O começo da última dança

Adsson Santos
Universidade do Esporte
3 min readJun 3, 2022

No mundo do esporte, vencer resolve qualquer problema, como os conflitos internos no elenco, os erros dos técnicos, os endividamentos e até os deslizes de gestão da franquia, estes até passam a ser vistos como um “passo necessário” na reconstrução até a vitória.

E a boa notícia é que, o Golden State fez as escolhas difíceis, depois de anos de planejamento indeciso e atitudes desconectadas da realidade alimentadas pela certeza de que em algum momento conseguiriam remontar o super time e vencer tudo de novo, o Golden State Warriors está em mais uma final.

Com a vitória por 120 a 110 sobre o Dallas Mavericks, o Golden State Warriors conquistou o título da Conferência Oeste e marcou sua 6ª aparição em finais da NBA nos últimos oito anos. A história lembrará esta temporada como uma continuação da dinastia Golden State, especialmente se eles conquistarem seu quarto título da NBA em menos de uma década.

Porém, os Warriors passaram por muita coisa nos 1.079 dias desde sua última aparição nas finais. A vitória sobre o Dallas não foi apenas uma noite incrível de sucesso. Mais do que isso, ela foi o momento central que justifica todas as escolhas anteriores, que arruma todos os equívocos e que silencia todas as dúvidas. A confiança em Klay Thompson que para muitos não teria mais talento suficiente para executar um papel de tanto protagonismo num time com sonhos de título? Pagou-se com arremessos fundamentais na hora decisiva.

A chegada de Andrew Wiggins, abrindo mão de D’Angelo Russell e condenando a franquia a extrapolar o teto salarial e pagar multas milionárias por anos a fio? Recompensada com momentos brilhantes de defesa individual e influência direta no que foi os piores jogos de pós-temporada do armador Luka Dončić.

Manter o técnico Steve Kerr depois de temporadas anteriores em que ele pareceu triturado pelos ajustes criativos dos outros treinadores e teve que lidar com a alcunha de “teimoso”? rendeu um misto ideal de consistência e inventividade que apenas os grandes times conseguem alcançar e certamente não existiria tanto uma defesa quanto um ataque versáteis e dinâmicos se não fosse por Draymond Green.

Por fim — e mais importante -, a aposta em Stephen Curry. No futuro, ninguém jamais verá sua presença em Golden State como uma aposta: vão chamar a confiança depositada no jogador de “óbvia” e de “evidente”, como se tê-lo fosse sempre a resposta certa em todos os momentos de sua carreira. Mas não foi.

Curry chegou à NBA como uma incógnita, um potencial inacreditável que ninguém sequer sabia se era capaz de jogar basquete. A esse risco somou-se , o de torná-lo o exemplo máximo de um modelo de jogador que entrou no imaginário da NBA na última década, “os especialistas em bola de 3”.

Foi preciso confiar que esse jovem atleta de 1,90m de altura conseguiria jogar um basquete completo, da armação à finalização, do rebote defensivo à cesta adversária, o de acreditar que ele poderia ser um jogador dominante na NBA mesmo sem ser ativo no garrafão numa era do basquete em que esse era o arremesso mais desejado da NBA.

Na prática, sabemos que alguns times não têm chances reais de ter essas vitórias redentoras, mas não podemos ignorar o impacto SIMBÓLICO que um título ir parar em Golden State tem para as outras franquias passando por dificuldades, se comprometeram com Curry até o final, torrou todo o dinheiro possível para construir e manter esse elenco, e aumentou seu valor de mercado em 1 bilhão em uma década.

Tudo que elas precisam é de uma justificativa para sonhar mais alto e arriscar de acordo, e certamente o Warriors será usado como justificativa em muitas reuniões nos próximos anos — se já não tiver sido em muitas reuniões anteriores. O time mudou nossa percepção do tempo — mostrando que é difícil julgar as coisas no instante em que acontecem.

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