O constrangedor ABC de 2024

Hildo Nogueira
Universidade do Esporte
5 min readApr 3, 2024

Atuações ruins, eliminações e decisões erradas: os problemas de um clube sem rumo

A decepção de Erick Varão e a comemoração do adversário: Nada muda no ABC / Foto: Gabriel Leite / UDE

O ABC saiu de 2023, mas 2023 ainda não saiu do ABC. O torcedor alvinegro tem a impressão de assistir um filme repetido justamente na temporada que deveria ser de reconstrução após um retumbante fracasso na Série B. Mas como nada é por acaso e o trabalho continua mal executado, as coisas também não andam dentro de campo.

No início da temporada, a direção apostou em Rafael Lacerda, que fez bom trabalho no Amazonas. Junto a ele, alguns jogadores indicados para a montagem do plantel da atual temporada. Marcelo Segurado continuou após trabalho ruim no ano passado, agora com uma pré-temporada, a possibilidade de montar um elenco praticamente do zero e a esperança de uma configuração melhor para 2024. Essa dobradinha não se mostrou boa. O elenco formado ficou aquém das expectativas e nunca rendeu bom desempenho.

A manutenção que não deu certo: Marcelo Segurado montou elenco fraco para 2024 / Foto: Rennê Carvalho / ABC FC

Apesar das classificações na pré-copa do Nordeste e primeira fase da Copa do Brasil, sempre foi um ABC jogando no limite, flertando com o fracasso. As atuações nunca convenceram, mas o resultado de certa forma auxiliava na sequência de Rafael. A partir do momento que isso mudou, a crítica, justa, veio pesada. A derrota na final do primeiro turno para o América, seguida do empate na estreia da segunda fase contra o Potyguar Seridoense deram um ponto final a passagem de Lacerda pelo ABC. Passagem que ficou marcada por uma longa sequência sem vitórias, erros grandes na leitura de alguns jogos e escolhas questionáveis por parte do técnico, que chegou a dizer que não sabia mais o que fazer para mudar o panorama. E não sabia mesmo.

Rafael Lacerda não conseguiu render no maior desafio de sua carreira / Foto: Gabriel Leite / UDE

Vale ressaltar que quando as coisas não dão certo dentro de campo, treinador e diretoria têm suas parcelas de culpa, mas os jogadores também não podem ser isentados. Apesar do questionamento a escolha das peças, os atletas poderiam ter entregado mais. Com o nível de estrutura do alvinegro, principalmente comparado aos rivais locais e de enfrentamento, em um campeonato estadual fraco como o Potiguar, o ABC deveria ter jogado muito melhor. Sofreu para vencer várias partidas contra equipes menores, o que já era um aviso de que os resultados positivos poderiam parar de vir.

Recentemente, Marcelo Cabo foi contratado e é bem verdade que não teve muito tempo para mudar a atual conjuntura do Mais Querido. Chegou um dia antes do mata-mata da Copa do Brasil contra o Brusque, e acabou eliminado nos pênaltis após uma boa atuação. Deu esperança, mas depois a equipe voltou ao normal. Dois jogos seguidos contra o América, com empate e derrota, revés contra o Sport na Copa do Nordeste, vitória quando jogou muito pouco contra o River, até chegar no importante duelo contra o Santa Cruz no campeonato estadual. Recorte pequeno sobre o novo treinador, mas que escancarou a necessidade de contratações de bom nível.

E aí veio mais uma atuação destacadamente terrível. Dominado do início ao fim, o alvinegro perdeu por 1 a 0 contando com grande atuação de Carlos Eduardo e uma sorte danada. Abril começa com o ABC eliminado do Campeonato Potiguar. Isso mesmo, antes da última rodada do segundo turno e obviamente sem chegar às semifinais. E realmente o dia 1° de Abril pode ser considerado o Dia da Mentira, pois existe a possibilidade do Baraúnas — equipe que concorre diretamente com o ABC — , perder pontos no tribunal de Justiça desportiva por uma suposta escalação irregular do atleta Ramon. Caso se confirme, o time presidido por Bira Marques pode voltar ao Campeonato com chances reais de classificação.

Por falar em Bira, que começou tão bem seu mandato no Alvinegro de Ponta Negra, a forma como parece estar terminando é melancólica. Todas as criticadas decisões da diretoria também são de responsabilidade da presidência: elenco mal formado, rebaixamento, fracassos consecutivos no Campeonato Estadual, ingressos caros que explicam em parte o afastamento do torcedor abecedista do Frasqueirão. Por tudo isso e outras reclamações que certamente o torcedor alvinegro tem a fazer, o trabalho do presidente vem sendo mal avaliado já há algum tempo. E de maneira justa.

O presidente Bira Marques conta com pouco prestígio junto ao torcedor / Foto: André Luís / UDE

Com a óbvia constatação de que está tudo errado no ABC, a sequência da temporada não parece nada animadora para a torcida. O esporte chamado futebol tem suas particularidades, e uma delas é de que as coisas mudam muito rápido. O alvinegro pode voltar ao campeonato, emplacar bons jogos, ser campeão e até conseguir o acesso no fim do ano, mas isso só vai acontecer se o trabalho iniciar a ser bem feito com urgência. Atualmente o clube está sem diretor de Futebol, e Bira precisa acertar no nome escolhido. O ABC vem de uma remontagem em 2023 e outra montagem no início do ano que foram muito ruins. Com o barco andando, pode ser mais difícil, mas é preciso ser assertivo para qualificar o elenco atual, que possui muitas carências. Esse deve ser o principal passo a ser dado para que a temporada possa ser salva, pois daria melhores condições de trabalho ao técnico, possibilitando a oportunidade de desempenhar melhor e chamar o torcedor de volta para o seu lado.

Mas não dá para cobrar que após tantos erros, o torcedor alvinegro acredita neste momento na mudança necessária para o sucesso da equipe abecedista. Só o tempo irá dizer se o final será melhor, mas o que dá pra afirmar sem medo é que até aqui o ano de 2024 do ABC é constrangedor em todos os aspectos.

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