Sem saudades do ex: “Lei do desapego” prevalece na Vila Belmiro

Santos vence Atlético Mineiro de Sampaoli e dá forma a novas filosofias com Cuca no comando

Junior Lins
Universidade do Esporte
5 min readSep 10, 2020

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(Foto: Ivan Sorti / Santos FC)

O cenário era perfeito para este texto ser sobre a “lei do ex”. Fosse pelo comando técnico de Sampaoli ou por um gol de Eduardo Sasha, a chance era enorme. Porém, na Vila Belmiro, a lei que funcionou nesta quarta-feira (9) foi a do “desapego”.

O Santos não é mais intenso, não é mais agressivo, não joga disposto a levar cinco gols para fazer seis ou sete. Hoje, o Atlético Mineiro que é assim. O responsável por isso tem nome, nacionalidade, endereço, só não tem cabelo. O argentino Sampaoli coleciona trabalhos em que faz as equipes se tornarem competitivas e com um futebol “vistoso”.

Santos e Sampaoli foi um casamento que, dentro dos gramados, encantou o torcedor. Fora deles, o relacionamento com a diretoria não era nada legal. O treinador foi herói. Transformou um time desacreditado em vice-campeão do Brasileirão 2019. Porém, até os bons casamentos têm suas desavenças e chegam ao fim.

Mesmo após sua saída, o Peixe ainda respirava Sampaoli. O português Jesualdo Ferreira foi o escolhido para substituir. Como um namorado que não soube lidar com o término, o time santista não se adaptou e foi trágico no período treinado por Jesualdo. Não tinha filosofia, sequer sabia como atacar, parecia perdido.

Cuca foi o responsável por fazer o Santos desapegar. Com um estilo “ofensivo sofrido”. O técnico conseguiu finalmente dar uma cara ao clube. Ataca quando der, quando não dá, defende com todas as forças. Reflexo disso foi a postura da equipe na partida entre os alvinegros.

(Foto: Ivan Sorti / Santos FC)

O Atlético começou o jogo avassalador. Eram apenas 13 minutos de partida e o Galo já havia chegado pelo menos 7 vezes com chances claras de gol. O goleiro do alvinegro paulista, João Paulo, salvou o time em todas as chegadas do clube mineiro. Em Santos já o chamam de São João Paulo III, graças às intervenções milagrosas que tem feito.

Uma saída de bola errada da defesa atleticana deixou o jogo igual. Mariano errou o passe, Marinho arrancou com velocidade e sofreu falta do goleiro do Galo, Rafael. O árbitro não hesitou e puxou o cartão vermelho. No 11 contra 10, o jogo voltou a ficar justo.

O ídolo Victor entrou no lugar do atacante Marrony para assumir a meta. Ainda frio, aceitou um chute, bastante defensável, de Arthur Gomes, em um dos raros lampejos do jovem atacante santista. Frango e 1 a 0.

Arthur faz parte do desapego, sem oportunidades, foi emprestado para a Chapecoense no ano passado. Este ano, já disputa seu segundo jogo como armador do time de Cuca.

A equipe santista estava desfalcada. Seus principais defensores estavam suspensos. Alison e Luan Peres foram expulsos no jogo contra o Ceará e Lucas Veríssimo havia tomado três amarelos. No time titular, dos que jogavam com Sampaoli, restaram apenas Soteldo, Marinho, Sanchez e Pituca.

Consequência dos desfalques, o time paulista teve uma dupla de zaga formada por Jobson, que é volante, e Alex, jovem zagueiro que disputava apenas sua segunda partida, sendo a primeira como titular.

Esta zaga “mutante” teve seu preço pago. Jobson errou saída de bola e Eduardo Sasha achou Alan Franco livre, que finalizou para empatar o jogo na Vila Belmiro. 1 a 1.

Próximo ao final do primeiro tempo, a vantagem numérica começou a ter peso maior. No estilo Cuca, o time aproveitou do cansaço e abusou do uso das pontas. Numa jogada pelas alas, Madson penetrou a área e acertou um cruzamento rasteiro nos pés de Marinho. O atacante só empurrou para as redes. 2 a 1.

O segundo tempo foi mais uma demonstração da cara de Cuca no Santos. Pronto para um contra-ataque e com uma posse de bola recuada, o técnico também fez algo que o ex não fazia: usou a base. Ivonei, Derick e Wagner Leonardo receberam chances. Não brilharam, mas não comprometeram.

O árbitro de vídeo voltou a figurar em jogos do Santos, o time ainda fez dois gols que foram anulados pelo VAR. No final da partida, o time teve uma marcação ao seu favor. Victor demonstrou o motivo de não ser titular com Sampaoli, saiu jogando errado e Júnior Alonso derrubou Marinho na área.

Wagner do Nascimento Magalhães olhou no monitor assinalou pênalti. Marinho foi para a bola e guardou mais um gol no Campeonato Brasileiro. Marcador fechado. 3 a 1.

A briga entre Santos e Sampaoli não terminou no fim do jogo. Na quinta-feira (10), o argentino e o jurídico do Peixe se encontram para discutir o divórcio, ou melhor, a rescisão. Uma multa rescisória e direitos contratuais chegam a R$ 10 milhões e vão ser debatidos na Justiça.

Como fica?

Com a vitória, o Santos chega aos 14 pontos e alcança a 6ª colocação. Já o Galo caiu da 3ª posição e se mantém com 15 pontos. O Atlético tem um jogo a menos, que foi adiado para que a equipe pudesse disputar a final do Campeonato Mineiro, na qual foi campeão.

Próximo confronto

O alvinegro da Vila Belmiro volta aos gramados no sábado (12) para um clássico contra o São Paulo. Em casa, o time vai em busca da primeira vitória em clássicos neste ano. Até o momento, são três derrotas e um empate.

Já o Atlético Mineiro joga em casa, no domingo (13), contra o Red Bull Bragantino, em busca de voltar para a briga pela ponta da competição nacional.

(Foto: Ivan Sorti / Santos FC)

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