A constante pressão para ser bom em tudo ao mesmo tempo

Será que é possível ?

natalia
Universo Mental
8 min readApr 14, 2020

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Ilustração por mozza817

É muito comum ver em filmes o clássico clichê da mulher que está nos padrões de beleza, ao mesmo tempo que tem seu carro onde dirige pelas ruas de Nova York rumo ao seu emprego estabilizado em uma empresa famosa enquanto toma seu café do Starbucks. De tarde ela vai para academia, de noite vai para festas, aos finais de semana faz meditação, yoga ou -insira qualquer outra coisa que esteja na moda aqui-, seu Instagram possui o feed combinando, além de claro, possuir uma alimentação mega saudável. Essa mulher só tem um problema, ela não existe.

Infelizmente na vida real a gente não consegue se especializar em tudo e ter sucesso em absolutamente todas as áreas da nossa vida (se te faz sentir melhor, gostaria de dizer que uma pequena porcentagem consegue, vai de você acreditar ou não nessa informação). Você pode até gostar de fotografar, mas pode não ser um fotógrafo profissional como alguém que você conhece, você pode amar inglês, mas talvez nem vai ser fluente e muito menos fazer um intercâmbio como as youtubers ricas e brancas de classe média fazem e gravam como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Veja bem, não estou dizendo que você não possa fazer isso tudo, claro que pode, mas você já ouviu aquela fala comum que costumam dizer para não confiar em um médico que tem todas as especializações, pois na real ele não sabe nada?

Vou dar outro exemplo, é tipo fazer 30 cursos online em áreas diferentes com duração de 1h cada ou fazer 2 cursos de um ano cada, qual que vai valer mais? Quem sabe mais? Uma pessoa que estudou 1h de um assunto ou quem estudou 1 ano? A resposta é bem óbvia, o fato de queremos ser bons em tudo que gostamos acaba nos sufocando, e no fim das contas a gente não consegue ser bom em nada.

Depois de muito refletir, criei então uma teoria mirabolante capaz de resolver esse problema. Minha teoria se baseia em escolher uma ou duas coisas, as que mais gostamos, e focar nelas, tipo, sei lá, uma profissão e um hobby, uma profissão que você quer seguir e ganhar dinheiro a partir daquilo e um hobby que talvez possa até dar dinheiro também, mas que seja algo paralelo à sua “profissão oficial” que é aquela em que você vai se dedicar mais. Parece que a combinação de uma, duas, ou até mesmo três coisas é o ideal para a gente não surtar e por a nossa saúde mental em risco, mesmo sabendo que para algumas pessoas uma coisa já é o suficiente para enlouquecer, afinal de contas seguir a profissão de nossos sonhos não é tão fácil quanto parece.

Dito isso, parece que já está tudo resolvido, sigam os meus passos e tudo dará certo e não vamos surtar e nem nos sobrecarregar nunca mais, olha que beleza! Infelizmente, nos deparamos com um plot twist no meio do caminho ao percebermos que esse papo é muito legal na teoria, mas, na prática, é algo completamente diferente.

Usaremos a minha situação como exemplo, eu atualmente estou trabalhando na minha “profissão oficial”, mas não vou mentir que tenho vontade de fazer outra faculdade depois, e fazer projetos paralelos pela internet a fora, tenho vontade de me especializar em inglês, em fotografia, tenho vontade de fazer academia, pilates e outros. Ora ou outra tenho vontade de andar super bem de skate, de ser muito boa na dança e aprender outro idioma além do inglês, e quando eu acho que acabou por aí, me dá vontade de criar um perfil no Medium e postar textos sem sentido.

Como lidar com todas as nossas demandas? Será que tem como a gente fazer tudo que a gente gosta mesmo? Sem surtar? Sem se sobrecarregar? Será que dá para a gente ser que nem aquela mulher dos filmes? E melhor ainda, temos tempo para fazer isso tudo?

Será que vou conseguir me especializar em todas as mil coisas que eu gosto? Ou será que no momento em que eu conseguir um emprego eu vou desistir de todos os outros planos, pois já estarei com a vida estabilizada? Gostaria de voltar daqui a 10 anos para contar o que deu no final, mas com certeza nem lembrarei de voltar, então deixo a critério da imaginação de vocês.

Ok, chega de enrolação, precisamos falar sobre uma coisa séria agora.

Além de termos todas essas influências através da mídia sobre o que devemos fazer com a nossa vida, há um outro tipo de pressão que fica escondida nas entrelinhas do cotidiano, que é a pressão para ter sucesso em tudo, por isso sempre quando vemos algum conhecido tendo sucesso em algo que a gente sabe fazer de forma mediana, ficamos com uma certa invejinha.

Olhe ao redor, com certeza você já se deparou com perfis de profissionais de psicologia, nutrição, odontologia ou qualquer outra coisa pelas redes sociais a fora, e advinha? É logico que você já pensou em ser “bem sucedido” que nem essas pessoas, mas será que essas pessoas são bem sucedidas mesmo? Não é incomum você ver um profissional que no Instagram tem mais de 20 mil seguidores e pessoalmente seu local de trabalho está vazio, o que nos faz questionar, será que são bem sucedidos mesmo quanto parecem ser ou o estereótipo de vida perfeita de instagrammer que na verdade não é perfeita também serve para os perfis profissionais?

Aparentar ter sucesso em algo parece ser mais importante do que fazer o que você gosta de verdade.

Bingo! Talvez seja justamente por esse ideal de sucesso e de ser bom em tudo que a gente fica querendo se especializar em tudo que a gente gosta e fazer várias coisas ao mesmo tempo, talvez seja por isso que quando vemos algum amigo bem sucedido a gente começa a querer fazer tal coisa também. No final das contas a gente quer é ser reconhecido por algo, assim como a gente viu outra pessoa sendo.

Eu gostaria de ter uma solução para esse problema, mas não tenho, eu queria muito terminar o texto com um “Você pode ser o que você quiser, tá tudo bem querer fazer várias coisas ao mesmo tempo, você não vai se sobrecarregar não, relaxa!”, mas todos sabem que isso só funciona na teoria. Então não, eu não tenho uma solução para isso.

Acho que aquela minha teoria de se especializar em poucas coisas ainda é válida, se quisermos ser realmente bons em algo precisamos nos dedicar ao máximo a fazer essa coisa, basta pegar o exemplo de uma cantora pop qualquer e olhar a sua história, provavelmente ela sempre quis fazer isso ou já canta desde pequena, são anos de prática para ela ser realmente bem sucedida naquilo, o que não significa que ela vai abrir mão dos seus milhares de hobbies, mas sim que ela já tem a sua “profissão oficial” como eu disse anteriormente.

Para finalizar, eu acho que no fim das contas tá tudo bem (desculpa, eu disse que não iria falar que estava tudo bem, mas não pude resistir). Acho que tá tudo bem a gente querer se especializar em uma ou duas coisas e também tá tudo bem não se especializar em nada (agora sim). Tá tudo bem se você não for o profissional bem sucedido do Instagram, ou o aluno mais inteligente da sua sala e tá tudo bem se você só quiser ter um emprego mediano e estabilizar sua vida logo. Tá tudo bem também se você quiser ter um emprego e se especializar em outras mil coisas, desde que você reflita se você realmente precisa se especializar e ter sucesso naquilo.

Temos que entender que estamos inseridos em uma sociedade capitalista, e com todos esses “avanços” estamos sempre querendo fazer “algo a mais” para ter mais sucesso que alguém. Primeiro achamos que fazer faculdade é o auge do nosso sucesso como estudante, até descobrimos que existe um monte de pós-graduações que de certa forma vão te ajudar a ficar na frente da concorrência, e assim vamos rumo a querer ser bons em tudo o tempo todo. Só que às vezes toda essa pressão acaba sendo mais prejudicial do que saudável, essa busca por produtividade pode fazer a gente ficar ainda mais improdutivo. O engraçado disso tudo, é que a gente fica dividido entre fazer várias coisas ou não fazer nada, e embora a segunda opção seja a mais atraente, no fundo sempre ficamos com a sensação de que enquanto a gente não está fazendo nada alguém está passando na nossa frente. Falas como “Estude enquanto eles dormem” nos fazem sentir mais culpados ainda, pois às vezes a gente sente como se tivesse que estudar sempre enquanto tem gente atoa, quando na verdade a gente só quer é dormir ou pelo menos tirar um cochilo de 20 minutinhos. Mas não da né? Se você descansar alguém vai tomar o seu lugar. Ou pelo menos é isso que querem que a gente acredite.

Eu não vou ser hipócrita, ao mesmo tempo que eu quero ter meus 20 minutinhos de cochilo para esquecer um pouco a realidade e jogar tudo por alto, eu também quero aprender novos idiomas, quero viajar, quero aprender a andar de skate super bem e ter uma alimentação saudável e tudo mais, quero ser que nem aquela mulher bem sucedida dos filmes, mas quero fazer isso de forma saudável para mim. Eu percebi que na verdade eu não preciso ser a especialista ou a mais bem sucedida em uma coisa, eu só preciso fazer aquela coisa no final das contas.

Eu não preciso ser fluente em inglês, às vezes eu só preciso falar o básico, eu também não preciso ser a melhor skatista da região e fazer todas as manobras, às vezes eu só preciso andar de skate em um lugar sozinha e me sentir livre fazendo o básico. Eu não preciso ser uma fotógrafa profissional, eu só preciso capturar momentos e fazer um mural de fotos para olhar toda noite e lembrar das coisas que eu vivi. Muito menos preciso ter sucesso na dança ou ir todo dia na academia, às vezes eu só preciso malhar quando eu tiver vontade e dançar porque eu me sinto bem e livre, e não porque tenho que acertar todos os passos da coreografia.

Às vezes você precisa apenas fazer o que gosta de forma saudável, sem se sobrecarregar. Se você quer fazer mil coisas, então faça, mas faça uma coisinha de cada vez, pense antes de fazer e reflita se vale a pena se dedicar a um novo projeto agora, ou se você realmente quer fazer aquilo porque quer ou porque está todo mundo ao seu redor fazendo. Não busque a perfeição de todas as coisas, busque apenas se sentir bem consigo mesmo, busque a qualidade de uma coisa e não o sucesso ou a quantidade de likes que ela vai render.

Busque ser feliz.

Da maneira em que você se sentir melhor.

Por: Natália Barbosa

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textos mal escritos que expressam as coisas que eu não tenho coragem de dizer