MUITO ALÉM DO FUTEBOL

Flavio Samuel
Universidade do Esporte
3 min readDec 7, 2022

Com gol de pênalti de Hakimi, Marrocos conta com os filhos da diáspora para fazer história na Copa do Mundo

Por serem separados apenas pelo estreito de Gibraltar, Marrocos e Espanha, mesmo sendo tão diferentes sempre estiveram interligados. Principalmente no início do século XX, quando o território de Marrocos foi dividido em dois.

A maior parte ficou com o domínio francês, mas a parte norte do país africano ficou dominada por espanhóis. A ocupação das duas colônias durou até 1956, mas até hoje as ligações permanecem. Marrocos e Espanha são parceiros econômicos, o turismo de ambos os lados e as empresas ibéricas na região africana fazem com que os países sejam grandes parceiros comerciais.

No entanto, uma questão ainda gera muita polêmica, ainda mais quando se fala das diferenças culturais. É que no norte de Marrocos passa uma das principais rotas de refugiados ilegais, e por isso a Espanha mantém em território Marroquino duas cidades, são elas Ceuta e Melilla. Que com muros enormes separam a fronteira entre os dois países e são conhecidas como a “porta dos fundos” da Europa.

O confronto desta terça-feira, pelas oitavas de final da Copa, não trazia só divergência culturais e geopolíticas, mas também de estilos de jogo.

A seleção marroquina, montada por filhos da diáspora, contando com 14 jogadores nascidos fora de seu território, mescla muito bem a qualidade técnica com o empenho na organização defensiva, e de forma surpreendente passou em primeiro num grupo com Croácia e Bélgica. Invictos queriam fazer mais uma seleção europeia como vítima.

Do lado espanhol, os comandados por Luiz Henrique jogam o bom e velho jogo de posição. Já enraizado a várias gerações, tanto os meninos quanto os veteranos se sentem à vontade com esse tipo de estilo. Mas a falta de objetividade e capacidade de acabar as jogadas em gols continuavam a assombrar mais uma geração espanhola.

A partida no Estádio da Educação colocou todas essas diferenças no maior destaque. E o resultado não seria outro. Com lados positivos e negativos, os dois estilos se anularam. A qualidade e paciência da Espanha com a bola, esbarrava na competência e disciplina de Marrocos na hora de marcar.

Mesmo com características diferentes as duas seleções se assemelham no placar. 0 zero não saiu do placar mesmo com 120 minutos do mais intenso futebol. E sobrou para os pênaltis, decidir quais dos vizinhos sairiam vencedor.

Na hora que mais precisou, Marrocos clamou aos filhos distantes, que não fugissem da responsabilidade de representar sua cultura. Yassine Bounou, nascido no Canadá, joga na Espanha, mas foi com a camisa dos Leões do Atlas que entrou para história. O goleiro de Marrocos demonstrou muita técnica e preparo, acertou o canto em todas as cobranças dos espanhóis. Pegou dois pênaltis e deixou meio caminho andado para a classificação.

Com o placar de 2x0 favorável nas cobranças, sobrou para o grande nome da geração marroquina decidir. Achraf Hakimi era o nome da vez. Nascido em Madrid, filho de marroquinos. Fez no Real fez sua categoria de base, hoje é destaque de Paris. Mas no Catar, o filho pródigo da diáspora converteu o pênalti da Classificação para Marrocos.

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