A autoestima não é tão importante como você pensa

natalia
Universo Mental
Published in
6 min readApr 12, 2021
Arte por: mozza

Em psicologia, a autoestima nada mais é do que uma avaliação subjetiva que uma pessoa faz de si mesma, ou seja, quando dizemos que uma pessoa possui uma autoestima elevada significa que ela tem uma avaliação positiva de si mesma. Por outro lado, a baixa autoestima é uma característica de pessoas que se sentem inadequadas para enfrentar os desafios da vida, não acreditam nos seus potenciais e possuem uma tendência para o pessimismo e a negatividade.

Você já conseguiu perceber algo nesse primeiro parágrafo? Se não, leia de novo com atenção. Percebe-se que fica nítido o quanto a autoestima está relacionada com a sua percepção/o modo que você se sente em relação a si mesmo, e por mais simples que pareça, isso é muito importante, pois se entendermos isso nós então entendemos que a autoestima nada mais é que uma opinião que você mesmo mantém sobre o tipo de pessoa que você é, ou seja, não é um fato ou verdade absoluta, é apenas um julgamento subjetivo que fazemos sobre nós mesmos, só isso.

Sendo assim, se quisermos ter uma autoestima alta basta então termos julgamentos positivos sobre nós mesmos, correto? De certa forma sim. O problema é que isso não é tão fácil quanto parece, pois, para termos julgamentos positivos a nosso respeito esse julgamento tem que ser baseado em algumas atitudes, ninguém vai estalar os dedos e começar a pensar positivo do nada. Dessa forma, a primeira tendência que temos é de alguma forma tentar argumentar ou justificar para nós mesmos que somos uma “boa pessoa” (frase para representar uma autoestima alta). Por exemplo, podemos apresentar o seguinte raciocínio: “Vou bem no trabalho, me exercito regularmente e me alimento de forma saudável, logo, sou uma boa pessoa.” O problema é que, se adotar essa abordagem, você precisa provar para si mesmo constantemente que é uma boa pessoa e no momento em que se distrair, no momento em que parar de fazer qualquer uma dessas coisas que está usando para justificar ser uma boa pessoa, a sua autoestima vai se dissolver. Tá vendo como não é tão fácil assim?

Vamos agora dar uma pequena pausa e fazer algo diferente, eu vou te propor um exercício para ficar ainda mais claro que a autoestima é uma avaliação subjetiva e/ou opiniões sobre você mesmo.

Leia devagar as seguintes frases:

  • Sou um ser humano.
  • Sou um ser humano de valor.
  • Sou um ser humano de valor e cativante.
  • Sou um ser humano de valor, cativante e digno de amor e todas as outras coisas boas que o mundo tem a me oferecer.

Agora, eu gostaria de fazer o mesmo exercício com mais uma frase:

  • Sou um completo lixo humano.

Percebeu algo? Geralmente pessoas com baixa autoestima tendem a acreditar muito mais na última frase do que nas primeiras, sendo que nenhuma delas são 100% verdadeiras, são apenas palavras e opiniões. Por outro lado, uma pessoa que já possui uma autoestima elevada vai acreditar muito mais nas primeiras frases do que na última. Todavia, a maioria das pessoas ao ler “Sou um ser humano.” concorda, mas quando lê a frase “Sou um ser humano de valor.” já começa a duvidar ou achar graça do que está lendo. Isso acontece, pois, nossos pensamentos sempre conseguem encontrar uma espécie de brecha para nos fazer acreditar que não somos bons o suficiente, e não importa quantas vezes nós entramos em contato com essas palavras bonitas ou pensamentos positivos, se nós não acreditarmos neles eles não possuirão poder nenhum, serão apenas palavras soltas.

Por isso essa ideia de “pense positivo” não funciona. Pois, do que adianta pensar positivamente se, no fundo, não acreditamos nisso? Às vezes todos esses pensamentos podem acabar é sufocando a gente mais ainda, por acabar se tornando uma positividade compulsória, uma falsa sensação de que você precisa estar bem o tempo todo, sendo que ninguém nunca está bem o tempo todo, isso é impossível.

Antes que você fique triste com esse texto, vamos partir para uma boa noticia, e a boa noticia da vez é que você não precisa de ter uma autoestima elevada para ser feliz, e eu vou te mostrar o porquê.

Primeiramente, pessoas com a autoestima muito alta possuem uma forte tendência a apresentarem delírios de grandeza e pensarem serem superiores a todo mundo, e isso pode atrapalhar e muito a sua vida. Por exemplo, ao vermos um cantor subindo no palco não é por ele ter uma autoestima elevada, mas sim porque ele se preparou para esse momento até chegar ao ponto que ele se sentiu confiante para subir no palco, e confiança é completamente diferente de autoestima, pois para termos confiança em algo precisamos ter uma base sólida, ou seja, o cantor se preparou durante anos para aquele momento, e mesmo assim provavelmente ainda se sentirá nervoso, o que difere de uma pessoa com a autoestima muito elevada, pois ela vai julgar ser tão boa que não precisa nem se preparar, e ironicamente, o que faz termos sucesso em algo é justamente essa preparação e incerteza. Quanto mais medo, insegurança e incerteza tivermos, mais duro vamos trabalhar para que algo dê certo e consequentemente quanto mais duros trabalharmos, mais resultados positivos vamos obter.

Um segundo ponto é que a tentativa continuada de manter a autoestima alta pode, na verdade, afastá-lo do que você valoriza. Por exemplo, se pensarmos que para termos uma autoestima alta precisamos ser 100% produtivos vamos acabar focando tanto em produtividade que vamos esquecer de tirar um tempo para ter um lazer e aproveitar a vida, ou pior, sempre que tirarmos esse tempo vamos nos sentir culpados por não estar sendo produtivos e automaticamente nossa autoestima vai cair.

Segundo Kristin Neff (2009), para se manter uma autoestima elevada nós precisamos o tempo todo nos “sentir especial”, ou melhor do que alguém de alguma forma, sempre que possuímos destaque nos sentimos bem, em contrapartida, sempre que vemos que alguém é melhor que nós em algo, nossa autoestima tende a cair e nos sentimos mal ou piores do que todo mundo.

A armadilha da autoestima é justamente essa, enquanto você tem um desempenho bom, vai se sentir ótimo, mas se o desempenho cai (o que sempre vai acontecer, mais cedo ou mais tarde), sua autoestima despenca, pois, você julgará o seu nível de autoestima baseado nessas atitudes. Assim, você vai acabar entrando em um círculo vicioso, pressionando-se cada vez mais para apresentar um desempenho sempre melhor, o que por sua vez vai levar a estresse elevado, cansaço, exaustão e a famosa autoestima baixa caso não consiga seguir com seus objetivos.

Qual a solução desse problema?

Eu diria que a solução é mais simples do que parece, e ela se resume em duas palavras: autoconhecimento e autocompaixão.

O autoconhecimento é a capacidade conhecer seus pontos fortes e fracos, reconhecer no que você é bom e no que você não é. Já a autocompaixão é estar bem com quem você é. Tratar-se bem, aceitando que é humano, portanto, imperfeito, e permitindo-se cometer erros e aprender com eles. Autocompaixão significa que você se recusa a aceitar os julgamentos que a mente faz a seu respeito, sejam bons ou ruins. Em vez de se julgar, você reconhece suas próprias forças e fraquezas e faz o que pode para ser a pessoa que deseja ser.

Consegue perceber a diferença aqui? Enquanto a autoestima está relacionada a acreditar no julgamento que você tem de si mesmo, a autocompaixão simplesmente aceita esses julgamentos como eles são: apenas julgamentos. Apenas opiniões e não verdades absolutas em que temos que acreditar 100%.

Vamos fazer outro exercício? Repita a frase “Sou um fracasso total e nada funciona para mim”. Agora repita novamente acrescentando antes a frase “Estou tendo o pensamento de que…”. Desse modo ficaria: “Estou tendo o pensamento de que sou um fracasso total e nada funciona para mim.” Tá vendo? Todos os julgamentos que temos a respeito de nós mesmos são somente isso: pensamentos. E quanto antes entendermos isso melhor. Por isso, sempre que estiver tendo algum pensamento desse tipo tente acrescentar “Estou tendo o pensamento…” na frente, até que sua mente possa ser capaz de entender que é somente um pensamento e que ele só vai te fazer mal dependendo do grau que você acredita nele.

Para finalizar, não quero dizer de forma alguma que a autoestima não é nada importante, lógico que é, e ter uma autoestima elevada ajuda e muito. Mas o que quero dizer é que ela não é tão importante assim. Considere esse texto como uma porta de entrada para perceber as armadilhas de nossos pensamentos e reconhecer que o importante não é ter ou não uma autoestima alta, mas sim trabalhar mais nosso autoconhecimento, autoaceitação e autocompaixão, pois quando estivermos conscientes de todos os nossos limites e fraquezas assim como nossas qualidades, vamos ser muito mais felizes do que quem tem uma autoestima elevada, isso eu garanto.

Por: Natália Barbosa

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textos mal escritos que expressam as coisas que eu não tenho coragem de dizer