Um texto sobre o luto

natalia
Universo Mental
Published in
6 min readJul 10, 2020
Arte por @endmion1

O que é o luto?

De maneira bem simples e direta, o luto é basicamente uma reação/processo natural que todos nós passamos diante de uma perda real ou simbólica, ou seja, isso significa que ele não está relacionado apenas a morte, mas também a perda de emprego, amizade, relacionamento, entre outros.

Apesar de não parecer, o luto é um processo fundamental e necessário, pois precisamos elabora-lo, isto é, passar por essa situação para nos tornarmos mais fortes e resilientes. Portanto, o luto pode ser visto de forma até que positiva, pois ele nos ajuda a organizar e lidar melhor com os futuros processos de perdas, assim nos motivando a questionar mais a vida. Um belo exemplo disso são pessoas que depois de passar por uma perda decidem mudar drasticamente a sua vida e começam a fazer coisas que nunca pensaram em fazer antes. Afinal de contas quem já não ouviu a famosa frase “A vida é muito curta, a qualquer momento tudo pode acabar, vamos aproveitar enquanto há tempo!”.

O luto engloba diversas reações intensas como tristeza, confusão, forte desejo de estar com a pessoa, paralisação e outros, mas com o passar o tempo essas reações tendem a diminuir.

Infelizmente, principalmente no Brasil, não somos acostumados a conversar sobre a morte, nossa cultura não aborda isso com naturalidade. Pelo contrário, a maioria das pessoas sempre que confrontadas com esse assunto logo falam coisas como: “Nem pense nisso…”, “Fecha a boca…”, “Não fale para não atrair…”. Essa nossa falta de contato com a morte acaba de certa forma não nos preparando para ela, assim ela acaba se tornando um processo ainda mais doloroso.

As 5 fases do luto

A psiquiatra suíça Elisabeth Kubler-Ross (1926–2004) passou anos da sua vida estudando as reações psíquicas dos pacientes em estado terminal. Um dos resultados dessas pesquisas é o seu livro “On Death and Dying”. Na obra, ela propõe o modelo Kübler-Ross, que explica quais são as 5 fases de luto dos pacientes com doenças terminais, mas que também podem ser vividas por pessoas que perdem seus entes queridos.

Esse modelo ficou bastante conhecido mundialmente e hoje em dia é quase que universal, diversas pessoas utilizam deste quando querem falar sobre a elaboração do luto.

Sendo assim, as 5 fases do luto consistem em:

Negação: nesse estágio o indivíduo tem dificuldades em aceitar a realidade. A perda é considerada como algo que não é verdade e frases como “Não aceito que isso está acontecendo.” e “Isso é mentira!” podem ser muito comuns nessa etapa.

Raiva: esse estágio é caracterizado por um grande sentimento de raiva, onde o indivíduo quer culpar alguém ou às vezes até ele mesmo pela situação. É comum nos depararmos com frases como “Isso não é justo!” e “Eu nunca fiz nada de errado para ninguém, então por que isso está acontecendo comigo?”

Barganha: esse estágio é caracterizado por uma espécie de negociação e promessas de que o indivíduo faz afim de receber uma salvação. Alguns exemplos são: “Eu juro que vou melhorar, por favor Deus, não faça isso comigo!” e “Se o Senhor me poupar disso eu juro que serei uma pessoa melhor!”.

Depressão: período que é caracterizado por grande tristeza, isolamento, impotência, desinteresse, melancolia, apatia e desânimo.

Aceitação: É conhecido por ser o último estágio. Depois do indivíduo passar pelas fases anteriores, agora ele aceita que não se pode fazer mais nada e segue com sua vida. É importante destacar que não se trata de um cenário feliz, mas sim de tranquilidade e paz por não ter que lidar mais com a negação ou desespero, agora se entende que não se pode fazer nada para mudar a situação.

É de extrema importância destacar que uma fase pode durar mais tempo do que a outra. Algumas pessoas podem passar meses em uma, outras podem passar dias, além disso, não é via de regra que elas sigam essa mesma sequência.

Sendo assim, o luto é chamado de normal quando se passa por essas fases e o indivíduo consegue seguir com sua vida. Entretanto, caso isso não aconteça o luto se torna patológico e pode desencadear outros transtornos como depressão, ansiedade, uso de substâncias e outros.

O luto complicado ou patológico, ocorre quando não se consegue seguir em frente, o indivíduo fica preso em uma dessas fases e não consegue seguir com sua vida, não consegue fazer suas atividades e isso o prejudica. Esse tipo de luto pode durar anos se não for tratado corretamente, por isso ao se deparar com uma situação que o indivíduo considere muito difícil de superar e/ou que esteja atrapalhando as outras áreas de sua vida, o mais indicado é procurar a terapia.

Não passei por essas fases, devo me preocupar?

Apesar de tudo que foi dito até agora, a resposta para essa pergunta é ironicamente um não! Não necessariamente precisamos nos preocupar com isso.

Embora a maioria das pessoas passem por essas fases, esse modelo não é algo que possui de fato um embasamento científico. Algumas pesquisas mostram que a maioria dessas pessoas passam pelas fases, todavia, há pesquisas que dizem que a maioria não passa. Isso vai depender muito de onde foi feita a pesquisa, com que público e em qual circunstância. Ou seja, não é algo universal.

Infelizmente esse estereótipo de que toda pessoa passa por essas fases acaba de certa forma estigmatizando quem não se adéqua a elas. Existem diversas pessoas que são reprimidas por demorarem a superar o luto e outras que são reprimidas por não chorarem ou não demonstrarem nenhuma reação considerada “normal”.

A questão é que não existe uma maneira correta e universal para lidar com o luto, algumas pessoas seguem um padrão de comportamento que é mais comum e outras não. Isso vai depender muito da cultura que o indivíduo está inserido, pois em cada lugar as pessoas lidam com a morte de forma diferente. Além disso, precisamos entender qual a sua relação com a morte e como é a sua personalidade, além do modo que foi a sua criação, entre outros aspectos que vão influenciar todo o seu processo de luto. Os padrões de pensamentos do indivíduo que passa pelo luto vão se basear nas crenças que ele tem em relação com a morte ao longo de toda a sua vida, que são baseadas nesses aspectos anteriormente citados.

Afinal de contas, como enfrentamos o luto?

Apesar de existir um modelo comum, não existe uma receita para saber lidar com isso, nem mesmo uma palavrinha mágica que faça toda a dor do luto desaparecer. A única coisa que sabemos é que eventualmente todos vamos passar por isso de alguma forma. Algumas pessoas, saem do luto mais fortes, mais resilientes, mais competentes e motivadas a viver o melhor que a vida tem a oferecer, já outros são o completo oposto.

Por mais que a gente tente, nunca estaremos preparados o suficiente para perder alguém.

Uma dica é questionar seus pensamentos, ou seja, se perguntar quais são os pensamentos que te afetam, o que passa na sua cabeça quando lembra de uma pessoa e identificar para que tipo de sentimento esses pensamentos te levam. Levam a tristeza? Levam ao isolamento?

Ao fazer essa análise você será capaz de identificar de que fase são esses pensamentos. Ao fazer isso com calma, conseguimos ter uma percepção de que nossos pensamentos estão na verdade sendo influenciados por um processo doloroso que é o luto.

Há quem diga que se livrar do que lembra a pessoa pode ser útil. Criar novos hábitos e fazer coisas novas que antes você não fazia com aquela pessoa, entrar literalmente em uma nova fase agora que a fase do luto já passou. Lógico que tudo isso só é possível se seus pensamentos acerca disso tudo forem funcionais.

Manter um apoio social também é importante. Muitas vezes tudo que queremos fazer nessas situações é ficar sozinho, mas ter uma rede de apoio e trocar experiências com quem passa ou já passou o mesmo pode ajudar e muito.

Como dito anteriormente, o luto é um processo natural que eventualmente todos vão passar, uns podem passar por todas as fases, outros por nenhuma, uns demorarão mais, uns menos, mas a questão é que eventualmente isso passa. Se o luto for vivenciado de forma natural e não patológico, ele vai passar, e vai ficar no passado como mais uma das batalhas de nossa vida que foi vencida.

A questão principal é que a dor é um processo natural da vida e não devemos reprimi-la de maneira nenhuma. Portanto chore, grite, fique triste, bote para fora, aceite as consequências desse processo em sua totalidade, não tente lutar contra essas emoções, não fique se culpando se o seu luto foi diferente dos outros, ou se superou rápido ou devagar demais, apenas viva e aceite seus sentimentos, pois infelizmente, não importa o quanto a gente tente, nós não podemos mudar essa situação.

Por: Natália Barbosa

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