Vingança é um prato que se serve frio

Um clássico europeu com gosto de revanche: a Alemanha entrou em campo com tudo e atropelou a Dinamarca

Jessyanne Bezerra
Universidade do Esporte
5 min readJul 9, 2022

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Foto: UEFA Women’s EURO 2022

Em Londres, uma partida com gostinho de decisão. No Brentford Community Stadium, Alemanha e Dinamarca jogaram pela 1ª rodada do grupo B. Na arquibancada, bastante festa. O público compareceu em bom número: foram 15.746 pagantes em um estádio que tem capacidade máxima para 17 mil pessoas.

Um jogo do mais alto nível de futebol feminino. As duas seleções estão entre as 15 melhores do ranking da FIFA. Nesse confronto, a Dinamarca, atual vice-campeã europeia, encarava uma Alemanha sedenta por vingança.

Dentro de campo, a maior campeã da Eurocopa enfrentava a equipe que acabou com sua hegemonia. Em 2017, a Dinamarca eliminou a Alemanha, encerrando a dominação germânica após a conquista de seis títulos consecutivos.

O fato é que quando a bola rolou, já dava para ver que a equipe alemã ia vir com tudo pra cima das alvirrubras.

Nesses primeiros minutos, o jogo foi intenso em ambos os lados. Isso porque tanto a Alemanha quanto a Dinamarca possuem a característica de reposição de bola rápida. Com isso, a partida foi definida com quem dominasse melhor o meio de campo.

Do lado germânico, uma reformulação de elenco. Sem a Dzsenifer Marozsán, que se recupera de lesão no joelho, a equipe alemã teve que se reinventar na parte central do campo. A camisa 10 era quem ditava o ritmo de jogo com o passe mais lento, forçando erro de marcação adversária.

Nesse início, a Dinamarca tinha muita pressão, graças aos passes rápidos que surpreendiam as alemãs e também com a velocidade nas mudanças de posições. Mas, foi justamente a troca de lugares que fez as alvirrubras perderem o domínio de jogo.

Para essa partida, havia outra Alemanha em campo. Com um meio de campo mais dinâmico, a bola rodava fácil pelas laterais. Os passes longos foram explorados, principalmente nas costas da zagueira Ballisager. Havia um time acelerado em campo, com transição rápida de um lado para o outro. A Dinamarca não estava pronta para isso.

Foto: UEFA Women’s EURO 2022

E a troca de passes fez do meio de campo um inferno. Após lançamento cortado pela zaga, a bola sobrou na entrada da grande área, próxima a meia lua. Magull fez um falso e deixou a redondinha para a Rauch que chutou com tudo acertando a interseção das traves.

Já no lance seguinte, Huth passou em velocidade pela direita, depois de receber pelo meio, e fez lançamento para a área. No rebote, a sobra foi da Alemanha com Bühl que trabalhou com Rauch. Novamente ela, a camisa 17, dominou a bola e tentou de fora da área, dessa vez acertando o travessão.

No rebote dessa jogada, Schüller tentou aproveitar de cabeça mas acertou a trave direita. Santa trave. E na sobra, Magull desperdiçou jogando a bola para fora.

As carimbadas na trave deixaram as dinamarquesas desnorteadas em campo. Aos 15’, numa confusão após cobrança de escanteio da Alemanha, as alvirrubras perderam a chance de dominar a bola, pois, a goleira saiu errado, trombou com a zagueira e a bola escapou pela linha de fundo.

E a Lina Magull estava sedenta pelo gol. Ela tentou de todos os jeitos, com chute de fora da área, cabeceio, voleio, mas a Christensen conseguiu defender todas e a trave também ajudou.

No entanto, 20 minutos foram o suficiente para a Alemanha abrir o placar. Numa reposição errada, Magull interceptou o passe da zagueira Ballisager, ficando cara-a-cara com a goleira e finalmente estufando a rede.

Foto: UEFA Women’s EURO 2022

Alemanha 1 a 0. Mas a sede de gol não acabou por aí. A camisa 20 estava imparável dentro de campo. Todas as jogadas de perigo passaram pelos pés de Magull.

E foi assim que saiu o segundo gol alemão, aos 56’. Na cobrança de escanteio de Lina, a goleira saiu errado, a zagueira não acompanhou e Schüller subiu sem dificuldades e de cabeça ampliou o placar. Alemanha 2 a 0.

Foto: DFB Team (Seleção Germânica de Futebol)

Após o segundo gol, a Dinamarca tentava uma reação. O técnico Søndergaard apostou tudo e colocou em campo Kühl, Nadim, Gejl. Mas nada que mudasse o ritmo de jogo. Até porque, a técnica alemã seguiu as modificações dele e colocou em campo Poppi, Lattwein e Brand no lugar de Schüller, Däbritz e Bühl. Dessa forma, manteve a predominância em jogo e ainda mais fulminante.

“E lá vem elas de novo”

Numa cobrança de falta, a jogada ensaiada encaixou. A bola foi lançada na área e no passe de cabeça de Oberdorf, a redondinha encontrou Lena Lattwein que chutou do lado direito da goleira, essa que nem se moveu para defender.

Alemanha 3 a 0. A técnica alemã sequer escondia o sorriso. Martina Voss-Tecklenburg não estava contendo a felicidade de ver o trabalho e esforço dar certo. Ainda mais em cima da Dinamarca. Era questão de honra.

E o quarto gol alemão foi construído com todas as jogadoras que saíram do banco. O lançamento foi feito pouco depois da linha central, Brand domina e parte para a área, tocando com Lohmann na esquerda que faz cruzamento para Popp. A 11 apenas cabeceou para o gol, fazendo 4 a 0 para Alemanha.

Foto: REUTERS/John Sibley

“Virou passeio”

Nos acréscimos, 1 minuto para cada gol da Alemanha. E ainda deu tempo de uma jogadora ser expulsa. Kathrine Kühl acumulou o segundo cartão amarelo e recebeu o vermelho, desfalcando a Dinamarca contra a Finlândia.

A Alemanha retorna, vence e deixa o alerta para as outras seleções. Foram cinco anos esperando este dia. E durante o período de renascimento, novos talentos foram amadurecendo. Foram 90 minutos de encher os olhos com um futebol imponente.

Em Londres, a Alemanha serviu um prato chamado “vingança” e foi delicioso.

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