Tragédia anunciada: ABC e América em 2023

Após uma temporada marcada por conquistas, clubes da capital potiguar protagonizam um ano pífio e são rebaixados

André Luís
Universidade do Esporte
6 min readFeb 11, 2024

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Foto: Gabriel Leite/UDE

Em síntese, fracasso.

Se no ano passado estávamos exaltando a grande temporada protagonizada pelo futebol potiguar, considerado até um “ano memorável”, em 2023 tudo se inverte com o que foi apresentado por ABC e América.

As duas equipes de Natal realizaram senão uma das, mas a pior temporada do futebol potiguar nos últimos anos. Dois rebaixamentos vergonhosos, que vale o detalhe: não foi falta de aviso.

No lado alvinegro, contratações mais do que contestáveis, tecnicamente muito aquém do que espera-se em uma Série B, onde a exigência é alta. Somada a insistência sem lógica em segurar Allan Aal no comando técnico.

Foto: Gabriel Leite/UDE

Apesar do primeiro semestre merecedor de aplausos, com uma semifinal de Copa do Nordeste, avanço na Copa do Brasil derrotando o Vasco em pleno São Januário, o Mais Querido sofreu com a dura realidade de uma competição que é a Série B.

O planejamento falho que até então era mascarado pelos bons resultados, colheu os péssimos frutos que plantou. Diante das imprevisibilidades, a falta de datas de calendário no Estadual, junto a crise de segurança pública no estado, o ABC tornou-se refém das “contratações de primeiro semestre”, sendo necessário estender o vínculo com a “filial do Oeste”.

Marchiori que até então vivia uma lua de mel com o torcedor, adentrou ao inferno do Frasqueirão, principalmente com o péssimo início na Série B.

Allan Aal foi a aposta da cúpula alvinegra para buscar a reação na Série B, com o respaldo da recuperação do Vila Nova na temporada passada. Mas não é sempre que o raio cai duas vezes no mesmo lugar.

Foto: Gabriel Leite/UDE

Os jogos sob o comando de Aal só deixaram mais clara a realidade técnica do plantel montado no início da temporada, não à toa, o técnico promoveu inúmeras dispensas. Mesmo assim, nem mesmo os nomes que chegaram sob o aval do comandante fizeram algo.

Diversas vezes a equipe tinha o resultado em suas mãos e deixou escapar das maneiras mais grotescas possíveis. Levando gol que originou-se de um tiro de meta, com o sistema defensivo “batendo cabeça” e jogador sendo expulso de forma bizarra.

A cada tropeço, a permanência de Allan era mais do que insustentável. O desgaste aumentava a cada tropeço, deixando nítido que era impossível a equipe reagir com ele à frente da área técnica.

Com mais de um turno como treinador do Mais Querido, Aal deixou o clube na mesma posição em que encontrou quando assumiu, na lanterna.

Na reta final, Argel Fuchs chegou ao comando do ABC a lá Tom Cruise em uma verdadeira Missão Impossível: livrar o clube do rebaixamento.

Foto: Gabriel Leite/UDE

Pode-se dizer que o ABC teve um único “acerto” em 2023: a contratação de Argel Fuchs, que surtiu efeito no elenco, mas já era tarde. O gaúcho deu um novo gás ao ambiente conturbado, mesmo dentro de um cenário difícil, fez o elenco “chacoalhar”, algo que era necessário há rodadas passadas.

Mas já era algo inevitável. A tragédia já estava anunciada: o alvinegro caiu.

Argel trouxe reflexões e de forma objetiva sintetizou o ABC em 2023. Como que um clube contrata jogadores com históricos de lesões recorrentes? Ter dois executivos de futebol em um ano é normal?

São essas algumas das reflexões que o clube precisa ter para 2024.

Foto: Gabriel Leite/UDE

Já no alvirrubro, a manutenção de praticamente todo o elenco da Série D com base na famosa gratidão pelos serviços prestados, foi a primeira decisão duvidosa do América para 2023.

Os fiascos no primeiro semestre, sendo eliminado pelo CSA na pré-Copa do Nordeste e a queda precoce na Copa do Brasil para o desconhecido Iguatu, eram avisos mais do que claros que o planejamento foi equivocado.

Era necessário que chegassem novas peças, jogadores com mais qualidade e experiência dentro daquilo que o América iria disputar pela frente.

Foto: Gabriel Leite/UDE

A esperança alvirrubra depositou-se na chegada da proposta do clube tornar-se uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Um episódio que dividiu internamente dirigentes e conselheiros.

Mesmo não oficializada, a SAF começou a intervir nas decisões do futebol. Inicialmente, Leandro Sena pagou o “pato” e foi desligado do comando do clube. Com aval dos investidores, Thiago Carvalho, recém vice-campeão no Rio Grande do Sul, chegou com o objetivo de reerguer a equipe.

O alvirrubro vivia a perspectiva de melhoras, com o processo de instituição da SAF e a mudança de ares no futebol do clube e a conquista do Estadual. Mas foi um planejamento arriscado, nem sempre trocar os pneus no meio do caminho dá certo.

Foto: Gabriel Leite/UDE

A insistência em Thiago Carvalho custou caro ao alvirrubro, nem mesmo com as 18 contratações protagonizadas pela SAF, o técnico foi capaz de mudar os rumos da equipe na competição.

Sob o comando do técnico goiano, o time americano foi acumulando tropeços como mandante, criando um desgaste enorme entre treinador e torcida, principalmente, por optar em barrar Wallace Pernambucano da equipe titular, além das dispensas de atletas queridos pelas arquibancadas.

Após o revés de virada por 2 a 1 para o Manaus em plena Arena das Dunas, a passagem de Thiago foi encerrada. Faltando sete jogos, Dado Cavalcanti foi encarregado do objetivo de salvar o América do retorno ao pesadelo dos últimos seis anos: a Série D.

Mas da mesma forma que o rival, a mudança de comando técnico foi tarde. Dos sete restantes, o time da Rodrigues Alves conquistou apenas uma vitória, contra o Pouso Alegre.

Foto: Gabriel Leite/UDE

O revés de forma bisonha para o Figueirense por 3 a 0 e o gol perdido por Matheusinho contra a Aparecidense foram apenas adiantamentos do que aguardava o alvirrubro no final da temporada, confirmado com a derrota para o Floresta no Presidente Vargas: o rebaixamento.

Nem mesmo a paixão de diversos americanos presentes nas arquibancadas do PV foi possível de salvar o retorno ao calvário da última divisão, algoz do clube nos últimos seis anos.

Diferente dos últimos anos, pode se dizer que o América irá disputar uma Série D de certa forma “tranquilo”, mas em razão do poder de investimento com a SAF, o peso e a obrigação de subir é maior.

Os bons frutos colhidos não foram bem conservados por ABC e América em 2023, que colecionaram fracassos e decepções. Um bom planejamento pode fazer uma enorme diferença.

Ressaltando, não foi falta de aviso.

Tanto ABC, quanto América, pagaram caro pela péssimas escolhas para 2023. Se temporada passada elogiou-se as decisões de ambos, nesta restam somente críticas.

O que resta agora ao torcedor é a expectativa de não retornar aos tempos sombrios que o futebol potiguar viveu em anos passados.

Foto: Gabriel Leite/UDE

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André Luís
Universidade do Esporte

Contando algumas histórias por ai. Jornalista em formação pela UFRN e membro do Universidade do Esporte.