Croc durante a coletiva de imprensa

Desde o início da LOUD na modalidade, Ceos pode ser considerado ídolo da organização com sua constância, sendo pilar da equipe tricampeã (Foto: Bruno Alvares e Cesar Galeão/CBLOL)

Único remanescente da primeira line-up da LOUD no League of Legends, Ceos sempre foi elogiado pela comunidade desde sua passagem pela RDP, em 2019, mas faltava algo. Apesar da conquista pela KaBuM!, em 2020 na pandemia, o suporte não tinha de fato marcado época no cenário.

Ceos viveu diferentes fases na equipe, entre idas e vindas, o jogador seguia performando bem apesar das adversidades. Com o acerto nas contratações, o suporte se consagrou no tricampeonato da LOUD, com a marca de nunca ter perdido uma final. Foram quatro disputadas com quatro vitórias.

“Por eu estar aqui desde o começo, eu vejo muita gente falando isso (ser ídolo da equipe) e que eu nunca abandonei a “org” (organização). Eu me sinto muito lisonjeado, porque, desde que eu entrei na LOUD, sempre senti que eles eram uma organização muito boa, que mereciam ser campeões. Eu sempre pensei que, não importava o que acontecesse, iria tentar dar esse título para eles. Eu estou feliz que eu consegui fazer isso e que muita gente me considera ídolo”, revelou Ceos.

O atirador Route chegou para suprir a saída de Brance em 2023 e logo caiu nas graças da torcida da LOUD (Foto: Bruno Alvares e Cesar Galeão/CBLOL)

Tratado como incógnita quando começou a ser especulado na organização, em razão da equipe necessitar se adaptar em questão de estilo de jogo e linguagem, o sul-coreano Route não deixou questionamentos e necessitou de pouco tempo para se encaixar no time e consagrar-se como o melhor atirador no Brasil em 2023.

Com base no seu princípio de fazer barulho desde sua fundação, a LOUD fez mais do que barulho no competitivo de League of Legends, ela entrou pra história de vez com o tricampeonato consecutivo inédito. Se não a melhor, essa line-up pode de fato ser considerada uma das maiores equipes da história do LoL brasileiro, equiparando-se ao histórico Exodia da INTZ.

Se existia algum questionamento sobre o que uma organização de criação de conteúdo veio fazer no CBLOL, a LOUD pôs fim a essas interrogações instaurando a sua hierarquia: a dinastia verde.

Da mesma forma que aconteceu no VALORANT, eles não querem somente fazer barulho nacionalmente, eles querem estremecer o mundo.

Com apenas três anos disputando a franquia do CBLOL, a LOUD conquistou o tricampeonato igualando equipes antigas do cenário como paiN e RED Canids (Foto: Bruno Alvares e Cesar Galeão/CBLOL)

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André Luís
Universidade do Esporte

Contando algumas histórias por ai. Jornalista em formação pela UFRN e membro do Universidade do Esporte.