O oito eterno

O adeus a um dos maiores craques da história do Flamengo

Hildo Nogueira
Universidade do Esporte
3 min readAug 7, 2024

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O busto, homenagem feita pelo Flamengo ao seu ídolo em 2019, foi exposto em sua despedida na Gávea / Foto: Paula Reis / CRF

No último dia 05 de agosto, nos deixou Adílio de Oliveira Gonçalves. Natural do Rio de Janeiro, era conhecido como o neguinho bom de bola ou simplesmente Brown, como era chamado pelos seus companheiros da geração de ouro por admirar as músicas e performances do famoso cantor Americano. Mas para a imensa torcida rubro-negra, ele é simplesmente Adílio, um dos maiores da história do clube mais relevante do país.

É impossível falar do homem sem relacionar com o atleta e mais ainda com o Clube de Regatas do Flamengo. Com 617 partidas disputadas, é o terceiro ser humano que mais atuou na história do time carioca. Além disso, a estreia aconteceu em 1975, com 18 anos, e deste momento até o fim da sua vida, Adílio passou a ter sua biografia escrita nas cores vermelha e preta.

Vestia a camisa oito sendo um meia, por vezes ponta-esquerda. Independentemente da função, fazia tudo com excelência dentro de campo. Junto à Zico e Andrade, formou a melhor “meiuca” que atuou com o manto sagrado. Se completavam pela qualidade, entrosamento e inteligência nas tomadas de decisão.

O Brown gostava de atacar o espaço quando lhe era generosamente concedido, mas se tivesse apenas um pouco, do tamanho de um guardanapo, escondia a bola e superava seus adversários. Ele tinha a ginga, o passe, a conclusão. Desfilava nos gramados do Brasil, principalmente no maior dos palcos, o Maracanã.

A comemoração do gol contra o Santos na Final do Brasileiro de 1983. Cansou de ser campeão pelo Flamengo / Foto: Reprodução / X @Flamengo

Ao todo, marcou 129 gols defendendo o clube da Gávea, sendo vários deles importantíssimos. No ano mágico de 1981, fez o quinto dos 6 a 0 sobre o Botafogo no chamado Jogo da Vingança. No mesmo ano, marcou contra o Vasco na final do estadual.

No mundial de Clubes, eternizou seu nome na conquista mais importante da história do Flamengo anotando o segundo contra o Liverpool, na vitória por 3 a 0 em Tóquio. Em 1982, gol do pentacampeonato da Taça Guanabara, no finzinho do jogo contra o rival cruzmaltino. No ano de 1983, deu números finais no jogo do título do Campeonato Brasileiro conquistado em casa contra o Santos. Foi decisivo e brilhou incessantemente nos grandes momentos. Um protagonista de sua própria história.

Todas essas glórias ajudaram a construir a idolatria de Adílio, que permaneceu intacta por conta de sua paixão e respeito ao time de maior torcida do Brasil.

Após o encerramento da passagem como jogador pelo clube, seguiu com sua aura vitoriosa sendo campeão do mundo até no futsal com a seleção Brasileira em 1989. Mas nunca deixou de ter a vida atrelada ao Flamengo.

Foi técnico da categoria de base, fez jogos com a equipe master, oficinas e eventos da instituição e também com torcedores. Sempre muito sereno e educado, era respeitado por todos e admirado até por quem não o viu jogar.

Os torcedores Rubro-Negros que não vivenciaram a geração dos anos 80, mas foram atrás de saber o máximo possível daquele período, têm a certeza da importância e a dimensão da enorme história de Adílio.

Adílio sempre foi muito atencioso com os fãs. Idolatria conquistada em campo e mantida intacta por sua postura fora dele/ Foto: Arquivo pessoal

Como o próprio já disse em outro momento, ele carrega o sobrenome de Mengo. O Mengo que pode se referir ao clube, mas também ao clássico grito de apoio que vem das arquibancadas a cada lance de perigo. A partir de agora, toda vez que o torcedor no estádio soltar esse grito, será uma forma de lembrar o legado do filho mais ilustre da Cruzada São Sebastião. De lá saiu um gigante, o eterno camisa oito e ídolo, que sempre estará intimamente ligado ao Flamengo.

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