Lanterna dos Afogados e o América em 2023
“Eu tô na lanterna dos afogados,
Eu tô te esperando,
Vê se não vai demorar.”
Em 1953, Jorge Amado deu a um dos capítulos do seu romance “Jubiabá”, o título de “Lanterna dos Afogados”. O trecho mostra o bar “Cais do Porto”, onde as esposas dos pescadores esperavam os trabalhadores da ficção com lanternas, sempre ajudando-os a encontrar o caminho correto.
Em 1989, Paralamas do Sucesso referenciou o título de Jorge Amado em uma das canções do seu álbum “Big Bang”, imortalizando, assim, a “Lanterna dos Afogados” na música brasileira. O que a música dos Paralamas tem a ver com a situação do América em 2023?
“Uma noite longa, pra uma vida curta… mas já não me importa, basta poder te ajudar”
O elenco americano decepcionou sua apaixonada nação vermelha e branca desde o início da temporada. Atuações desastrosas culminaram em eliminações precoces na Copa do Nordeste e Copa do Brasil. Porém, o futebol é guiado pelo amor. Pela sensação de poder mover os 11 jogadores que carregam no peito o escudo do time amado, com a força do grito ecoado nas arquibancadas.
E em 2023, o craque da temporada certamente foi o torcedor americano. Dos cinco maiores públicos registrados no Rio Grande do Norte, três deles estão na conta da torcida Alvirrubra. Além disso, o torcedor que viu o América ser rebaixado mais uma vez para a série D, garantiu a maior média de público da terceira divisão do Campeonato Brasileiro (11.208 em 9 jogos), além da maior quantidade de torcedores em uma única partida (21.735 presentes).
Para a massa americana, a ligação torcedor/estádio vai além dos resultados. No final das contas, o sentimento de contribuição é muito maior do que a razão.
“Há uma luz no túnel dos desesperados, há um cais no porto pra quem precisa chegar”
O ano americano foi um desastre em diversos aspectos. O planejamento da diretoria pode ser questionado no início da temporada, com a escolha de permanecer com boa parte do elenco campeão da série D em 2022. No meio da temporada, com a contratação de Thiago Carvalho e aval dos dirigentes para compra de diversos jogadores que não somaram em nenhum momento com o elenco. E ao fim da temporada, com a mudança de comando técnico nas últimas rodadas da série C.
O América, que começou o ano “Hypado” com a participação da SAF prometendo o maior orçamento da terceira divisão em 2024, viu o dinheiro investido em 2023 escorrer em suas mãos diretamente para a zona abissal do futebol brasileiro.
Após o fim do jogo que selou o rebaixamento, nenhum dos responsáveis pela direção americana quis se pronunciar, e o torcedor ficou mais uma vez sem respostas. Cabine de dirigentes cheia, clima acalorado entre gestores da SAF e presidência americana, mas silêncio ensurdecedor dos principais culpados, no que a gente pode nomear de “vexame pintado em vermelho e branco”
Com uma tão sonhada volta a série C jogada no lixo após 6 anos no calabouço da série D, a esperança que fica é de que, embora no momento a visão de diretoria, elenco e torcida esteja extremamente turva e escura devido ao forte golpe sofrido, o América enxergue uma luz no fim do túnel apontando para um lugar que nunca deveria ter saído.
“Eu tô na lanterna dos afogados, eu tô te esperando, vê se não vai demorar”
A “Lanterna dos Afogados”, escrita por Jorge Amado e eternizada em forma de canção por Paralamas do Sucesso, é acima de tudo um recado de esperança. Não porque a missão é fácil, afinal, voltar para um local de onde você jamais desejaria ter saído requer sacrifício e muita luta.
Luta representada no vermelho forte e vistoso que compõe a camisa e escudo americano, além da sua enorme torcida que, independente da maré agitada e seguindo os passos das apaixonadas esposas do Cais do Porto segurando suas lanternas para auxiliar no retorno, grita para os quatro cantos do mundo “Estou te esperando, América. Vê se não vai demorar”.
