O maio mais triste

O quinto mês do ano de 2024 ficará marcado pela partida de três lendas do jornalismo esportivo

Hildo Nogueira
Universidade do Esporte
4 min readMay 21, 2024

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Entre as últimas horas do dia 15 e as primeiras de 16 de maio de 2024, o sentimento de tristeza tomou conta dos amantes do jornalismo esportivo. Três ícones da profissão deixaram este mundo após uma enorme contribuição baseada entre tantas coisas, na genialidade. Washington Rodrigues, o Apolinho, Antero Greco e Sílvio Luiz, de maneiras diferentes cativaram as pessoas e marcaram para sempre seus nomes na história.

O legado é extenso, mas alguns momentos são eternizados na memória e fazem com que uma marca seja deixada na mente e no coração de quem acompanhou parte dessas trajetórias.

A arte de Apolinho era conseguir falar com pessoas de todas as classes sociais e ter a capacidade de se fazer entendido. Mesmo que rubro-negro assumido, era muito querido e contava com a tolerância de vascaínos, botafoguenses e tricolores por conta do seu respeitoso profissionalismo.

Com sacadas inteligentes, criou termos como “mais feliz que pinto no lixo” , “briga de cachorro grande” e “chocolate”, para se referir a uma goleada no futebol. Um de seus comentários mais geniais ocorreu na final do Campeonato Carioca de 2001.

Quando Petkovic se preparava para cobrar a falta que resultou no gol do tricampeonato rubro-regro, Luiz Penido subiu a emoção na Rádio Tupi e rapidamente chamou o comentarista. Ele teria que ser rápido e, como fez tantas vezes, fugiu do óbvio e ajudou a eternizar aquele momento.

Com um simples (?) “Acaba de chegar São Judas Tadeu” (Santo padroeiro do Flamengo), conseguiu sucintamente fazer uma contribuição perfeita e que ficou marcada para sempre na cobertura esportiva, e é claro, no coração do torcedor Flamenguista. Por essas e tantas outras, Apolinho foi um verdadeiro mestre e certamente um dos maiores do rádio esportivo Brasileiro.

Outro gigante foi Antero Greco. Filho de pais italianos, o paulista construiu uma carreira de sucesso com passagens pelos principais jornais do país, realizando grandes coberturas e sendo uma dos rostos principais da ESPN Brasil.

Inteligentíssimo, grande leitor, escritor e com ótimas análises sobre o que acontecia dentro e fora de campo, o “My Friend” como era chamado pelo seu grande amigo de bancada do Sportscenter, Paulo Soares, conquistou o respeito de companheiros de trabalho, amigos e de quem o acompanhou pela tela da TV. E não só por isso, seu jeito divertido sem que perdesse a seriedade necessária da notícia era algo sensacional.

A dupla com o Amigão durou muito tempo e não foi por acaso, a química entre os dois na bancada fazia com que as pessoas perdessem o sono por um bom motivo. No que se refere ao esporte, sem dúvida alguma foi a parceria de maior sucesso da TV fechada no país. Antero mostrou, na medida certa, que o jornalismo sério também pode ser feito com irreverência e de que estar preparado, como ele sempre esteve, facilita na realização do melhor trabalho possível. Será sempre referência para muitos que estão e que ainda virão.

Outra estrela que não brilhará mais nos microfones, mas agora lá em cima, é a de Silvio Luiz. De olho sempre no lance e com uma voz imponente, o narrador marcou gerações com seus vários bordões e comentários que misturavam humor e inteligência.

Do grito de gol com o “foi, foi, foi dele, o craque da camisa número …” que “balançou o capim no fundo do gol” até chamar a bola de “criança”, as expressões de um dos maiores locutores esportivos da história já há bastante tempo estão eternizadas.

Com muitas coberturas de Copa do Mundo e Olimpíadas, jogos da seleção Brasileira e Clubes, possui narrações extremamente marcantes. A primeira relação que é feita com o golaço de Edílson, pelo Palmeiras contra o Corinthians em 1994 é justamente a forma emocionante como Silvio narra o gol.

A chance clara perdida por Carlos Alberto Dias, do Botafogo, na final do Brasileiro de 1992 contra o Flamengo é inesquecível por conta da participação de Silvio, que mandou o “Minha nossa Senhora” seguido do “pelas barbas do profeta”.

A pintura de Dener no Canindé pela Portuguesa contra o Santos em 1993, parece que só aconteceria com a narração desse mestre. A Voz dele foi se unindo com aquela linda jogada até o inconfundível grito de gol. Essas são algumas entre tantas outras que cada torcedor guardará para sempre com muito carinho. Quando a irreverência se mistura com a genialidade, o legado deixado é eterno.

E isso serve para os três gigantes que partiram nesse maio tão triste. Foram caminhos de sucesso construídos com muito talento, é verdade, mas que só foram possíveis pelo trabalho bem desenvolvido. Não ficaram por tanto tempo em grandes veículos à toa, conquistaram seus espaços e, cada um a seu mofo, se tornou-se eterno para o jornalismo esportivo.

Seja para o rádio, TV e nas transmissões esportivas em geral, Apolinho, Antero e Silvio serão sempre referências. Buscar a inspiração, que seja um pouquinho de cada um, é um enorme passo para o sucesso que os novos na profissão precisam buscar.

A hora de dar Adeus é sempre difícil, principalmente para as pessoas próximas, sejam familiares ou amigos, ou até mesmo para aqueles em que esses gênios conseguiram criar relação mesmo há quilômetros de distância. Que descansem em paz.

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