Tradição com orgulho ou decepção?

Presente na maioria das finais desde a chegada das franquias no CBLOL, paiN colecionou ótimas campanhas com o sabor amargo de quatro vice-campeonatos em sequência

André Luís
Universidade do Esporte
10 min readSep 24, 2023

--

Foto: Bruno Alvares & Cesar Galeão

Cinco finais. Quatro vice-campeonatos em sequência. Um título. Presença em cinco das seis decisões realizadas desde a era das franquias no CBLOL.

A paiN honrou sua alcunha de tradição dentro do League of Legends marcando presença na maioria das finais do CBLOL, mas em apenas uma conquistou o título. O que deu errado? O que faltou?

Pode-se considerar o projeto dos tradicionais um fracasso? Popularmente, essa palavra está alinhada a falta do êxito, não alcançar o objetivo traçado. De uma forma simples: a derrota, como aconteceu quatro vezes nas finais.

Muitos questionam, muitos apontam os culpados para os quatro insucessos da equipe em sequência. De certa forma, a conquista do campeonato está atrelada ao sucesso de uma line-up, mas será que isso se enquadra?

Line up da paiN Gaming campeã brasileira do primeiro split de 2021 na disputa do MSI (Foto: Divulgação/LoL Esports Media Center)

No início das franquias ainda com apenas uma mudança em relação a equipe que terminou 2020 com o vice-campeonato para a INTZ, a paiN começou o split abaixo do que se esperava. Os tradicionais conquistaram a classificação para os playoffs nas últimas rodadas, mas sendo taxada como uma equipe que cairia no primeiro mata-mata.

Contrariando a todos, a paiN surpreendeu eliminando os times postulantes ao título como a LOUD, com direito ao primeiro reverse swap da história do CBLOL, e o Flamengo, chegando ao título após vencer a Vorax por 3 a 1. Mas no segundo split, com um começo melhor, surpreendeu todo mundo ao ser eliminado para a Rensga nas semifinais.

Tinowns e Robo deixaram a paiN de forma conturbada, brTT anunciou sua aposentadoria do competitivo e Luci foi para a Liga Latino-americana. Para os seus lugares Wizer, dyNquedo, Trigo e Damage foram os selecionados para compor a equipe dos tradicionais ao lado de CarioK.

paiN e LOUD na final do CBLOL do segundo split de 2022 no Ginásio do Ibirapuera (Foto: Bruno Alvares, Cesar Galeão & Pedro Pavanato)

A paiN voltou a repetir o péssimo desempenho na fase regular do CBLOL, mas conseguiu se recuperar no decorrer dos jogos, até chegar na grande final contra RED Canids, quando foi derrotada por 3 a 2. Diferente do que foi visto no primeiro split, para o segundo os tradicionais chegaram mais consistentes conquistando a vaga na decisão contra a LOUD no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.

Novamente uma derrota, mas desta vez com um gosto amargo: 3 a 0 com extrema dominância do adversário. Com o destino proporcionando mais uma daquelas narrativas inesquecíveis, fazendo com que os tradicionais, além do revés doloroso, teriam de assistir aos velhos conhecidos Tinowns e Robo erguendo a taça de campeão brasileiro.

Foto: Bruno Alvares, Cesar Galeão & Pedro Pavanato

Duas finais, duas derrotas. Uma torcida enorme insatisfeita. O que era necessário para a tradição finalmente reinar dentro de Summoner’s Rift?

Sai Trigo, entra Bvoy.

Os tradicionais chegaram para 2023 mantendo a sua base finalista dos dois splits, com apenas uma mudança na rota inferior. A organização chegou a final do primeiro split novamente contra a LOUD, após uma boa campanha durante a fase de pontos.

Seria o momento da redenção da tradição? Definitivamente não, com outro 3 a 0 sonoro a paiN não clicou novamente dentro de Summoner’s Rift. Nas palavras do CEO da organização, Thomas Hamance, o momento era outro.

“Precisamos de mudanças” — disse o CEO da paiN

paiN após a derrota por 3 a 0 para a LOUD na final do primeiro split de 2023 (Foto: Bruno Alvares)

Novamente outra mudança na bot lane dos tradicionais, sai Damage, que em alguns momentos do primeiro split foi bastante contestado por parte da torcida, para a entrada do ProDelta, promovido da equipe Academy onde se consagrou campeão do CBLOL da categoria.

Denominados como “painzetes” protagonizaram uma recepção com bandeiras e fogos na chegada da equipe no estúdio da Riot Games (Foto: Bruno Alvares)

O início foi surpreendente, com uma vitória diante da LOUD, os torcedores começaram o split mais esperançosos para finalmente ver a equipe erguer a quarta taça da sua história. Da mesma maneira como na segunda etapa do ano passado, a paiN teve um inicio sem tantos lampejos na competição e conquistou o primeiro lugar na etapa de pontos.

PaiN e LOUD se encontraram na final da chave superior para definir a primeira equipe classificada para a decisão no Recife. Com uma atmosfera de festa proporcionada pelos torcedores, com a expectativa de um novo ambiente instaurado na equipe, vivendo um clima de esperança para que a tradição finalmente superasse seu carrasco das últimas finais.

“3 a 0 de novo? Vocês não vão ganhar nem um joguinho?” — Tinowns

Parafraseando o ex-jogador da organização, resume-se brevemente o que foi a MD5 da chave superior entre as duas equipes. Novamente a paiN foi uma equipe apática e apenas assistiu a LOUD derrubar o seu nexus três vezes.

Foto: Bruno Alvares

O que era festa, virou um enterro. O que era felicidade, tornou-se tristeza para alguns e revolta para outros. Os tradicionais saíram do palco ouvindo um misto de reações da torcida.

Um clima de incerteza se a paiN iria conseguir sua vaga para a final, mas para isso era necessário vencer a RED Canids. Com alguns certos lampejos, a tradição venceu a matilha por 3 a 2 e conquistou o direito da sua revanche contra a LOUD no Recife.

Torcida da paiN presente no Aeroporto de Recife na chegada da equipe na capital pernambucana (Foto: Bruno Alvares)

Novamente uma expectativa por parte da torcida para que a conquista do tetracampeonato em terras pernambucanas, enquanto outros já estavam conformados que a equipe iria tropeçar mais uma vez. A paiN chegou ao Recife abraçada pelos seus fãs com uma calorosa recepção ainda no desembarque no aeroporto. A cada encontro com um torcedor um abraço mais confortante aos jogadores que tanto apanharam para as críticas e bateram na trave nas últimas decisões.

“A torcida da paiN é com certeza uma grande parte da nossa motivação e o que motiva a gente é saber que eles vão estar lá, a gente não quer decepcionar eles novamente.” — dyNquedo

Clima de incertas mesclada com várias emoções e questionamentos. Chegou finalmente o momento da paiN? Será a última vez que veremos esses cinco jogadores juntos? A tradição vai levar outro 3 a 0?

Foto: Bruno Alvares & Cesar Galeão

Primeiro jogo, um bom início. Um early game proativo, com a paiN executando sua proposta de jogo e inibindo as ações do Robo, uma das principais armas da LOUD na temporada. Mas por um detalhe, a partida virou.

Em um luta por dragão, a paiN perdeu toda sua vantagem e ainda viu o Robo fazer um 1v2 espetacular em cima de Wizer e Bvoy, pra coroar a vitória na primeira partida da série.

Segundo jogo, novamente um detalhe custou caro. Numa tentativa frustrada de dive no bot aos quatro minutos, a paiN viu a LOUD tomar as redeas da partida e atropelar a equipe em Summoner’s Rift. Outro 3 a 0?

Coach da equipe, o sul-coreano Sin “Xero” Hyeok orienta a equipe durante o intervalo das partidas (Foto: Bruno Alvares & Cesar Galeão)

Terceiro game, a paiN vivia um drama voltando a mesma situação das duas últimas séries contra a LOUD, quando a verduxa tinha o match point da MD5 para fechar o caixão da tradição mais uma vez. Ao menos dessa vez, foi diferente.

Uma paiN mais agressiva, proativa dentro de jogo com Wizer jogando da forma que a torcida sempre quis, sendo o carry da partida tendo todo o recurso alocado em suas mãos. CarioK deu todas as atenções para a rota superior, que tiveram efeito no andar da carruagem do jogo.

Um verdadeiro stomp por parte da equipe que fez levantar os painzetes presentes no Geraldão ecoando apenas um frase.

“Eu acredito.”

Infelizmente para a tradição, tudo não passou um simples sonho oriundo de uma ilusão. Tudo que foi apresentado na última partida simplesmente não foi levado para o jogo quatro, em que mais uma vez só uma equipe jogou e definitivamente não foi a paiN.

Foto: Bruno Alvares & Cesar Galeão

Outra derrota, novamente pra LOUD, mais um vice-campeonato, o quarto em sequência. Os torcedores sonhavam com o treta, acordaram com outro, o tetra-vice.

O que aconteceu? Vários questionamentos, uma verdadeira caça as bruxas interminável para apontar o culpado ou os culpados.

As coisas poderiam ter sido diferentes se o Wizer não tivesse jogado de Poppy no jogo quatro? O Bvoy podia ter jogado melhor? O dyNquedo podia ter sido mais egoísta nas decisões do draft? Faltou agressividade do CarioK?

“Aconteceu, sabe? Acho que os dois times deram o melhor ali. E eu não procuro culpados, eu não procuro saber quem errou mais, eu acho que o time deles foi superior e a gente não conseguiu ganhar como time, sabe?” — CarioK

Definitivamente, não tinha o que ser feito. Infelizmente a discrepância entre a LOUD e as outras equipes do cenário é exorbitante, não somente por essa final, mas como as outras e por tudo que foi apresentado no cenário nacional e internacional.

Mas longe dessa line up da paiN ser ruim ou algo do tipo, comparada com as demais é sem dúvidas a melhor com folga.

Entretanto, em certos momentos, também em razão da nossa cultura do resultado e pela ambição da conquista, mudanças são necessárias.

Esses cincos jogadores historicamente estão fadados a serem marcados pelos quatro vice-campeonatos. Para poucos, em raros momentos eles serão lembrados positivamente, por uma equipe com um estilo de jogo que a fez dominante em relação as outras oito equipes do cenário. Com jogadores carismáticos e marcantes para a torcida.

Desde 2020 na paiN Gaming, Marcos “CarioK” Oliveira, não conseguiu repetir 2021 e trazer mais uma taça de CBLOL para os tradicionais (Foto: Bruno Alvares & Cesar Galeão)

Ninguém sairá dizendo que o CarioK é o melhor brasileiro da sua posição em atividade no campeonato. Será mais fácil de marcá-lo pelos smites perdidos em objetivos e como foi facilmente botado no bolso do Croc.

Com um Wizer extremamente dominante durante a fase regular do CBLOL, sendo eleito pela equipe de analistas do torneio o melhor jogador durante esse período, que mostrou seu potencial nos playoffs sendo um dos carrys da equipe.

Em dúvidas, dyNquedo chegou na paiN cercado de incertezas após dois splits abaixo na LOUD, será que iria retomar a boa fase que lhe rendeu o bicampeonato brasileiro em 2018? O dyNkas superou a tudo e a todos ao recuperar sua boa fase estando no pódio dos melhores da posição.

Um Bvoy que apesar dos desempenhos em branco durante as duas finais, mostrou-se um ótimo atirador e sendo essencial nos momentos que a equipe mais precisou até a equipe chegar nas decisões.

Recém-chegado do Academy para assumir a posição de suporte, ProDelta surpreendeu pelas boas atuações no decorrer do split, rendendo destaques das partidas que a paiN saiu vitoriosa, ainda com muito a mostrar daqui pra frente.

Cinco jogadores bons e talentosos que não conseguiram o objetivo principal, protagonizaram em Recife a sua última dança juntos. Não sabe-se ao certo quais serão as mudanças, se elas realmente vão existir, mas pelo clima pós jogo no último Inside the Rift, elas devem acontecer.

“Quero pedir desculpas a todos porque eu não fui suficiente e não sei se estaremos juntos no ano que vem, mas foi muito bom esse tempo com vocês. E eu fico muito triste porque não fomos capazes. De qualquer forma, agradeço a cada um de vocês.” — CarioK no hotel após a derrota.

Matheus “dyNquedo” Rossini , mid da paiN, após a derrota por 3 a 1 para a LOUD(Foto: Bruno Alvares & Cesar Galeão)

Visivelmente um dos mais abalados com a derrota e um dos que mais criou identificação com a torcida, dyNquedo pode ser uma dessas mudanças com base nas informações que chegam ao público.

“DyNquedo, eu sei que o seu sorriso e sua constante energia positiva para o time. Eu sei que por trás disso tudo você está preocupado. Na verdade, por sua causa o nosso time teve um clima muito leve. Eu sei que isso não vem de graça.” — Xero a dyNquedo após a derrota.

Mas quem deve sair e deve chegar, tudo isso fará parte das cenas dos próximos e últimos capítulos de uma história que apesar de marcada por inúmeros insucessos, há quem tenha orgulho.

Principalmente aqueles que viveram os anos amargos com um descenso para o Circuito Desafiante, onde a equipe colecionou frustrações até em seu retorno ao CBLOL, ficando de fora dos playoffs e que finalmente viram de perto sua equipe se consolidar como uma das principais do cenário.

Foto: Bruno Alvares

Há quem diga que só é visto quem é lembrado. Sem dúvidas essa line sempre será lembrada, mas vista somente pelos seus insucessos.

Porém, para a sua torcida essa line não será somente lembrada pelas suas derrotas, mas por devolver o orgulho de ser um painzete, honrar a tradição da organização no cenário e por colocar sua equipe de volta ao topo.

Para eles, a paiN nunca será um time, mas sim uma família.

--

--

André Luís
Universidade do Esporte

Contando algumas histórias por ai. Jornalista em formação pela UFRN e membro do Universidade do Esporte.