Em busca de outra boa surpresa

Adsson Santos
Universidade do Esporte
4 min readOct 26, 2022
Quinn Rooney/Getty Images

Se você é um jovem fã de futebol, seria perdoado por pensar na Costa Rica como uma seleção tradicional do futebol. Afinal nos últimos 20 anos, La Sele ficou fora de apenas uma Copa do Mundo, mas sucesso e Costa Rica nem sempre foram sinônimos.

A equipe era conhecida apenas por ter uma mentalidade forte e pouca qualidade técnica. A Costa Rica só disputou sua primeira Copa do Mundo em 1990.

Os costarriquenhos se beneficiaram da ausência do México e ficaram com uma das duas vagas da região. E se enganou quem pensava que a estreante seria o saco de pancadas em um grupo com adversários tradicionais.

Pelo contrário, a seleção da América Central vendeu caro a derrota para o Brasil, além de vencer Suécia e Escócia. O destaque era Luis Gabelo Conejo, goleiro que fechou a meta dos Ticos naqueles três jogos. Conejo não pôde enfrentar a Tchecoslováquia nas oitavas de final por causa de uma lesão. Eliminado com a goleada por 4 a 1, Conejo acabou consolado com o prêmio de melhor goleiro daquele Mundial, ao lado de Goycochea.

Em toda a história do futebol na Costa Rica, que começou por volta de 1876, sem margem de dúvidas, a imagem do seu maior jogador é Keylor Navas. O goleiro que figura entre as grandes estrelas do mundo e tem suas raízes fortes no país caribenho.

Navas começou sua carreira no Deportivo Saprissa, e conquistou por seis temporadas a liga nacional da Costa Rica, além de uma Copa da CONCACA, ele se transferiu para a Albacete Balompié.

A maioria das pessoas dirá que o clímax de Navas aconteceu durante a Copa do Mundo de 2014. quando o arqueiro permitiu a sua seleção sonhar. Existem goleiros excelentes que se tornam intransponíveis em grandes jogos e em certas circunstâncias, as atuações irrepreensíveis se tornam lendárias.

O começo daquela campanha foi bem parecido com 1990, porém, com contornos bem épicos. Assim como no Mundial da Itália, a Costa Rica deveria ser atropelada em seu grupo, o primeiro da história com três ex-campeões mundiais.

Não apenas passou de fase, como terminou os embates contra Itália, Inglaterra e Uruguai de forma invicta, além de ter sido a primeira colocada da chave. Ao invés de um adversário mais duro como a Tchecoslováquia de 1990, encontraria a Grécia.

Apesar da pressão sofrida desde a metade do segundo tempo, quando os Ticos ficaram com um jogador a menos, conseguiram levar a decisão para os pênaltis e triunfar. Não há exagero nenhum em dizer que a melhor campanha da Costa Rica na história das Copas só foi possível através da perfeição atingida pelo camisa 1 ao longo do torneio.

O costarriquenho possuía atuações sensacionais na carreira, em decisões e em conquista de títulos. Mas as atuações no Mundial pavimentaram o caminho para que Navas entrasse definitivamente para a eternidade do seu pais sendo lembrado entre os melhores goleiros deste século.

Se a campanha espetacular na Copa do Mundo poderia ser considerada o ponto alto de Navas, após o torneio de seleções o goleiro chegou ao Real Madrid e se colocou de vez entre os principais jogadores da posição no mundo.

Por mais difícil que tenha sido chegar ao topo, ficar lá foi mais complicado ainda. Dessa forma, Keylor conseguiu se tornar um capitão na forma mais verdadeira da palavra, provando novamente que seu valor era muito maior do que imaginam.

Depois de duas temporadas como reserva, justamente no primeiro ano como titular, acabou apontado por muitos como o melhor da posição no Campeonato Espanhol. Se tornou uma peça fundamental na maior era de sucesso recente do Real Madrid. Na seleção que havia perdido nomes importantes, como Saborío e Oviedo, o arqueiro se tornou a principal estrela.

A Copa de 2022 será o último ato do sua jornada em Mundiais. A trajetória rumo ao Qatar, não foi tão fácil a e Costa Rica esteve perto de ser eliminada — foi impossibilitada de se classificar diretamente pelas campanhas de Canadá, México e Estados — , e disputou até o fim a quarta colocação com o Panamá, posição que daria a vaga na Repescagem Intercontinental.

Na reta final, o técnico Luis Fernando Suárez ajustou a equipe e escalou uma formação renovada para aproveitar ao máximo as virtudes das suas principais figuras. Hoje, a seleção é uma mera coadjuvante com uma mescla entre os seus ícones e alguns jovens jogadores que ainda podem e devem demonstrar talento.

Esse final pode até parecer um anticlímax — o final perfeito seria finalmente vencer a Copa do Mundo, ser o melhor jogador da competição e se tornar o primeiro jogador na história do seu país a conduzir a seleção a conquista uma inédita.

Mas às vezes o final perfeito é apenas assistir seu herói caminhando em direção ao horizonte, eternamente grato por tudo que ele fez. Eternamente grato por tornar o futebol um esporte melhor para cada novo torcedor ao longo dos anos.

Um herói, símbolo nacional exemplo para muitas pessoas, por ser ele mesmo, um ser humano, admitindo-se falho, caçado e até às vezes duvidoso. Por nos fazer ver que às vezes, lendas podem caminhar entre nós como seres humanos.

Viver nos tempos de Messi e Cristiano fez com que as pessoas tomassem como garantidos atletas incríveis, mas devemos nos lembrar da sorte que tivemos de viver nos tempos em que presenciamos um menino de short, sem camisa, brincando com uma bola se tornar maior jogador da história de seu país , se alguém é capaz de impedir o que estava por vir, é ele.

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