Tetsuo Okamoto: o pioneiro das 8 raias

A trajetória do primeiro medalhista olímpico brasileiro na natação, que superou desafios e marcou história

Dhimitri Campos
Universidade do Esporte
4 min readJul 14, 2024

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Foto: Reprodução (Comitê Olímpico Brasileiro)

O pequeno Okamoto, diagnosticado com asma, foi recomendado por um médico a praticar natação para ajudar na sua condição. Nadar se tornou sua paixão e terapia, uma disciplina que ele não abandonaria pelo resto da vida. Entre os 7 aos 15 anos, o esporte era apenas um passatempo, até que ele foi convidado a nadar no Yara Clube, o primeiro clube de natação de Marília. Foi então que suas ambições começaram a mudar.

Com a melhora no desempenho, o jovem, que precisava de 12 horas de trem para ir de Marília até São Paulo, viu a oportunidade de viajar pelo país e conhecer novos lugares através de competições.

VIRADA DE CHAVE

Em 1949, após a Segunda Guerra Mundial, os “peixes voadores”, uma equipe de natação renomada, visitou o Brasil para uma excursão por São Paulo e outras cidades do interior. Okamoto não perdeu a chance de conhecê-los, trocar experiências e aprender com eles.

Foi durante essa excursão que ele percebeu o quão atrás estava dos japoneses. Enquanto ele treinava entre 1.000 e 2.000 metros por dia, os estrangeiros o aconselharam a nadar 10.000 metros diariamente.

COLHENDO OS FRUTOS

“A vida é uma luta que aos fracos abate e aos fortes exalta”.

Este era um dos lemas que Tetsuo Okamoto levava consigo. Após ajustar sua rotina de treinos de forma drástica, os resultados começaram a aparecer.

Em janeiro de 1951, ele quebrou o recorde sul-americano pela primeira vez. Tetsuo foi o primeiro brasileiro a nadar os 1500 metros livre abaixo dos 20 minutos, reduzindo o recorde brasileiro em 40 segundos e o sul-americano em 13 segundos.

Após vencer o Campeonato Paulista e o Brasileiro, participou da primeira edição dos Jogos Pan-Americanos, onde se tornou o primeiro campeão de natação do Pan, conquistando duas medalhas de ouro e uma de prata.

Tetsuo Okamoto desfilando nas ruas de Marília-SP

PRESENTE DE GREGO

Ao retornar ao Brasil, Okamoto foi recebido como herói nacional em sua cidade natal. O prefeito de Marília decretou feriado municipal, e a comunidade japonesa presenteou o nadador.

Tetsuo ganhou um carro como reconhecimento pelo seu desempenho no Pan-Americano, um gesto visto como agradecimento e reconhecimento do seu trabalho, embora pudesse ser interpretado como profissionalização do atleta.

Na época, os atletas tinham que ser amadores e não podiam receber salário ou patrocínios. Para não arriscar sua participação nas Olimpíadas de 1952, Okamoto teve que recusar o presente.

JORNADA DO HERÓI

“Se tivesse dois meses para treinar em Helsinki, eu disputaria o primeiro lugar”.

A declaração de Tetsuo Okamoto pode soar arrogante para alguns, mas a história prova que ele tinha razão em acreditar nisso. O período pré-olímpico foi cheio de altos e baixos para o nadador brasileiro.

Sua preparação no Brasil foi afetada pelo inverno, com as geladas piscinas de Marília dificultando os treinos além de 100 metros. Tetsuo ficou dez dias sem nadar. Ao chegar na Finlândia, encontrou um cenário oposto: verão e piscinas aquecidas. Sua dedicação o levou a focar inteiramente nos treinos, recuperando o tempo perdido.

2 de agosto de 1952

Tetsuo venceu sua bateria e se classificou para a final da prova dos 1500m livre, sua especialidade. A expectativa era alta para uma grande disputa, com Okamoto competindo contra dois membros dos “peixes voadores”, o atual campeão olímpico Jim Mclane e Ford Konno, um dos favoritos ao ouro.

Durante a prova, Tetsuo manteve-se no pelotão da frente na terceira colocação, mas Shiro Hashizume e Ford Konno se distanciaram e disputaram o ouro freneticamente.

Okamoto quase sempre esteve no pódio, até que o americano Jim Mclane o ultrapassou nos últimos 1400 metros. Apesar da dificuldade de segurar um adversário que partiu na frente, Tetsuo demonstrou a determinação que o caracterizava.

Com uma arrancada histórica nos últimos 50 metros, Tetsuo Okamoto terminou no pódio, tornando-se o primeiro brasileiro a ganhar uma medalha olímpica na natação.

Foto: Reprodução (Comitê Olímpico Brasileiro)

ULTIMATO

Apesar das glórias e conquistas, o pai de Tetsuo decidiu não mais sustentá-lo, já que os atletas olímpicos não recebiam compensação financeira por representar o país. Foi então que Tetsuo recebeu uma bolsa para estudar Administração e Geologia em uma universidade no Texas, continuando a nadar em campeonatos regionais e universitários. Após concluir os estudos, ele retornou ao Brasil e tornou-se empresário, praticando natação apenas como hobby.

Foto: Reprodução

LEGADO

Apesar dos desafios externos, a carreira de Tetsuo Okamoto, promissora e vitoriosa, foi breve. No entanto, o tempo limitado não impediu que ele construísse um legado duradouro.

Ao final de sua vida, Tetsuo enfrentou problemas de saúde e sentiu que foi esquecido nos momentos em que mais precisou. Ele foi o primeiro nadador brasileiro a conquistar uma medalha olímpica, o primeiro campeão de natação dos Jogos Pan-Americanos, e foi homenageado nos Halls da Fama da Confederação Brasileira de Natação e do Comitê Olímpico Brasileiro.

Em 2007, aos 75 anos, Tetsuo faleceu devido a complicações respiratórias e cardíacas, deixando um legado imortalizado e sendo lembrado eternamente como um herói olímpico.

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Dhimitri Campos
Universidade do Esporte

Estudante de jornalismo da UFRN. Integrante da Universidade do Esporte. Amante dos esportes