INFERNO PARTICULAR

Em temporada cheia de erros, América é rebaixado e jogará novamente a Série D em 2024

Hildo Nogueira
Universidade do Esporte
5 min readAug 28, 2023

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A vergonhosa atuação no Presidente Vargas não foi um acaso. O América fez uma competição terrível do início ao fim e mereceu — sem dúvida alguma -, o rebaixamento para a Série D do Campeonato Brasileiro. A sucessão de erros cobrou a conta em um ano que poderia ser de retomada após o histórico acesso de 2022. Mas quais erros foram esses?

Atuação apática e derrota justa no Presidente Vargas. Foto: Gabriel Leite/UDE

A manutenção de parte da espinha dorsal do elenco campeão brasileiro no ano anterior poderia ser aceitável para o início da temporada sem tantos desafios grandes. Com isso, em tese, poucas contratações seriam necessárias para dar um bom padrão à equipe, com a condição de serem de boa qualidade, algo que o América não conseguiu adicionar para potencializar o seu elenco.

As decepções na Copa do Nordeste, frente ao CSA, e na Copa do Brasil contra o Iguatu, deixaram claro que muita coisa precisava mudar. O América demorou. Na sequência, algo que justificou a demora: a constituição da SAF, que poderia ser o ponto de virada alvirrubro na temporada. Não aconteceu.

No início dessa nova era, um título estadual, depois da fraca final contra o ABC, animou o torcedor para o principal desafio do ano: A Série C do Campeonato Brasileiro. O trabalho do técnico Thiago Carvalho estava apenas começando, mas já trazia o peso de ter sido tirado do Caxias via pagamento de multa rescisória após o vice-campeonato Gaúcho. O novo comandante substituiu Leandro Sena, que não repetiu 2022 e colecionou fracassos e más atuações nos poucos jogos de maior relevância em 2023. Dessa forma, a troca parecia necessária e muito promissora. Porém as coisas não aconteceram conforme se imaginava.

A demora nas contratações atrapalhou o início do alvirrubro na terceira divisão. Óbvio que isso deveria ter sido agilizado antes, pois com tantas mudanças, o resultado normalmente precisa de um tempo para aparecer. O pior de tudo é que quando foram feitas, as alterações no elenco não surtiram nenhum efeito dentro de campo. O América seguiu colecionando resultados e atuações ruins e o sonho de acesso nutrido por muitos torcedores foi aos poucos se tornando preocupação. A briga era mesmo contra o rebaixamento.

O trabalho de Thiago Carvalho se mostrou ruim e não dava perspectivas de melhora. O jogo em casa contra o Confiança (derrota por 1 a 0) parecia ser o ponto final. Pagaram para ver. Em meio a tantos erros, a insistência com o técnico goiano foi o maior deles. Ele montou um time que se propunha a ser ofensivo, mas que não conseguia criar situações de gol. Além disso, deixava muitos espaços nos quais os adversários se aproveitavam para machucar o América. Sem dúvida alguma um dos piores trabalhos já vistos em terras potiguares.

Mas quando acontece um rebaixamento com tão fraco desempenho, a culpa sempre tem que ser dividida ou então se tem vários motivos que expliquem os maus resultados. Um deles é o péssimo elenco montado pelo alvirrubro durante a competição. A SAF Americana, que participou mesmo que de forma extra-oficial, foi muito mal nesse processo.

Poucos atletas se destacaram na competição, o que se viu mesmo como foi um leque terrível de opções, seja por falta de qualidade de alguns ou porque outros simplesmente decepcionaram. O América esperou mais de um mês a regularização de Matheusinho, com a esperança de ser o camisa 10 que faltava para melhorar a criação de jogadas da equipe.

O jogador que veio do futebol do Sudão terminou a competição no banco, depois de ter perdido gols incríveis na estreia contra o Altos e no penúltimo jogo contra a Aparecidense. Fora ele, vários outros deram agonia ao torcedor que sofreu com as más atuações, casos de Léo Rafael, Renan Gorne, Álvaro, Gustavo Ramos, Rael, Luan Sales, Vini Guedes, Araújo, Frank … É muita gente que jogou bem abaixo do nível que o campeonato exigia.

Já em caráter emergencial, chegou o técnico Dado Cavalcanti, que assumiu após a queda de Thiago, demitido no dia seguinte à derrota em casa para o Manaus. O treinador (ex-Náutico) sabia da missão de salvar o time da queda e tentou consertar a defesa.

No primeiro momento, o América aparentou ser uma equipe mais segura nesse setor, mas com as mesmas dificuldades no ponto de vista ofensivo. Era necessário vencer partidas, coisa que com Dado só se conseguiu uma única vez.

Além de vários erros de tomadas de decisão dentro dos jogos, os jogadores pareciam cada vez menos confiantes com a situação na tabela. Mesmo assim, os resultados dos adversários ajudaram e os Rubros chegaram na penúltima rodada com a necessidade de vencer para depender só de si na última partida. Não conseguiram. Com vários gols perdidos, o empate contra a Aparecidense obrigava o América a vencer o Floresta em Fortaleza para escapar do descenso.

E aí se chega ao último jogo, que representou de forma fiel a péssima campanha Americana na Série C 2023. O desempenho não iria mudar da água para o vinho, mas a postura deveria ser outra para ganhar e escapar. O torcedor se fez presente, e diga-se de passagem, torcedor esse que é o único que deve ser parabenizado nesse ano caótico do América.

O Alvirrubro teve a maior média de público do campeonato, levando mais de 100 mil torcedores nos 9 jogos como mandante. Isso para acompanhar um time que passou praticamente o campeonato inteiro na zona de rebaixamento e que nunca conseguiu uma sequência de vitórias dentro da competição.

Não foi por falta de apoio … / Foto: Gabriel Leite/UDE

Dentro de campo, o esforço da torcida não passou perto de ser recompensado. O América ficou praticamente o jogo inteiro sem conseguir agredir o Floresta, mesmo com a necessidade da vitória.

Muitos erros de passe, falta de coragem para sair jogando e um time que aparentava não ter alma para reverter uma situação complicada. Entre vários jogos ruins, deixou para fazer o seu pior quando mais precisava do resultado positivo.

Dado Cavalcanti escalou mal (Rael e Araújo quase até o fim do jogo) após dizer que não iria inventar na coletiva pós-jogo da Aparecidense e conseguiu adicionar suas digitais na queda. Diante desse cenário, não há o que se contestar desse justíssimo rebaixamento.

A campanha de 19 pontos, com apenas 4 vitórias e o segundo pior ataque da competição já deixa bem claro que tudo sempre esteve errado.

Com a queda se encerrou a conturbada temporada do Alvirrubro Natalense. Da forma mais melancólica possível, voltando para a última divisão, de onde tanto penou para sair.

Muitas lições devem ser tiradas para que as enormes falhas não sejam repetidas e o acesso venha logo na primeira tentativa dessa vez. Em 2024, o América irá completar 10 anos de sua última participação na Série B do Brasileiro e terá passado 7 desses anos na última divisão. Quanto mais tenta se afastar, mais se aproxima. A Série D é cada vez mais o inferno particular do América Futebol Clube.

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