Hugo Sánchez: o dentista mais goleador do mundo!

Natural da Cidade do México e com 66 anos recém-completados, começou a carreira no futebol mexicano, passou pelos Estados Unidos e, na Espanha, ganhou a fama de “Hugol”

Gabriel Gomes
Universidade do Esporte
6 min readOct 5, 2023

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Antes de se tornar profissional, Hugo Sánchez Márquez seguiu os passos do seu irmão Horácio nos Jogos Olímpicos de Montreal de 1976. Após o irmão marcar presença em Munique em 1972, com 18 anos, Hugo participou das Olimpíadas e marcou um gol na derrota para a França por 4 a 1.

Depois da campanha, o novo atacante mexicano se profissionalizou e teve a oportunidade de vestir a camisa do Pumas. Engana-se quem imagina que Hugo só tenha começado a fazer gols no futebol espanhol, porque na curta carreira pelo Pumas, ele marcou 97 vezes em 188 jogos e indicava que o maior atacante da história do país estava surgindo com a camisa dos Felinos, onde conquistou dois títulos nacionais e uma Copa dos Campeões da Concacaf.

Durante a sua trajetória vestindo a camisa do Pumas, o jogador foi estudar odontologia na Universidade Nacional Autônoma do México, dona do Pumas, por incentivo da sua mãe. Ela tinha medo do jogador não dar certo e ficar sem nada no futuro.

Em um movimento raro para o futebol atual e por questões políticas, Hugo usava as suas férias para atuar nos Estados Unidos, o que abriu portas para realizar o seu grande sonho de atuar no futebol europeu. Pelo San Diego Sockers, clube que foi extinto em 1996, o atacante mexicano marcou 26 gols em 32 jogos e seguiu com uma média impressionante que perduraria por toda a sua carreira.

Com uma Olimpíada e o título dos Jogos Pan-Americanos de 1975, Hugo Sánchez foi um dos artilheiros da Seleção Mexicana nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1978, com quatro gols marcados, e levou a sua seleção para a Copa disputada na Argentina. Porém, a sua fama em Mundiais começou a dar sinais em 1978, com três jogos disputados, três derrotas e nenhum gol marcado.

Antes da Copa do Mundo de 1982 (o México não se classificou para o Mundial), o jogador teve propostas do Arsenal e do Atlético de Madrid, mas pelo idioma, cultura e a edição da Copa ser disputada na Espanha, o jogador optou pelos colchoneros. Com a sua chegada em Madri, o estudante de odontologia foi pedir um estágio no Centro Europeu de Odontologia para ter prática na área. Em entrevista à ESPN, o jogador revelou que o trabalho servia para tirar a pressão das partidas.

“Isso me servia para tirar a pressão depois dos jogos do Atlético e do Real Madrid. Quando eu colocava o avental, eu não me sentia como um futebolista, mas como o doutor Sánchez (risos). Não me conheciam tanto como dentista como futebolista, mas pelo menos me servia para relaxar e para sair do estresse. Tive oportunidade de cuidar da boca de vários colegas de Real e do Atlético e dos seus familiares. Foi uma experiência muito bonita”, disse Hugo.

Hugo Sánchez ficou conhecido como o dentista mais famoso do mundo e fez propagandas nos anos 80

No Atlético de Madrid, Hugo jogou por quatro temporadas. Apesar do primeiro ano bem abaixo para o que produzia no futebol mexicano e americano, Sánchez começou a deslanchar na sua segunda temporada no clube, com o título da Copa do Rei e dois gols que garantiram a vitória por 2 a 1 sobre o Athletic Bilbao, além da artilharia do Campeonato Espanhol, com 19 gols em 33 jogos disputados.

Com a artilharia e o título da Copa do Rei, Hugo Sánchez recebeu a proposta tentadora do Real Madrid. Porém, com o contrato acabando com o Atlético de Madrid, o rival dos merengues vendeu o jogador para o Pumas UNAM por 200 milhões de pesetas (moeda corrente da Espanha entre 1869 e 2002) e, dias depois, o jogador foi comprado pelo Real Madrid por 250 milhões de pesetas. O torcedor colchonero obviamente não gostou dessa transferência, ainda mais pelo mexicano que colocou 50 mil pessoas no Santiago Bernabéu, no dia 19 de julho de 1985.

Adaptado ao futebol espanhol, Hugo Sánchez encontrou o caminho perfeito para se tornar uma grande lenda do Real Madrid. Com excelente posicionamento, visão de jogo e suas famosas cabeçadas, Hugo se juntou a Emilio Butragueño e iniciou uma parceria histórica no clube. Em 1985/86, os merengues conquistaram o Campeonato Espanhol e o atacante foi artilheiro pela segunda vez no certame, marcando 22 gols em 33 jogos. Além disso, o Madrid conquistou o título da Copa da UEFA — atual Europa League — com dois gols na remontada histórica contra a Internazionale e o primeiro gol na final contra o Köln, da Alemanha.

Com o título da Copa da UEFA, o jogador viveu o grande sonho de disputar uma Copa do Mundo em casa. Em 1986, na estreia da seleção mexicana, Hugo Sánchez marcou o primeiro gol da partida e o seu único gol em mundiais contra a Bélgica. A Copa de 1986 foi a melhor campanha do México em Copas, igualando a edição de 1970, quando parou nas quartas de final para a Alemanha.

A tradicional cabeçada da Águia Asteca em seu único gol em Mundiais

Pode-se dizer que Hugo Sánchez viveu a sua grande emoção na Copa do Mundo de 1986. No auge da sua carreira, o México foi impedido de disputar a Copa do Mundo de 1990, devido ao “Escândalo dos Cachirules”, quando a FIFA descobriu a irregularidade do México de disputar as Eliminatórias para o Mundial sub-20 de 1989, com quatro jogadores acima da idade permitida. Em 1994, o jogador voltou a disputar o Mundial, porém veterano e jogou apenas uma partida contra a Noruega.

Sem poder viver o seu maior momento com a seleção mexicana, Hugo se transformou com a camisa branca. Com cinco títulos seguidos do Campeonato Espanhol, uma Copa do Rei e três Supercopas da Espanha, Hugo foi um dos maiores goleadores desse período, conquistando o troféu Pichichi (de maior artilheiro da La Liga) em cinco oportunidades. Na temporada de 1989/90, um recorde que durou 21 anos: 38 gols em 35 jogos no Campeonato Espanhol, com uma média impressionante de 1,09 gols por jogo. O recorde foi superado por Cristiano Ronaldo, na temporada de 2010/11, quando marcou 40 gols em uma edição de La Liga.

Além desse recorde, Hugo Sánchez deixou mais alguns antes de se despedir do Real Madrid. Foi o único jogador a ser artilheiro da La Liga por quatro temporadas consecutivas, que foi igualado por Lionel Messi entre 2017–2020. Com lesões no início dos anos 90, o jogador voltou para o América do México e continuou a ser importante com sete gols na campanha do título da Liga dos Campeões da Concacaf de 1992. Após a curta passagem pelo América, o jogador retornou ao futebol espanhol para defender as cores do Rayo Vallecano. Com 16 gols em 29 jogos no Campeonato Espanhol, Hugo está entre os cinco maiores goleadores da La Liga, com 234 gols em 347 partidas, atrás de Lionel Messi (474), Cristiano Ronaldo (311), Telmo Zarra (251) e Karim Benzema (238).

Na sequência, Hugo defendeu as cores do Atlante-MEX, Lask Linz-AUT, Dallas Burn-EUA e encerrou a sua carreira no Atlético Celaya, no México, ao lado dos seus companheiros de Real Madrid: Butragueño e Míchel. Como treinador, Huguito viveu experiências pelo Pumas, Necaxa, Almería, Pachuca, México sub-23 e até a seleção mexicana, vencendo o Brasil na Copa América de 2007. A marca registrada da lenda azteca foi ser um dos grandes goleadores do Real Madrid, do futebol espanhol e mexicano, como o dentista mais goleador do mundo, com 506 gols em 870 jogos disputados na carreira.

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Gabriel Gomes
Universidade do Esporte

Estudante de Jornalismo na UFRN, apaixonado por falar e escrever sobre o futebol.