Para repetir 66 ou fazer melhor!
Com uma geração que brilha nas principais ligas e acostumada a grandes desafios, Portugal espera um caminho de glórias no Catar
Com a história intimamente ligada ao Brasil e se valendo de uma das suas melhores gerações, Portugal chega à Copa do Mundo do Catar podendo sonhar em chegar longe. Apesar de alguns desfalques de última hora (como Diogo Jota) e a fase ruim do seu principal jogador (Cristiano Ronaldo), os Portugueses comandados por Fernando Santos contam com um histórico recente vitorioso que enche de confiança um país, pequeno no tamanho, mas com grandes feitos históricos.
RAÍZES BRASILEIRAS
É até desnecessário falar sobre a ligação dos lusitanos com o nosso país, que já vem desde o descobrimento. Certamente parte de nossa cultura tem ligações óbvias com os Europeus, mas no futebol, o intercâmbio é uma realidade.
O Brasil tem um histórico de treinadores que atuaram em Portugal e ajudaram a desenvolver o esporte por aquelas bandas, seja pela mentalidade ou pelas consequentes conquistas junto aos clubes portugueses. De todos os técnicos que por lá passaram, o principal deles foi um carioca que chegou a Lisboa em 1954: Otto Glória.
Após bom trabalho no América-RJ, Otto foi convidado para treinar o Benfica, que naquela época ainda nem era considerado o maior clube Português. A partir dali, colecionou títulos pelos encarnados elevando a equipe a outro patamar. Chegou a treinar todos os grandes do país, além de passagens de sucesso por Atlético de Madrid e Olympique de Marselha. Otto também foi campeão da Copa Africana de Nações pela seleção Nigeriana, Campeão Paulista pela Portuguesa e teve passagens pelo Vasco da Gama. Coincidentemente, clubes ligados diretamente a Portugal em suas origens.
COPA DE 1966
O treinador Brasileiro deixou sua marca não só pelas conquistas, mas pelo profissionalismo que agregou e muito ao futebol lusitano. Idealizou a construção do Lar do Jogador, ainda na chegada ao Benfica, para implementar a concentração para os atletas. Colocou em prática uma rotina de treinos mais rígida, se utilizando de conceitos que trouxera do Basquete, esporte que também foi técnico antes do futebol. Além disso, voltou os olhos para a observação do ludopédio nas colônias portuguesas da África, de onde sairia um dos maiores jogadores Portugueses de todos os tempos: Eusébio.
E foi com o Pantera Negra sendo a estrela do time, que Otto Glória, que chegara ao comando da seleção nacional em 1964, conseguiu o melhor resultado da história dos Lusitanos em Copas do Mundo: O terceiro Lugar na Copa da Inglaterra, em 1966. Na campanha, o emblemático jogo contra o Brasil. Pelé foi caçado em campo, chegando a jogar mancando após duras entradas do selecionado português. No fim, Eusébio marcou duas vezes e Portugal venceu por 3x1, eliminando a seleção Brasileira. Os Magriços, como foram apelidados baseado na História “os Doze de Inglaterra”, referida nos Lusíadas de Luís Vaz de Camões, chegaram até a fase semifinal, quando foram derrotados pelos ingleses por 2x1. Na disputa de terceiro lugar, vitória sobre a União Soviética por 3x1. Eusébio foi o artilheiro da Copa, com 9 gols e essa até hoje é a melhor participação dos patrícios na história das copas.
PASSAGEM PELO RIO GRANDE DO NORTE
Em 1972, a seleção de Portugal atuou em solo Potiguar pela Taça Independência. O torneio foi comemorativo aos 150 anos da Independência do Brasil e reuniu 20 seleções, com jogos em 12 cidades Brasileiras. Visando a competição, foi erguido o Castelão (posteriormente Machadão) na cidade do Natal, que recebeu três partidas. Uma delas, foi Portugal x Equador, valendo pelo grupo B da chamada Minicopa. As equipes se enfrentaram no primeiro jogo do grupo que continha também Chile, Irlanda e Irã. O placar final foi de 3x0 para os Lusos, com gols de Eusébio, Dinis e Nené. Portugal ficou com a liderança do grupo, com 100% de aproveitamento, passando para a fase final do torneio. Após vencer outro grupo com Argentina, União Soviética e Uruguai, a seleção da terrinha chegou a final contra o Brasil. No jogo do Maracanã, derrota por 1x0, com gol de Jairzinho aos 43 do segundo tempo. A partida marcou a despedida de Gerson, Brito e Tostão, tricampeões do mundo com a seleção brasileira. Já os Portugueses, que fizeram uma boa campanha, não conseguiram posteriormente a classificação para o mundial de 1974.
HISTÓRICO RECENTE
A grande campanha de 1966 foi uma exceção na história Portuguesa em Mundiais. A seleção conviveu com alguns traumas, como não classificações e uma frustrante saída na primeira fase na copa de 2002, quando já contava com uma ótima geração de Figo e Rui Costa. A partir de 2003, com a chegada de Luiz Felipe Scolari que acabara de ser Campeão do mundo com o Brasil, o povo da Lusitânia conseguiu resgatar o orgulho e interesse pelo seu selecionado. Em 2004, disputando a Eurocopa em casa, alcançaram o vice-campeonato, com derrota na final contra a Grécia. A ótima campanha e a afirmação de nomes como o de Cristiano Ronaldo, deram a confiança para o Mundial seguinte, na Alemanha. Em 2006, o bom momento seguiu. Exatamente 40 anos depois, Portugal chegava novamente em uma semifinal de Copa do Mundo. Após classificar em primeiro no seu grupo e passar por Holanda e Inglaterra, se deparou com a França de Zidane. A derrota por 1x0 nesta semifinal e outra por 3x1 na decisão do terceiro lugar contra os anfitriões, não permitiu igualar o feito da copa da Inglaterra, mas deixou a seleção Portuguesa novamente entre as melhores do planeta.
Nas competições seguintes, chegou nas fases finais das Euros de 2008 e 2012. Saindo nas Oitavas da Copa de 2010 e uma desclassificação decepcionante no Brasil, em 2014, ainda na primeira fase. Mas cada vez mais jogadores talentosos surgiam, dando maiores opções para o técnico Fernando Santos, que assumiu após a Copa. Portugal chegou ao seu ápice em 2016, quando venceu a Euro disputada na França, batendo os anfitriões na final por 1x0. Éder, que nem convocado é mais, foi o autor do gol que deu o título mais importante para os Portugueses até hoje. Mas antes e durante este torneio, o selecionado tinha um claro Líder: Cristiano Ronaldo, que se tornou um dos maiores jogadores de todos os tempos, conquistando por cinco vezes o prêmio de melhor jogador do Mundo, além de vários outros títulos individuais e coletivos.
COPA DO CATAR
Para esta Copa do Mundo, o ciclo foi de aparecimento de ainda mais talentos e de uma dificuldade que não se esperava na classificação. A definição da vaga só veio na repescagem, em confronto com a Macedônia do Norte, que surpreendeu ao eliminar a Itália. A vitória por 2x0 colocou a seleção na copa, mas o desempenho no geral vem sendo aquém das expectativas, com o treinador sendo bastante criticado pela imprensa especializada.
No momento, o craque da equipe já se encontra em fase final de carreira. Cristiano Ronaldo, aos 38 anos, segue com respeito e liderança, mas sua temporada atual pelo Manchester United não é boa, chegando a figurar no banco de reservas na maioria das partidas. Porém, outros nomes vêm se destacando nas grandes ligas europeias e dão a esperança ao povo português de que a seleção possa chegar ainda mais longe na Copa que está por vir. Alguns dos principais deles são: Bruno Fernandes, Bernardo Silva, Rafael Leão, João Cancelo e Rubén Dias. Jogadores que poderiam ser titulares em qualquer seleção do mundo, o que mostra que a safra atual é muito boa e pode sim levar o time a fases avançadas da copa.
Os lusos estão no grupo H, junto de Uruguai, Gana e Coreia do Sul. São favoritos, mas há uma clara briga pela liderança com os Uruguaios e possibilidade de surpresas com as outras duas seleções. A atenção deverá ser total, pois o segundo colocado deverá cruzar com o Brasil já nas oitavas de final. Os Brasileiros talvez sejam os maiores favoritos para o título e um encontro tão cedo tem grandes chances de ser decepcionante para os Portugueses. A relação íntima com o Futebol do nosso país, as lembranças de 1966 e o talento dos jogadores de ambas as seleções dariam ingredientes para um possível grande jogo, mas é razoável pensar que os Patrícios preferem deixar tudo isso apenas na imaginação.